Seu último amor - 2ª temporada escrita por Jeniffer


Capítulo 3
Cinzas


Notas iniciais do capítulo

Gente, que saudades de vocês!!! Que susto que o Nyah! nos deu!
Mas enfim, estamos de volta! o/
Tenho apenas um mês até a entrega do TCC, então não sei como vai ser até lá. Não está fácil, então não se desesperem se o próximo capítulo demorar um pouco. :D



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“— Todas as pessoas interessantes do mundo são fracassadas. – disse ela. – Ou melhor, aquelas que nós chamamos de fracassadas. Todo tipo de desvio contém um elemento de rebelião. E eu nunca fui capaz de entender a falta de rebelião. “

Quem tem medo do lobo, de Karin Fossum. Citação da página 113


Era como uma bomba.

O estrondo foi tão grande que Klaus despertou em um milésimo de segundo, instintivamente colocando seu braço na minha frente, protegendo-me de algo que nós nem mesmo sabíamos o que era.

O som de destruição reverberou pelas paredes, fez com que tremessem as paredes e meu coração, e então veio o silêncio. Aquele agonizante segundo de silêncio que precede uma grande tempestade, como se o mundo estivesse pegando fôlego para soprar mais forte. Aquele segundo em que eu busquei ajuda nos olhos de Niklaus e vi que ele estava tão perdido quanto eu.

E então veio o caos.

Os gritos começaram na porta de entrada e eu pude constatar que havia muitas pessoas invadindo a casa naquele momento. Minha mente começou a formular inúmeras perguntas freneticamente.

— Proteja-se, eu vou resolver isso – disse Klaus, irado.

— Klaus, o que... – ele já estava na porta, completamente vestido, mas voltou, segurando-me pelos braços e olhando-me de maneira profunda.

— Faça o que eu mandei. Eu não sei o que está acontecendo, mas vou resolver. Não coloque-se em perigo. Isso é uma ordem.

Ele saiu sem dizer mais nada. Respirei uma única vez e sai da cama, já procurando minhas roupas. Eu não iria ficar sentada enquanto aquela confusão estivesse acontecendo. Eu precisava saber o que era aquilo.

Atravessei o corredor e desci as escadas em velocidade sobre- humana, apenas para me deparar com uma total confusão. A entrada da casa já não existia mais, restando apenas seus destroços. Talvez o estrondo tenha mesmo sido uma bomba, no final das contas. Mas, surpreendentemente, esta não era a parte mais assustadora.

No meio do hall, Klaus estava cercado. Agora eu conseguia ter uma noção de quantas pessoas estava, lá, e em uma contagem rápida e superficial, me perdi depois dos cinquenta. Agora eu também podia constatar que não era uma invasão qualquer. Era uma invasão de vampiros.

Klaus derrubava um por um, enquanto eles continuavam avançando. Cada célula de meu corpo gritava para que eu o ajudasse, mas eu sabia que eu não seria de grande ajuda lá. Os olhos de Klaus já brilhavam com a típica cor âmbar, seu olhar mortífero de híbrido. Ele não teria problemas com aqueles vampiros, mas ainda assim meu coração se agitava.

Tentei passar despercebida e fui vasculhar o restante da casa, procurando por uma confirmação da suspeita que já se criara em minha mente. Aqueles vampiros não teriam como entrar em uma casa sem serem convidados, e só havia uma pessoa capaz de fazer isso.

Foi só quando senti o cheiro de sangue que segui para a cozinha e encontrei a senhora Kate no chão, mutilada por o que concluí serem golpes de faca. No entanto, antes que eu tivesse a chance de lamentar a morte de uma senhora tão querida, outra coisa chamou minha atenção. Havia outra mulher caída no chão, mas de onde eu estava, o balcão da cozinha a escondia parcialmente. Aproximei-me lentamente, e quando a vi por inteiro, sufoquei um grito.

Eu conhecia aquela mulher, mas não me lembrava de seu nome. Ela vivia na propriedade ao lado da nossa, uma mulher muito amiga da senhora Kate, e que inúmeras vezes veio passar a tarde aqui, tomando chá e conversando com Kate, como velhas amigas. A garganta dela estava cortada, mas ela segurava uma faca, o que não fez sentido nenhum para mim.

E então eu ouvi um choro baixo vindo da dispensa. Abri a porta de forma rápida, pronta para atacar ou me defender, quando Alexia pulou em cima de mim, empunhando uma faca de maneira débil.

— Sou eu, Alexia! Sou eu! – eu falei, tentando manter a voz calma, enquanto eu girava meu corpo para imobilizá-la contra o chão.

Alexia se debateu, tentando me atacar enquanto chorava compulsivamente. Ela precisou de alguns segundos, preciosos segundos, para perceber que era eu quem a segurava. Ela parou, completamente imóvel, e eu pude ver a compreensão atingir seus olhos e transformar suas lágrimas de desespero em singelas gotas de alívio.

— Caroline, é você! Ainda bem. Eu pensei que eu iria... Eu pensei que...

— Tudo bem, Alexia. Você está segura agora. - eu olhei profundamente em seus olhos para hipnotiza-la. - Acalme-se e me conte o que aconteceu.

Instantaneamente, Alexia sentou, parou de chorar, respirou fundo e disse:

— Foi Kimberley. - mentalmente bati em minha testa, sabendo que o nome daquela senhora estava enterrado em algum canto momentaneamente inacessível de minha mente.

— Ok, continue.

— Ela veio visitar a senhora Kate, convidá-la para tomar chá, como sempre fazem. Mas desde o começo eu achei que algo estava errado, pois ela nem mesmo percebeu que eu estava presente. – a voz dela soava pragmática, demovida de emoções. – Quando a senhora Kate se distraiu por um segundo, Kimberley pegou uma das facas que estavam na bancada e a matou.

— E quem matou Kimberley? – perguntei, intrigada.

— Ela mesma. – eu não esperava por essa.

Apesar de isso abrir uma nova possibilidade de explicação em minha mente, também me deixava assustada. Obviamente, Kimberley estava hipnotizada, logo, este ataque era algo planejado.

— Alexia, preste atenção. – eu a olhei com intensidade, hipnotizando-a. – Você vai pegar o seu carro e ir o mais longe possível daqui. Não olhe para trás, e não volte até eu não ligar para dizer que é aqui seguro novamente. Vá!

Senti um aperto no coração enquanto Alexia fugia da casa e levava com ela uma das minhas últimas esperanças de que esta casa voltaria a ser um lugar seguro.

Olhei ao meu redor procurando algum tipo de arma. Meus olhos caíram sobre a coleção de facas que senhora Kate usava mais para um tipo de decoração mórbida do que para cozinhar. Escolhi a maior e fui em direção à batalha que acontecia no meio do hall, e vi que Klaus já havia lidado com boa parte dos invasores, criando uma pilha cada vez maior de corpos ao seu redor. Eu sabia que ele não teria nenhum problema com eles, mas ainda assim eu estava preocupada, pois ele estava coberto de sangue. Dele ou dos invasores, eu não sabia. Mas o fato de seus olhos brilharem em uma brilhante cor âmbar me dava uma pequena dica.

Enquanto eu observava aquela confusão, um vampiro se preparou para atacar Klaus pelas costas, e antes que eu pudesse pensar no que eu estava fazendo, eu me lancei sobre ele, quase cortando fora sua cabeça com a faca em punho, matando-o com um movimento rápido, graças à sua desatenção. Deixei o corpo no chão, apenas mais um, e me levantei, colando minhas costas nas costas de Klaus.

— O que você está fazendo aqui? – eu não precisava vê-lo para saber que ele estava furioso. E assim, sem nem mesmo perceber, eu estava presa no meio daquela confusão.

— Eu não queria perder a diversão. – falei, expressando as primeiras palavras idiotas que passaram pela minha cabeça.

E então fomos atacados pela esquerda, por um vampiro extremamente forte que utilizava uma estaca improvisada, provavelmente dos destroços da mobília, e eu cometi o terrível erro de mudar de posição para me defender, deixando minhas costas desprotegidas. Eu me tornei um alvo fácil.

Senti uma mão chocar-se contra mim com violência, rasgando minha carne, atravessando minhas costelas e alcançando meu coração. Eu gritei, senti meus joelhos fraquejarem e cederem, deixando-me do chão. Contudo, a dor desapareceu tão rápido quanto começou. E quando me virei o suficiente para ver o que tinha acontecido, Klaus segurava um coração em sua mão direita e uma mão decepada em sua mão esquerda. No chão, jazia um vampiro sem mão e sem coração.

— Saia daqui. – ele disse apenas.

Levantei-me, sentindo uma dor aguda no peito e me preparei correr, mas um som me impediu.

Eu me senti como em um filme, quando algo inesperado acontece e a cena passa a ser mostrada em câmera lenta. Por um milissegundo tudo e todos pararam, e eu pude ver a reação de cada um na sala em uma velocidade tão lenta que era possível ver as partículas de poeira suspensas no ar.

Klaus congelou e seus olhos ficaram arregalados, mostrando o medo que havia neles. Alguns vampiros ficaram surpresos, outros sorriram. Eu senti como se fosse morrer.

Porque no andar de cima, alto e estridente como uma corneta que anuncia o fim do mundo, Henry começou a chorar.


*********

A cena que se desenrolava em minha frente desistiu da câmera lenta e voltou para a velocidade normal, deixando-me sem tempo para pensar. Vários vampiros já havia se lançando em direção às escadas.

Olhei ao redor, corri em direção à parede, pulando e tomando impulso para chegar ao andar superior sem precisar da escada. Infelizmente, a faca havia caído de minhas mãos quando alguém tentou arrancar meu coração, então tive que lidar com os vampiros com minhas próprias mãos.

Consegui acabar com os poucos mais adiantados, mas eles continuavam vindo, como um incontrolável fluxo de morte e terror. Vi quando Klaus se lançou para os pés da escada, tentando impedir que mais vampiros subissem. Cheguei a me perguntar se todos os vampiros de New Orleans estavam aqui. Mesmo com Klaus contendo vários deles, eles ainda eram muitos.

— Vá! – suplicou Klaus.

Eu corri em direção ao quarto de Henry, agradecendo ao fato de ser o último em um longo corredor. Tranquei a porta e arrastei a cômoda e um pesado baú decorativo, tentando ganhar algum tempo. Henry chorava com tamanho desespero que cheguei a pensar que ele, de alguma maneira, compreendia o perigo que o cercava.

Eu não poderia voltar pelo corredor, não com Henry nos braços. Mas eu não via uma rota de fuga, nenhuma maneira segura de tirá-lo de lá. Talvez, se eu saísse do quarto e fosse em direção à biblioteca eu poderia utilizar a passagem atrás da estante para ir até o porão. Uma passagem secreta que surgiu graças à paranoia da senhora Kate contra atentados terroristas, e que sempre me provocou risos. No entanto, agora aquilo parecia ótimo.

A porta do quarto começou a ser sacudida violentamente.

— Nada de biblioteca então. – eu disse para mim mesma.

Então só me restava uma única rota de fuga: a janela. Tente abri-la, mas em lembrei de ela só abria até pouco menos que a metade. “Ele pode adoecer facilmente”, disse Klaus, “nem deveríamos abrir a janela aqui”. Eu não podia realmente culpá-lo por isso. Como ele poderia imaginar que algum dia eu precisaria fugir por ali?

Peguei a poltrona que estava ao lado do berço e a joguei contra a janela, quebrando-a quase que inteiramente. Peguei Henry em meus braços e passei minha perna esquerda pelo parapeito da janela, analisando a situação. Não havia lugar nenhum para me segurar durante a descida. Eu poderia simplesmente pular, mas essa não me parecia uma alternativa muito segura, não com Henry em meus braços.

E então parte da porta foi destruída e um dos vampiros estava conseguindo entrar.

— Acabou o tempo. – falei.

Quando tentei passar a perna direita pelo parapeito da janela, um vampiro lançou um pedaço da madeira da porta, uma grande lasca, tão afiada quanto uma estaca, que acertou em cheio meu tornozelo.

Eu saltei de maneira desajeitada, e a queda não foi agradável, já que eu não pude contar com o apoio de meu tornozelo direito. Desequilibrei-me e girei meu corpo para cair de costas e proteger Henry. Ele se assustou com a queda, mas não sofreu nenhum arranhão. Segurei ele com apenas um braço e então retirei aquela estaca do meu tornozelo com um movimento rápido e um grito de dor que pareceu ecoar pelo universo.

Levantei-me e tentei ignorar a dor, pensando em levar Henry para um lugar seguro. E então ouvi alguém se aproximar, e em um ato de puro reflexo, lancei meu pé para trás, tentando chutar seja lá quem fosse. Como chutei com tornozelo machucado, deixando o saudável cumprir a missão de me manter em pé, meu golpe não teve muita força e foi interceptado. Quando a mão segurou meu tornozelo, eu gritei de dor.

— Você está bem, Caroline?

Com imensa surpresa percebi quem eu havia tentado atacar.

— Elijah? – sussurrei.

— Venha comigo.

Ele puxou meu braço para fazer com que eu o acompanhasse, mas quando viu que meu tornozelo estava nos atrasando, simplesmente me tomou nos braços e me levou até o portão da casa, onde havia uma grande quantidade de pessoas. Tentei voltar para o chão, ficar em guarda protegendo Henry, acreditando serem mais vampiros.

— Tudo bem, você está segura. Eles estão aqui para ajudar. – disse Elijah, me levando para perto deles.

Ele me colocou sentada no chão com extrema delicadeza, e então se ajoelhou afagando Henry, com um sorriso no rosto.

— Elijah, você precisa ajudar o Klaus. – supliquei.

— É claro. – ele se levantou. – Você, você e você vão ficar aqui e proteger Caroline e o bebê. O resto vai entrar na casa e matar cada vampiro que encontrar lá dentro e tirar Klaus desta confusão. Vão!

Eu observei, confusa, todas aquelas pessoas entrarem na casa pela entrada destruída, com um fio de esperança de que aquele inferno iria acabar. Três homens designados por Elijah se postaram ao meu redor, criando uma pequena fortaleza.

— Eu vou ajudá-lo, Caroline. Fique tranquila. – disse Elijah, saindo em seguida.

Lá, sentada nas pedras frias que levavam até a casa, eu segurava Henry de maneira protetora. Ele já não chorava mais, mas continuava assustado, seus pequenos olhos vasculhando tudo ao seu redor, como se procurando por algum perigo. Sua pequena mãozinha estava agarrada ao meu cabelo, como se ele precisasse se certificar de que eu estava ali.

Alguns vampiros apareceram no jardim, provavelmente saindo pela janela do quarto de Henry, e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, os homens que estavam me protegendo os atacaram.

E então entendi porque aquele fio de esperança surgiu em meu coração e bombeou aquele sentimento por todo o meu corpo.

Eles eram híbridos.
*********

Eles não duraram nem mesmo um minuto. Uma mordida de lobisomem pode matar um vampiro, mas o processo pode ser lento. No entanto, a cada nova mordida, este tempo é drasticamente diminuído.

A confusão na casa podia ser escutada por qualquer um, sem necessidade de habilidades sobrenaturais. A cada grito, a cada barulho, eu sentia um arrepio percorrer minha espinha, o que fazia Henry se remexer em meus braços. Aquilo estava me deixando apreensiva.

Ouvi o céu rugir com um trovão, me tirando daquele estado hipnótico em que eu me encontrava, e só então eu percebi as nuvens negras que digladiavam no alto com as poucas nuvens brancas e calmas que restavam. Não achei um bom sinal o fato de a escuridão estar vencendo. Corri para me abrigar no guarda-sol que protegia a mesa onde Klaus e eu nós sentamos algumas vezes, aproveitando a calma do jardim. Os híbridos que me protegiam logo me seguiram, apesar de não se abrigarem, deixando todo o espaço para mim e Henry.

Eu ouvi um grito agudo, um último grito que atravessou as paredes da casa e percorreu o jardim. E então não ouvi mais nada.

Aquele silêncio terrível se instaurou. Aquele fôlego antes da tempestade.

A chuva desabou sobre nossas cabeças de maneira intensa e barulhenta. A casa estava mortalmente silenciosa, o que me deixava ainda mais apreensiva. Nada acontecia, nada se movia, apenas a chuva que continuava a lavar a cidade.

E então ele saiu.

Klaus vasculhou rapidamente todo o jardim, e se deteve quando seus olhos encontraram os meus. Ele caminhou até nós sem deixar de olhar para mim nem mesmo por um segundo. Ele estava cansado, sua respiração estava pesada e seus olhos mostravam um misto de medo, tristeza, raiva e lágrimas contidas.

Quando ele saiu da cobertura da casa, a chuva o atingiu fortemente. A cada passo, ele parecia mais determinado, como se em sua mente ele estivesse tomando decisões importantes. Eu o observei com imensa alegria, olhando para o seu lindo rosto contra a água da chuva, livrando-se de todo o sangue. Em algum canto de minha mente, eu desejei que a chuva não lavasse apenas aquele sangue, mas também os últimos acontecimentos e toda a dor que eles causaram.

Quando ele nos alcançou pareceu nem ligar para os híbridos que me cercavam. Klaus colocou sua mão esquerda em minha nuca e me olhou profundamente, como se não tivesse forças para perguntar se eu estava bem. Ou talvez ele apenas tivesse medo de minha resposta.

Eu sorri debilmente e ele suspirou aliviado, descansando sua testa contra a minha por um longo tempo. Tempo suficiente para que eu percebesse como eu senti falta de seu toque, com medo que a loucura que acabara de acontecer me impedisse de vê-lo novamente. E como eu ainda sentia falta de seu cheiro, agora irreconhecível. Ele estava diferente. Ele cheirava à morte.

Klaus afastou-se e então tomou Henry de meus braços e o segurou de uma maneira tão terna, tão aliviada, que fez meu coração se contorcer. Ele estava profundamente aliviado por encontrar seu filho sem nenhum ferimento, e eu também ficava feliz em vê-lo ileso.

— O que foi isso, Klaus? – eu perguntei, aproximando-me dos dois.

— Tolos... – ele praguejou.

— O quê?

— Não importa, Caroline. Eu vou cuidar disso. – ele disse, arrancando o guarda-sol de seu suporte. – Vamos.

Ele começou a se dirigir de volta para casa, mas eu não queria entrar lá. Não queria ver como a casa se transformara em um grande cemitério. Então ele avançou alguns passos e eu fiquei parada, deixando que a chuva caísse em meu rosto.

― Ao menos diga que acabou. – falei.

Klaus parou e suspirou pesadamente, virando-se em minha direção.

— Ao contrário, Love. Está apenas começando.


**********

De alguma maneira, parte dos cômodos permaneceu intacta, apesar de tudo parecer ruínas para mim. Eu embalei Henry em meus braços enquanto cantarolava uma melodia tranquila para que ele adormecesse, em uma patética tentativa de que nenhum de nós dois ouvíssemos os sons dos híbridos limpando a casa lá embaixo. Arrumei os travesseiros da cama onde apenas algumas horas atrás, apesar de me parecerem séculos atrás, eu dormia com Niklaus. A chuva ainda castigava New Orleans e o quarto de Henry já não tinha mais janela, então nossa cama teria que servir.

— Você foi muito corajosa hoje.

Elijah estava parado à porta iluminado pela luz do corredor, mãos nos bolsos e um sorriso indeciso.

— Aquilo foi apenas instinto de sobrevivência, não coragem, Elijah. – eu disse, enrolando Henry em um cobertor.

— É isso que você pensa? – ele avançou alguns passos para dentro do quarto, mergulhando parcialmente na escuridão do ambiente.

Dei de ombros. Eu não tinha a mínima vontade de repassar os acontecimentos das últimas horas.

— Instinto de sobrevivência é uma característica inata a todos os seres deste planeta, é verdade. Contudo, ela também é intransferível. Por isso você teve coragem, e não apenas instinto.

E lá estava, aquele sorriso que Elijah sempre exibia quando estava argumentando com alguém e se julgava em pose de toda a razão do mundo.

— Como você pode ter tanta certeza? – perguntei, com um pouco de petulância. Eu estava cansada, e essa conversa não me ajudava em nada.

—Se o que você fez não passasse de instinto de sobrevivência, você teria fugido daqui no exato momento que aquele primeiro vampiro explodiu a entrada da casa. – ele se aproximou de mim. – Você não teria protegido o bebê, nem mesmo ajudado Niklaus, pois instinto o sobrevivência preocupa-se apenas consigo mesmo, e não com a sobrevivência de outros.

— E o que você fazia aqui, Elijah? – perguntei, tentando fugir daquela afirmação tão pertinente.

— Eu vim visitar Henry e possivelmente trocar algumas palavras com meu irmão. Mas quando cheguei aqui, encontrei aquela sangrenta batalha que esta casa presenciou. – ele respondeu, prontamente.

Muito oportuno que ele tenha chegado naquele exato momento, tal qual a cavalaria que salva a todos e garante o final feliz da história.

— Eu estou faminta, Elijah. Você se importa de tomar conta de Henry por alguns minutos? – perguntei, já me dirigindo à porta.

— De maneira alguma. Eu cuidarei dele, com certeza. – ele sentou na cama muito delicadamente, tomando cuidado para não balançar Henry. – Caroline, aproveite esses minutos e fale com Niklaus. Tenho certeza de que ele apreciaria sua companhia neste momento.

Acenei com a cabeça. Falar com Klaus estava no topo de minha lista.

Quando saí do quarto senti que algo estava terrivelmente diferente, mas nem mesmo precisei descer as escadas para perceber o que era.

O silêncio imperava em todos os cantos.

Klaus estava sentado em um dos últimos degraus da escada, olhando para a parte principal da casa, agora completamente tomada por corpos. Fui em direção a ele, evitando olhar para a tragédia aos nossos pés, e sentei-me ao seu lado, abraçando meus joelhos.

— E agora? – perguntei.

— Faça as malas, Love. – ele disse, sem olhar para mim.

— Para onde vamos?

— Para qualquer lugar que seja seguro. – ele disse, então olhando-me de maneira profunda, como se consolidasse uma promessa silenciosa.

— Klaus? – um dos híbridos apareceu na entrada destruída. – O que vamos fazer com todos eles?

— Deixe-os onde estão. – eu olhei para ele.

Klaus ainda vestia as mesmas roupas, agora completamente molhadas, mas ainda havia sangue em alguns pontos. Seu rosto também não estava completamente limpo, mas ele parecia não se importar. Parecia cansado, determinado, como se um plano perfeito tivesse se formado em sua mente.

— Prepare-se para partir, Caroline. – ele então levantou-se. – Eu vou fazer o que for preciso para manter você e Henry seguros, mas não posso mais fazer isso aqui.

Eu também me levantei e entrelacei minhas mãos nas dele.

— E o que você vai fazer com esta casa? – perguntei. Eu sabia da influencia de Klaus sobre as autoridades de New Orleans, mas esta tragédia era grande demais para ser escondida de qualquer um.

— Transformá-la em cinzas.


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Notas finais do capítulo

Vocês já pensaram se o Nyah! não voltasse?? Eu fiquei desesperada nestes últimos dias...
Imaginem que, caso o site não tivesse voltado, vocês nunca poderiam me dizer o que acham desta fic. ;)
Então, por favor, deixem um comentário. Falem comigo!
"É preciso comentar a fic como se não houvesse amanhã". RUSSO, Renato. (livremente adaptado).
Amo vocês, leitores queridos! :D