A Herdeira dos Black escrita por Akanny Reedus


Capítulo 39
Hogwarts é o meu lugar




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Fomos liberados da ala hospitalar só ao meio-dia do dia seguinte. A escola estava totalmente deserta, não era nem por causa do almoço, mas por causa de Hogsmeade que fez sumir com os alunos — ao menos a maioria. Tudo o que queríamos naquele momento era trocar os uniformes sujos por terra, sangue seco e suados, por roupas limpas. Foi na comunal que ficamos sabendo sobre Hogsmeade já que tinha um aviso sobre uma última visita no vilarejo antes do final das aulas.

— Querem ir? — perguntou Harry nos olhando.

Neguei na hora, minha vontade de ir para lá era zero e pelo jeito não era diferente com Hermione e Rony.

Os garotos seguiram caminho até o dormitório masculino; Hermione e eu fomos para o nosso dormitório que felizmente estava só para gente. Exceto que tinha um ser peludo e pretinho muito especial que miou assim que abrimos a porta.

— Taran… sentiu falta, foi…? — disse manhosa lhe fazendo carinho. Ele tentou subir no meu colo quando me agachei e o mesmo quase que subia em mim, pedindo colo. — Vou ter que negar o colo porque sua dona está uma porca.

Hermione disse que poderia ir primeiro tomar o banho, enquanto acariciava Bichento deitado em sua cama.

Lhe agradeci muito por aquilo, pois não via a hora de tirar toda aquela sujeira do corpo. Infelizmente devo ter enrolado muito no banho, mas assim que finalizei e sai de toalha mesmo, Hermione entrou depois.

Sentei-me na cama, cansada e pensativa. Lembrando de tudo que aconteceu nessas últimas horas, foram tantas coisas que minha cabeça até chegou a latejar, não nego que foi uma louca aventura. Nunca que em Beauxbatons iria passar por algo desse tipo, nunca.

Nesse meio tempo pensando, lembrei do meu pai e me perguntei se ele estava bem. Se Bicuço e ele chegaram em Londres ou foram para outro lugar? Eram tantas perguntas que queria ter feito, queria tanto estar com ele nesse momento, mas parece que tudo isso vai ser difícil de acontecer.

Graças a Taran que subiu no meu colo, me acordou da vida e me lembrou que ainda precisava me arrumar. Quando olhei meu malão me recordei que daqui alguns dias iria finalizar meu primeiro ano em Hogwarts.

— Pois é, Taran — disse ao gato, separando minha roupa. — Daqui alguns dias voltaremos para casa.

Ele miou e sorri.

Vesti uma roupa bem básica mesmo, calça jeans e blusinha. Calcei meu tênis já todo surrado; Hermione apareceu nesse meio tempo já semi-vestida — também decidiu se arrumar fora do banheiro.

— Eu estava me perguntando — diz ela enquanto vestia uma calça jeans.

— O que? — perguntei, terminando de colocar o último par do tênis.

— Como deve estar — ela deu uma olhada na porta e murmurou: — o Sirius e o Bicuço.

— Você não é a única — disse em voz baixa. — Não paro de pensar neles desde a hora que acordei. Queria tanto ter conversado mais com ele… tenho medo de perder o contato.

— Fica tranquila que nada disso vai acontecer — ela disse tentando me consolar. — Tenho certeza de que ele vai entrar em contato ou até mesmo você pode fazer isso.

— Eu sei, mas eu quero vê-lo… conversar por cartas não é a mesma coisa.

— Sei que pode ser difícil, mas ele não tem escolhas e nem o Bicuço tem por que os dois são procurados. O melhor que eles podem fazer é sair do país…

Hermione tinha total razão, estaria até sendo egoísta por querer meu pai ainda aqui, mesmo sabendo que ele pode correr risco.

Deixei meu cabelo secando naturalmente, depois que o sequei e fiz o contorno preto nos olhos. Guardei a varinha no bolso da frente da calça, foi quando vi o colar dourado da minha e decidi usá-lo oficialmente. Coloquei no pescoço para não o largar nunca mais.

Quando Hermione terminou de se arrumar, descemos para se encontrar com os garotos que já haviam saído do dormitório e esperavam nós duas no sofá da comunal.

— Até que enfim! — exclamou Rony se levantando. — Vocês duas demoraram muito.

— Desculpe se você não tem cabelo comprido para lavar — digo.

— Boba — resmungou ele, me fazendo rir e bagunçando o cabelo molhado dele.

Como já tínhamos “almoçado” na ala hospitalar, decidimos ficar sentados debaixo da árvore do lago enegrecido, aproveitando a sombra — hoje o sol apareceu bem ardido. Ficamos conversando sobre o que rolou ontem, enquanto observamos a lula gigante agitar preguiçosamente seus tentáculos à superfície.

Paramos apenas de falar quando caiu outra sombra entre nós. Olhamos e vimos um Hagrid de olhos muito vermelhos, enxugando o rosto úmido de suor com um lenço do tamanho de uma toalha de mesa, e sorrindo para gente.

— Sei que não devia me sentir feliz depois do que aconteceu ontem à noite — disse ele. — Quero dizer, a nova fuga de Black e tudo o mais, mas sabem de uma coisa?

— O quê? — perguntamos em coro, fingindo curiosidade.

— Bicuço! Ele fugiu! Está livre! Passei a noite toda festejando!

— Que fantástico! — exclamou Hermione lançando um a Rony um olhar de censura porque ele parecia prestes a cair na risada.

— É... Não devo ter amarrado ele direito — concluiu Hagrid, apreciando os jardins. — Estive preocupado hoje de manhã, vejam bem... Achei que ele podia ter topado com o Prof. Lupin por aí, mas o professor disse que não comeu nada ontem à noite…

— Do que é que você está falando? — perguntei com o cenho franzido.

Estava com medo das respostas.

— Caramba, vocês não souberam? Nem mesmo você, Susana? — disse Hagrid, o sorriso se desfazendo. Em seguida, baixou a voz, ainda que não houvesse ninguém à vista — Hum... Snape anunciou para os alunos da Sonserina hoje de manhã... Achei que, a essa altura, todo mundo já soubesse... O Prof. Lupin é lobisomem, entendem. E esteve solto na propriedade ontem à noite. Ele está fazendo as malas agora, é claro.

— Ele está fazendo as malas? — repeti alarmada. — Não me diga que ele vai embora?

— Vai sim — disse Hagrid. — Pediu demissão logo de manhã. Diz que não pode arriscar que isto aconteça de novo.

Levantei-me depressa; eu não tinha sido a única.

— Vou ver o meu padrinho — avisei para os três.

— Vou com você — disse Harry.

— Mas se ele se demitiu…

— Parece que não há nada que a gente possa fazer…

— Dane-se! — exclamei nervosa para os protestos de Rony e Hermione. — Eu sou afilhada dele e vou falar de qualquer jeito com ele.

— Encontramos vocês aqui depois.

Foi a última que ouvi antes de dar as costas e ir até a sala do meu padrinho.

(...)

 

A porta da sala do meu padrinho estava aberta. Vi que ele já guardara a maior parte dos seus pertences. O tanque vazio do grindylow estava ao lado de sua mala surrada, aberta e quase cheia. Meu padrinho curvava-se sobre alguma coisa em sua escrivaninha e ergueu a cabeça quando Harry bateu na porta.

— Vi-os dois chegando — disse meu padrinho com um sorriso.

E apontou para o Mapa do Maroto na mesa.

— Harry e eu acabamos de encontrar Hagrid — disse. — E soubemos por ele que você pediu demissão. Padrinho, por favor, diz que é mentira.

Ele me deu uma breve olhada.

— Não, querida, não é mentira.

Então meu padrinho começou a abrir as gavetas da escrivaninha e a esvaziá-las.

— Por quê? — perguntou Harry. — O Ministério da Magia não está achando que o senhor ajudou Sirius, está?

Meu padrinho foi até a porta e fechou-a.

— Não. O Prof. Dumbledore conseguiu convencer Fudge que eu estava tentando salvar a vida de vocês — ele suspirou. — Isso foi a gota d’água para Severus. Acho que a perda da Ordem de Merlim o deixou muito abalado. Então ele... Hum... Acidentalmente deixou escapar hoje, no café da manhã, que eu era lobisomem.

— Acidentalmente, sei — resmunguei ao imaginar a cena daquele imbecil do Seboso contando que meu padrinho é um lobisomem.

— O que mais me deixou tranquilo nessas palavras escapadas pelo Severus é dele não ter te incluindo — disse meu padrinho me olhando, fiquei sem entender. — Ele acabou mencionando que tinha mais alguém na escola que vivia aos meus cuidados. Felizmente, ele não prolongou o assunto e não disse nomes. Prefiro que ele desconte a raiva em mim do que em você que não tem absolutamente nada haver com os conflitos dele comigo, muito menos com as que ele tem com o Sirius.

— Como se me importa-se… — murmurei irritada. — Você que pouco me importo com isso.

— Sei disso — concordou meu padrinho. — Mesmo assim não te queria os problemas para cima de você.

— Padrinho não me diga que vai embora por causa disso?!

Ele sorriu enviesado.

— Mais do que todo mundo, você sabe o qual é difícil para mim, Susana — disse ele. — Amanhã a essa hora, vão começar a chegar as corujas dos pais... Eles não vão querer um lobisomem ensinando a seus filhos. E depois de ontem à noite, eu entendo.

— Mas ontem não aconteceu nada…

— Eu poderia ter mordido um de vocês, Harry. E isso não pode voltar a acontecer nunca mais.

— O senhor é o melhor professor de Defesa contra as Artes das Trevas que já tivemos! — disse Harry. — Não vá embora!

Só que meu padrinho apenas sacudiu a cabeça e ficou calado.

— Padrinho, por favor… não vá — pedi sem tirar os olhos dele, que continuava a esvaziar as gavetas. — Assim não vou ficar tanto tempo sem te ver.

— Sinto muito, Susana, mas a decisão já está tomada — disse ele com um sorriso fraco.

É, pelo jeito aquele maldito narigudo ia ter o que queria.

— Pelo que o diretor me contou hoje de manhã, vocês salvaram muitas vidas ontem à noite, Harry e Susana. Se eu tenho orgulho de alguma coisa que fiz este ano, foi o muito que vocês aprenderam comigo... Quem dos dois executou o Patrono?

Olhamos meu padrinho um pouco espantados.

— Quem mais poderia ter afugentado os dementadores?

Contamos toda a história ao meu padrinho e mencionei sobre o suposto animal que o pai de Harry deveria se transformar. Quando terminamos, o meu padrinho voltou a sorrir.

— É, James se transformava sempre em cervo. Vocês acertaram... É por isso que o chamávamos de Pontas.

Meu padrinho jogou seus últimos livros em uma caixa, fechou as gavetas da escrivaninha e virou-se para fitar Harry e eu.

— Tome, trouxe isto da Casa dos Gritos ontem à noite — disse ele, devolvendo a Harry a Capa da Invisibilidade. — E... — via o Mapa do Maroto na mão dele. — Esse mapa é dos dois. Recebam como uma herança dos Os Marotos, até porque ambos são filhos de dois Marotos. — E ele entregou o mapa na minha mão.

Harry e eu sorrimos.

— O senhor me disse que Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas tinham querido me atrair para fora da escola... O senhor disse que eles teriam achado graça.

— E teríamos — respondeu meu padrinho, abaixando-se para fechar a mala. — Não tenho dúvida em afirmar que James teria ficado muitíssimo desapontado se o filho dele jamais descobrisse as passagens secretas para fora do castelo. Devo incluir até mesmo a Susana, seu pai também ficaria muitíssimo desapontado. Também acredito que Sirius ficaria muito orgulhoso em saber que a filha herdou muito bem os seus dons marotos.

Ouvi uma batida na porta. Guardei apressadamente o Mapa do Maroto, por debaixo da minha blusa, nas costas, ficando preso pelo cós da calça.

Era o professor Dumbledore.

— O seu coche já está no portão, Remus — anunciou ele.

— Obrigado, diretor.

Meu padrinho apanhou sua mala e o tanque vazio do grindylow.

— Bom... Adeus, Harry — disse ele sorrindo. — Foi realmente um prazer ser seu professor. Tenho certeza de que voltaremos a nos encontrar. E quanto a você — disse ele me olhando e sorrindo. — Vejo você em King’s Cross?

— Sim, até King’s Cross — digo retribuindo o sorriso.

— Diretor, não precisa me acompanhar até o portão, posso me arranjar…

Tive uma leve impressão de que ele queria sair logo.

— Adeus, então, Remus — disse Dumbledore sério.

Meu padrinho empurrou ligeiramente o tanque do grindylow para poder apertar a mão de Dumbledore. Então, com um último aceno para Harry e eu um breve sorriso, Remus saiu da sala.

Vi Harry se sentando numa cadeira desocupada, parecia triste, pelo jeito que olhava o chão. Depois olhei para Dumbledore, que também o encarava, e depois me olhou. Entendi o que isso significava e mesmo sem ele dizer, Harry precisava ficar sozinho com o diretor e achei melhor me retirar.

— Já vou indo me encontrar com Hermione e Rony, Harry — avisei.

Ele nem me olha, apenas vejo-o assentindo com a cabeça, nem disse mais nada e dei de ombro.

— Licença, diretor — digo.

Dumbledore apenas assenti, dando espaço na porta para me retirar, olhando Harry uma última vez antes de sair.

 

(...)

 

Hermione e Rony estavam no mesmo lugar, assim que cheguei, eles pediram explicações como foi e disse tudo o que aconteceu, incluindo por que do Harry não ter vindo comigo. E ele ficou sem aparecer por um bom tempo, não tinha noção do horário, mas ainda era de dia e eu estava com fome. Precisava beliscar algo antes da janta, pois não iria aguentar.

— Vou achar alguma coisa para comer, querem que eu traga…

— Eu quero — disse Rony sem mesmo me deixar terminar, o que me fez olhá-lo assustada e ganhar um olhar de reprovação de Hermione.

— Nossa, que fome — disse rindo da cara dele. — Eu trago sim e você Hermione?

— Não quero nada, obrigada — ela respondeu.

— Ok. Encontro vocês depois — disse me levantando e pronta para seguir o caminho para a cozinha.

— Espera, mas onde você vai buscar comida... Susana... Ei, Susana.

— Até daqui a pouco — falei sem responder a Hermione.

Entrando no castelo para ir até a cozinha, aproveitaria para ver Dobby que se tornou um ótimo desde que nos conhecemos.

Passando por um dos corredores, vejo uma movimentação de alunos, o que imaginei que muitas já estavam voltando de Hogsmeade e um desses alunos era Theodore, que me chamou de longe e assim que o encarei, veio correndo em minha direção.

— Oi Theo.

— Olá Su… Esperam Theo? — ele me olhou surpreso. — Eu estou sonhando ou finalmente não me chamou por “Theodore”?

— Por quê? Quer que eu volte a lhe chamar de Theodore?

Ele fez uma careta e disse com um sorriso torto:

— Só Theo está ótimo.

E sem motivo nenhum rimos.

— É impressão minha ou você está toda... hum... é…

— Arrebentada?

— Não é a palavra que ia usar, mas já que disse vou perguntar. Por que está toda arrebentada?

Qual outra palavra que ele usaria se não fosse o “arrebentada”? Minha cara não estava das melhores, tinha um corte nos lábios além de vários arranhões no rosto, sem esquecer da minha mão enfaixada. Tudo isso por causa do Salgueiro Lutador que também deixou um roxo nas minhas costas.

 — Quem bateu em você? — disse Theo em tom de brincadeira, virando o meu rosto e um pequeno arranhão um pouco perto dos olhos. — Achei que em uma briga, o adversário iria sair arrebentado e ficar umas semanas na ala hospitalar.

— Idiota, ninguém me bateu, acontece que sofri um pequeno acidente ontem a noite — expliquei. — E só para confirmando, eu nunca saí perdendo em uma briga, eu sempre venço.

— Convencida... — disse ele irônico ganhando um soco de leve no braço, o fazendo rir.

— Besta — murmurei.

— Acabei de voltar de Hogsmeade com o Blásio — começou Theodore, colocando a mão no meu ombro para sair um pouco do caminho, já que estava começando a lotar o corredor — e tinha pensado em lhe chamar. Como deve saber, a senhorita me deve um encontro, só que curiosamente você desapareceu ontem à noite e não te vi no café-da-manhã. Onde esteve?

— Ontem depois da janta fui para sala comunal — menti. — E de manhã passei o dia na ala hospitalar, por causa do meu pequeno acidente.

Ele parece não ter acreditado tanto, mas não me importei.

— Mas isso não é problema, se você quiser sair comigo, a nossa próxima ida para Hogsmeade é só no outro ano. Então é só chamar que irei com você.

Nem mesmo isso o deixou menos desconfiado, o que me deixou irritada. Até ia dizer algo sobre essa cara dele, mas desisti porque não queria ferrar com as coisas nem com o meu dia, já que alguém indesejado se aproximava.

— Vou indo nessa, depois a gente se fala — digo.

— Já?

— É, seu amigo indesejado está vindo.

Theodore se virou para ver quem era.

— É apenas o Draco, ele não morde, por mais que você pense o contrário. Ele é gente boa.

— Acredito — ironizei. — Até um outro momento, tchau.

Um dos maiores motivos de querer me afastar de Malfoy era o fato de ainda me sentir desconfortável pelo que rolou entre a gente. Devo parecer uma ridícula por ainda estar de frescura por causa de um beijo, mas a minha cabeça e meu coração diziam que não fora um beijo qualquer e isso me estressava. É lembrando disso que me dou conta do quanto preciso de férias para ficar afastado da Madame.

(...)

À medida que trimestre foi terminando, minha aproximação com o trio se tornou mais forte do que o imaginado. Ninguém da escola sabia o que tinha acontecido de verdade na noite em que meu pai, Bicuço e Pettigrew sumiram. Sempre ouvia pelos corredores especulações de outros alunos do que poderia ter acontecido, inclusive eu era uma das especulações por causa dos meus machucados, mesmo não sendo a única machucada, os garotos e Hermione não tinham algo que eu tinha, o Black. Por um momento cheguei a achar que a droga do Snape tinha contado acidentalmente para os outros alunos sobre meu parentesco. Entretanto, por sorte a vida dele não correu nenhum risco e nem minha matrícula em Hogwarts.

A notícia de que meu padrinho tinha saído da escola não agradou a maioria dos alunos. Todos se lamentavam muito pela demissão dele, e por causa disso, sempre ouviam algumas especulações de quem seria o novo próximo de Defesa contra as Artes das Trevas. O que não me interessa nenhum pouco, eu queria mesmo é o meu padrinho de volta.

Não deixei de pensar em meu pai um minuto sequer, me perguntando toda hora sobre onde poderia estar.

Pelo terceiro ano consecutivo, a Grifinória ganhou o Campeonato das Casas. Fred e Jorge, segundo os próprios, passaram raspando no N.O.M.s (Níveis Ordinários em Magia), mas pelo jeito isso não preocupou muito eles. Já que eles querem trabalhar em outra coisa especial, o que eu não sei, mas eles disseram que saberiam em breve. Já estou aguardando!

Por fim chegou o último dia em Hogwarts, tudo estava pronto, inclusive Taran dentro de sua cestinha. Fui com os garotos e Hermione até o expresso, mas antes de entrar vi de longe Jessica acompanhada por suas amigas desagradáveis, ela reparou em mim e me mandou um breve aceno — o que me fez retribuir.

Já acomodados em uma das cabines, Hermione quis comunicar uma notícia importante.

— Fui ver a professora McGonagall hoje de manhã, pouco antes do café. Revolvi…

Porém não conseguiu terminar porque a porta de nossa cabine foi aberta. Encaramos a porta na mesma hora, de lá surgiu Amanda Bisbal com seu cabelo loiro preso em uma trança de lado com um vestido branco, estampado com várias flores rosas.

— Oi — disse ela animada e sorrindo.

Precisei me segurar quando vi as caretas de dúvida do trio.

— Oi Amanda — digo.

— Eu só conheço você — falou Amanda empolgada olhando Harry. — Harry Potter, correto? Claro, quem é que não te conhece. E vocês dois são...?

— Hermione e Rony — apresentei. — Gente, essa é Amanda, ela é da Lufa-Lufa.

— Prazer em conhecê-la, Amanda. Quer se sentar? — ofereceu Hermione gentilmente.

— Não, obrigada — Amanda continuava mantendo o seu tom de voz alto e animado. — Eu estou na cabine ao lado e quando vi a Susana passando, quis me despedir. Se bem que somos vizinhas então acredito que vamos continuar nos vendo.

Amanda não ficou muito, apenas conversou um pouco e logo se retirou, deixando Rony fazer seu comentário sobre a pessoa que acabou de sair.

— Essa garota deve ter uns parafusos a menos, não?

Eu apenas consegui rir.

— Eu a achei bem legal e simpática — comentou Hermione.

— Diz isso porque não mora no mesmo bairro que ela e fica toda no seu pé — digo.

Ela apenas revirou os olhos.

— Mas mudando de assunto, não quero falar na Amanda — me acertei no banco e arrumei melhor o Taran no meu colo e voltei minha atenção em Hermione. — O que você tinha ido falar com a Profª McGonagall.

— Hum... Bem, eu decidi abandonar os Estudos dos Trouxas.

— Mas você passou na prova com trezentos e vinte por cento! — exclamou Rony.

— Eu sei — suspirou Hermione — mas não vou poder viver outro ano igual a este. Aquele Vira-Tempo estava me levando à loucura. Eu o devolvi. Sem Estudos dos Trouxas e Adivinhação, vou poder ter um horário normal outra vez.

— Você fez muito bem, não sei como conseguiu aguentar tanto estudo — comentei.

— Ainda não consigo acreditar que você não tenha nos contado. Pensávamos que éramos seus amigos.

— Prometi que não contaria a ninguém — disse Hermione com severidade.

— Como amam discutir... — murmurei rindo.

Harry era o único que não dizia nada, apenas observava Hogwarts desaparecer de vista.

— Ah, se anima, Harry! — disse Hermione triste.

— Eu estou bem — se apressou ele a dizer. — Estou só pensando nas férias.

— É, eu também tenho pensado nelas — disse Rony. — Harry você tem que vir ficar conosco. Vou combinar com mamãe e papai, depois te ligo. Agora já sei usar um feletone

Fele o que?

— Ele quis dizer telefone, Susana — corrigiu Hermione. — Sinceramente, você é quem devia fazer Estudos dos Trouxas no ano que vem…

Mas Rony fingiu que não tinha ouvido o comentário. No entanto isso não tirou a minha do que era esse tal fele… telefono-ne… Que merda era isso? Trouxas dá cada nome estranho para as coisas.

— Vai haver a Copa Mundial de Quadribol agora no verão! O que é que você acha, Harry? Vem ficar com a gente e aí podemos assistir aos jogos! Papai geralmente arranja entradas no ministério.

— É... Aposto que os Dursley iriam gostar que eu fosse, principalmente depois do que fiz com a tia Guida…

— E você, Susana? Topa, também?

— Eu assisti a Copa Mundial de Quadribol? Hum... Acho que não seria ruim, nunca vi uma. Então sim, eu topo.

— Beleza, então vou dizer aos meus pais e vou te mandar uma coruja.

— Ótimo! Vou esperar.

Durante o caminho jogamos várias partidas de Snap Explosivo, nesse meio tempo a velhinha dos doces chegou e comprei alguns lanches e alguns doces, menos chocolate que não queria nem ver na minha frente por um bom tempo. Entre os comis e a partida do jogo, lembrei que não comprei minha caixa de feijõezinhos de todos os sabores.

— Eu vou atrás da velhinha dos doces, não comprei minha caixinha de feijõezinhos de todos os sabores — disse me levantando rápida.

Se tinha algo que não sabia viver sem aqueles malditos feijõezinhos, aquilo para mim era um vício, sempre tinha que comprar uma caixinha. Nessa viagem longa, precisaria de algo para ficar beliscando, mas antes de conseguir alcançar a velha vi alguém indesejado no mesmo caminho que eu — só que no sentido contrário.

Não acredito que fui me encontrar de novo com Draco Malfoy nesse corredor.

— Você de novo? — disse Malfoy parando na minha frente, sério.

— Não pense que estou feliz em te ver — retruquei — e justamente aqui. Já ia achar que é alguma magia oculta se estivesse comprando algo… se bem que não seria ruim, assim poderia pagar minhas compras.

Malfoy apenas revirou os olhos.

— Incrível como você é chata — murmurou ele.

— Não se chateia, Madame, também te acho um chato.

Involuntariamente senti o mesmo desconforto no meu ventre, sentindo vários diabretes voando no estômago. Ficou pior quando Malfoy se aproximou, ele não parava de me olhar e se aproximar. Dei passos para trás, a ponto de quase pisar no meu próprio pé e antes de me causar um acidente, fui segurada pelo pulso.

Malfoy me puxou e da mesma forma aproximou seu rosto, no caso sua boca que selou com minha em um longo selinho. Fiquei totalmente sem reação, não sabia o que fazer e fiquei lá feito uma tonta, sentindo que a qualquer momento ia ter meu coração saindo pela boca. Cheguei a pensar que tudo isso seria prolongado, mas o selinho foi apenas um selinho que foi finalizado com uma única frase.

— Acho que tirei minha dúvida — Malfoy sussurrou.

— Que dúvida? — questionei no mesmo tom.

Malfoy apenas balançou a cabeça e se afastou.

— Boa férias, Black — e passou por mim, seguindo seu rumo.

Fiquei um tempo estática e sem reação, não havia entendido nada naquilo. Como assim tirou uma dúvida? Qual dúvida? Até toquei na minha boca e quando fechei os olhos, era como se ele ainda estivesse aqui. O que estava acontecendo comigo?

Por culpa do Malfoy acabei desistindo da velhinha dos doces e decidi voltar para a cabine.

Ainda meia boba com o que rolou, mas logo acordei quando abri a porta e um bico veio em minha direção. Acabei soltando um grito e me agachei, só que nem adiantou, pois a coisa parou bem na minha cabeça; pelas unhas a coisa deveria ser uma coruja.

— Alguém pode me dizer de onde essa coruja surgiu?

Harry apenas ergueu uma carta.

Com delicadeza me sentei ao lado de Hermione, que me ajudou a tirar a mini coruja da minha cabeça.

Era muito pequena a coruja, cabia na palma da minha mão e era cinzenta, além de ser inquieta.

— É do Sirius! — gritou Harry ao abrir a carta.

— Quê? — exclamaram, Rony, Hermione e eu excitados.

— Do meu pai? Leia em voz alta!

 

Caros Harry e Susana,

Espero que esta os encontrem antes de vocês chegarem em casa. Acho que seus tios, Harry, não devem estar muito acostumados com correio-coruja. Diferente com o Remus que não me preciso me preocupar nesse sentido, mas ao menos assim a carta chegará aos dois.

Bicuço e eu estamos escondidos. Não vou lhes dizer onde, caso esta coruja caia em mãos indesejáveis. Tenho minhas dúvidas se ela é confiável, mas foi a melhor que consegui encontrar e me pareceu ansiosa para se encarregar da entrega.

Acredito que os dementadores ainda estejam me procurando, mas eles não têm a menor esperança de me encontrar aqui. Estou planejando deixar os trouxas me verem em breve, muito longe de Hogwarts, de modo que a segurança sobre o castelo seja relaxada.

Há uma coisa que não cheguei a lhe dizer, Harry, durando o nosso breve encontro.

Fui eu que lhe mandei a Firebolt…

— Ah! — exclamou Hermione triunfante. — Estão vendo! Eu disse a vocês que tinha sido ele!

— É, mas ele não tinha enfeitiçado a vassoura, tinha? — retrucou Rony. — Ai!

A corujinha tinha bicado um dedo de Rony.

...Bichento levou a ordem de compra à Agência-Coruja para mim.

Usei o seu nome, mas mandei sacarem o ouro do meu cofre em Gringotes.

Por favor, considere a vassoura o equivalente a treze anos de presentes do seu padrinho.

Agora para Susana.

Filha você deve ter recebido um colar no Natal. Escrevi aquele bilhete muito rápido, então não dava para dizer muitas coisas, mas caso ainda tenha ficado em dúvida, fui eu que lhe mandei. Como disse no bilhete, ele pertencia a sua mãe, fiquei com ele todos esses anos era uma das poucas coisas que ainda tinha dela e acho que agora é a sua vez de ter algo que foi dela. Repetindo o que disse ao Harry, considere esse colar o equivalente a treze anos de presentes do seu pai.

Gostaria também de me desculpar pelo susto que lhe dei, Harry, aquela noite, no ano passado, quando você abandonou a casa do seu tio. Minha esperança era apenas dar uma olhada em você e na Susana, antes de iniciar viagem para o norte, mas acho que a minha aparição o assustou.

Estou anexando outro presente para você, Harry, e acho que ele tornará o seu próximo ano em Hogwarts mais prazeroso.

Se algum dia precisarem de mim, mandem-me dizer. Suas corujas me encontrarão. Escreverei novamente em breve aos dois.

Sirius.

 

Espiei dentro do envelope. Havia outro pedaço de pergaminho, dei uma lida e sorri. Era autorização para Hogsmeade. E essa o Dumbledore iria aceitar. Peguei a carta da mão de Harry e vi que tinha um P.S. Dizendo que a mini-coruja era de Rony.

Fiquei relendo e relendo várias vezes a carta com Harry — precisei até mudar de lugar com Rony —, só paramos quando chegamos a estação de King’s Crows.

Passei pela barreira com os três, me despedi de Hermione que logo foi se encontrar com seus pais e consegui localizar meu padrinho, que não estava muito afastado dos Weasley.

— Eu ligo para você, Harry — gritou Rony quando Harry e eu estávamos afastados. — E Susana eu te mando uma coruja.

Dei um último aceno para ele e parei com Harry perto do meu padrinho.

— Não disse que iríamos nos ver em breve, Harry — ele disse sorrindo.

— Pelo jeito vamos nos ver mais — disse Harry me olhando. — Até Susana… foi bom te conhecer.

— Te digo o mesmo, Harry — e o abracei forte que retribuiu.

— Tchau! — ele deu um aceno se afastando e indo de encontro a um homem bem gordo, deveria ser o tio dele.

— Vamos?

Encarei meu padrinho com um sorriso satisfeito.

Me senti feliz, muito feliz… Nunca imaginei que terminaria um ano escolar dessa forma. Comecei nessa escola insegura sobre tudo, até me senti desanimada com a transferência achando que seria um outro lugar qualquer. Fui fechada com todos que falavam comigo, mesmo assim não me afastaram de nada. Soube o significado da palavra amizade, soube o que é ter amigos, tive uma grande aventura no tempo, conheci meu pai e tudo isso em um ano...

— Vamos.

Dessa vez eu sinto em meu coração que finalmente encontrei meu lugar.

Hogwarts é o meu lugar.


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Notas finais do capítulo

Enfim chegou o último capítulo, meus amores, mas não fiquem triste, pois vai ter segunda temporada que é o Cálice de Fogo. Que irei ainda escrever o capítulo e vou avisar vocês por aqui, não sei quando irei postar, mas talvez eu poste na terça ou quarta.

Agora eu queria mesmo é agradacer a todo mundo que me acompanhou, gente vocês não imaginam o quanto eu fiquei feliz. É minha primeira fanfic do Harry Potter e confesso que estava com um pouco de medo se alguém iria gostar, mas acabou que aconteceu o oposto que achava e foram tantos comentários, favoritos e acompanhamentos que fico sem palavras do que dizer. Eu espero que ver vocês nessa nova temporada, que estou super animada para começar e acho que vão gostar bastante.

Obrigada gente e vejo vocês em breve, espero que tenham gostado desse último capítulo e até terça ou quarta (como disse ainda vou escrever o capítulo), mas já estou com capa, sinopse e tudo pronto só falta o mais importante que é o capítulo. Beijão



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