Seu último amor - 2ª temporada escrita por Jeniffer


Capítulo 14
Sete dias para os lobos


Notas iniciais do capítulo

Clara, minha querida! Muito obrigada pela recomendação! Este capítulo é para você! :D



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Os lobos, meu amor, irão chegar. Levando-nos para casa onde o pó um dia foi um homem.

(...)

7 Dias para os lobos! Onde estaremos quando eles chegarem? 7 Dias para o veneno e um lugar no céu O tempo se aproxima enquanto eles vêm para nos pegar.

(...)

Aqui é onde heróis e covardes separam seus caminhos.

Música “7 days to the wolves”, da banda Nightwish, lançada no álbum “Dark passion play”, em 2007.



Calmaria. Esta pequena e simples palavra resume os dias seguintes ao casamento. Logo após a cerimônia, todos os nossos convidados estavam exaustos e felizes, mas mesmo assim, nossos hóspedes partiram assim que o sol alcançou o ponto mais alto do céu. Levantei-me apenas por tempo suficiente para as despedidas, para o choro de minha mãe, o elogio de Elena à bela cerimônia e as promessas de mais ligações e visitas em breve.

Depois que todos partiram, voltei para a cama, onde Klaus me esperava, mas não sem antes checar Henry, que dormia profundamente.

— Todos pareciam muito satisfeitos. – ele disse, recostado na cabeceira da cama.

— Estavam. – eu subi na cama e me aninhei em seu peito.

— E Henry?

— Dormindo. – eu ri, baixinho. – Ele aguentou muito mais do que eu achei que iria. Deve ter ficado acordado por muito tempo.

Klaus não respondeu, apenas brincou com meu cabelo, enquanto eu quase adormecia.

— O que você acha que vai acontecer agora? – ele sussurrou.

— Eu vou adormecer. – respondi. – É o mais provável.

— Não... Eu quero dizer conosco. – ele continuava sussurrando.

— Como assim? – eu estava sonolenta.

­— Agora nós estamos casados. – ele falou, como se não acreditasse.

— Não se preocupe, meu amor. – eu falei, bocejando. – Você sempre pode pedir o divórcio.

— Eu amo você, Caroline. – ele riu, e beijou suavemente o topo de minha cabeça. – Nunca se esqueça disso.

Eu ouvi suas palavras, mas não as registrei completamente. Senti-as se perdendo em minha mente, enquanto eu adormecia.

**********

Desci as escadas pausadamente, e encontrei Henry observando o jardim através da janela.

— Bom dia, mãe. – disse ele, sem se virar.

— Bom dia, filho. – eu respondi, parando ao seu lado. – O que está atraindo tanto assim a sua atenção?

— O jardim parece irreconhecível. – ele falou. A equipe contratada já terminara a limpeza, e o jardim voltará a ser o que era antes. – E as suas rosas sobreviveram.

— É, sobreviveram. – sussurrei. Eu me afastei e Henry não mexeu um músculo sequer. Ele apenas continuava olhando para as rosas, com se elas fossem uma complicada expressão matemática ou um complexo romance policial. Ele apenas continuava esperando alguma coisa, e estava assim há alguns dias.

Suspirei, pesadamente. Eu realmente deveria ter arrancado aquelas rosas.

*******

— Ele está bem? – perguntou Klaus, juntando-se a mim na cozinha.

— Não sei. – falei honestamente. – Ele está... distante.

— Muito mais do que o usual. – Klaus parecia intrigado.

Já estávamos acostumados com as horas que Henry passava no jardim, por vezes observando as estrelas, mas recentemente, catalogando insetos. Aparentemente, apenas observá-los não era mais o suficiente, então ele estava eternizando eles. Seu quarto estava rapidamente sendo tomado por recipientes preenchidos com álcool e cadáveres de insetos, cuidadosamente etiquetados e catalogados com suas principais características, nome científico e a data em que fora encontrado. Apesar de eu achar este passatempo um tanto tétrico, o mantinha ocupado por horas.

— Acha que está acontecendo alguma coisa? – perguntei.

— Não sei. – Klaus respondeu, dando de ombros. – Ele costuma se comunicar sem receios.

E agora estava em silêncio. Eu não tinha ideia do que passava na cabeça de Henry, então julguei ser apenas um reflexo do cansaço e das mudanças que aconteceram em tão pouco tempo. Henry podia parecer um adolescente, mas ainda era um bebê. Ou assim eu pensava que fosse.

— O que vamos fazer hoje? – perguntou Klaus, arrancando-me de meus pensamentos.

— Como assim?

— O que acha de jantarmos em algum lugar? – ele perguntou, animado.

— Eu estou cansada... – falei, torcendo o nariz. – Adoraria ficar em casa hoje.

— Filme, pipoca e sofá? – ele sugeriu, arqueando as sobrancelhas.

— Soa perfeito para mim. – eu sorri.

Antes que eu tivesse a chance de sugerir um filme, alguém bateu na porta. Eu me assustei com o som, pois foram batidas fortes, quase desesperadas. Fomos rapidamente em direção a porta, apenas para constatar que nosso convidado já havia entrado.

— Tony. – disse Klaus, confuso.

— Código azul na área sul. – ele disse, sem fôlego. Eu nunca vira Tony tão abalado.

— Azul? – Klaus pareceu não entender o motivo da urgência.

— Azul, verde, vermelho... que diferença faz a cor?! – ele gritou, exasperado. – Tem coisa acontecendo!

Klaus entendeu a urgência e virou-se para mim.

— Não saia de casa, entendeu? – ele ordenou, e então olhou para Henry, logo atrás de mim. – E isso vale para você também. Não saiam de casa.

Ele me beijou rapidamente, abraçou Henry e saiu de casa, seguindo Tony.

— O que está acontecendo? – perguntou Henry, assim que o silêncio tomou conta da casa.

— Nada, tenho certeza. – falei tentando sorrir. – Quer assistir um filme?

— Claro. – ele deu de ombros. – O que você quer assistir?

— Pode escolher. – murmurei, indo para a sala e me sentando no sofá.

Henry foi até a TV e correu os olhos pela pilha de DVDs ao lado dela. Tomou uma decisão rapidamente, e então veio se sentar ao meu lado, deitando sua cabeça em meu colo. Eu brinquei com seus cabelos enquanto os cantos dos pássaros e a melodia suave da abertura de “Orgulho e Preconceito” começava. Eu sorri ao ver sua escolha.

Ele estava tentando me acalmar, e eu tentava fazer o mesmo por ele. Assistimos ao filme em silêncio, mas eu não estava prestando atenção, de qualquer jeito. Eu já o assistira tantas vezes que poderia citar todas as minhas partes favoritas com perfeição. E enquanto isso, a casa ia mergulhando na escuridão da noite. O tempo passava e eu senti a respiração de Henry ficando cada vez mais calma, ritmada, até que ele adormeceu.

Eu levantei a cabeça dele suavemente e compensei minha ausência com uma almofada, então fui até o quarto buscar meu celular para tentar falar com Klaus. Contudo, quando o alcancei, vi que havia uma mensagem não lida. Não reconheci o número, mas a mensagem dizia apenas “Venha me encontrar”, seguido de um endereço que eu sabia que ficava em uma parte afastada da cidade. Mas quando li, senti como se não pudesse respirar.

Não foi a mensagem curta, ou o endereço afastado que me surpreendera. Foi a assinatura.

*********

Eu não sabia o que fazer. Tentei ligar inúmeras vezes para Klaus e ele não atendera. Henry continuava dormindo e eu fiquei alguns minutos andando para lá e para cá, até que decidi: eu ia encontrar Tyler. Nós não tivemos a chance de conversar quando ele partira, e não nos falamos desde então.

Fui até a sala, levando um cobertor para Henry. Deixei um pequeno bilhete na mesinha de centro, avisando que eu voltaria logo. Eu tentaria ser o mais rápida possível, e voltar para casa antes que alguém sequer desconfiasse de que eu saíra.

Estranhei o número incrivelmente baixo de híbridos que estavam vigiando a casa. Para a extensão da propriedade, eu sabia que três híbridos poderiam deixar muita coisa passar. Mas eu sabia que a segurança estava diminuindo aos poucos, conforme New Orleans se tornava mais e mais segura. Eu chamei um deles e pedi que ficasse próximo à porta da sacada, de onde ele poderia ver Henry, e então entrei no carro. Para minha surpresa, ele não questionara minha saída repentina.

Dirigi mais rápido do que de costume, indo em direção ao endereço. Não era muito específico, apenas uma ruazinha escondida, que levava até um conjunto habitacional abandonado. Eu vi fotos depois que passei por aqui pela primeira vez, curiosa para saber a história deste lugar, que já fora o lar de muitas famílias, mas agora só guardava ruínas, poeira e memórias. O lugar era bem escondido, com um total de três altos prédios no final de uma rua sem saída. Todos eles voltados para um centro comum, onde fora construída uma praça com alguns brinquedos. Era o típico lugar perfeito para criar uma criança com liberdade e segurança. Mas agora, à noite, era apenas um lugar assustador e sem vida.

Eu dirigi devagar, até ver que havia alguém sentado em um dos balanços, balançando-se devagar e sem tirar os pés do chão. O balanço reclamava e rangia, desacostumado com a atividade.

— Oi, Tyler. – eu falei, saindo carro.

Eu o reconheci assim que meus olhos o encontraram, mas ele estava diferente. Olhava para baixo, para os seus pés, e balançava-se de maneira apática.

— Oi, Car. – ele respondeu, sem olhar para mim.

Eu queria perguntar se estava tudo bem, o porquê de estarmos em um lugar como este no meio da noite, ou por que ele não olhava para mim, mas algo em sua voz me fez ficar calada. Ela soou fria, distante, até um pouco furiosa. Ele parecia... quebrado.

— Eu achei que você não viria. – ele falou, finalmente olhando para mim. Mas com toda a mágoa que vi em seus olhos, eu preferi que ele não o tivesse feito.

— Porque eu não viria? – perguntei.

— Não sei. – ele riu, sem humor. – Talvez Klaus não a deixasse sair.

Eu não respondi. Klaus não sabia que eu estava aqui, mas se soubesse, não me proibiria de estar aqui. Proibiria?

— O que você tem feito ultimamente, Ty? – eu me aproximei dele. – Já se passou muito tempo desde a última vez que nos falamos.

Ele não respondeu, apenas olhou para mim, surpreso. Um breve riso incrédulo escapou de seus lábios e ele levantou-se, olhando para mim de uma maneira estranha.

— Você não sabe?

— Como eu poderia saber, Tyler? – eu estava intrigada. – O último contato que tive com você foi através de um bilhete, que nem mesmo foi entregue por você.

— Bilhete? Que bilhete? – ele perguntou, exasperado.

— O seu bilhete de despedida. – eu esclareci.

— Eu nunca escrevi bilhete nenhum! – ele gritou.

Eu me calei. É claro que ele escrevera um bilhete, logo depois de ajudar a me salvar de Marcel. Klaus me entregara o bilhete assim que eu tive condições de lê-lo.

— Deixe-me adivinhar. – ele disse, furioso. – Klaus lhe entregou o bilhete.

— Sim, entregou.

Tyler riu, sem humor algum. Eu não estava entendendo nada.

— Aquele filho da puta é esperto. – ele falou.

— O que está acontecendo, Tyler? – eu estava ficando cansada disso tudo, precisava voltar para casa.

— Eu vou te contar o que está acontecendo.

Eu congelei. Aquela frase fora pronunciada por uma voz distante, vinda dos prédios. Eu olhei para uma porta, parcialmente iluminada pela única lâmpada daquele lugar, enquanto uma silhueta saía de lá e caminhava em nossa direção. Eu não conseguia acreditar no que meus olhos estavam vendo.

— Klaus não é quem você pensa que ele é.

E assim, do nada, todos os meus medos se materializaram, assumindo a forma de uma pessoa que eu achei que nunca mais encontraria em minha vida.

— Hayley...

*********

— Eu não estou entendendo... – sussurrei.

— Eu nunca fui embora, Car. – Tyler pareceu se acalmar com a presença de Hayley e falava mais pausadamente, sem gritar.

— Mas eu li o seu bilhete... – tentei explicar.

— Deixe de ser burra, Caroline! – gritou Hayley.

— Eu nunca escrevi aquele bilhete. – ele explicou. – Elijah me drogou quando eu a levei para a casa do Klaus. Você estava tão vulnerável depois daquilo...

— Elijah drogou você? Porque ele faria isso?

— Para nos prender! – Hayley estava furiosa. – Ele arrancou meu filho de mim assim que ele nasceu, e me prendeu!

— Ok, isso não tem graça... – eu falei, sem paciência. – Vocês só podem estar malucos! Klaus jamais faria algo assim!

— E você acha que eu faria? – Tyler pousou a mão no ombro de Hayley, tentando mantê-la no lugar. – Acho que eu abandonaria meu filho recém-nascido?

— Klaus disse que você não queria ser mãe... – eu sussurrei.

— E você acreditou, assim como acreditou em todas as mentiras dele. – Tyler falou, parecendo desapontado comigo.

— O que vocês pretendem dizer para ele? – a voz de Hayley ficou mais baixa subitamente, embargada. – Que eu morri?

— Ele nunca perguntou sobre você. – falei, sem pensar. A dor no olhar de Hayley me fez retroceder. – Nós nunca contamos sobre você.

— Ele é um bebê, que diferença isso faz agora? – Tyler perguntou a Hayley.

— Henry não é mais um bebê. – falei.

— O quê? – ela sussurrou.

— Ele tinha algo como uma falha genética, não nasceu um híbrido perfeito. – expliquei, revivendo toda a dor do início da vida de Henry. – O gene de lobo e o gene de vampiro estavam se destruindo, e o corpo dele tentou compensar evoluindo.

— Evoluindo? – ela estava confusa.

— Ele cresceu muito rápido. Hoje, ele aparenta ser um adolescente. – eu sorri. – Ele é muito inteligente, e um menino adorável.

— E ele está bem? – eu pude ver as lágrimas escorrendo pelo rosto dela.

— Agora sim. As bruxas precisaram realizar um ritual para “desativar” o gene de lobo no corpo dele, para que ele pudesse parar de sofrer.

— Sofrer? – ela assustou-se.

— Foram tempos difíceis, Hayley. Ele era muito frágil.

Hayley chorava, tentando controlar seus soluços.

— Eu não estive ao lado do meu próprio filho quando ele mais precisou de mim. – Tyler a abraçou, tentando acalmá-la. Reparei no quão próximos eles pareciam.

— Nós cuidamos dele.

— E ele nunca perguntou sobre mim? Ele não acha estranho não ter mãe? – ela gritou.

— Ele me chama de mãe... – falei baixinho.

Agora Tyler precisou de toda a sua força para contê-la, caso contrário ela teria me atacado. Temi que ela pudesse se transformar em lobo, então fui para mais perto do carro, sabendo que, caso ela se transformasse, eu não teria muitas chances de sobreviver nesta rua sem saída.

— Hayley, acalme-se! – ordenou, Tyler. E instantaneamente ela parou de tentar fugir dos braços deles, ficou imóvel, olhando-me com uma fúria assassina e respirando profundamente.

— O que aconteceu, Tyler? Eu não estou entendendo nada.

— Klaus nós prendeu, nos manteve sedados e incapacitados por todo esse tempo. – ele falou, ainda de olho em Hayley. – Por isso nós “desaparecemos”.

— Eu não entendo. Por que Klaus faria uma coisa dessas? – eu estava tentando juntar todas essas peças em minha cabeça, mas o resultado era confuso e não fazia sentido nenhum para mim. Era como um quadro abstrato.

— Por que ele queria brincar de casinha com você, e nós estávamos no caminho. – Hayley disse, entredentes.

— Eu fiz um acordo com ele, Car. – Tyler disse, nitidamente arrependido. – Eu encontrei o bando de Tony e os convenci a permitir a transformação em híbridos para salvar você.

— E em troca você ajudaria todos ele a quebrarem o vínculo de ligação. – completei. – Sei disso, Klaus me contou.

— Ele contou também que Elijah me prendeu antes que eu tivesse a chance de ajudar qualquer um deles?

— Você está querendo dizer que... – eu não podia acreditar.

— Que todos os híbridos em New Orleans ainda estão ligados ao Klaus.

Então Tony não estava fazendo isso pela cidade? Ele estava apenas seguindo as ordens de Klaus?

— Não, é impossível. – eu ri, nervosa. – Eles partiram com você!

— E voltaram prontos para obedecer ao Klaus. – Tyler irritou-se. – Você não acha isso estranho? Eles estavam sendo treinados, Car! É por isso que você não os viu até então...

Isso não podia estar acontecendo. Isso tinha que ser mentira.

— E nós fomos presos e sedados desde então. – ele concluiu.

— Mas Klaus criou o exército para me salvar. – eu tentei criar uma explicação lógica para aquilo tudo. – Eu não estaria viva se não fosse por isso.

— Ele é um híbrido original, Caroline. – ele riu. – Ele precisaria de muito menos ajuda do que um exército. Ele poderia ter te salvado sozinho, se quisesse.

— Mas isso daria tempo suficiente para Marcel me matar!

— E então, ao invés de pedir ajuda aos irmãos, hipnotizar alguns vampiros, ou chamar Stefan e Damon, ele ligou para mim e criou um exército de híbridos, algo que ele sempre quis. Caso você não se lembre, ele quase drenou todo o sangue da Elena para ter isso, Car. – Tyler sorriu. – Muito conveniente, não acha?

— Elena é vampira agora. – eu murmurei para mim mesma.

— Mas Katherine não é. – ele completou.

Não, não podia ser verdade.

— Então, Klaus tem mentido esse tempo todo? – eu podia sentir as lágrimas se formando em meus olhos.

— Finalmente entendeu. – ironizou Hayley.

— Onde vocês estiveram esse tempo todo? – perguntei, não querendo acreditar no quebra-cabeça que se formava em minha mente.

— Nós só vimos o lugar quando saímos, mas parecia uma fazenda. – ele respondeu. – Grande, com uma varanda, no meio do nada, e com uma grande...

— Árvore no lado direito, perto das rosas. – eu completei, sentindo meu sangue gelar. – Com um homem alto, um pouco velho e com cara de poucos amigos.

— Exatamente. Era ele quem nos sedava, geralmente.

Tudo fazia sentido agora. Quando Victor ligou, Klaus ficou desesperado para que eu organizasse o casamento o mais rápido possível, e ficou muito próximo de mim e de Henry, o tempo todo presente, o tempo todo preocupado.

— Eu passei vários dias naquela fazenda... – agora as lágrimas escorriam fluidamente.

— Você o quê? – Tyler gritou.

— Eu passei vários dias naquela fazenda... – eu repeti.

Então Victor era muito mais do que um simples empregado. Por isso ele desaparecia constantemente, apenas pairando como uma sombra.

— Onde vocês estavam? – minha voz quase não saiu.

— No porão.

Eu solucei. Eu passei dias a apenas alguns passos dos dois, e não desconfiei de nada. E então, Victor ligara, talvez para informar que eles haviam fugido, e Klaus apressara nosso casamento. Eu não conseguia acreditar. Com quem eu havia me casado? Como Klaus fora capaz de fazer algo assim.

— Nós temos que sair daqui. – Tyler falou. – Klaus ordenou que todos os híbridos procurassem por nós.

Por eles? Então Klaus não estava procurando Elijah?

— Imagine o que ele faria se soubesse que nós lhe contamos toda a verdade. – Tyler sorriu, satisfeito.

— E ainda assim, você se casou com o maldito. – Hayley disse, incrédula.

Eu não respondi. Tyler não olhou para mim. Eu queria ir embora, queria sair dali, entrar no carro e dirigir para sempre, me afastar o máximo possível de todas essas mentiras, de toda essa loucura.

— Caroline. – Hayley chamou minha atenção – Eu quero conhecê-lo.

Eu apenas concordei, sentindo que não conseguiria pronunciar uma única palavra sequer. Eu sabia que esse momento poderia chegar, e ela tinha todo o direito de querer conhecê-lo.

Eu senti como se ela tivesse cravado sua mão em meu peito e tivesse arrancado meu coração, e levado tudo com ele. Tudo estava sendo tirado de mim, e eu fiquei vazia.

— Nós temos que ir, Car. – disse Tyler.

Eu não respondi. Nem sequer me movi. Tyler cansou de esperar por uma reação e partiu com Hayley, desaparecendo no interior do mesmo prédio que, anteriormente, Hayley saíra.

O mundo ficou completamente silencioso. Eu não ouvia nada, não sentia nada, não tinha mais nada. Sempre defendi, para todos ao meu redor, que eu conhecia um Klaus que ninguém mais conhecia. E agora eu descobri que nem mesmo eu o conhecia.

O homem que me deu uma família, uma vida nova, não era quem eu pensava que fosse.

Eu estava vivendo uma vida de mentira, uma mentira engenhosa, que eu fui tola o suficiente para acreditar. E agora, tudo estava se despedaçando, quebrando-se em mil pedaços. Eu senti uma raiva incontrolável formando-se em mim.

Peguei o colar que eu estava usando, que coincidentemente, trazia a chave de nosso cadeado em Paris. E mesmo estando tão distante, eu pude ouvi-lo se quebrar e cair nas águas do Sena.

********

Entrei no carro sem saber o que fazer. Eu queria ir para casa, mas eu já não sentia mais que aquela era minha casa. De repente, nem mesmo New Orleans parecia minha casa. Questionei-me sobre o que eu estava fazendo aqui, por que abandonara tudo em Mystic Falls? Para perseguir uma mentira? Para ter algo que nunca fora meu?

Eu não podia ir para casa. Como enfrentaria Henry? Como explicaria que sua mãe, sua mãe verdadeira, queria conhecê-lo?

Eu queria ir embora. Queria voltar para Mystic Falls, queria meus amigos ao meu redor. Mas antes que eu tivesse a chance de ligar o carro, a porta se abriu e alguém se sentou no banco ao meu lado.

— Stefan! – eu disse, surpresa.

— Dirija. – disse ele, com intensidade.

Então eu liguei o carro e comecei a dirigir, sem pensar a respeito.

— O que está fazendo aqui? – esta noite poderia ficar mais estranha?

— Eu não sou Stefan, Caroline. – ele falou. – Continue dirigindo até encontrar um lugar em que possamos conversar.

— Quem é você? – sussurrei.

— Silas. – ele disse, simplesmente. – Você reparou como foi fácil para você começar a dirigir, sem nem pensar sobre isso?

— Sim? – eu estava ficando apreensiva. Quem era Silas?

— Eu estou controlando sua mente. – ele sorriu, satisfeito. – É muito legal.

— Como você consegue fazer isso?

— Eu sou incrível, Caroline. Controlar sua mente não é nada demais. – ele se glorificou. – Agora, vamos cortar o papo furado. Então, antes de mais nada, deixe-me esclarecer essas dúvidas que estão vagando por sua mente triste e confusa.

Eu entrei um beco, deixando o carro de qualquer jeito.

— Stefan é minha cópia, por isso é igual a mim. Eu sou um bruxo muito poderoso e sim, você deve ter medo de mim. – ele sorriu diabolicamente. Agora eu conseguia ver com clareza como ele não era Stefan. – Agora, vamos à explicação mais importante do dia.

— Mais mentiras? – sussurrei.

— Não, não, Caroline. – ele pareceu ofendido. – Este é o departamento do seu marido, não o meu. Veja, ao contrário dele, eu sou fiel e verdadeiro com minha amada. Sou até muito romântico...

— O que você quer? – perguntei, tentando acabar com aquilo. Meu mundo estava acabando e agora isso. Eu só queria sair dali e me esconder.

— Vou lhe dar a explicação breve. – ele avisou. – Eu quero me encontrar com minha amada, Amara, e estar em paz com ela. Mas, para isso, eu preciso destruir o outro lado, que é o meu destino quando eu morrer, já que sou um ser sobrenatural.

— Ok, boa viagem. – falei.

— Cuidado com essa língua, Caroline. Ou posso me esquecer dos motivos que a tornam útil para mim. – ele disse, com frieza. Eu me calei.

— Eu preciso realizar um feitiço para destruir o outro lado. – ele continuou. – E eu já tenho quase tudo o que preciso. Só falta um ingrediente nesta receita.

— O que é? – sussurrei.

— Preciso de algo para a bruxa usar como fonte de energia. – ele sorriu. – E é isso que faz você útil.

— Eu sou uma fonte de energia? – eu não compreendia.

— Não. – ele riu com vontade. – Você não seria suficiente nem para um feitiço de localização.

Eu não entendi a comparação, mas compreendi que eu era fraca.

— Eu preciso de algo forte. – ele explicou. – E o que pode ser mais forte do que um híbrido original.

— Klaus... – constatei.

— Bingo! – ele bateu palmas.

— E o que isso tem a ver comigo? – questionei.

— Você vai trazê-lo direto para mim.

Eu congelei.

— O quê?

— Veja bem, Caroline. – ele levantou um dedo. – Klaus mentiu para você, prendeu e torturou Tyler e Hayley, deixando o pobre e frágil Henry sem sua mãe verdadeira. Usou você para finalmente ter seu exército de híbridos, e usou eles para dominar a cidade. E ainda hipnotizou o marido de sua mãe...

— Benjamim? – eu gritei.

— Esse mesmo. – ele concordou.

Não, não, não. Quando as mentiras iriam acabar?

— Agora, vamos voltar ao que é importante. – ele disse, alcançando um bolso interno de sua jaqueta, e mostrando-me uma adaga. – Esta adaga é muito especial, Caroline. Você precisa ter cuidado com ela.

— Você quer usar uma adaga para derrubar o Klaus? – perguntei, incrédula.

— Eu melhorei ela. – ele pareceu ofendido. – Já mencionei que sou um bruxo muito poderoso? Quando esta adaga atingir o coração do Klaus, ele ficara completamente vulnerável, e então você vai trazê-lo até mim.

— E por que eu faria isso?

— Pelo seu bom coração! Ou será que a cortesia acabou neste mundo? – ele riu.

— Você é maluco.

— Um pouco, sim. – ele se remexeu no banco. – Ouça-me com atenção. Eu vou usar o Klaus para destruir o outro lado. Isso significa que tudo o que está lá será destruído também.

Eu senti meu coração se apertar.

— Você não pode...

— Não só posso, como vou. – ele alertou. – Mas, estou disposto a realizar um último ato de bondade antes de morrer.

Eu não conseguia falar. Estava em um beco de New Orleans, conversando com um maluco. O dia podia sim, ficar mais estranho.

— Você traz o Klaus até mim, e eu trago Bonnie de volta.

Bonnie.

Se ele destruísse o outro lado, ela seria destruída junto e minha melhor amiga partiria para sempre. Mas eu poderia tê-la de volta, acabar com toda a culpa que eu sentia por não perceber sua morte, por não tê-la ajudado.

— E o que vai acontecer com Klaus? – sussurrei.

— Com alguma sorte, ele pode sobreviver. – ele falou, como se não se importasse nem um pouco com isso. Talvez não se importasse mesmo. – Então, temos um acordo?

— Como posso saber que você está falando a verdade?

— Eu entendo que, com o seu histórico, agora você desconfie de tudo e de todos. Mas eu não minto, Caroline. Eu só quero me reunir com Amara.

— Eu não posso fazer isso... – sussurrei.

— É claro que pode!

— Por que está pedindo? – sussurrei.

— O quê? – ele pareceu confuso.

— Se pode controlar minha mente, por que pedir?

— Por que assim é mais divertido. – ele sorriu. – Eu sou muito velho, Caroline. Eu fico entediado.

Ele riu, como se tudo fosse uma brincadeira.

— Amanhã, Caroline. Você tem até amanhã. – disse ele, e então saiu do carro.

Ele deixou para trás a adaga e um pequeno pedaço de papel com instruções para chegar ao lugar onde ele provavelmente realizaria o feitiço.

Segurei a adaga entre meus dedos, sentindo a lâmina afiada. Coloquei a ponta afiada dela contra a palma de minha mão e pressionei, até que o sangue começou a jorrar.

Não doía tanto quanto meu coração.


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Notas finais do capítulo

Queridos, esta fic não vai se estender por muito tempo... Acredito que vou escrever apenas mais uns 4 ou 5 capítulos. É o suficiente para responder todas as perguntas e finalizar a história.

Lembram que, no primeiro capítulo, a Car também falou sobre arrancar aquelas rosas? ;)
E perceberam que, quando o Klaus pediu para apressar o casamento, o Victor que ligou era aquele mesmo Victor de anteriormente?

Enfim, já vou começar a escrever o próximo! Espero que estejam gostando! :D

P.S.: Preciso deixar uma pergunta. Coloquem-se no lugar da Caroline e me respondam: vocês perdoariam o Klaus?