Seu último amor - 2ª temporada escrita por Jeniffer


Capítulo 15
Campo minado


Notas iniciais do capítulo

Cuidado onde pisa, caro leitor. Espero encontrá-lo sã e salvo nas notas finais.



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“Suportava a minha dor como se estivesse atravessando um campo minado: quando pensava em outra coisa, a vida prosseguia com normalidade, quase feliz. Mas de quando em quando alguma coisa me fazia nele, ou seja, pisava numa das minas sem querer: e a explosão me deixava com as tripas de fora durante certo tempo.”

“A louca da casa”, de Rosa Montero. Citação da página 122, na edição de 2003 da editora Pocket Ouro. (adaptado).


Eu não via nada. Meus pensamentos estavam longe, muito longe. Apenas consegui voltar para casa por já conhecer cada pedra do caminho, então apenas segui meus instintos. Eu precisava voltar.

Fiquei algum tempo em silêncio naquele beco, tentando me recompor, tentando controlar seja o que fosse que eu estivesse sentindo naquele momento. Dirigi cegamente, tentando respirar, tentando compor a mais perfeita máscara de calma e serenidade que eu conseguisse criar.

Quando estacionei, o híbrido continuava próximo à sacada. Patrick, lembrei subitamente. O nome era Patrick. Ele se afastou assim que eu saí do carro, sem dizer nada, sem nem mesmo me olhar nos olhos. Tentei entrar sem fazer muito barulho, e vi que Henry continuava dormindo. Os créditos finais ainda corriam pela tela, então reiniciei o filme e voltei para o sofá. Ele se remexeu quando eu retirei a almofada e acabou acordando.

— Perdi muita coisa? – ele murmurou.

— Não. – eu falei, baixinho. – Quer ir para cama?

— O papai já voltou?

— Não...

— Então eu vou esperar aqui. – ele disse, obstinado.

Então apenas ficamos ali. Henry com sua cabeça deitada em meu colo enquanto eu contorcia minhas mãos, tentando me manter distante. Eu queria abraçá-lo, queria fingir que nada acontecera. Queria poder voltar no tempo assim como fiz com o filme, viver este dia novamente, e então não sair de casa, ficar aqui, feliz e iludida.

Nós ouvimos Klaus chegar e meu sangue congelou. Como eu deveria agir? Reagir? Como eu iria olhar nos olhos dele? Eu não sabia como me comportar. Eu deveria discutir, jogar todas as cartas na mesa? Ou deveria fingir que tudo estava bem? De repente, a adaga escondida em minha bolsa me pareceu muito pesada...

— Isso não pode se repetir. – vociferou Klaus. – Reorganize o bando.

— É pra já. – ouvi Tony dizer.

Klaus abriu a porta bruscamente, e Henry sentou-se em um de segundo. Eu agradeci mentalmente pela distância. Controlar-me estava exigindo o máximo de meu sistema nervoso, e tal proximidade física não ajudava em nada.

— Oi pai. – ele sussurrou, sonolento.

Klaus não respondeu, apenas seguiu como uma tempestade em fúria até o uísque e serviu-se de uma dose generosa, que ele bebeu em um único gole. Ele deixou o copo ao lado da garrafa, com um pouco mais de força do que o necessário, e sentou-se pesadamente na poltrona ao lado do sofá. Ele pressionou suas têmporas, respirou profundamente e então sussurrou:

— Oi, filho.

Ele estava furioso, era nítido, e suas roupas estavam sujas de sangue. Eu ainda não conseguia olhar para ele, apenas registrava sua presença através da minha visão periférica. Eu não conseguia, simplesmente não conseguia. Eu não sabia o que fazer, então apenas fingi estar extremamente interessada em ver Elizabeth dançando com Mrs. Darcy.

— O que vocês estão assistindo? – Klaus sussurrou.

— O favorito da mamãe. – disse Henry sorridente.

— Você deveria ir dormir, Henry. – falei, com uma voz sem vida. – Ele está aqui agora.

Ele estava cansado, então obedeceu prontamente. Desejou boa noite com um abraço demorado para Klaus e antes de ir, aproximou-se de mim por detrás do sofá e me deu abraço rápido. Eu fechei os olhos com força, tentando impedir aquela primeira e derradeira lágrima de cair. Eu sabia que se começasse a chorar, não conseguiria parar.

— O que aconteceu lá? – eu perguntei quando Henry entrou no quarto.

— Alguns vampiros bêbados tentando dominar a cidade. – ele falou, sem humor.

— Você pareceu bem furioso... – sussurrei.

— É claro que eles nunca conseguiriam nada, mas ainda, vampiros bêbados são um pé no saco.

— E o que está te incomodando nisso? – eu perguntei, pois sabia que ele estava escondendo alguma coisa.

— Eles não são daqui. – ele falou, confuso. – Não foi um ataque aleatório, houve outros, pequenos, espalhados. Mas este foi grande. Só que eles não são daqui, então porque estariam interessados na cidade?

Não respondi, e nem mesmo tentei formular uma teoria. Deixei-o ponderando sobre o ocorrido, enquanto assistia ao filme.

— Está tudo bem? – ele perguntou, baixinho.

Apenas acenei afirmativamente. Não, nada estava bem, mas o que eu poderia dizer?

— Eu vou tomar banho. – ele disse, levantando-se. – Me acompanha?

— Quero terminar o filme. – sussurrei, ignorando sua mão estendida.

Ele manteve a mão estendida por alguns segundos, assimilando minha resposta. Ele sabia que algo estava errado, sabia que eu estava diferente. Ele estava apenas decidindo se deveria insistir nisso ou não.

— Ok. – disse ele, se afastando. Ele decidira não insistir. Sábia decisão.

Eu prestei atenção em cada movimento que ele realizou, ouvindo o som de seus passos na escada, da porta do quarto, da água do chuveiro, e em nenhum momento deixei de olhar para a tela da televisão. Era como se, de repente, eu estivesse muito mais consciente da presença de Klaus. Eu estava tensa, meus nervos pareciam cordas de violão esticadas ao extremo. Eu sentia como se estivesse prestes a quebrar a qualquer momento.

Então minha mente começou a funcionar de maneira frenética. O que eu poderia fazer? Eu vivi este tempo todo acreditando que meu relacionamento com Tyler havia terminado de maneira tranquila, que ele estava bem e que aceitava meu relacionamento com Klaus. Vivi acreditando que Hayley não passava de uma vadia inescrupulosa por abandonar Henry, e que tudo estava convergindo para uma vida nova e tranquila. Vivi uma mentira.

Como eu pude ser tão cega? Passei dias em uma fazenda isolada, pensando em Klaus, com medo que ele estivesse em perigo, enquanto Tyler e Hayley estavam presos e sedados sob meus pés. E mais uma vez, lá estava eu, tão imersa em meu próprio mundo que não via nada ao meu redor.

E minha mãe? O que ela fará se descobrir que Klaus hipnotizou Benjamim? Nem eu mesma consigo acreditar que ele foi tão longe... O que eu faria daqui para frente? Abandonei minha vida em Mystic Falls para estar aqui, e enquanto eu vivia feliz e iludida, todos seguiram suas vidas. Poderia eu voltar? Mas voltar para o que? Para quem?

Eu queria ficar sentada aqui para sempre, imóvel como uma pedra. Fingir que nada aconteceu, não precisar lidar com isso nunca. Eu só queria esquecer tudo isso e voltar ao momento em que tudo era mais fácil, em que a ignorância me protegia e eu estava bem, todos estavam bem.

E então tudo ficou claro. Eu não sabia o que fazer, mas sabia que precisava fazer alguma coisa. Eu não poderia viver fingindo que tudo estava bem, que aquilo era compreensível e que nada mudaria, pois tudo havia mudado. Não me importei com a TV, apenas peguei minha bolsa e subi as escadas. Eu sabia que Klaus ainda estava no banho, pois eu podia ouvir a água caindo. Entrei silenciosamente no quarto e deixei a bolsa pendurada na cadeira próxima à janela e então me sentei, esperando por ele.

Klaus saiu do banho em silêncio, percebeu minha presença, mas não olhou para mim. Acho que nem eu mesma conseguia olhar para ele por muito tempo. Ele se vestiu em silêncio, e então se sentou na cama.

— Você quer conversar ou prefere ficar em silêncio? – ele perguntou, olhando para mim.

Eu não respondi. Por onde começar? O que dizer?

— Caroline, eu tive um dia ruim, então simplifique as coisas, por favor. – ele falou, suspirando.

— O que aconteceu com o Tyler? – perguntei, rapidamente, antes de perder a coragem.

Ele congelou, ficou em silêncio por alguns segundos, processando minha pergunta. Então, lentamente, começou a perceber.

— Como eu poderia saber? – ele desviou os olhos de mim.

— Pois eu acho que você sabe perfeitamente. – falei, entredentes. – Como você pôde?

— O que aconteceu? – ele gritou, levantando-se da cama e aproximando-se de mim. – Por que você está perguntando essas coisas?

— Eu já sei de tudo! – eu me levantei, ficando frente a frente com ele.

— Você não sabe nada, Caroline! – ele gritava. – Você realmente acha que tem alguma ideia do que está acontecendo? Do que se passa ao seu redor?

— Agora eu sei. – falei, friamente. E antes que me desse conta do que estava fazendo, peguei a adaga que esperava pacientemente atrás de mim. – Você não deveria ter mentido para mim.

Era como se eu não controlasse meu corpo, como se a raiva e a decepção fossem as únicas coisas que eu via. A adaga o atingiu em um piscar de olhos, e então acabou. Eu soube que ali, naquele momento, eu havia acabado com tudo. O que tínhamos, o que éramos, estava acabado, e eu não sentia nada. Não conseguia respirar, não conseguia pensar. Os olhos de Klaus estavam assustados, perdidos. Ele não conseguia acreditar, ou entender, o que estava acontecendo.

Ele tentou retirar a adaga, tentou falar alguma coisa, mas nada aconteceu. A adaga não se moveu, sua voz não saiu, e ele parecia incapaz de respirar. Ele caiu de joelhos e olhou para mim de maneira agoniada. Foi como se alguém estivesse torcendo cada centímetro de minha alma até não sobrar mais nada. E então ele caiu, imóvel, resignado, totalmente vulnerável.

E eu fiquei ali, naquele estranho limiar entre a vida e a morte. Entre a sanidade e a loucura. Entre o desespero e a esperança. Entre o tudo e o nada.

***********

Eu saí do quarto tentando fechar a porta em fazer ruído, tentando sufocar os gritos que estavam se acumulando em minha garganta. O que eu fiz? Tentei ordenar meus pensamentos, sem sucesso. O que eu fiz?

Caminhei de um lado para o outro, girando meu celular em minhas mãos, tentando pensar em alguma coisa. Para quem ligar? O que fazer?

— Mamãe? – eu congelei.

Henry estava parado na porta de seu quarto, me olhando de maneira confusa.

—Henry. – sussurrei. Eu não havia pensado nele.

— Está tudo bem? – ele perguntou.

— Sim, está. Volte para a cama. – falei, rapidamente, indo em sua direção, tentando fazê-lo entrar no quarto.

Ele voltou para a cama, eu ajeitei seus cobertores e desliguei a luz.

— Você vai embora? – ele sussurrou, quando alcancei a porta.

— O que? Por que está perguntando isso?

— Você não sorriu hoje. – ele falou, cansado.

— Eu não sorri? – eu estava confusa.

—Você sempre sorri quando vê o papai. E hoje não sorriu. – ele explicou.

Eu fiquei em silêncio. Querendo ou não, eu sempre podia contar com as pertinentes observações de Henry. Mas como eu poderia explicar a ele o que eu fizera? Afinal, o que eu fiz? Contudo, eu lembrei de outra coisa que tomava conta de minha mente, algo que eu não gostava de pensar a respeito, mas precisava resolver.

— Henry, nós precisamos conversar. – falei, baixinho, sentando-me na cama ao lado dele.

Ele sentou-se também, esfregando os olhos, bocejando.

— O que foi?

— Eu não sei como dizer isso, e eu receio que não haja maneira fácil de dizer isso... – eu respirei fundo. Não queria falar isso, não queria pensar nisso, mas ele precisava saber. – Eu não sou sua mãe. Ao menos, não biológica.

Ele ficou parado, olhando para mim como se ainda estivesse processando o que eu acabara de dizer.

— Eu pensava isso... – ele sussurrou.

— Você já sabia? – eu perguntei, atônita.

— Não, só desconfiava. – ele bocejou.

— O que deixou você desconfiado?

— Quando eu estava lendo aquele livro sobre genética. – ele deu de ombros. E ali estava eu, mais uma vez, subestimando Henry.

— E o que você pensa sobre isso? – sussurrei.

— Não sei. – ele deu de ombros. – Quem é ela?

— O nome dela é Hayley. – falei, percebendo que eu sabia muito pouco sobre ela.

— Ela foi embora? Por que eu nunca a vi? – ele estava ficando curioso.

— Eu não sei, Henry. – respondi, sinceramente. – Eu ainda estou descobrindo a verdade sobre esta história, então não sei o que aconteceu. Mas acredito que ela nunca quis deixar você.

— Então porque deixou?

Não respondi. Esta é uma conversa que Henry deve ter com Klaus, e não comigo. Eu não queria, e não iria, destruir o relacionamento dos dois.

— Você gostaria de conhecê-la? – perguntei.

— Não sei.

— O que está deixando você indeciso?

— Não sei quem ela é, nem como ela é. E se eu não gostar dela? E se eu não a quiser na minha vida? – ele parecia assustado.

— É uma escolha sua. – falei com calma. – Mas talvez você deva tentar. Pense no lado positivo: e se você gostar dela?

Ele ponderou minhas palavras, e eu ignorei o nó na garganta que eu sentia. Eu sempre tive medo de que um dia Hayley o tirasse de mim, e agora eu o estava encorajando a conhecê-la. Contudo, eu nunca imaginei tal situação.

— Acho que sim. – ele sussurrou, baixando a cabeça.

— Henry, olhe para mim. – esperei até que ele levantasse o olhar. – Eu preciso que você confie em mim, ok? Não há motivos para você não gostar dela. Hayley é sua mãe, e nunca faria nada contra você. Ela vai protegê-lo.

Ele parecia prestes a chorar, mas respirou fundo e se conteve.

— Agora, espere aqui. – falei, levantando-me. – Tudo vai ficar bem. Eu só preciso que você fique aqui, e não saia até que eu diga que pode, ok?

— O que está acontecendo, Car? – eu senti meu coração se despedaçar com a falta do “mamãe” no final de sua frase.

— Tudo vai ficar bem. – eu falei, saindo do quarto.

Não tenho certeza se falei isso para Henry ou para mim mesma.

***************

Eles estão vindo.

Deixei o celular no sofá e fui até a janela, observando o nada. A noite estava tão calma, tão serena, o que só me fazia sentir ainda mais deslocada e estranha. As informações de hoje davam voltas e mais voltas em minha mente, e eu não sabia mais o que fazer. Infelizmente, eu temia ter alcançado um ponto sem retorno. E o pior é que eu não consigo ver nada à minha frente.

Se eu me concentrasse, conseguia ouvir a respiração entrecortada de Klaus. Eu tentei não pensar na dor que eu havia lhe causado, tentei manter meus pensamentos focados em Bonnie. Eu poderia finalmente me livrar de toda a culpa que sentia, corrigir o terrível erro de negligência que cometi com ela. Tentei manter meus pensamentos assim, com uma solução por vez, um problema de cada vez. Suspirei pesadamente, percebendo que estava cometendo erros para corrigir outros erros.

― Car. – eu me assustei ao ouvir a voz de Tyler.

― Tyler! – ele se aproximava pelo jardim, e Hayley e Silas vinham logo atrás dele.

― Tudo bem, somos nós. – ele disse, tentando me acalmar.

― Como você conseguiu passar pelos híbridos? – perguntei, quando ele chegou perto da varanda. Silas riu de minha pergunta.

― Nós estamos ajudando os híbridos a quebrar o vínculo de ligação há algum tempo. – ele sorriu, satisfeito. – Klaus não controla mais de metade de seu exército agora.

― Vamos cortar o papo furado e ir logo ao que interessa. – disse Silas. – Onde ele está?

― No quarto. – sussurrei.

― Eu sabia que conseguiria, Caroline. – disse Silas, entrando na casa e passando direto por mim. – Bonnie deve estar muito feliz.

Eu fiquei em silêncio.

― Car, você não precisa ficar aqui. – disse Tyler, colocando a mão sobre meu ombro. Eu assenti. Não queria ver nada daquilo.

― Hayley, vem comigo? – falei, seguindo para as escadas. – Eu quero te apresentar a alguém.

Ela me seguiu, sorrindo. Silas alcançou o quarto quase que imediatamente, enquanto eu levava Hayley até o quarto de Henry. Ele havia adormecido, então eu o sacudi delicadamente, e o ajudei a sentar-se.

― Oi. – falei, baixinho. – Eu quero que você conheça alguém.

Hayley se aproximou devagar, surpresa, talvez até com um pouco de medo, o que não me surpreendia. Não deveria ser fácil assimilar o fato de que aquele era o mesmo bebê que ela vira apenas uma vez há alguns meses atrás.

― Henry, esta é a Hayley. – falei. – Sua mãe.

― Oi. – ela falou, emocionada.

― Oi. – ele respondeu.

Eu me aproximei dele, dei um beijo em sua testa e sussurrei:

― Confia em mim?

Ele assentiu, então eu me afastei, deixando-o com Heyley e voltei para a sala. Tyler e Silas já estavam saindo.

― Muito obrigada pela sua cooperação, Caroline. – falou Silas, animado. – Agora, nós cuidamos do resto.

­― Eu vou com vocês. – falei, minha voz soando fria e sem vida.

― Car, você não precisa... – disse Tyler.

― Eu vou. – eu o interrompi.

― Bem, neste caso, você está com sorte. – Silas sorriu abertamente. – EU tenho uma entrada extra para este show, Caroline. Os melhores lugares da casa.

************

A floresta era silenciosa, escura, quase esquecida pelo mundo. Fiquei me perguntando por que esses feitiços nunca eram realizados em lugares mais iluminados. Aqui, no silêncio, tudo ficava pior. Eu sentia como se até o universo estivesse me julgando.

O silêncio só era quebrado pelos galhos quebrados sob nossos pés, enquanto avançávamos floresta adentro. Tyler não estava conosco, pois Silas ordenou que ele ficasse na casa, com Hayley e Henry. Eu estava tranquila em relação a ele, sabendo que ele estava seguro e bem. E depois de tudo, ele poderia decidir o que fazer. O importante é que eu não tinha o direito de privá-lo de tal decisão.

Silas diminui o passo quando chegou em uma pequena clareira. Klaus já estava no centro dela, e eu me forcei a olhar para qualquer outro lugar.

― Chegou o cortejo fúnebre. – eu me virei em direção aquela voz, estupefata.

― Jane-Anne? – eu falei.

― Eu mesma. – ela sorriu, e eu quis arrancar aquele sorriso com minhas próprias mãos. – Surpresa?

Eu não conseguia acreditar. Jane-Anne teve livre acesso à minha casa, a Henry. O tempo todo com segundas intenções?

―Não se preocupe em entender, Caroline. – ela disse. – Você já se provou obtusa o suficiente.

― Chega. – advertiu Silas. – Onde está Davina?

― Estou aqui.

Observei uma pequena garota se aproximar, calma, concentrada, correndo os olhos por todos que ali estavam, e se deter em mim.

― O que ela está fazendo aqui? – ela perguntou.

Jane-Anne deu de ombros e Silas fingiu não ouvir.

― Quem é você? – perguntei. Ela não respondeu, apenas olhou para mim.

― A responsável por Henry estar vivo. – falou Jane-Anne, sem paciência.

― Vamos terminar logo com isso? – disse Davina.

― É claro. – concordou Silas.

Ele se aproximou de Klaus e retirou a adaga sem dificuldade. Klaus ficou imóvel por mais alguns segundos, e então arquejou, como se estivesse com dificuldade para respirar. Ele ajoelhou-se no chão, parecendo confuso, tentando entender onde estava e o que estava acontecendo.

― Comece. – ordenou Silas.

Klaus levantou-se e tentou caminhar, mas havia uma barreira invisível limitando o espaço que ele tinha. Ele olhou ao redor e então me encontrou.

― Caroline... – ele sussurrou, e a agonia em sua voz partiu minha alma em mil pedaços.

E então Davina fechou os olhos, arqueou seus braços como se rezasse aos céus e começou a murmurar palavras incompreensíveis para mim. Foi provavelmente por volta da quinta palavra que Klaus começou a gritar. Eu senti meu sangue congelar e meus nervos se estraçalharem, e eu desejei poder parar aquilo, gritar com alguém, fazer com que o silêncio voltasse a reinar.

Eu estava desesperada. Jane-Anne olhava impassível para Klaus, quase como se estivesse aproveitando aquilo. Silas estava radiante e não fazia nenhum esforço em esconder tal satisfação. E Davina, mesmo sem conhecê-la e sem saber qual sua ligação com Henry, me dava calafrios. Ela estava em transe, tão focada, tão concentrada que poderia partir o mundo ao meio.

E no centro de tudo isso, estava Klaus. E nada, nenhum de meus esforços eram suficientes para me afastar daquela situação. Eu havia permitido aquilo. Eu teria que lidar com as consequências.

Klaus se contorceu e eu avancei para ajuda-lo, pronta para acabar com aquilo. Eu encontraria outro jeito. Sempre há outro jeito. Mas a barreira não só o impedia de sair, mas também me impedia de entrar. Enquanto eu batia naquela barreira invisível, Silas começou a gritar.

― O que você está fazendo? – eu achei, por um momento, que ele estivesse falando comigo, mas ele se dirigia à Davina.

― O que está acontecendo? – perguntou Jane-Anne. – Davina!

Mas ela não se mexeu. Não moveu um único músculo além dos necessários para continuar murmurando. E então Silas começou a gritar em agonia, como se a dor que ele sentisse ultrapassasse os limites do suportável.

Eu estava ali, entre dois homens que gritavam e se contorciam, e eu tapei meus ouvidos, quis acabar com aquilo, quis fugir, quis me esconder. Quis esquecer tudo...

― Davina! – Jane-Anne tentou se fazer ouvir acima dos gritos. – Faça o feitiço! Faça!

Davina então parou de falar, sorriu e baixou os braços. Klaus e Silas também se calaram, ambos caindo no chão, e por alguns segundos, o mundo foi um lugar silencioso novamente.

― O que você fez? – Jane-Anne sussurrou.

Eu tentei alcançar Klaus e percebi que a barreira já não mais existia. Então coloquei sua cabeça em meu colo, vi que ele continuava respirando, mesmo que com dificuldade, mas estava inconsciente. Tentei reanima-lo, tentei fazê-lo acordar, enquanto eu chorava compulsivamente. Por ele, por mim. Por tudo ao meu redor.

Silas arquejou e abriu os olhos repentinamente, chamando a atenção de todos. Ele levantou-se tranquilamente e olhou para suas mãos, para seus pés, correu os dedos pelo seu rosto, como se fosse a primeira vez.

― O que está acontecendo? – Jane-Anne estava aflita. – Você não destruiu o outro lado, Davina?

― I’m back.

Por mais que Silas houvesse proferido tal frase, a voz não era a dele. Eu senti um arrepio percorrer minha espinha e colocar todas as minhas terminações nervosas em estado de alerta máximo. Não podia ser...

― Bem vindo de volta, papai. – disse Davina, sorrindo abertamente.

Jane-Anne arquejou, e buscou no fundo de sua garganta aquele mínimo fiapo de voz que confirmou todos os meus maiores medos:

― Marcel...


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Notas finais do capítulo

Todos bem?

Primeiro, desculpem a demora. E desculpem por este capítulo. Foi difícil...
Espero que vocês estejam gostando da fic! Preparem-se, pois estamos nos aproximando do final...
Vocês devem estar pensando: "Final? Como assim? Ela acabou de trazer o Marcel de volta e já está falando em final?"
Bem, fiquem calmos. Eu tenho tudo sob controle. (eu acho)

Até o próximo!

P.S.: Sim, teremos uma conversa digna entre Klaus e Caroline. Mas só no próximo capítulo. :D



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