Seu último amor - 2ª temporada escrita por Jeniffer


Capítulo 8
Inverno e verão


Notas iniciais do capítulo

Que felicidade é entrar aqui para ver se a história recebeu algum novo comentário, e encontrar uma recomendação!
Lore Forbes Mikaelson, obrigada pelas lindas palavras! Eu reli sua recomendação inúmeras vezes, e chorei em todas elas.
Este capítulo é dedicado a você, minha querida! Espero que goste!



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“E aí tudo acaba. O mundo fica quieto. (...) Porque se queremos o verão, o inverno tem de morrer, e se queremos o inverno então é o verão que deve morrer.”

A menina que conversava com o verão, de Sally Nicholls. Citação da página 228, na edição de 2010 da editora Geração Editorial.


Eu avançava rapidamente por estas ruas que eu conhecia tão bem. Um sentimento estranho tomava conta de mim, nesta tão repentina volta para casa. Tudo o que me cercava, cada árvore deixada para trás e até o aroma que eu sentia, eram perfeitamente reconhecíveis para mim. Tantos anos vivendo no mesmo lugar causam isso em nossas mentes, este espaço reservado aos detalhes triviais do ambiente que nos cerca e as lembranças que cada coisa traz. Todavia, ao mesmo, eu me sentia deslocada. Mystic Falls trazia à tona memórias que eu queria esquecer. Este é o problema de tentar enterrar o passado enquanto ele ainda está vivo.

Estacionei na frente de casa, como fiz tantas outras vezes. Fiquei alguns segundos completamente imóvel, sentada no carro. Então respirei fundo e saí. Nem eu mesma entendia esta indecisão que crescera em mim. Esta cidade é meu lar há muito tempo, eu não deveria me sentir tão estranha por estar aqui.

Peguei as quatro malas que eu trouxe comigo enquanto ouvia a música animada que vinha da casa, o que impedia minha mãe de me ouvir chegando. A porta estava aberta, então simplesmente entrei e deixei as malas no corredor, o mais rápido possível para não chamar a atenção dela. Fui até a sala, silenciosamente, para encontrar minha mãe dançando alegremente ao redor da mesinha de centro. Escorrei-me no batente da porta e fiquei assistindo ao show particular de minha mãe, que parou abruptamente quando ela me viu ali e gritou de espanto.

— Caroline! – ela gritou, correndo em direção ao rádio, atrapalhando-se com os botões até que conseguiu silenciá-lo. – Você chegou!

— Oi, mãe! – não dei chance de ela atravessar a sala até mim. Com minha velocidade sobre humana, a envolvi em meus braços, dissolvendo toda a saudade que senti dela. – É tão bom ver você tão feliz assim.

— Ah, minha querida. É tão bom ter você de volta. – disse ela, com lágrimas surgindo em seus olhos. – Eu vou fazer um chá e você vai me contar tudo! Faz tanto tempo que nós não conversamos apropriadamente.

Enquanto ela preparava o chá na cozinha, aproveitei para colocar minhas malas em meu antigo quarto. Quando entrei, fiquei alguns minutos olhando em volta, para depois entrar com as malas. Tudo estava exatamente como eu me lembrava. Nada fora mexido um único centímetro do lugar original.

Sentei-me em minha cama e ela me pareceu pequena, como seu já fosse adulta demais para ela. Aliás, o quarto todo me passava essa sensação de ter encolhido, ou de eu ter crescido. Senti a nostalgia entrando de fininho no quarto, então a despistei e fugi para a cozinha, deixando-a trancada no escuro.

— Pegue as xícaras, por favor. – disse minha mãe, quando entrei na cozinha.

— Claro. – eu respondi, abrindo a porta do armário que guardava as xícaras, apenas para encontrar os copos.

— É na outra porta, querida. – disse minha mãe.

Estranhei a mudança, mas não teci maiores comentários. Coloquei duas xícaras na mesa e então comecei a realmente ver a casa. Se em meu quarto tudo permanecia igual, da porta para fora a situação era completamente diferente. Não havia nenhuma mudança drástica, mas de repente, os pequenos detalhes saltaram aos meus olhos, como se estivessem escondidos até então. A cortina que cobria a pequena janela acima da pia era diferente, mais clara, e meramente decorativa, totalmente diferente da anterior. Algumas coisas, além das xícaras, haviam mudado de lugar. E o tapete tão surrado que ficava na frente da geladeira havia desaparecido, sendo que antigamente minha mãe o tenha defendido bravamente contra minhas tentativas de incinerá-lo.

— Agora conte tu... – ela começou a falar enquanto servia o chá, e então assustou-se e soltou a chaleira com água quente. – O que é isso?

Por puro reflexo consegui pegar a chaleira antes que ela caísse no chão e a coloquei sobre a mesa. Olhei para meus dedos, levemente queimados, mas que estariam curados rapidamente.

— Oh, meu Deus, Caroline! Você está bem? – perguntou ela, angustiada, analisando metodicamente minhas mãos.

— Vou ficar bem em alguns minutos, não se preocupe. – eu a acalmei. – Sente-se, vamos conversar.

— Filha, o que é isso? – ela não conseguia tirar os olhos do anel em minha mão.

— É exatamente o que você pensa que é. – falei, tentando decifrar sua reação, mas sem muito sucesso.

— Como isso aconteceu? – eu sei que, no fundo, ela queria saber como chegamos tão longe em tão pouco tempo, mas eu preferi contar a versão mais bonita e feliz desta história. De modo que passei um bom tempo contando em detalhes nossa mágica viagem à Paris. Observei atenta todas as reações dela, como suspirava com tudo o que fizemos, até que parecia se lembrar do que Klaus era o outro personagem de minha narrativa, então ela voltava a sua posição de mera ouvinte.

— Nunca imaginei que Klaus fosse capaz de uma coisa dessas. – comentou ela, quando terminei meu relato.

— Mas ele é, mãe. – falei, olhando-a profundamente nos olhos. – A grande questão é que ele me permite ver um lado muito particular dele, que ele esconde por deixá-lo vulnerável. Klaus é uma pessoa que vai aos extremos com muita facilidade, sejam eles positivos ou negativos.

— O que quer dizer? – ela perguntou.

— Ele é capaz de amar e odiar, como qualquer um. Klaus não é um monstro, mãe. Só que ele não conhece meio termo, tudo é ao extremo.

— E é isso que me preocupa. – falou ela, levantando e deixando a xícara na pia.

— Por quê? – perguntei, intrigada.

— Não a preocupa saber que ele seria capaz de qualquer coisa por você? Como você mesma disse, ele não conhece meio termo. Isso somado a impulsividade dele, é uma combinação perigosa.

— É exatamente neste ponto que as pessoas se enganam sobre ele, mãe. – levantei também – Quando Klaus oscila entre um extremo e outro, ele não se esquece do ponto de partida. Logo, ele nunca esqueceria o extremo positivo mesmo estando sendo puxado para o extremo negativo, e isso pesa nas decisões dele.

— E o inverso não a preocupa?

Parei para pensar.

— Ele nunca esquecerá o extremo negativo mesmo que esteja sendo puxado para o extremo positivo. – continuou ela. – Uma vida de arrependimentos, não acha?

— Você acaba de descrever a história da família Mikaelson.

Voltei a me sentar, sob o olhar vigilante de minha mãe.

— E você tem certeza sobre esta decisão? – ela apontou para o anel.

— Não. – confessei. – Mas eu nunca tive muita certeza sobre nada em minha vida.

— O que a deixa indecisa?

— Posso ser completamente honesta com você, mãe? – continuei quando ela assentiu. – Quando eu parti de Mystic Falls e fui para New Orleans, eu deixei para trás muita coisa. E eu não me refiro só a você e meus amigos. Eu deixei muitos preconceitos e pré-julgamentos aqui, e fui de mente e coração abertos.

— E isso foi bom? – ela perguntou.

— Foi incrível. – falei. – Eu conheci um Klaus totalmente diferente, e acabei descobrindo uma Caroline completamente diferente. Você não me reconheceria, mãe.

— Então não vejo motivos para indecisão, filha.

— Eu também não via, até chegar aqui. – afundei meu rosto em minhas mãos e suspirei profundamente. – Eu não consigo parar de pensar em como vou convidar meus amigos para o casamento. Como vou convidar a Elena para ser madrinha...

— Está em dúvida entre um convite formal ou um informal? – brincou ela.

— Quem me dera... – eu falei, baixinho. – Como eu vou dizer para ela que o homem que eu amo é quem a trouxe tanto sofrimento? Eu olho para esse anel e não tenho nem uma mísera sombra de dúvida que tomei a decisão certa. Mas quando penso neles, tudo muda.

— É claro que vai ser delicado para a Elena, filha. Assim como será para todos. Klaus é praticamente uma persona non grata nesta cidade. Isso tem que ser mais sobre você do que sobre Klaus.

— Como assim?

— Elena pode encarar isso como o casamento do homem que a destruiu a vida dela, ou pode encarar como o casamento de sua melhor amiga. No final das contas, é a sua felicidade que importa. E se bem me lembro, Damon também não era muito querido por aqui. – ela disse, piscando para mim em cumplicidade.

Ela tinha razão, é claro, mas isso não fazia o assunto ser menos delicado.

— E como estão as coisas em New Orleans? – ela perguntou, arrancando-me de meus devaneios.

— Henry não está nada bem. – baixei a voz até um sussurro quase inaudível. – Ele está bastante doente.

— O que há com ele? – ela pareceu preocupada.

— Uma falha genética, nós suspeitamos. Mas é difícil saber ao certo. Nunca vimos ninguém como Henry, então não temos como ter certeza de nada. – eu busquei os olhos de minha mãe e despejei aquele medo que estava comigo há tempos. – Ele me chama de mamãe.

— Oh, isso é lindo! – ela disse, emocionada. Não respondi, apenas fiquei olhando para ela até que ela entendesse onde eu estava querendo chegar. – O que foi, filha?

— Ele tem mãe.

— Achei que Hayley o tivesse abandonado. – ela pareceu confusa.

— E ela abandonou. – agora foi a vez dela de não responder e apenas olhar para mim, esperando que eu elaborasse esta resposta evasiva. – É muita responsabilidade, mãe. Ele não comia direito, a menos que fosse eu quem o alimentasse. Ele não dormia tranquilo se eu não estivesse ao seu lado. E agora ele me chama de mamãe. Eu não tenho capacidade nenhuma para ser mãe!

— Ninguém tem, filha. – ela sorriu para mim. – Ser mãe, assim como outras coisas na vida, é o tipo de situação em que mais nos subestimamos. Nós sempre acreditamos não estarmos prontos para tal, até que precisamos estar. Quando nossa única opção é ser forte, nós nos fortalecemos.

— Eu nunca me imaginei nesta situação. Nunca deixei New Orleans para construir uma família.

— Então este o seu medo. – falou ela. Eu havia esquecido o quão eficiente minha mãe era em interrogatórios. – No começo você me ligava toda vez que Henry chorava, sem saber dizer se ele estava com fome ou sono. Mas você não me liga mais, o que me diz que você está se virando muito bem.

—Eu sempre quis uma família, você sabe disso. – falei. – É claro que eu imaginava uma situação completamente diferente. Eu quero uma família, mas também queria uma carreira, um emprego que eu amasse. O pacote completo edição de luxo da vida adulta.

— E o que a impede? – ela riu.

— E se ela voltar? – falei, com uma nota de agonia na voz. – Eu amo Henry e Klaus, mãe. Agora mesmo eu estou aqui, conversando com você, e pensando se Henry comeu, se dormiu, se está com dor. Estou aqui querendo ligar para o Klaus, só para ouvir a voz dele e saber como ele está.

— Você se sente como uma intrusa. – constatou ela.

— Hayley pode aparecer a qualquer momento. Henry é filho dela, não posso esquecer disso. Não posso me apegar tanto a ele.

— Ela pode voltar, assim como pode não voltar. Quem sabe o que pode acontecer no futuro?

Ouvimos um carro estacionando na frente da casa e nos calamos.

— Benjamim chegou.

Benjamim ficou contente em me ver, e eu fiquei ainda mais contente em ver que ele estava tão animado com o casamento quanto minha mãe. Conversamos animadamente sobre ideias que eles tinham para a cerimônia, e não fiquei surpresa, apenas um pouco decepcionada, quanto constatei que eles queriam algo pequeno, familiar. E queriam isso o mais rápido possível.

— Nós vamos sair para jantar, Caroline. Você gostaria de nos acompanhar? – convidou Benjamim.

— Não, obrigada. – eu disse, já me levantando. – Eu vou visitar meus amigos. Estou com muita saudade deles. Aliás, você tem alguma ideia de onde posso encontrar a Elena, mãe?

— Na mansão Salvatore. – ela respondeu prontamente.

Quando alcancei a varanda minha mãe me chamou.

— Você quer que eu fique com isso? – perguntou ela, apontando para o meu anel.

—Você acha que não devo contar? – perguntei, intrigada.

— Deve. Mas deve ser com calma. – concordei, e então entreguei o anel para ela. – Divirta-se.

*******

A mansão dos Salvatore continuava a mesma, o que me trouxe uma nova onda de nostalgia. Bati na porta e pude ouvir a reclamação de Damon e suas sugestões para a contratação de uma empregada, enquanto ele se aproximava da porta.

— Olá, Damon. – falei, quando ele abriu a porta.

— Ora, ora. Vejam só quem voltou à cidade, se não a Barbie em pessoa. – ele sorriu descaradamente, e olhou por cima do ombro. – Elena! É pra você!

Damon se afastou e foi em direção à sala, então eu o segui. Elena desceu as escadas abotoando a camisa que vestia, e congelou imediatamente quando me viu.

— Caroline! – gritou ela, descongelando após alguns segundos.

Depois de alguns minutos de abraços, lágrimas e gritos agudos, finalmente nos acalmamos.

— É tão bom ver você. – eu falei.

— Eu senti tanto sua falta, Car. – ela falou. – Nunca mais desapareça deste jeito.

Fiquei algum tempo ali, conversando com os dois e me inteirando das novidades. Não pude deixar de notar o modo como Damon e Elena estavam próximos, o tempo todo em contato, como se fossem imãs se atraindo um para o outro.

— E como está nosso híbrido original favorito? – perguntou Damon.

— Tempos difíceis, Damon. Estamos bem, na medida do possível. – respondi.

— E vocês dois? Como está a relação de vocês? – perguntou Elena, investigativa. Flexionei meus dedos, pensando em meu anel.

— Bem. Estamos bem. – eu disse, desejando desesperadamente empurrar minhas palavras de volta para minha boca no mesmo segundo em que elas saíram. Eu estava sendo muito evasiva. Para minha sorte, Jeremy chegou e eu não precisei dar maiores explicações.

— Hey, Caroline. Você está de volta! – disse Jeremy, animado.

— O que eu posso dizer? – falei, abraçando-o. – Fiquei com saudades.

Jeremy sorriu para Elena e sentou-se no sofá, juntando-se à nossa pequena reunião.

— Alguém tem notícias da Bonnie? – perguntei, olhando para todos.

— Ela estava no Grand Canyon, quando mandou o último email. – respondeu Jeremy, depois de um segundo de hesitação.

— Ela parece estar muito feliz com a mãe. – disse Elena.

— E nós sabemos que ambas precisavam deste momento mãe e filha. – eu falei, lembrando do tempo que passei com a mãe de Bonnie quando ela estava em transição. – Alguém tem alguma ideia de quando ela vai voltar?

Jeremy levantou-se e foi em direção à cozinha. Elena deu de ombros e Damon apenas olhou para mim com aquela típica expressão que antecede alguma pergunta.

— Você já transaram, Caroline?

— Damon! – advertiu Elena, dando um tapa no braço dele.

Ah, como era bom estar de volta.

**********

Fiquei algum tempo com Damon e Elena até que a troca de carinhos atingiu uma urgência que deixava claro que eu estava sobrando. Contei sobre o casamento de minha mãe, o que rendeu um único e breve comentário de Damon, perguntando se o noivo não era gay. Por mais que o tenha mandando para o inferno, me peguei pensando se quando interroguei Benjamim fiz tal pergunta. Despedi-me deles, prometendo diversos jantares e festas com Elena. Saí de lá e voltei para casa, já que Matt ainda estava sabe-se lá onde com Rebekah.

Minha casa estava vazia, pois minha mãe e Benjamim ainda não haviam voltado. Abri uma das malas e peguei minha nécessaire, dirigindo-me ao banheiro. Tomei um longo banho, eliminando todo o cansaço da viagem e esta montanha russa de emoções que foi o reencontro com todos que deixei para trás.

Percebi que não havia falado muito sobre mim e Klaus com Elena, Damon e Jeremy. Mas principalmente, percebi que eles não sabiam sobre Henry. Eu ainda tinha tanto a contar e tanto a fazer.

Saí do banho e me joguei na cama e liguei para Klaus.

— Hello Love. – ele atendeu ao primeiro toque. Estava esperando minha ligação, percebi.

— Olá. – respondei, com um sorriso.

­— Como está Mystic Falls?

— Exatamente igual.

— Bem, Mystic Falls é conhecida por ser imune contra o tempo. – ele riu.

— Como o Henry está? – perguntei, preocupada.

— Em um dia bom. – eu pude notar a felicidade em sua voz.

— Você o levou ao jardim?

— Ele está lá agora. Preferiu ficar sozinho. – esta frase veio com um pedido implícito de maiores explicações.

— Ele está estudando as estrelas. – respondi, o acalmando.

— Sinto sua falta. – disse ele, depois de alguns segundos de silêncio.

— Eu também. Estou me sentindo tão estranha estando de volta. – confessei. – Tudo está exatamente igual e ao mesmo tempo tudo está diferente.

— Mystic Falls é sempre a mesma, Caroline. Já as pessoas, digamos que elas não possuem a mesma imunidade. – Klaus respondeu. – Quando você vai voltar?

— Minha mãe e Benjamim estão com pressa. Querem se casar como se o mundo fosse acabar amanhã e essa fosse a última chance. E não estão planejando nada muito grandioso, então não devo demorar.

— Isso é música para meus ouvidos. – ele disse.

— Eu vou começar os preparativos amanhã. Agora preciso dormir.

— Tudo bem. – ele parecia desapontado.

— Eu ligo novamente amanhã. – prometi. – Eu amo você.

— Eu amo você, Caroline. Nunca se esqueça disso.

— Boa noite.

—Boa noite, Love.

Deixei o celular no criado mudo e deitei-me na cama, desligando a luz. Pensei em Klaus sorrindo quando recebeu minha ligação e sorri também. Não me lembro de ter outro pensamento além deste antes de adormecer.

**********

No dia seguinte, Elena chegou cedo. Eu a recebi na porta, sendo dominada pelo aroma delicioso que vinha da cesta que ela trazia.

— Trouxe o café da manhã. – disse ela.

— Eu posso me acostumar com isso. – falei, deixando ela entrar.

— Nós nem conseguimos conversar ontem. – ela disse, sentando-se à mesa e colocando o conteúdo.

—Você e o Damon pareciam precisar de um tempo. – falei, com um sorriso cúmplice.

— Nós estamos bem. – Elena disse, sorrindo.

— Notícias do Stefan? – perguntei, enquanto a ajudava a colocar a mesa. – Tentei falar com ele, mas ele está incomunicável.

— Eu posso dizer o mesmo. Ele desapareceu, e eu não gosto disso. – ela me olhou com a clássica expressão de ela tem quando está prestes a contar um segredo. – Eu tenho uma sensação muito estranha sobre isso.

— Bem, eu não culpo o Stefan por querer um tempo sozinho. Porque ele iria querer ficar por perto, agora que você e Damon estão tão próximos? – eu me sentei. – Eu o culpo por desaparecer sem avisar, por não dar notícias e deixar todos tão preocupados.

— Acha que ele partiu por minha causa? – ela parecia confusa.

— Você não acha? – falei, arqueando as sobrancelhas.

Elena podia ser muito obtusa de vez em quando, pois para qualquer um, os motivos de Stefan eram claros como as águas do Caribe. Contudo, eu gostaria que ele tivesse avisado alguém. Tudo bem, não alguém, mas sim, eu. Porque ele não havia me procurado, conversado comigo antes de fazer uma coisa dessas? Nós somos amigos, não somos?

— E você, como está? – ela perguntou.

— Tudo bem. – respondi, prontamente. Elena ficou me olhando, esperando que eu respondesse exatamente o que ela queria. – O que foi?

— Quando você pretendia nos contar sobre Henry?

— Você sabe sobre Henry? – perguntei, surpresa.

— É claro. Todos sabemos. É estranho imaginar que Klaus é papai agora, mas sim, nós sabemos. – ela serviu um pedaço de bolo para cada uma, e bebeu seu café com calma e tranquilidade.

— Quem contou para vocês?

— Liz. – ela disse, simplesmente. Tudo bem, pensei comigo mesma, isso não era um segredo. Na verdade, fiquei até agradecida por não ter que contar a história toda. – E como está sendo para você?

Então me vi repetindo meus medos para Elena, navegando novamente por este mar desconhecido no qual eu me encontrava atualmente. Só que neste caso, Elena foi muito mais compreensiva do que eu esperava que fosse.

— Uau. – disse ela. – Eu sempre soube que você era forte, Caroline. Mas isso supera qualquer coisa. Se eu fosse você, provavelmente já teria partido há muito tempo.

Eu sabia que ela estava tentando ser solidária, mas sabia também que, se ela estivesse em meu lugar, não conseguiria partir. Elena não conhecia Henry.

— Eu não consigo. – sussurrei.

— Eu imagino que não. – ela falou. – Não entendo, mas imagino.

Ela parou, olhou para mim e então desviou o olhar, suspirando. E então eu soube que as defesas que ela havia construído antes de chegar aqui estavam caindo, e ela iria falar tudo o que havia se convencido a não falar.

— Eu sei que você está feliz, e que você merece essa felicidade mais do qualquer um, mas ainda assim... – ela falava rapidamente, como se ela precisasse despejar cada palavra antes de perceber que não deveria as estar pronunciando. – Ele é o Klaus.

— Eu sei, Elena. – eu fiquei calma, sorri tranquilamente, deixado claro que ela podia falar, que tinha o direto de expressar seus sentimentos.

— Como pode estar próxima dele sabendo de todas as coisas horríveis que ele já fez?

—Elena, a verdade é que eu conheço um Klaus completamente diferente daquele que você conhece, e eu o amo por isso. – parei alguns segundos, deixando que ela absorvesse esta informação. – Quando eu olho para o todo, eu sei que as coisas horríveis são parte dele, e que não vão desaparecer só porque eu gostaria que desaparecessem. Mas isso não diminuí meu amor por ele.

­— Caroline, como isso pode ser possível, ele afastou o Tyler... – ela começou.

— É possível, sim. – eu a interrompi. Eu sabia que não deveria dizer o que estava prestes a dizer, mas eu estava ficando sem armas. – Você é a prova viva de que isso é possível.

— Eu sei que o Damon não é exatamente um exemplo a ser seguido, Car.

— Não é. Mas ainda assim, você o ama, e isso não te faz esquecer o fato de que ele já matou Jeremy uma vez. – falei. Ela estremeceu com a lembrança.

— Eu nunca esqueci isso.

— E nunca vai esquecer, mas você continua com ele, não é? – ela sorriu, finalmente entendendo.

— Por que nós fazemos isso, Caroline? O que aconteceu com nossos planos de casar com um homem de negócios, sem ficha criminal? – ela riu.

— Nós não podemos escolher quem amar, nós simplesmente amamos. – eu falei. – E no final do dia, nós escolhemos ficar pelas coisas boas, e não simplesmente desistir pelas coisas ruins.

— New Orleans está te fazendo muito bem. – ela elogiou.

— Você não faz ideia.

™˜***********

As semanas seguintes passaram de maneira atribulada. Preenchi cada minuto de meus dias com preparativos para o casamento, encontros com meus amigos e longas ligações para Klaus. Minha mãe estava ficando desnorteada com a quantidade de decisões que eu atribuía a ela, referentes a decoração, bolo e claro, o vestido.

Com o passar do tempo, o casamento foi tomando forma, e tudo estava se encaminhando para a realização do desejo de minha mãe e Benjamim. Seria uma cerimônia pequena, mas muito bonita. E devido ao pequeno porte do evento, a organização evoluiu rapidamente.

— Você deveria considerar seriamente a organização de eventos como uma possibilidade de carreira. – disse minha mãe, enquanto eu mostrava minhas ideias para a decoração.

Decidimos por um evento ao ar livre, então minha mãe, com todo o seu poder de xerife, conseguiu todas as permissões necessárias para se casar na praça da cidade. Fato que definiu a data do casamento, e o grande dia seria em apenas duas semanas.

Com a proximidade da data, convidei Elena para me acompanhar na escolha de meu vestido. Convite que ela aceitou prontamente.

— O que você está procurando exatamente? – perguntou ela, quando entramos na primeira loja de vestidos.

— Nada longo, pois não será um evento formal. Quero algo chique, mas casual. – eu pisquei para ela. – É o casamento de minha mãe, afinal de contas.

Experimentamos diversos, em três lojas diferentes, mas nada parecia apropriado.

— Klaus virá? – Elena perguntou, quando entramos na quarta loja.

— Não. – respondi, indo direto para os vestidos e eliminando todos que fosse meramente parecidos com os que já havíamos provado. – Ele precisa cuidar de Henry.

­— Entendo. – disse ela. – Você se superou na organização deste casamento, Caroline. Bateu seu próprio recorde.

— Eu sei. – eu falei, rindo. Então parei, olhei para Elena, totalmente concentrada em um vestido que havia encontrado. – Elena, eu preciso te contar uma coisa.

— Conte. – ela respondeu, colocando o vestido na sua frente e admirando-se no espelho.

—Esta cor não fica bem em você. – falei, desaprovando.

— Não precisa pedir permissão para dizer uma coisa dessas, Caroline. É seu dever como amiga. – ela riu.

­— Klaus me pediu em casamento. – falei rapidamente.

Elena ficou estática por alguns segundos, devolveu o vestido para o seu lugar e olhou para mim.

— E o que você disse?

— Eu aceitei. – eu sussurrei.

Ela ficou em silêncio, olhando para algum ponto acima de minha cabeça.

— Por favor, diga alguma coisa. – supliquei.

— Eu não sei se algum dia aceitarei cem por cento essa relação, Caroline. – ela admitiu. – Mas levando em consideração tudo o que você me falou da ligação de vocês dois, casamento me parece o destino mais provável.

— O que isso significa? – perguntei, confusa.

— Significa que estou feliz por você, Caroline. E que eu não vou perder o casamento de minha melhor amiga. – ela sorriu e me ofereceu um abraço.

Enquanto eu a abraçava, falei:

— Isso significa que você aceita ser minha madrinha?

— Significa que eu mataria você se não eu fosse sua madrinha.

E com isso, eu fiquei muito mais animada com o futuro que eu tinha pela frente. Aos poucos, todas as peças estavam se encaixando, e meus medos ficavam cada vez mais para trás.

Naquele momento, eu estava mais feliz do que nunca por ter voltado a Mystic Falls. Tudo a minha volta estava em constante movimento, eu estava ocupada todos os minutos do dia com tarefas práticas, que ocupavam minha mente. Mystic Falls parecia viver o mais caloroso dos verões, e eu podia sentir a cidade me aquecendo. Pois eu gostando ou não, New Orleans estava vivendo seu mais frio inverno, com tempos sombrios e cinzas. Contudo, havia esperança em meu coração, e eu sabia que isso me manteria aquecida por muito tempo.

***********

Quando o grande dia chegou, a praça da cidade estava irreconhecível. As cadeiras estavam alinhadas em dois grupos, voltadas para um toldo coberto de flores que abrigaria os noivos durante a cerimônia. O caminho até lá era determinado por um tapete vermelho, que logo guardaria os passos confiantes da noiva. Espalhei luminárias japonesas brancas pelo lugar, combinando com o resto da decoração, toda baseada no branco e no lilás. O cenário era mágico.

O dia todo foi dedicado à minha mãe, e quando eu a vi pronta quase não a reconheci.

— Você está linda. – falei, quando entrei no quarto dela.

— Você também. – eu já estava pronta e vestindo o vestido que Elena me ajudou a escolher, e no meu dedo, o meu anel de noivado. Exatamente no lugar de onde ele nunca deveria ter saído.

— Você está pronta? – perguntei.

— Estou. – ela suspirou e sorriu de maneira resplandecente.

Havia chegado a hora.

**********

Benjamim a esperava no altar, e eu pude ver a felicidade e o brilho em seus olhos quando minha mãe caminhou pelo tapete vermelho em sua direção. Damon havia se oferecido para levá-la até o altar, ideia que provocou risos em minha mãe, mas ela aceitou o convite.

— Um movimento errado, e você já era. – disse ele para Benjamim, fazendo um gesto sugestivo ao correr o dedo pela sua garganta.

— Damon. – minha mãe advertiu.

— É sério. Ela tem uma arma. – Benjamim sorriu. Disso ele já sabia.

Eu era madrinha de casamento, então estava em uma posição privilegiada. As cadeiras estavam todas preenchidas, e algumas pessoas acompanhavam a cerimônia de pé. E eu apenas fiquei ali, assistindo a tudo e chorando baixinho, tão feliz por ver minha mãe vivendo este momento.

Quando a hora da troca de alianças se aproximou, o sol já estava se pondo. Quando minha mãe disse “eu aceito”, a escuridão já havia chegado e as luzes se acenderam, dando um ar mágico àquele momento. Quando Benjamim disse “eu aceito”, fiz um pedido silencioso à primeira estrela da noite, desejando que aquele amor durasse para sempre.

A recepção aconteceu no Grill, que parecia um lugar totalmente diferente com a decoração. Todos estavam bebendo e dançando, e eu tive o momento social, onde cumprimentei a todos e aceitei os desejos de felicidade espalhados por todo o ambiente. Em determinado momento, fui até o balcão, pedi uma bebida e me sentei em um canto afastado, observando minha mãe e Benjamim dançando como dois adolescentes apaixonados.

Parte de minhas preocupações em deixá-las se desvaneceu naquele momento. Eu não tinha dúvidas de Benjamim era perfeito para ela, e tomaria conta daquela policial durona quando eu não estivesse longe.

Então eu notei um desconforto no ar, cabeças voltadas para um ponto específico. Segui a direção dos olhares e senti meu coração parar. Ali, na porta do Grill, estava um convidado atrasado, impecavelmente vestido para a ocasião.

Klaus havia chegado.

******

— O que está fazendo aqui? – perguntei, quando ele se aproximou de mim. Ele pegou minha mão e sorriu para mim, fazendo-me perceber quanta saudade eu senti dele.

— Eu não poderia perder o casamento, poderia? – ele falou, sorrindo, e mostrando a caixa que trazia consigo. – E além disso, Henry ameaçou me matar caso eu não viesse.

Eu ri, completamente capaz de imaginar Henry ameaçando Klaus.

— Você está linda, Love.

— Você também. – elogiei.

— Onde estão os noivos?

— Ali. – eu falei, apontando para minha mãe e Benjamim, que haviam interrompido sua dança.

Eu o acompanhei até lá, e na pequena distância entre meu canto afastado e os noivos, Klaus caminhou segurando minha mão, protetor, até mesmo possessivo. Apenas um aviso para Mystic Falls de que, agora, estávamos juntos.

— Liz, Benjamim. – Klaus os saudou. – Parabéns pelo casamento. Espero que sejam muito felizes juntos.

— Obrigada, Klaus. – disse minha mãe. – Não sabia que viria.

— Vou uma decisão de última hora. – ele se desculpou. – Mas eu precisava entregar o presente pessoalmente.

Ele entregou a caixa para minha mãe, que desfez o grande laço que branco que a envolvia e a abriu.

— Nossa, é lindo. – ela disse, e Benjamim acenou em concordância. – Mas o que é isso?

— É o esqueleto vitrificado de uma esponja do mar.

— E o que tem dentro? – Benjamim perguntou.

— Esqueletos de um casal de camarões. – Klaus explicou.

— Esqueletos? – perguntei baixinho, para que só ele ouvisse. – Você vai presenteá-los com esqueletos?

— Quando os camarões encontram seu par, eles adotam uma esponja como seu novo lar. – Klaus disse. – É seguro e confortável. E eles tem seus filhos ali, que saem da esponja para viver suas vidas. Mas o casal de camarões, quando cresce, já não consegue mais sair. No Japão e nas Filipinas é um símbolo de amor eterno, e é o que eu desejo a vocês.

— Obrigada, Klaus. Foi muito atencioso. – disse minha mãe, observando com atenção o esqueleto da esponja.

Então outras pessoas abordaram os noivos, e mais votos de felicidade foram dados. Nós nos misturamos com as outras pessoas e começamos a dançar.

— Bela maneira de dizer que casamento é uma prisão da qual eles não vão conseguir fugir. – brinquei.

— É só uma metáfora, Love. – ele falou. – Mas nós faz pensar, de qualquer modo. Eles estão presos, é verdade. Presos com o amor de suas vidas. Então é algo negativo?

Não respondi, pensando naquilo. Talvez não fosse. Afinal, não é isso que desejamos todos? Uma vida inteira ao lado do amor de nossas vidas.

*******

No dia seguinte, Klaus entregou outro presente, algo que estávamos planejando há dias.

— Uma viagem para Paris? – minha mãe arregalou os olhos, olhando para o envelope.

— Uma lua de mel em Paris. – esclareci, sorrindo.

— Não podemos aceitar. Caroline, já havíamos decidido esperar, pois temos nossos empregos, não podemos viajar agora.

— Eu já resolvi tudo isso. Vocês estão, oficialmente, de férias. – anunciei. Minha mãe franziu as sobrancelhas para mim, e eu dei de ombros.

É claro que lua de mel não é um argumento válido para nenhum chefe deste mundo, mas para minha sorte, a verbena não era conhecida deles. De modo que, em alguns dias, minha mãe e Benjamim decolariam para a viagem mais romântica de suas vidas.

********

Nós nos despedimos no aeroporto. Minha mãe e Benjamim em direção a Paris, e Klaus e eu em direção a New Orleans.

— Como é mesmo o nome? – perguntou minha mãe, indo em direção ao portão de embarque.

— Pont des arts. – falei. – Divirta-se.

Ela acenou até que entrou no avião, então Klaus me abraçou e disse:

— O nosso voo já vai ser chamado.

Olhei para ele, imensamente agradecida por ele ter vindo.

— Vai ser bom voltar para casa.

De fato, não demorou muito para estivéssemos acomodados em nossos assentos, esperando que o nosso voo decolasse.

— Eu também vim porque queria lhe dar a notícia pessoalmente. – Klaus disse, casualmente.

— Que notícia? – perguntei, sentindo meu coração se apertar.

Ele pegou minha mão, sorriu e disse:

— Jane-Anne encontrou uma maneira de salvar Henry.

Então eu soube que a chama de esperança em nossos corações seria suficiente para descongelar o inverno que se instalara em New Orleans e trazer o mais caloroso verão.


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Notas finais do capítulo

Então, o que estão achando? Chegamos ao meu momento de dúvida... Aqui tenho que resolver essa história da morte da Bonnie, do sumiço do Stefan e tudo o mais. Vamos ver no que dá...

Não consigo colocar o link do Klaus =(. Aqui: http://theoriginalsaaf.com/wp-content/uploads/2013/10/Joseph-Morgan-Cover-Editorial-Bello-Magazine-Fall-Winter-51-Issue_003.jpg

Enfim, nos vemos no próximo capítulo!