Seu último amor - 2ª temporada escrita por Jeniffer


Capítulo 7
Sobrevivendo


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus queridos!

Tive alguns problemas nos últimos dias, mas enfim... cá estou.



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“— Estamos ganhando a guerra, papai?

— Estamos resistindo, David. É o melhor que podemos fazer neste momento.”

O livro das coisas perdidas, de John Connolly. Citação da página 71, na edição de 2012 da editora Bertrand Brasil.


O sol estava se pondo na fraca linha do horizonte, criando uma pintura perfeita emoldurada pela janela do avião. Eu descansava minha cabeça no ombro de Klaus, enquanto observava aquele espetáculo que coroava nossa volta para casa.

Klaus estava tenso, preocupado e passou a maior parte da viagem refletindo sobre algo que exigia sua total dedicação. Por mais que eu estivesse preocupada com Henry, me forcei a pensar que tudo não passava de saudades do pai, e a turbulência de outra mudança repentina.

Entrelacei meus dedos nos dele, e o tirei daquela fixação mental.

— Este anel me lembra um pequeno floco de neve. – falei, olhando para o anel que reluzia em meu dedo e me transportava diretamente para a torre Eiffel. – Como aquele que você pintou.

Ele sorriu um sorriso tão fraco que acabou morrendo no caminho até os seus olhos.

— Eu tenho outro, caso você queira trocar. – ele disse.

— Como assim?

— Eu havia escolhido outro há um tempo. Com tudo o que estava acontecendo... – ele suspirou. – Eu havia me esquecido de minha promessa a Émile.

Empurrei aquela lembrança sangrenta de meus momentos com Marcel para o fundo de minha mente, antes que ela tomasse conta de mim.

— É tão bonito quanto este? – brinquei.

— Não, mas gosto da ideia de você ter outra opção.

Eu olhei para ele e tentei fazê-lo sorrir, mas todos os meus esforços foram em vão.

— Ele vai ficar bem, Klaus. – sussurrei. – Fique calmo.

Ele não respondeu, apenas afastou seu olhar e voltou ao seu estado contemplativo de antes. Eu sabia que não havia nada que eu pudesse dizer para acalmá-lo, pois isso só aconteceria quando ele visse Henry e constata-se por si mesmo que ele logo melhoraria com sua presença.

Então apenas voltei a apreciar os últimos minutos do pôr do sol, antes de voltar a ver as luzes de New Orleans, com aquele sentimento reconfortante de estar voltando para casa.

**********

Klaus dirigiu de maneira assustadora, fazendo com que chegássemos em casa em tempo recorde. Contudo, quando ele estacionou o carro em nossa mais nova casa, aquele lugar tão belo e que eu nem mesmo tivera a chance de chamar de lar, ele não saiu imediatamente. Suas mãos continuavam presas ao volante, sua cabeça baixa e os ombros tensos. Saí do carro, dei a volta até o lado dele, abri a porta e estendi minha mão para ele.

— Vamos. – falei, baixinho. Ele aceitou minha mão e saiu do carro. Entrelacei nossos dedos e tomei a iniciativa de entrar na casa, sendo o apoio dele durante o caminho. A pressa dele havia desaparecido e deu lugar ao medo puro e simples.

Quando alcançamos a porta percebi que eu não tinha nenhuma chave, o que não foi problema algum, uma vez que Elijah abriu a porta imediatamente.

— Bem vindos. – disse ele, simplesmente, e se afastou, deixando claro que deveríamos segui-lo.

— Veja só quem está de volta. – disse uma voz falsamente feliz quando chegamos à sala de estar.

— O que ela está fazendo aqui? – perguntei.

— Eu não posso estar em dois lugares ao mesmo tempo. – respondeu Elijah.

Olhei para Katherine, placidamente sentada no sofá, com as pernas cruzadas. Apenas do sorriso venenoso continuar em seu rosto, ela já não era mais a mesma. Seu cabelo estava levemente bagunçado, e a maquiagem estava muito mais exagerada do que eu estava acostumada a ver. Eu conseguia ver o quanto era custoso para ela manter aquela pose altiva e oca.

— Vieram brincar de casinha? – perguntou ela.

— Katherine, comporte-se. – advertiu Elijah. – Espero que tenham aproveitado a viagem.

— Pelo tamanho do anel, eu diria que eles aproveitaram. – riu Katherine.

Forcei-me a manter a minha mão imóvel, mas tive vontade de escondê-la. O comentário de Katherine fazia tudo parecer tão... errado.

Então ouvi um lamento baixo, e finalmente percebi que Alexia também estava presente, em um canto afastado da sala. Olhei para o berço que ela vigiava e fiquei muda.

— Onde está Henry? – sussurrou Klaus, apesar de eu ter certeza de que ele sabia a resposta.

— Aquele é o Henry. – disse Elijah, com um toque de tristeza.

Não podia ser. Eu fui até o berço, e apesar de reconhecê-lo, eu não conseguia assimilar o que via. Henry havia crescido muito, e aparentava ter no mínimo quatro anos, o que não condizia em nada com o curto espaço de tempo em que nos afastamos.

— O que está acontecendo com ele? – perguntou Klaus quase em agonia.

— É o que estamos tentando descobrir. – respondeu Elijah.

Olhei para Henry, que nos reconheceu imediatamente e sorriu de maneira doce. Ele parecia desconfortável, e eu segurei sua mãozinha entre meus dedos.

— Ele não está com fome? – perguntei para Alexia, que parecia à beira de um ataque de nervos.

— Provavelmente. Ele não consegue comer direito.

— Não consegue ou não quer?

— Não consegue. Tudo o faz passar mal. – ela sussurrou, e eu pude ter a certeza de que quando ela dizia tudo, ela já havia tentado de tudo mesmo.

— Como ele tem dormido?

— Muito pouco, quando dorme.

Eu estava ficando agoniada, olhando para aquela criança que, há alguns dias, era um bebê tão pequeno, e agora parecia cansado, doente.

— O que sabemos, Elijah? – perguntou Klaus.

— Eu o levei a um médico quando começamos a desconfiar do estado de Henry. – Elijah começou a relatar. – Toda aquela irritabilidade, dificuldade em dormir e em comer, não parecia normal. O médico disse não ter ideia do que estava acontecendo, então começamos a realizar alguns testes.

— Espero que tenha tomado todos os cuidados necessários, irmão. – advertiu Klaus.

— É claro que sim, Niklaus. – respondeu ele, quase ultrajado.

— Não tivemos escolha, Klaus. – disse Katherine. – Dr. Frankestein não tinha nenhuma vaga na agenda.

Amaldiçoei-me por Katherine estar ao lado de Henry em um momento tão difícil, e eu estar tão longe.

— Busque alguma coisa, Alexia. Ele está faminto. – falei.

— Boa sorte, Caroline. – falou Katherine. – Tome cuidado para não estragar este Louboutin maravilhoso.

Ignorei o comentário e esperei Alexia voltar.

— Que tipo de testes Elijah? – Klaus estava tentando ignorar Katherine ao máximo, mas ela estava transformando isso em uma tarefa muito mais difícil.

— Bem, os médicos tradicionais não tem nenhum conhecimento sobre a situação de Henry. Então, fizemos alguns testes com o sangue dele.

Alexia voltou com um prato com frutas amassadas e um copo d’água, e entregou a mim. Com colheradas rasas, comecei a alimentar Henry, esperando pacientemente que ele mastigasse com dificuldade.

— Colhemos uma amostra do sangue de Henry, mas o médico não conseguiu compreender o que estava acontecendo. – Elijah continuou. – Com uma amostra de meu sangue e um dos híbridos, conseguimos identificar os elementos desconhecidos.

— Elementos desconhecidos? – Klaus estava ficando impaciente. Henry parecia estar realizando um esforço colossal para engolir a comida.

— Um gene de vampiro e um de lobisomem. – Elijah respondeu com um suspiro.

Eu olhei para Elijah, assustada, esquecendo a colher suspensa no ar.

— Ele está indo bem. – falou Alexia, com alívio. – Eu assumo daqui.

Entreguei o prato sem pestanejar e fui me sentar ao lado de Klaus, que imediatamente entrelaçou seus dedos com os meus, sob o olhar investigativo de Katherine.

— Não é uma situação conhecida, então é difícil afirmar com certeza o que está acontecendo. Estamos nos baseando em teorias, nada mais.

— Que tipo de teorias? – perguntei.

— O que foi possível ver é que Henry possui ambos genes em seu sangue. É um híbrido, assim como seu pai. Contudo, esses genes estão se destruindo, como se cada um identificasse o outro como algo estranho, que precisa ser destruído. E tudo isso o está enfraquecendo.

Um silêncio incômodo se instalou na sala, enquanto assimilávamos as palavras de Elijah. Eu não queria ser o golpe que quebraria aquilo, mas uma pergunta se formou em minha mente, e com certeza na de Klaus também, desde que entramos na casa.

— Por que ele está crescendo tão rápido? – sussurrei.

— Eu não sei... – respondeu Elijah, evitando nossos olhos.

— Não é óbvio? – disse Katherine. – O mais rápido que ele crescer, mais rápido ele pode dar o fora daqui.

— Tente se lembrar que você não mais se cura com facilidade, Katerina. – Klaus quase rosnou as palavras para ela. Elijah não reagiu, afinal, ele sabia que Katherine estava destilando veneno à toa.

— Chame Jane-Anne. – disse Klaus, levantando-se bruscamente. – Magia criou esta situação. Magia irá resolver.

**********

Henry adormecera há algumas horas, uma proeza rara, segundo Alexia. Eu fiquei ao lado dele durante todo este tempo, tentando entender o que meus olhos me mostravam. Henry ainda era... Henry. Reconhecível, mas diferente. Ele respirava com certa dificuldade, mas seu sono era agitado.

Eu ouvi os movimentos de Klaus no andar de baixo, acredito que na sala. Eu ainda não havia me acostumado com a casa nova, e não a conhecia plenamente para afirmar com certeza. Ouvi as pedras de gelo batendo contra o copo, posteriormente preenchido por uísque. Ele estava frustrado, era nítido.

Ouvi os saltos de Katherine entrando na sala e repetindo os mesmos movimentos de Klaus, então apurei os ouvidos.

— Não que eu me importe, mas acredito que álcool é prejudicial aos seres humanos. – falou Klaus, distraído.

— Isso nunca os impediu. – falou ela, jogando-se no sofá. – Onde está sua bruxinha?

— Atrasada.

O silêncio se instaurou na casa toda, permitindo que todos pudessem ouvir os barulhos da noite. Eu fiquei imóvel, observando Henry e prestando atenção à conversa deles.

— O que você vai fazer? – Katherine insistiu.

Klaus não respondeu. Não era mesmo necessário, pois todos nós sabíamos a resposta: ele não fazia a menor ideia. Não sabíamos o que estávamos enfrentando, nem o que Henry estava suportando. Como combater um inimigo invisível?

— Niklaus Mikaelson agora é papai. Quem diria, não é?! – riu ela. – Você fez terapia ou vai transmitir todos os seus problemas para a sua prole?

— Prometi ao meu irmão deixá-la livre, para que ele pudesse ser feliz. – Klaus soava ameaçador. – Mas eu não sou conhecido por manter promessas.

— Calma, híbrido assassino original. Eu só estou levantando questões importantes. – Katherine bebia exageradamente, o que em sua condição atual, não poderia ser uma boa escolha. – Já decidiu se ele vai aprender história ou como fazer história?

— Eu posso matá-la sem o menor esforço, Katherina. Mas não me sinto particularmente bondoso no momento.

— Katerina. – a voz de Elijah surgiu no ambiente. – Vamos embora.

Eu ouvi claramente quando Elijah arrancou o copo da mão de Katherine e se dirigiu até a porta.

— Voltarei amanhã, irmão. – disse ele, antes de fechar a porta.

Olhei para Alexia, que dormia profundamente no outro canto do quarto, e a julgar pelo cansaço dela, eu apostava que ela não tinha um descanso apropriado em vários dias. Movi-me o mais silenciosamente possível para não acordá-la e fui para a sala. Klaus já estava se servindo de mais um copo, e eu apenas fique ali, assistindo a maneira como ele colocava o gelo no copo, como se realizasse um ritual. Eu o observei tentando afogar seus sentimentos naquela simples bebida. Pareceu-me que ele não tinha consciência da exímia habilidade de natação que nossos sentimentos possuem.

— Klaus. – chamei, baixinho.

— Caroline.

Ele disse meu nome de uma maneira tão singular, que eu pude ouvir em sua voz cada nota de tristeza, dúvida e desespero, se misturando e criando um silencioso, mas ao mesmo tempo gritante, pedido de socorro.

Eu o levei até o sofá e nos sentamos de frente um para o outro, mas ele ignorou meu olhar por alguns segundos.

— Devo perguntar o que está acontecendo? – perguntei, sem saber se ele gostaria de conversar a respeito ou não.

— Pergunte, se quiser. Eu não tenho respostas, Love. – ele parecia cansado.

— Então pergunte a mim. – falei.

— O que quer dizer?

— Pergunte a mim todas estas dúvidas que estão girando em sua mente.

Ele olhou para mim, de certa forma admirado com a proposta. Sorriu um sorriso débil e então disse:

— Eu acreditei que Henry seria a personificação de minha redenção. Que eu poderia corrigir todos os erros do passado com seu futuro. E agora eu nem mesmo sei se ele terá um futuro.

Este medo crescia em todos ao redor de Henry, mas ouvi-lo de Klaus o fazia ser ainda mais terrível, como se fosse possível fazê-lo menos real se nunca falássemos a respeito. Como se personificá-lo em palavras atribuísse uma vida incontrolável a ele.

— Você está com medo? – minha voz tremeu.

Klaus olhou para mim e viu através de minha pergunta, como sempre compreendendo-me demasiadamente bem. Eu queria saber se ele também estava com medo, se este sentimento que crescia em meu coração e obstruía minhas veias era sem sentido, e tudo não passasse de um exagero proveniente do excesso de cuidado com o primeiro filho.

— Sim. – ele disse, como que se desculpando. E eu soube que ele se desculpou por não poder dizer que não havia motivos para sentir medo, pois ele iria resolver tudo.

Klaus olhou para o lado, tentando esconder as lágrimas que agora rolavam pelo seu rosto.

­­— Eu não sei o que fazer. – confessei.

— Eu também não. Eu pensei que poderia ser um bom pai, que poderia consertar tudo... – sua voz falhou e ele olhou para mim com olhos suplicantes. – Mas neste momento meu filho está sofrendo e eu não consigo consertar isso.

A maneira como ele olhou em meus olhos quebrou meu coração em mil pedaços. Ele buscou respostas em mim, e encontrou um vazio tão grande quanto o dele mesmo, pois eu não tinha respostas. Eu só conseguia ficar sentada, imóvel, querendo não pensar. Querendo não sentir.

— Isso não culpa sua, Klaus. – falei, quando reencontrei minha voz perdida naquele mar de questionamentos.

— Eu pensei que... ele iria consertar tudo. – a voz dele soou tão baixa que eu precisei apurar os ouvidos para entender suas palavras. – Eu sou uma má pessoa, Caroline. Mas nem sempre fui assim. Antes de minha família tomar o rumo que tomou, nós éramos felizes. Não completamente, é claro. Meu pai garantia isso. Mas éramos felizes, à nossa maneira.

Eu conhecia a família original, e ainda assim só tinha um pequeno vislumbre do passado sombrio deles.

— Posso lhe contar um segredo?

— É claro.

— Eu nunca quis ser esta pessoa que todos odeiam. – ele bebeu o que sobrou no copo. – O mundo é um lugar frio, Caroline. Eu apenas me ajustei à temperatura.

E assim, aos poucos, eu ia desvendando a personalidade de Niklaus Mikaelson. Agora, mesmo que por um breve momento, eu pude ver o Niklaus humano, que há tanto tempo havia ficado para trás. Eu sabia que ele valorizava sua família, pois este apreço continua até hoje, por vezes de um jeito torto, mas continua. É claro que crescer sendo desprezado pelo homem que ele chamava tão orgulhosamente de pai deixara marcas eternas, que só pioraram com todo o tempo que ele viveu fugindo da ameaça constante de morte. Klaus sempre foi o tipo de pessoa que protege quem ama, com todas as armas que tiver. Contudo, o tempo criou esta armadura de ameaça, morte e violência que ele vestia todos os dias e que garantiu que todos temessem seu nome. O lado bom dele ficou escondido por muito tempo, mas nunca deixou de existir.

E eu soube que Henry seria o pretexto perfeito para trazer de volta este lado, para que Klaus pudesse justificar o fato de que, todos os dias, ele passara a enfrentar o mundo sem sua armadura. Ele seria o motivo pelo qual a bondade de Klaus pudesse aparecer sem receios. Eu sabia que se meus amigos pudessem vê-lo agora, do jeito que eu o vejo, nunca teriam receios sobre ele, porque apesar de todas as coisas horríveis que ele já fizera, ele mesmo já havia sofrido coisas muito piores. E neste jogo eterno, não existem culpados. Nós apenas fazemos o melhor que pudermos com o que a vida nos deu.

— Nós vamos dar um jeito. – prometi, mesmo sem saber o que fazer.

Ele não sorriu nem pronunciou uma palavra sequer, apenas me puxou para perto e me beijou. Contudo, logo paramos ao ouvir os passos na entrada da casa.

— Jane-Anne ao resgate. – disse nossa visitante, entrando sem a menor cerimônia.

— Já não era sem tempo.

*******

Passamos as duas horas seguintes detalhando a situação de Henry para Jane-Anne. Acordei Alexia para que o relatório fosse o mais completo possível, e Klaus chamou Elijah, que não tardou a chegar. A cada minuto que passava, Alexia parecia mais e mais surpresa e confusa com o relato que ouvia destas pessoas tão confusas quanto ela. Isso não era muito animador, mas não tínhamos muitas escolhas.

— Eu nunca ouvi falar sobre nada disso. – disse Jane-Anne, depois de ouvir todos os detalhes da situação de Henry.

— Nunca existiu uma criança como Henry, afinal de contas. – constatou Elijah.

— Então o que você conclui de tudo isso? – perguntei a ela.

— Eu não tenho ideia. É nítido pelos exames que genes estão lutando um contra o outro.

— Mas ele não deveria possuir os dois genes. – falou Klaus, exaltado.

— Você é um híbrido, faz sentido. – respondeu Jane-Anne. – Falhas genéticas acontecem o tempo todo entre humanos. Não precisa ser bruxa para saber disso.

— Uma falha genética? – Elijah sussurrou.

— Como você se transformou em híbrido? – Jane-Anne perguntou.

— Meu pai biológico era um lobisomem, e então nossa mãe nos transformou em vampiros... – Klaus parou, como se estivesse próximo de uma conclusão.

— Meu palpite é que o corpo dele não está aguentando estas mudanças. – Jane-Anne falou. – Ele é imortal, mas a parte lobisomem ainda evolui, e por isso ele está fazendo isso tão rápido. Em algum momento a imortalidade precisará agir e ele não irá mais envelhecer. É complicado, nunca vi nada igual.

— E o que você pode fazer? – perguntou Elijah.

— Agora? Absolutamente nada. – disse ela, levantando-se. – Eu preciso de ajuda nisso. Vou procurar outras bruxas, pedir ajuda aos ancestrais e ver o que podemos fazer.

— Talvez o grimório de nossa mãe tenha alguma coisa útil. – disse Elijah.

— Como eu disse, preciso de ajuda nisso. E toda a ajuda é bem vinda.

Assisti Jane-Anne enquanto o sol nascia devagar. Um novo dia chegara e nós continuávamos aqui, pensando em Henry e na bagunça que nossas vidas haviam se tornado.

Deitei minha cabeça em uma das almofadas do sofá e me imaginei em Paris, e por alguns segundos tudo estava em paz, e eu até podia ouvir o tilintar suave dos cadeados na Pont des arts.

***************

Os dias passaram de maneira estranha. O tempo deixou de fazer sentido para mim, e eu já não mais tentava compreendê-lo. Os dias transformaram-se em semanas, e o primeiro mês passou sem quase ser notado. Jane-Anne não fazia progressos notáveis, apesar das ameaças diárias para que se apresasse.

Klaus mantinha New Orleans sob controle através dos híbridos, pois não saíamos de casa por motivo algum. Henry crescia a olhos vistos, e Klaus queria estar perto dele o tempo todo. Seus primeiros passos, suas primeiras palavras, tudo aconteceu muito rápido. Ele estava se desenvolvendo rapidamente, o que o concedia dias vertiginosos de saúde e enfermidade. Seus dias bons eram raros, mas eram aproveitados ao máximo, pois ele se alimentava sem dificuldades e adormecia traquilamente. Contudo, estes dias eram precedidos por horas de dor, mal estar e choro.

Enquanto isso, Henry aprendia o máximo que podia. Falar não se mostrou um problema para ele, que o fez com naturalidade. Klaus e eu o ensinamos a ler, e acabamos improvisando uma pequena escola em seu quarto, com livros que o distraiam das dores e esforços de seu corpo para sobreviver.

Ele provou ser muito inteligente, além de ser extremamente interessado em tudo o que ouvia de Klaus.

— Pai, o que aconteceu com Constantinopla?

Os olhos de Klaus brilhavam de uma maneira espetacular todas as vezes que Henry o chamava de pai, título que ele merecia com toda a certeza. Klaus não abandonou Henry em nenhum momento ao longo deste período conturbado, sofrendo com as dores do filho e suspirando aliviado quando ele estava bem.

Klaus o amava como nunca julguei possível alguém amar outro alguém. Ele seria capaz de qualquer coisa para salvar Henry desta tempestade. Mas enquanto não encontrávamos respostas, aproveitávamos o máximo de tempo possível ao lado de Henry. Klaus aproveitava particularmente estes momentos em que podia ensiná-lo sobre a história do mundo, e enchê-lo de cultura. Às vezes, ele tocava piano para que Henry dormisse.

Jane-Anne nos visitava quase diariamente, trazendo poções e infusões de ervas que ajudavam Henry com as dores que ele sentia, que por vezes foi a única coisa que o fez dormir. Nestas visitas, ela estudava o grimório de Ester sempre com a supervisão de Klaus ou Elijah. Deste modo, ela havia feito um bracelete para proteger Henry do sol, algo que não foi muito efetivo. As primeiras tentativas de passeios ao ar livre não duraram mais do que alguns minutos. O sol não queimava a pele de Henry, mas ainda assim o incomodava.

Como Henry ansiava por sair de casa, eu o levava até o jardim à noite, assim nada o incomodava, e ele podia aproveitar o aroma das flores e olhar as estrelas, sua mais nova paixão. Ele sabia identificar cada uma das constelações que eu pudesse avistar.

— Você tem lido bastante a respeito de constelações, não é? – falei, rindo baixinho.

— É tudo o que eu posso fazer. – disse ele, suspirando.

Nós tentávamos o máximo que podíamos, mas a tristeza que crescia em Henry não podia ser combatida com facilidade. Com o tempo e a rapidez de seu crescimento, ele poderia facilmente ser confundido com uma criança de seis anos. Contudo, ele nem mesmo tinha um ano. E em tão pouco de vida, ele sofrera, e ainda sofre, o suficiente para séculos de existência. Ele não estava apenas crescendo, ele também estava amadurecendo.

— Que flor é aquela? – perguntou ele, arrancando-me de meus devaneios.

— Um narciso. – eu respondi.

— Não tinha visto esta flor. – ele lamentou.

— Elas floresceram há pouco. – expliquei. – Você quer se deitar?

— Sim.

Eu o levei para o quarto e o pus na cama. Ele estava cansado.

— Sabe, a flor Narciso nasceu por causa de um homem muito bonito, também chamado de Narciso.

— É verdade?

— Sim. É uma lenda, que conta a história de Eco e Narciso. Espere um segundo.

Fui rapidamente até a biblioteca e peguei um livro grande e pesado, que continha lendas Greco-romanas com ilustrações belíssimas, e o levei até o quarto de Henry.

— Você pode lê-la amanhã, se quiser. Descanse agora.

— Leia para mim, mamãe. – pediu ele.

Fiquei imóvel. Ele nunca havia me chamado assim. Tentei fingir que não percebi, e sentei-me ao seu lado na cama e li a lenda de Eco e Narciso para ele, que acabou adormecendo antes mesmo do final. Deixei-o dormindo e fui procurar Klaus.

Ele estava na sala, olhando para a janela.

— Klaus? – chamei.

— Sim, eu ouvi. – disse ele, sem se virar.

Ficamos em silêncio. Eu sabia que não havíamos conversado sobre isso, nem mesmo tentamos explicar a situação para Henry.

— Incomoda você? – perguntou ele, virando-se em minha direção.

— Não. – falei relutante. – Não sei. Eu não sou a mãe dele, e não sei se devo assumir esse papel.

— Por que não?

Isso era complicado demais. Eu nunca me imaginei como mãe, e agora Henry me via deste jeito. É claro que eu o amava, e queria o bem dele, mas ainda assim.

— E a Hayley? – perguntei.

— Você acha que Henry precisa de alguém como Hayley? – Klaus falou. – Ele precisa de uma família.

Eu estava confusa, mas antes que pudesse esboçar qualquer reação, meu celular tocou.

— Alô? – atendi,

— Oi, filha! – disse minha mãe, animada.

— Oi, mãe!

Por alguns minutos ouvi todas as novidades animadas de minha mãe, surpresa com cada uma delas. Caminhei por aí enquanto conversava com ela, tentando entender o que ela dizia com aquela pronúncia rápida de quem tem muito para contar.

— Espero que esteja tudo bem com sua mãe. – disse Klaus, quando voltei para a sala.

— Mais do que bem, eu diria. – ele olhou para mim, curioso. – Benjamim a pediu em casamento.

— E ela aceitou?

— Sim. – eu me joguei no sofá. – E ela quer que eu volte para casa para ajudá-la com a organização.

— Ajudá-la? – ele riu.

— Sim, você sabe como é. Eu dou duas opções e ela escolhe a que mais gosta. – eu ri também. Ele sabia como eu era com a organização de eventos. – Tudo se trata de quais opções apresentar.

— Então vá.

— Como? – falei. – Como posso partir agora?

— Nós ficaremos bem. – Klaus pegou minha mão e me olhou nos olhos. – Eu vou cuidar dele, Love. Eu o protegerei com a minha vida. Você não precisa se preocupar.

— E se ele precisar de mim? – eu gostava de ideia de ocupar minha mente com outras coisas, por algum tempo. Contudo, Henry precisava de ajuda.

— Por mais que me doa admitir isso, não temos muito que fazer agora. Jane-Anne disse estar perto de uma resposta, pois conseguiu ajuda de alguns ancestrais poderosos.

— Ela tem diversos ancestrais, como pôde demorar tanto?

— Ela precisava encontrar algum disposto a me ajudar. – admitiu ele, com certa tristeza. – Então vá, eu vou mantê-la informada, prometo.

— Eu estou mesmo com saudades dela. – admiti.

— Caroline, você merece isso. Vá, e transmita os melhores votos a ela e Benjamim. – ele me beijou e então levantou-se. Eu sabia que ele estava indo para o quarto de Henry, vigiá-lo por algumas horas. Ele parou quando alcançou as escadas. – Afinal de contas, você precisa praticar para poder organizar o nosso casamento.

Eu sorri para ele, animada apenas com a ideia de um dia estar casada com Niklaus Mikaelson.

*************

Henry só me deixou partir com a promessa de voltar com diversas fotos de tudo o que acontecesse por lá. Eu o deixei no quarto, sentindo meu coração se apertar com a ideia de me afastar dele, em um momento tão frágil.

Klaus me esperava na frente da casa, com a porta do carro aberta.

— Conte-me tudo o que acontecer. – eu falei. – Prometa.

— Eu prometo. – ele me puxou para perto e me beijou demoradamente.

— Vou perder o avião. – sussurrei. Ele girou-me, apoiando minhas costas no carro.

— Sempre haverá o próximo. – disse ele, entre beijos.

— Eu preciso ir. – eu falei. Ele suspirou e se afastou, deixando-me entrar no carro.

— Até breve, senhora Mikaelson.

— Até breve, senhor Mikaelson.

Dei a partida e comecei a me afastar, indo em direção a rua. Klaus então apareceu ao lado do carro quando eu havia ultrapassado o portão.

— Por favor, volte logo. – suplicou ele.

— Você nem vai notar minha ausência. – falei.

Ele lançou-me um olhar descrente, enquanto eu dirigia para longe. Eu sabia que isso não era possível, pois bastou não poder mais vê-lo pelo retrovisor para que a saudade começasse a me consumir.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que comparações com Crepúsculo serão inevitáveis, mas eu garanto que isso foi necessário.

Notaram que eu alterei meu nome aqui? Sim, meu nome é mesmo Jeniffer, mas vocês podem me chamar de Jeni. :D

Obrigada a todos pelos comentários e etc...!!!!!
Até o próximo capítulo, queridos!



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