Seu último amor - 2ª temporada escrita por Jeniffer


Capítulo 5
A brisa e o vento


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores queridos!
Leiam, por favor. Este capítulo é dedicado à "Iza", pelas suas palavras de incentivo. Obrigada, querida!
Conversaremos nas notas finais. :D



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“— (...) Você está aqui para eu poder lhe ensinar uma coisa. Todas as pessoas que você encontra aqui têm algo para lhe ensinar.

(...)

— O quê, por exemplo? – perguntou.

— Que não existe nada por acaso. Que estamos todos ligados. Que não se pode separar uma vida da outra, assim como não se separa a brisa do vento.”

As cinco pessoas que você encontra no céu, de Mitch Albom. Citação das páginas 49 e 50.


Eu estava sentada em uma velha cadeira de balanço na varanda da casa, com a cabeça recostada e os olhos fechados. Com meus pés eu gerava um impulso fraco, balançando-me suavemente, ouvindo o ranger repetitivo da madeira. O sol me atingia até a altura de minha cintura, indicado que a tarde calma e ensolarada já se encaminhava para a escuridão. Por um momento, interrompi o balanço da cadeira e apurei os ouvidos, sem abrir os olhos. A casa estava estranhamente quieta.

Eu conseguia ouvir a respiração cadenciada de Henry, dormindo no andar de cima. Conseguia ouvir o leve farfalhar das páginas do livro que Alexia estava lendo, assim como o baque surdo do machado nas mãos de Victor, cortando lenha nos fundos da propriedade. Elijah estava visitando Katherine, e a quantidade de híbridos que vigiava a casa diminuíra drasticamente.

E Klaus ainda não voltara.

Abri os olhos e fiquei olhando para a vastidão da propriedade que se tornara meu cárcere por tantos dias. Eu nem mesmo sabia onde estava, mas se precisasse localizar este lugar em um mapa, eu diria que fica bem no meio do nada, a poucos quilômetros de distância de lugar nenhum. O tipo de lugar em que eu sonharia em morar, caso ainda tivesse oito anos de idade, e precisasse de espaço para projetar minhas fantasias e meus castelos imaginários.

Agora este lugar apenas me parecia uma prisão. Não havia vizinhos próximos, luz elétrica ou barulhos da cidade. O telefone só funcionava em alguns pontos da casa, e mesmo que eu tenha economizado o máximo que pude, a bateria acabara, me deixando completamente incomunicável.

Suspirei ao sentir uma leve brisa atingir meu rosto, e então me levantei decidida a entrar e cozinhar alguma coisa, mas quando meu pé direito tocou o chão da sala ouvi um barulho que quebrou o silêncio daquele lugar remoto em mil pedaços, e me deixou paralisada na porta por alguns segundos.

Ao longe, vários carros se aproximavam.

Eu fui imediatamente para o alto da escada, segurando minha respiração, e esperando. O som dos carros aumentava assim como as batidas de meu coração. Eu me senti como uma donzela do século passado, esperando os soldados voltarem para casa para então saber se seu amor sobrevivera à guerra. Eu tentei acalmar meu coração, controlar minha pulsação, mas todo o esforço foi em vão. Aqueles segundos pareciam séculos.

Quando pude avistar o primeiro carro, um sorriso tomou conta de meu rosto. Eu fiquei paralisada, incapaz de mover um músculo sequer. Eu sentia como se meu corpo não mais soubesse como lidar com tamanha felicidade. Pois ele finalmente estava de volta.

Klaus estacionou o carro e todos os outros fizeram o mesmo. Ele abriu a porta e eu finalmente consegui enviar comandos efetivos para meus membros inferiores e movi meus pés em direção a ele. Mas antes mesmo de eu tocar no primeiro degrau da escada, seus braços já estavam em minha cintura e seus lábios já estavam sobre os meus.

E ali estava o que eu tanto queria: aquele sentimento que toma conta de carda terminação nervosa de meu cérebro e anula o tempo e os sentimentos passados, e que por alguns preciosos segundos nos fazem pensar que tudo valeu a pena. Faz-nos esquecer da tristeza, tirá-la de nossos ombros e jogá-las de um precipício, pois elas nunca deveria ter estado ali.

Klaus me beijou com ansiedade, alívio e urgência, ignorando a pequena plateia de híbridos que nos observava de maneira discreta.

— Bem vindo de volta. – eu disse, quando consegui respirar novamente.

— Esta foi a melhor coisa que eu ouvi em muitos dias.

************************

Neste momento, a sala parece pequena demais para tantas pessoas. A solidão que ela acolheu tão prontamente nestes últimos dias desapareceu pela porta dos fundos, e a alegria e empolgação assumiram seu lugar.

Elijah estava sentado na beirada da poltrona, postura ereta, ouvindo atentamente cada palavra do vago relato de Klaus e sua vitória por New Orleans. Eu estava no sofá, ao lado de Klaus. Ele segurava Henry em um de seus braços, que estava acordado e tão atento ao pai quanto Elijah. Sua mão esquerda estava entrelaçada com a minha, e permaneceu deste modo o tempo todo. Alguns híbridos ocupavam todo o espaço restante, e Victor apenas aparecia e desaparecia, ocupado com o conserto de uma janela quebrada no andar de cima.

— A ralé foi a parte mais fácil, contudo, também foi a parte mais demorada, devido a sua quantidade. – disse Klaus. – Mas eles são submissos, e sabiamente, obedecem quem estiver no poder. Havia alguns anarquistas entre eles, tentando se sobressair.

— O que é natural, devido às circunstâncias. – disse Elijah. – Como você os dominou?

— Eu não os dominei, querido irmão. Eu os transformei em exemplos. – Klaus respondeu, com um sorriso de cumplicidade ao irmão.

Um arrepio percorreu minha espinha, e Klaus percebeu, lançando-me um olhar confuso. Eu o tranquilizei com um sorriso débil e um tanto nervoso, fingindo estar tudo bem, apesar de saber exatamente o que significava aquela última frase proferida por ele. Às vezes, eu esquecia do que ele era capaz.

— Marcel possuía um alto escalão, não? – questionou Elijah.

— Sim. A sua família, como ele mesmo chamava. – respondeu Klaus, com uma nota de depreciação em sua voz. – Os únicos que tinham acesso aos anéis que os protegiam da luz solar. Eles nunca representaram uma grande ameaça. São espertos, e sabem reconhecer a derrota quando a veem.

— Achei que eles fossem leais ao Marcel. – eu disse, pela primeira vez participando daquela conversa. Tony, sentado no quarto degrau da escada, riu de minha colocação.

— A lealdade deles morreu com Marcel, Love. Ninguém é leal a uma memória.

Registrei sua reposta, arquivando para análises posteriores. Eu não queria pensar naquilo tudo agora.

—Então, New Orleans está definitivamente sobre seu comando. – eu não pude deixar de notar a ponta de orgulho que atingiu a voz de Elijah.

— Nosso comando, irmão. Esta cidade é, e sempre foi, dos Mikaelson.

— E nós? – perguntou Tony.

— Você vão se espalhar pela cidade, e sufocar qualquer foco de rebelião. Pode levar certo tempo para que todos os vampiros se adaptem à nova situação. – Klaus falava com autoridade. – Tempo este que eu não estou disposto a conceder. Eles devem ser dominados e controlados desde já.

Tony levantou-se, ergueu os braços esticando seu corpo, como se estive se aquecendo para fazer exercícios físicos.

— Faça isso agora, Tony. Espalhe-os pela cidade, escolha os pontos estratégicos mais convenientes. Você conhece New Orleans como a palma de sua mão, eu tenho certeza.

— Pode apostar. – com um simples aceno, todos os híbridos o seguiram, deixando a sala.

Klaus estreitou seus dedos ao redor dos meus, chamando minha atenção. Ele olhava para Henry, em um convite implícito para que eu o olhasse também. Henry lutava contra o sono, tentando manter os seus pequenos olhos abertos e focados no pai, mas ao mesmo tempo cansado de tamanha agitação.

— Eu vou fazê-lo dormir. – eu disse, levantando-me do sofá. Klaus demorou alguns segundos para soltar minha mão, e então me entregar Henry.

—Assim sendo, também vou me retirar. – disse Elijah, que também se levantou e abotoou seu terno impecável.

— Não vai ficar? – perguntei.

— Não. – ele respondeu, com um leve aceno. – Katherine precisa de minha companhia esta noite.

Concordei brevemente e subi as escadas. Henry adormecera antes que eu atingisse o sétimo degrau. O berço dele não era tão majestoso quanto o seu antigo, mas servia bem ao seu propósito. Contudo, bastou que ele saísse de meus braços para que ele ficasse agitado, mesmo adormecido. Bem no fundo de minha mente agradeci por Klaus estar de volta, e por ver o efeito calmante que ele possuía sobre Henry.

— Ele está muito agitado, não acha? – a voz de Klaus soou baixa e melodiosa, e eu tive um leve sobressalto por não ter percebido sua chegada.

Ele entrou no quarto lentamente, tomando um cuidado exagerado com as tábuas velhas e barulhentas que pareciam constantemente reclamar do peso que suportavam. Alexia estava em alguma parte da casa, ocupada com as roupas de Henry.

— Ele tem estado assim desde que viemos para cá.

— Você acha que ele não gosta daqui? – Klaus enlaçou minha cintura com seus braços e descansou sua cabeça em meu ombro, juntando-se a mim naquela vigília sem fim àquele bebê.

— Eu não sei, não consigo entender. Ele não se alimenta direito, a menos que eu dê comida a ele. Dormir tem sido um sacrifício diário, e ele fica irritadiço com muita facilidade. Ele não me parece doente, então não sei como... – senti a tensão de Klaus e parei de falar imediatamente.

Eu estava me sentindo exatamente como aquelas tábuas velhas, sendo pisoteadas constantemente e reclamando a cada passo que aguentavam. O curioso é que durante o dia, quando os passos são apressados e acompanhados de vozes e barulhos, o lamento daquelas tábuas é completamente abafado. No entanto, durante a noite, o lamento delas é alto e não pode ser ignorado. Súbito como um tapa, eu entendi que realmente me senti assim este tempo todo. E agora, aqui estava eu, gritando todos os lamentos que foram abafados.

— Deixe-o descansar. Venha. – Klaus apenas saiu, esperando que eu o seguisse. Por um momento considerei apenas ficar e lamentar, ranger minhas dores no silêncio da noite, mas eu estava cansada de tudo isso.

Klaus já estava deitado quando deixei o quarto de Henry para trás, esperando que ele dormisse tranquilamente esta noite. Tirei minhas botas com pequenos chutes, e elas caíram de qualquer jeito. Não me preocupei com elas. Joguei minha jaqueta no chão e apenas deitei na cama, olhando para o teto, pensando.

Quem eu queria enganar? Eu não estava feliz, apenas angustiada, tensa e nervosa. Mas acima de tudo, eu sentia falta dele.

Aproximei-me dele que entendeu como uma permissão para se aproximar também. Nós nos abraçamos, tentando anular o espaço que nos separava, e apenas ficamos ali.

— Eu pensei que você não iria voltar. – falei, com a voz abafada.

— Não há nada neste mundo que possa me separar de você, Caroline. Nada.

Naquela noite, apenas ficamos assim, próximos e pensativos, adormecendo ao som do vento que sacudia as janelas.

***************

Eu acordei com batidas relutantes na porta do quarto.

— Niklaus? – a voz de Elijah era baixa, temerosa de estar acordando alguém. Um pouco tarde para preocupações, pensei comigo mesma.

— Sim? – me virei em direção a voz de Klaus, que soou alta e clara, o que me dizia que ele não estava dormindo. Ele estava sentado em uma cadeira velha perto da porta, me olhando fixamente, e não interrompeu seu olhar nem mesmo para responder Elijah.

— Há alguém aqui que gostaria de conversar com você.

— Não estou interessado. – eu não conseguia abandonar seus olhos, tentando decifrar o motivo de sua aparente infelicidade com leves toques de irritação. Eu acabara de acordar, então o resultado não estava sendo muito proveitoso.

— Eu acredito que você esteja, irmão. – Elijah soou um tanto divertido, o que despertou a atenção de Klaus.

Eu inclinei a cabeça, uma pergunta implícita e não proferida, tentando saber o que o incomodava. Ele não respondeu, apesar de eu ter certeza de que ele compreendera, e apenas levantou-se e saiu.

Bem, agora meu cérebro definitivamente estava acordado e completamente preenchido com curiosidade. Tentei ficar apresentável o mais rápido possível para então descobrir quem estava lá embaixo com Klaus.

Enquanto descia os degraus da escada, estanquei por um segundo, registrando a presença de Jane Anne na sala. Ela conversava com Elijah e Klaus, e nenhum deles interrompeu aquele momento por conta de minha chegada. Na verdade, minha presença pareceu não ter sido registrada por nenhum deles, de modo que eu apenas me sentei na poltrona mais distante daquele campo de tensão que se criara entre eles e fiquei ouvindo.

— Como é possível que você não a tenha encontrado? – Jane Anne falou, surpresa e muito exaltada.

— Eu nem mesmo sei o que era. – Klaus defendeu-se, irritado com a atitude petulante de nossa visitante. – Eu sabia que Marcel controlava as bruxas da cidade, mas nunca descobri como.

Jane Anne suspirou, internamente tomando importantes decisões.

— Ele tinha uma bruxa muito poderosa do seu lado. Ela nos vigiava, e assim ele conseguia nos controlar. – ela disse, jogando aquela informação no ar esperando que ela flutuasse e se desfizesse como uma bolha de sabão, mas ela caiu no chão com o estrondo de uma bola de canhão.

— Interessante... – Elijah disse. – Como ele conseguiu que uma bruxa fosse leal a ele a tal ponto?

— Isso eu não sei, mas ela é importante, e precisa ser encontrada.

— Por quê?

— Porque ela é poderosa. – Jane Anne respondeu como se fosse algo muito óbvio.

— E como vamos encontrá-la? Você sabe quem ela é ou onde está? – Klaus perguntou.

— O nome dela é Davina, e não, eu não sei onde ela está. E para ser sincera, estou desapontada que você não saiba. Foi você quem revirou esta cidade de canto a canto nos últimos dias.

Um silêncio estranho se instalou na sala. Jane Anne parecia desconfortável em estar entregando tantas informações para Klaus e Elijah, e eles não pareciam nem um pouco satisfeitos por algo deste porte ter passado despercebido.

— Como Marcel a protegia? Com uma comunidade de bruxas como a de New Orleans, vocês poderiam tê-la impedido com muita facilidade. – disse Elijah, sempre fazendo as perguntas certas nas horas mais apropriadas.

— Marcel possuía um grupo seleto de vampiros, apenas os melhores dos melhores, que faziam parte do mais alto escalão do Quarter. – ela falava de maneira prática e rápida, como uma explicação repetida milhares de vezes anteriormente. – Eles eram responsáveis por protegê-la. Além dos feitiços que ela mesma conjurava, é claro.

— Eu preciso de nomes, sweetheart. – disse Klaus de maneira ameaçadora.

Eu fiquei atenta à lista de nomes proferida por Jane Anne, e constatando que eles não me diziam absolutamente nada. Seja lá quem fossem estes vampiros, eu não os conhecia. E a julgar pela reação de Klaus e Elijah, eles também não. Nem mesmo as breves descrições físicas iluminaram os semblantes dos irmãos originais. Surpreendeu-me o fato dela ter tantas informações sobre a tal bruxa e não ter conseguido fazer nada a respeito.

— A julgar pela situação, eu diria que eles fugiram. – Jane Anne suspirou e se recostou na poltrona. – E levaram Davina com eles.

— Agora não há mais ameaça pairando sobre sua cabeça. Porque não utiliza seus poderes para encontrá-la? – Elijah sabia ser muito prático.

— Por que ela não quer ser encontrada.

— Eu vou resolver esta situação. – disse Klaus, implicitamente encerrando a conversa.

Jane Anne entendeu que aquele era o fim e partiu sem se despedir ou falar qualquer coisa.

— O que pretende fazer? – perguntou Elijah, quando já não corriam o risco de serem ouvidos.

— Ficar de olho. Por enquanto, ela não é um problema. – Klaus levantou-se e lançou um olhar fugaz para mim. – Espero que continue assim.

****************

O resto do dia transcorreu de maneira estranha. Klaus ia e vinha, aparecia e desaparecia, sempre intempestivo, apressado e calado, como uma tempestade furiosa. Não fiz nenhuma menção de me aproximar dele, ou tentar conversar, apenas saí de seu caminho e o deixei resolver o que atribulava.

No fim do dia, ele abriu a porta do quarto repentinamente. Eu estava no final de um livro, e sua aparição me causou um sobressalto.

— Arrume suas malas. Nós estamos partindo.

Nem mesmo tive tempo de esboçar uma reação e ele já havia se afastado. Contudo, acatei as ordens imediatamente, aliviada por estar partindo. Coloquei tudo o que tinha em duas malas já empoeiradas e esquecidas no pequeno quarto no final do corredor. Em poucos minutos desci para a sala carregando-as sem dificuldade, e vi que Alexia já prepara a bagagem de Henry e todos estavam prontos para partir. Alguns híbridos entravam e saiam da casa, carregando todas as malas e colocando-as nos carros.

Elijah guiou Alexia, que carregava Herny, até um dos carros. Eu saí com calma, enquanto Klaus conversava com Victor sobre os preparativos que deveriam ser realizados, caso precisásemos recorrer ao plano B novamente, o que eu esperava que nunca acontecesse.

— Vamos. – Klaus disse, ao passar por mim e descer as escadas rapidamente.

— Adeus, Victor. – falei, indo em direção ao carro. Ele acenou levemente com a cabeça e desapareceu da sala.

Klaus esperava com o motor ligado e a porta aberta, pronto para guiar a todos até... algum lugar. Entrei no carro e partimos.

Logo que abandonamos aquela irregular estrada de chão e alcançamos a estabilidade e a solidão do asfalto, eu não sabia como estava me sentindo. Por um lado eu estava feliz em abandonar aquela prisão afastada e esquecida pela tecnologia, que tem sido o palco de toda a minha angústia dos últimos dias. Contudo, quantos mais eu me afastava daquele lugar e mais me aproximava da cidade, mais exposta e vulnerável eu me sentia.

— Para onde vamos? – perguntei, sem tirar os olhos da estrada.

— Casa. – eu não questionei a resposta curta de Klaus, mas eu sabia que “casa” tinha diferentes significados para nós dois.

Deixei o tempo passar, apenas observando o caminho que fazíamos, permitindo que todos os questionamentos dançassem em minha cabeça, sem saber se deferia proferi-los ou não. Klaus acabara de voltar e eu não queria começar uma briga por algo que eu nem mesmo entendia.

— Por que você não pergunta o que quer saber, Caroline? – disse ele, arrancando-me de meus devaneios.

— O que quer dizer?

— Eu a conheço, Love. – ele disse. – Sei quando você está pensando demais sobre alguma coisa, e sei que a atormenta não se sentir livre para questionar ou falar o que pensa.

Uau. Ele me conhecia mesmo.

— O que o incomoda? – perguntei.

— Você.

Recuei. Comecei a vasculhar desesperadamente minha mente em busca de alguma coisa que possa ter acontecido para justificar tal resposta, mas minha busca foi em vão. Klaus e eu quase não havíamos chegado perto um do outro desde que ele voltara.

— Posso saber por quê? – minha voz soou muito mais baixa do que eu gostaria.

— Eu sei que você não está feliz. – ele deu de ombros, sem tirar os olhos da estrada, evitando meus olhos, agora totalmente concentrados nele. – Eu sei que você não está feliz em tomar conta de Henry.

E então a lembrança me atingiu como uma avalanche. Minha reclamação de tábua velha pisoteada.

— Klaus, você esperava que eu...

— Eu não espero. – ele me interrompeu. – Eu sei que esta situação não é o que você imaginou. Não é o que eu imaginei. O que me incomoda é ver que você está infeliz e saber que a culpa disso tudo é minha.

Não respondi. É claro que Henry era um fardo, por vezes muito desgastante, mas ele não me fazia infeliz.

— Eu pensei em vocês cada segundo que estive ausente, Caroline. Eu não consigo ignorar o fato de que você abandonou tudo o que tinha para estar aqui, comigo. Só de pensar que isso a faz infeliz, uma parte de minha alma morre.

— Por que isso o machuca tanto? Tudo isso é temporário. – falei. É claro que esta tempestade que se instalara em nossas vidas era devastadora, mas ela não iria durar para sempre. Iria?

— Porque quando eu a vi, tão triste e agoniada, carregando um fardo que não deveria estar carregando, eu soube que aqui não é o seu lugar. Eu soube que eu deveria deixá-la partir.

— Você quer que eu vá embora? – lutei contra as lágrimas que se acumulavam em meus olhos.

— Nunca. – ele olhou para mim finalmente, e em seus olhos eu pude ver a verdade desta palavra, assim como a extensão da culpa que ele sentia. – Eu tentei me convencer de que conseguia, tentei encontrar uma maneira de fazer isso, mas eu não consigo. Enquanto observava você dormir, imaginei minha vida sem você por perto, e eu posso lhe garantir que nunca, em toda a minha longa vida, eu senti uma dor tal qual esse pensamento me causou.

Eu suspirei, repentinamente cansada. Sabíamos que isso não seria fácil, e que ambos precisaríamos nos esforçar para que tudo acabasse bem, todavia eu não tinha ideia da dor que isso estava causando a ele.

— Eu não vou embora, Klaus. – falei, segura.

— Eu vou fazer o que for preciso para que essa cidade seja um lugar seguro para você e Henry. Custe o que custar, New Orleans será o nosso lar, e você nunca precisará partir, pois este é o seu lugar.

Eu olhei para ele, sentindo o peso que esta promessa acrescia aos seus ombros já curvados. Ele sofria por acreditar que eu estava sofrendo, sem saber que tudo isso era uma mera consequência de sua ausência. Tudo estava melhor agora, eu sabia. Não havia motivo para tamanha dor.

— Chegamos. – anunciou ele.

Observei a casa que se projeta à nossa frente. É difícil descrevê-la uma vez que era difícil sequer compreendê-la. A casa era quase como uma miniatura de castelo, utilizando-se de torres, várias janelas e uma arquitetura antiga. Era linda.

— Este é o plano C? – perguntei quando Klaus estacionou.

— É. Mas, de agora em diante, podemos chamá-la de lar.

A mudança foi bem mais rápida desta vez, o que me deixou com a estranha sensação de estar perdendo várias coisas pelo caminho. Acomodamos Alexia e Henry em um quarto magnífico, já pensado para o bebê, o que acabara se transformando em uma réplica quase exata do quarto na antiga casa, agora apenas cinzas ao vento.

Elijah nem mesmo cogitou ficar, despedindo-se tão logo nos instalamos, e partindo ao encontro de Katherine. Segui as orientações de Klaus para encontrar nosso quarto e fui explorar cada canto dele, decidindo onde colocar cada coisa.

Coloquei as malas sobre a cama e comecei a tirar as roupas dobradas de qualquer jeito que ela carregava.

— Não desfaça as malas, Love. – disse Klaus, entrando no quarto.

— Acabamos de chegar e já estamos partindo?- eu disse, rindo.

— New Orleans está sobre controle, então não há motivo para preocupações. – ele sorria, como se toda a sua culpa tivesse ficado do lado de fora da casa.

— E o que isso significa?

— Significa que nós merecemos férias.

Eu olhei para ele tentando entender aquela mudança de humor, e vi que a culpa e a dor que ele sentia parecia ter desaparecido. Ele já não era mais uma tempestade furiosa, mas sim apenas vento.

Klaus aproximou-se de mim, enlaçou minha cintura, e olhou no fundo dos meus olhos.

— Nós vamos à Paris.

Eu sorri com aquela frase, percebendo que ele era o vento e eu uma simples brisa.

Este é realmente meu lugar.


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Notas finais do capítulo

Leitores, é com enorme alegria que venho lhes informar que o meu TCC foi entregue, defendido e aprovado! E a outra cadeira desgastante também terminou. :D
Eu sei que não deveria ter ficado tanto tempo sem postar, mas o último mês foi uma loucura, e eu não tive tempo para nada. Contudo, agora tudo está muito mais tranquilo.

Agora um assunto diferente...
No último capítulo, me peguei pensando se eu deveria continuar escrevendo esta fic, pois a resposta que ela está tendo é bem baixa, se comparada com a primeira temporada. Não queria estragar a história com uma continuação não tão bacana... Gostaria de deixar claro que esta fic não é movida por comentários, e eu não vou ficar aqui pedindo que vocês comentem, favoritem etc etc... Eu vou escrever esta continuação.
Eu apenas tentei deixá-la mais interativa, uma vez que ela não está pronta, e suas opiniões poderiam ser agregadas ao texto. Mas enfim, não se pode ganhar todas, não é?

Eu espero que vocês gostem desta continuação, e espero que agora eu possa postar com mais frequência. Não sei exatamente quando postarei o próximo, pois ele ainda precisa de mais planejamento, por ser um capítulo bem especial.

Enfim, vocês podem falar comigo quando quiserem, seja por comentários ou mensagens. Fiquem à vontade!

Se você leu até aqui, obrigada pela compreensão neste período conturbado e por continuar aqui mesmo depois desta longa demora! Muito obrigada mesmo!

Até o próximo capítulo! :D