A Herdeira dos Black escrita por Akanny Reedus


Capítulo 38
Pontas




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— Onde está ele? — perguntou a voz fraquinha do velhote da Comissão. — Onde está o bicho?

— Estava amarrado aqui! — disse o carrasco, furioso. — Eu o vi! Bem aqui!

— Que extraordinário! — exclamou Dumbledore.

Havia um tom de riso em sua voz.

— Bicuço! — exclamou Hagrid, rouco.

Ouvi o ruído de uma lâmina cortando o ar e a pancada de um machado. Parece que carrasco, enraivecido, aparentemente brandira o machão contra a cerca, ou nas abóboras. Então, ouvi um berreiro e desta vez consegui distinguir as palavras de Hagrid entre os soluços.

— Foi-se! Foi-se! Abençoado seja ele, foi embora! Deve ter se soltado! Bicucinho, que garoto inteligente!

Bicuço começou a puxar a corda com força, tentando voltar para Hagrid. Mas tentando segurá-lo com firmeza, até que decidi dar a ele mais uma doninha para ficar mais calmo. Joguei para um canto oposto e ele foi correndo para pegar.

— Alguém o desamarrou! — rosnou o carrasco. — Devíamos revistar a propriedade, a floresta…

— Macnair, se Bicuço foi realmente roubado, você acha que o ladrão o levou a pé? — perguntou Dumbledore, ainda em tom divertido. — Procurem nos céus, se quiserem... Hagrid, uma xícara de chá me cairia bem. Ou um bom cálice de conhaque.

— C... Claro, professor — disse Hagrid, que parecia fraco de tanta felicidade. — Entre, entre…

Harry, Hermione e eu apuramos os ouvidos. Ouvimos passos, o carrasco xingando baixinho, o clique da porta e, então, mais uma vez o silêncio.

— E agora? — sussurrou Harry, olhando para os lados.

— Vamos ter que nos esconder aqui — disse Hermione, que parecia muito abalada. — Precisamos esperar até eles voltarem para o castelo. Depois esperamos até poder voar com Bicuço em segurança até a janela de Sirius. Ele vai demorar lá mais duas horas... Ah, isso vai ser difícil…

— Não podemos ficar aqui — respondi para ela que espiava, nervosa, por cima do ombro as profundezas da floresta. O sol ia pondo. — Precisamos ir até o Salgueiro Lutador, para saber o que está acontecendo.

— Ela tem razão — concordou Harry.

Hermione nos olhos e suspirou nervosa.

— Ok — concordou. — Mas temos que ficar onde ninguém possa nos, lembre-se…

Saímos pela orla da floresta, à noite escurecendo tudo à volta, até podermos se esconder atrás de um grupo de árvores, entre as quais podíamos avistar o Salgueiro Lutador.

— Olha lá o Rony! — exclamou Harry de repente.

Um vulto escuro ia correndo pelos jardins e seu grito ecoava pelo ar parado da noite.

— Fique longe dele... Fique longe... Perebas, volta aqui…

Então vi mais três vultos se materializarem do nada. Observei a mim mesma, Harry e Hermione correrem atrás de Rony. Depois vi Rony mergulhando.

— Te peguei! Dá o fora, seu gato fedorento…

— Olha lá o Sirius! — exclamou Harry. A cena voltou a se repetir, o cão pulou, me derrubando no chão, depois agarrou Rony... — Parece ainda pior visto daqui, não é? — comentou Harry, enquanto observamos o cão puxar Rony para baixo das raízes. — Ai... Olha, acabei de levar uma baita lambada da árvore... E vocês duas também... Que coisa estranha…

O Salgueiro Lutador rangia e dava golpes com os ramos mais baixos: via a gente correndo para cá e para lá, tentando chegar no tronco. Depois o meu “eu” foi atingida pelo galho, fiz uma cara de dor e olhei a minha mão atingida, agora estava toda enfaixada e não ardia, vendo daqui parece que doeu mais ainda. E então, não demorou muito e a árvore se imobilizou.

— Isso foi o Bichento apertando o nó — disse Hermione.

— E lá vamos nós... — murmurei.

— É, lá vamos nós — repetiu Harry suspirando cansado.

Sabendo que iria demorar, me sentei em cima das folhas e galhos. Harry e Hermione não demoraram em repetir o ato, Bicuço ficou perto da gente, dei a ele a última doninha e voltei minha atenção no Salgueiro Lutador. Segundos depois, ouvi passos muito próximos. Dumbledore, Macnair, Fudge e o velho da Comissão estavam regressando ao castelo.

— Logo depois de termos descido pela passagem! — exclamou Hermione. — Se ao menos Dumbledore tivesse ido conosco…

— Não adiantaria nada — resmunguei. — Macnair e Fudge teriam ido também.

— Aposto o que vocês quiser como Fudge teria mandado Macnair matar Sirius na hora... — disse Harry amargurado.

Observamos os quatros subirem os degraus do castelo e desaparecer de vista. Durante alguns minutos os jardins ficaram desertos. Então…

— Aí vem meu padrinho — disse ao ver outro vulto descer correndo os degraus e se dirigir ao salgueiro. Olhei o céu. As nuvens estavam obscurecendo completamente a luz.

Acompanhei meu padrinho apanhar um galho seco do chão e empurrar com ele o nó do tronco. A árvore parou de lutar, e o meu padrinho, também, desapareceu no buraco entre as raízes.

— Se ao menos ele tivesse apanhado a capa — lamentou Harry.

— Está caída bem ali... — disse.

E, virando-se para olhar Hermione.

— Harry não podemos ser vistos!

— Como é que você aguenta isso? — perguntou ele a Hermione impetuosamente. — Ficar parada aqui olhando a coisa acontecer? — Ele hesitou. — Vou apanhar a capa!

— Você não vai a lugar nenhum! — disse o puxando para fazê-lo voltar a se sentar, que soltou um gemido de dor, acho que o fiz bater com força a bunda.

— Essa doeu — resmungou ele nervoso.

— Desculpe…

— Ei, vocês dois — chamou Hermione, a encaramos e ela apontou para a escadaria.

Olhamos e ouvi uma cantoria. Era Hagrid, ligeiramente trôpego, a caminho do castelo, cantando a plenos pulmões. Um garrafão balançava em suas mãos. O que significava que ele estava bêbado.

— Viu? — sussurrou Hermione. — Viu o que teria acontecido? Temos que ficar escondidos!

Não deve ter dado nem dois minutos e voltou a escancarar, era Snape que saía decidido, e rumava para o salgueiro.

Senti uma raiva imensa enquanto o via parar derrapando próximo à árvore, olhando para os lados. Depois, apanhou a capa e levantou-a.

Harry reclamou e Hermione o mandou ficar quieto.

Snape fez a mesma coisa que meu padrinho, pegou o galho e cutucou o nó e desapareceu de vista ao se cobrir com a capa.

Ficamos apenas alguns segundos em silêncio. Já que agora a gente iria esperar mais um pouco, pois teríamos que esperar a gente sair do salgueiro. E isso deveria demorar um tempinho.

— Gente, tem uma coisa que eu não entendo... Por que os dementadores não pegaram Sirius? Eu me lembro deles chegando, aí acho que desmaiei... Havia tantos…

— Nem consigo me lembrar de muita coisa, desmaiei logo depois de você — disse a Hermione.

Então, Harry nos explicou o que virá: que quando o dementador mais próximo chegou a sua boca junto à de Harry, uma coisa grande e prateada veio galopando do lago e forçará os dementadores a se retirarem.

Tanto a boca de Hermione, quanto a minha estava ligeiramente aberta quando Harry terminou.

— Mas o que era a coisa?

— Só pode ter sido uma Patrono de verdade — disse.

— Um Patrono? — indagou Hermione surpresa.

— Provavelmente — digo. — E deve ter sido um bem poderoso.

— Então, quem o conjurou?

Harry não respondeu nada. Parecia estar tentando pensar se tinha visto alguém.

— Algum professor? — deduzi.

— Não — respondeu Harry. — Não era um professor.

— Mas deve ter sido um bruxo realmente poderoso, para fazer todos aqueles dementadores irem embora... Se o Patrono era tão brilhante, a luz não o iluminava? Você não pôde ver...?

— Claro que vi — disse ele lentamente. — Mas talvez... Eu tinha imaginado que vi... Eu não estava pensando direito... Desmaiei logo em seguida…

— Quem foi que você pensou que viu? — perguntei.

— Acho... — ele deu uma pausa, engoliu em seco e voltou a dizer: — Acho que foi meu pai.

— Quê? — exclamei olhando-o espantada.

Hermione estava de boca aberta. Ela o olhava com uma mistura de susto e piedade.

— Harry, seu pai está... Bem... Morto — disse ela baixinho.

— Eu sei — respondeu Harry depressa.

— Você acha que viu o fantasma dele?

— Não sei... Não... Parecia sólido…

— Mas então…

— Harry, com todo respeito, será que você não andou vendo coisas?

Ele me encarou de canto.

— Acho que sim — disse ele. — Mas... Pelo que pude ver... Parecia ele... Tenho fotos dele…

Ouvir tudo aquilo começou a me deixar preocupada com Harry; pelo jeito não era a única.

— Sei que parece doideira — falou Harry, sem animação. E se virou para olhar Bicuço, que enterrava o bico no chão, aparentemente à procura de vermes.

Como gostaria de saber o que se passava na mente de Harry agora. Fico até mal por ele, por causa do pai dele — como não ficar? Principalmente agora que ele diz tê-lo supostamente visto-o. Talvez possa ter sido outra pessoa, fazendo-o pensar que era o pai. Sem saber uma outra forma de confortá-lo, toquei na mão dele e apertei; sendo retribuído.

— Susana — Harry me chamou, após uns minutos.

— Sim? — Quando saímos do Salgueiro Lutador, Sirius comentou da gente ir morar com ele, nós três juntos.

— Sério? — ele apenas concordou com a cabeça.

— Ele apenas acrescentou que primeiro vai te dar preferência, pois quer te conquistar aos poucos, ganhar sua confiança e tentar cumprir o papel de pai. Depois que o nome dele for limpo, podemos morar com ele. Assim formaremos uma família.

Sorri ao pensar como seria meu dia a dia ao lado do meu pai e de Harry que seria praticamente meu irmão, a verdade é que já o considero um grande amigo, se não o meu melhor amigo. Gosto de ficar ao lado dele, conversar, adoraria tê-lo como irmão.

— É, vai legal morar com o Sirius — digo.

— Sirius? — repetiu Harry com as sobrancelhas erguidas. — Por que você não o chama de pai?

Parei para pensar, pois não sabia o que responder.

— Sei lá... Eu acho que é... Não... Eu realmente não sei…

Pensei por mais um momento e suspirei cansada.

— A verdade é que eu ainda estou digerindo tudo, sabe não é algo normal, descobri toda a verdade faz pouco tempo e ainda não me acostumei…

— E por causa disso você não o chama de pai?

— Hermione, não é tão fácil como parece, essa palavra pai é uma palavra muito forte e pensa comigo: como você se sentiria ao ficar todo esse tempo achando que seu pai era um criminoso e aí depois você descobre que ele é inocente?

Ambos não disseram nada.

— Não pensem que eu não goste dele ou que estou desprezando-o, pois se eu tivesse nem estaria aqui — disse sem tirar os olhos do Salgueiro Lutador. — Eu me sinto tão bem agora, sinto algo diferente, não sei se essa é a sensação de ter um pai. De ter o seu pai de verdade ao lado.

— Mas e com o Profº Lupin, ele foi um ótimo pai para você nesses doze anos, não foi? — perguntou Hermione.

— Claro que foi, ele foi o meu pai nesses anos e o como, mesmo nunca o chamando dessa forma. Se bem pelo que meu padrinho me disse quando tinha uns três anos, eu o apresentei como o meu pai para uma criança da mesma idade. E pelo jeito foi a única e última vez.

— Pode não o chamar assim, mas o chama de “padrinho” e devo confessar que acho isso lindo — disse Hermione. — É tão raro algum afilhado se referir dessa forma ao padrinho e a madrinha, chamá-los do que eles são. Por isso te admiro muito por se referir ao Lupin dessa forma.

— É a minha forma de chamá-lo de pai — digo.

— Agora sobre o Sirius é totalmente compreensível sua posição, mas te garanto que quando menos esperar vai chamá-lo de pai.

— Sirius também deve te entender — falou Harry. — É por isso que ele deve querer te dar prioridade para lhe conquistar e se acostumar com ele.

Sorri brevemente sem olhar os dois, mas logo se desmancha quando vi nossos “eus” saindo do Salgueiro Lutador, agora junto de meu padrinho, Pettigrew, Sirius e o flutuante Snape.

Levantamo-nos no mesmo momento. Bicuço ergueu a cabeça. Meu coração acelerava, só de pensar que veria novamente aquela cena do meu padrinho se transformando, eu precisava me controlar e ser forte. Não posso me desabar novamente em choro, não mesmo, tenho que parar com esse comportamento ridículo de uma chorona. Não sou assim… Mesmo assim foi impossível não olhar o céu esperando a lua-cheia aparecer.

Não demorou muito e a lua apareceu.

— Lá vai Lupin — cochichou Hermione. — Ele está se transformando…

— Hermione, Susana! — disse Harry de repente — Temos que mudar de lugar!

— Já disse que não podemos…

Foi aí que minha ficha caiu e alertei Hermione.

— Dessa vez é preciso! Meu padrinho vai correr para dentro da floresta, bem por onde estamos!

Hermione prendeu a respiração e perdeu um pouco da cor no rosto.

— Depressa! — gemeu ela, correndo para soltar Bicuço e eu fui ajudá-la para ser mais rápido. — Depressa! Onde é que nós vamos? Onde é que vamos nos esconder? Os dementadores vão chegar a qualquer momento…

— Vamos voltar para a cabana de Hagrid! — disse Harry. — Está vazia agora... Vamos!

Corremos a toda velocidade, Bicuço atrás da gente.

O lobisomem deve ter entrado já na floresta, pois o ouvi uivando em nossa cola…

Avistamos a cabana; Harry derrapou diante da porta, escancarou-a; Hermione, eu e Bicuço passamos como relâmpagos por ele; Harry se atirou para dentro e trancou a porta. Hagrid, não estava mesmo na cabana, mas Canino sim já que começou a latir com força.

— Psiu, Canino, somos nós! — disse Hermione, correndo a coçar atrás das orelhas do cão para sossegá-lo.

— Essa foi por pouco! — disse aos dois.

— Acho melhor sair, sabe — disse Harry lentamente. — Não consigo ver o que está acontecendo... Não vamos saber quando for a hora…

Hermione ergueu a cabeça. Tinha uma expressão desconfiada.

Por incrível que pareça, eu também estava um pouco desconfiada de Harry, acho que ele queria acabar interferindo.

— Não vou tentar interferir — disse Harry depressa. — Mas se não virmos o que está acontecendo, como é que vamos saber quando temos que salvar Sirius?

— Bem…

— Harry tem razão — disse olhando Hermione, ainda desconfiada. — Ele tem razão. Precisamos saber como está tudo então eu irei junto com ele. Você fica aqui com o Bicuço, pode ser?

— Ok, eu fico esperando aqui com o Bicuço..., mas vocês dois, tenham cuidado, tem um lobisomem solto lá fora... E os dementadores…

Confirmei com a cabeça, tentando confortá-la e saí com Harry.

Contornamos a cabana e já ouvíamos latidos ao longe. Isto significava que os dementadores estavam fechando o cerco sobre Sirius…

Harry e eu espiamos as bandas do lago.

Não demorou muito e os dementadores apareceram. Vinham de todas as direções, deslizando pela orla do lago…

— Não podemos ficar aqui — murmurou Harry para mim.

— Devemos ficar aqui, Harry, não podemos interferir.

— Eu sei, mas…

— Você quer ver quem conjurou o Patrono — completei a frase dele. — Certo?

Ele não respondeu nada, encarei pensativa para o lago e voltei a olhá-lo.

— Ok... Vamos, mas já sabe, temos que ter o máximo de cuidado para não sermos vistos. Entendeu?

Harry assentiu, segurou minha mão e me puxou até a margem oposta do lago. Corríamos os mais rápidos que pudemos. E o lago está cada vez mais próximo, mas não parecia ter sinal de ninguém.

— Ali — falei parando Harry e apontando para uns minúsculos pontos prateados.

Havia uma moita bem na beirinha da água. Puxei Harry pela manga da camisa e ficamos escondidos atrás da moita, espiando entre as folhas. O tempo passava e nada, só tinha me visto, não demorou para perder a consciência fazendo desaparecer os reflexos prateados. Só que até agora nada de alguém para conjurar o patrono.

— Vamos! — ouvi Harry murmurar, olhando com atenção para os lados. — Onde é que você está! Papai, anda…

Olhei para Harry com pena e disse no ouvido dele:

— Seu pai não vai aparecer, não vai aparecer ninguém.

— Eu sei que vai aparecer, a qualquer momento, ele vai aparecer.

Ia dizer uma outra coisa a ele, mas desisti porque sabia que não iria adiantar. Como o imaginado o pai dele não apareceu e o estado do Harry e Sirius foi só piorando, senti o olhar do Harry que tinha ao meu lado.

— O que foi... Harry! — exclamei baixo ao vê-lo sair da moita e puxar a varinha.

O que ele está fazendo?

Antes de gritar ou puxá-lo de volta, ele me gritou:

EXPECTO PATRONUM!

E da ponta de sua varinha irrompeu, não uma nuvem disforme, mas um animal prateado, deslumbrante, ofuscante. Apertei os olhos tentando ver o que era. Parecia um cavalo. Galopava silenciosamente se afastando, atravessando a superfície escura do lago. Vi o animal abaixar a cabeça e investir contra o enxame de dementadores... O que fez todos os dementadores desaparecer.

Não tinha a menor dúvida que aquilo era o Harry executando pela primeira vez o Patrono Corpóreo.

O Patrono deu meia-volta. Vindo em direção a Harry. Sai da moita e me aproximei para ver melhor a figura, me dando conta que não um cavalo e sim um cervo. Me recordando rapidamente a história do meu padrinho sobre Os Marotos, ele apenas não mencionou o animal que o pai de Harry se transforma, porém, eu já desconfiei qual era o animal.

— Pontas? — sussurrei ainda olhando o cervo, que apenas se curvou, parecia ser um “sim”.

Vi que Harry tentou se aproximar, tocar, mas o Patrono acabou desaparecendo.

Harry continuou parado ali, a mão estendida.

— Acho que eu já sei em que animal o seu pai se transformava — comentei ao Harry, que abaixou a mão e olhou por trás do ombro.

— Acho que também sei.

Ouvi o ruído de cascos às minhas costas – virei-me e vi Hermione correndo até a gente, arrastando Bicuço.

— Que foi que você fez? — perguntou ela com raiva. — Você disse que ia ficar vigiando! E você, Susana, viu e não fez nada para impedir?!

— Calma ai, Hermione! Harry acabou de salvar nossas vidas — respondi.

Ela olhou com a sobrancelha franzida de leve, parecia não ter entendido.

— Vem aqui que te explicou melhor — disse Harry a puxando.

Hermione ficou com a gente atrás da moita e Harry explicou tudo para garota. Lhe deixando boquiaberta.

— Alguém viu você? Ou vocês dois?

Revirei os olhos, que merda, será que ela não prestou atenção no que o Harry disse?

— Está vendo, você não ouviu nada! Eu me vi e achei que era o meu pai! Tudo bem!

— Harry, nem posso acreditar... Você conjura um Patrono que espantou todos aqueles dementadores! Isto é magia muito adiantada, mas muito mesmo…

— Susana consegue conjurar um, o dela também é um Patrono corpóreo.

— É, mas o meu não é que nem o seu — disse a ele. — Você conjurou um grande Patrono.

— Eu sabia que podia fazer isso desta vez — disse Harry — porque já tinha feito antes... Lembra, Susana?

— Lembro sim… — Recordando da partida da Grifinória contra Corvinal em que ele havia conjurado um belo de um patrono.

— Gente — chamou Hermione —, olha o Snape!

Olhei para outra margem. Snape tinha recuperado os sentidos e estava conjurando macas e erguendo as formas inertes de Harry, Sirius, Hermione e a minha para cima delas. Havia uma quarta maca, que não tinha dúvidas que era Rony.

— Certo, está quase na hora — disse Hermione olhando, tensa, para o relógio. — Temos poucos minutos até Dumbledore fechar a porta da ala hospitalar. Temos que salvar Sirius e voltar à enfermaria antes que alguém perceba que estamos ausentes…

Esperamos alguns minutos até colocarem Sirius na torre e logo subimos em Bicuço em direção a ele. Hermione tinha ficado atrás de mim; me apertando com muita força.

Não demorou para encontrarmos a janela em que estava Sirius, peguei a varinha e apontei para janela.

Alorromora!

(...)

Ainda bem que Bicuço é forte, e os quatros eram magros, se não ele nem carregaria a gente na boa.

Chegando na Torre Oeste, descemos e inclusive, Black.

— Serei eternamente grato a vocês três — disse ele com a voz rouca, olhando a gente.

— É melhor você ir logo, Sirius, já está dando a hora... — disse Hermione olhando o relógio.

   Ele assentiu e me olhou, só que antes dele voltar para o Bicuço por impulso eu o abracei. Ele retribuiu, me abraçando forte, aquecendo meu coração. Será que essa era a sensação de ser abraçada pelo seu pai?

— Obrigada por ficar ao meu lado naquele dia, graças a você não fiquei sozinha — disse ainda o abraçando.

— Não precisa me agradecer, fiz da melhor forma o meu papel de pai mesmo em forma de cachorro — disse ele.

— Obrigada, papai — digo.

Ele me soltou e seus olhos brilhavam.

— Você não imagina o quanto estava ansioso em ouvir você me chamar dessa forma — disse sorrindo, depositando um beijo na minha testa.

— Susana, eu sinto muito, mas ele precisa ir — falou Hermione um tanto sem jeito.

Tanto ele como eu, entendemos a situação, então ele voltou a subir em Bicuço.

— Nós vamos nos ver outra vez — disse meu pai, olhando para mim e depois ao Harry. — Você é bem filho do seu pai, Harry…

E assim, ele saiu voando com o Bicuço e foram ficando cada vez menores enquanto os observava. Então uma nuvem encobriu a lua... E eles desapareceram.

(...)

Dez minutos.

Esse era o tempo que faltava para a gente voltar para ala hospitalar sem que ninguém nos visse. Não enrolamos mais e saímos correndo, descendo uma escada de pedra circular muito estreita. Tivemos que parar no caminho por causa de Fudge e Snape que passavam conversando, sobre o meu pai, óbvio que fiquei com muita raiva de Snape quando o vi dando um sorrisinho por achar que meu pai iria receber o beijo do dementador, mas quem deu risada fui eu. Quero só ver a cara que ele vai fazer quando ver que meu pai não se encontra mais na sala do Prof. Flitwick.

Seis minutos.

Voltamos a correr assim que vimos tudo limpo, mas tivemos que parar de novo por causa de Pirraça que passava pelo corredor, parecendo todo satisfeito.

Três minutos…

Esperamos sumir ao longe a voz de Pirraça e voltamos a correr.

Dois minutos…

Chegamos ao fim do corredor em ficava a entrada para a ala hospitalar.

Um minuto…

— Estou ouvindo Dumbledore — digo aos dois.

— Também estou — disse Hermione tensa. — Vamos!

Saímos sorrateiramente pelo corredor. A porta da enfermaria se abriu e apareceram as costas de Dumbledore.

— Vou trancá-los — ouvi-o dizer. — Faltam cinco minutos para a meia-noite. Srta. Granger, três voltas devem bastar. Boa sorte.

Dumbledore recuou para fora da enfermaria, fechou a porta e puxou a varinha para trancá-la magicamente. Entramos em pânico, fomos correndo ao seu encontro.

Dumbledore ergueu os olhos e apareceu um largo sorriso.

— Então? — perguntou ele baixinho.

— Conseguimos! — disse Harry ofegante. — Sirius já foi montado em Bicuço…

Dumbledore deu um sorriso radiante para nós.

— Muito bem! Acho que... — Ele escutou atentamente para verificar se havia algum ruído no interior da ala hospitalar. — É, acho que vocês também já foram, entrem, vou trancá-los…

Sem dizer nada, entramos na enfermaria. Estava vazia exceto por Rony, que continuava deitado imóvel na cama ao lado da minha. Ao ouvirmos o clique da fechadura, voltamos as nossas camas. Um instante depois, Madame Pomfrey saiu de sua sala.

— Foi o diretor que eu ouvi saindo? Será que já posso cuidar dos meus pacientes?

Via que estava muito mal-humorada. E por isso achei melhor aceitar o chocolate que ela trazia, Hermione e Harry fizeram o mesmo.

Comi o pedaço de chocolate com vontade, me sentia tão bem, além de ter que comer por causa da própria Madame Pomfrey que fez questão de ficar nos vigiando. Quando peguei meu quatro pedaço de chocolate, ouvi ao longe o ronco de fúria que ecoava em algum ponto do andar acima…

— Que foi isso? — perguntou Madame Pomfrey assustada.

Agora ouvi vozes raivosas, que iam se avolumando sem parar. Acho que sabia o que isso significava, devem ter descoberto que meu pai desapareceu.

Nem olhei para porta e continuei minha atenção no meu pedaço de chocolate, que comia bem devagar. Enquanto ouvi as vozes do lado de fora se aproximando...

— Ele deve ter desaparatado, Severus. Devíamos ter deixado alguém na sala vigiando. Quando isto vazar…

— Ele não desaparatou! — vociferou Snape, agora muito próximo. — Não se pode aparatar nem desaparatar dentro deste castelo! Isso… tem… dedo… do… Potter… e… daquela… garota… Black!

— Severus... Seja razoável... Harry e a garota estão trancados…

PAM.

A porta da ala hospitalar escancarou.

Fudge, Snape e Dumbledore entraram na enfermaria. Somente o diretor parecia calmo. De fato, parecia que estava se divertindo. Fudge tinha uma expressão zangada. Mas o Seboso estava fora de si.

— Desembuche, vocês dois! — berrou apontando para mim e Harry. — Potter! Black! Que foi que vocês fizeram?

— Professor Snape! — protestou esganiçada Madame Pomfrey. — Controle-se!

— Olhe aqui, Snape, seja razoável — ponderou Fudge. — A porta estava trancada, acabamos de constatar…

— Eles ajudaram Black a escapar, eu sei! — berrou Snape, apontando agora também para Hermione.

Não poderia perder esse momento, e não fazer a minha melhor cara de sonsa — claro que me segurando para não rir da cara do Seboso. Ele parecia uma fera, o rosto estava todo contorcido; voava cuspe de sua boca. Estava horrível!!

— Do que estão falando? — perguntei, olhando os adultos confusa.

— Não se faça de sonsa, Black! — berrou Snape, me olhando furioso. — Sei muito bem que ajudou o maldito do seu pai a escapar!

Eu o olhei chocada. Harry e Hermione me olhavam, tentando a todo custo manter as caras de sonsos, como o meu.

— Sirius Black escapou? — Coloquei a mão na boca. — Como assim? Acha mesmo que foi a gente? Não saímos daqui.

— Ora, sua…

— Chega, Severus! — disse Dumbledore em voz baixa. — Pense no que está dizendo. A porta esteve trancada desde que deixei a enfermaria dez minutos atrás. E você ouviu a Srta. Black dizendo que não saiu daqui. Agora, se não basta a palavra dela, então veremos outra. Madame Pomfrey, esses garotos saíram da cama?

— Claro que não! — respondeu Madame Pomfrey com eficiência. — Eu os teria ouvido!

— Aí está, Severo. — disse Dumbledore calmamente. — A não ser que você esteja sugerindo que Harry, Susana e Hermione sejam capazes de estar em dois lugares ao mesmo tempo, receio que não haja sentido em continuar a perturbá-los.

Snape ficou parado ali, procurando, olhando de Fudge, que parecia extremamente chocado com o procedimento do professor, para Dumbledore. Depois para Harry, Hermione e por último eu, que ia dar outra mordida no chocolate, mostrei a ele e disse:

— Oferecido?

Ele apenas bufou, deu meia-volta e se retirou.

— O homem parece que é bem desequilibrado — disse Fudge, acompanhando-o com o olhar. — Eu me precaveria se fosse você, Dumbledore.

— Ah, ele não é desequilibrado — disse Dumbledore em voz baixa. — Apenas sofreu um grave desapontamento.

— Ele não é o único! — bufou Fudge. — O Profeta Diário vai ter um grande dia! Tivemos Black encurralado e ele nos escapa entre os dedos outra vez! Só falta agora a história de fuga do hipogrifo vazar, para eu virar motivo de pilhérias! Bom... É melhor eu ir notificar o Ministério…

— E os dementadores? — disse Dumbledore. — Serão retirados da escola, eu espero.

— Ah, claro, eles terão que se retirar — disse Fudge, passando os dedos, distraidamente, pelos cabelos. — Nunca sonhei que tentariam executar o beijo em um garoto inocente... Completamente descontrolado... Não, mandarei despachá-los de voltar a Azkaban ainda hoje à noite... Talvez devêssemos estudar a colocação de dragões à entrada da escola…

— Hagrid iria gostar — disse Dumbledore, sorrindo para gente, quando se retirava com o ministro.

Tentei ao máximo segurar a risada que não conseguiu ser controlada quando Madame Pomfrey se retirou; junto de Harry e Hermione, começamos a rir

— Você é um horror, Susana — falou Hermione tentando me censurar o que tinha feito, claro que falhou já que não conseguia controlar as risadas.

— O melhor foi quando você ofereceu na cara de pau o chocolate — falou Harry também rindo.

Nesse tempo Rony acabou acordando. Ele se sentou, esfregou a cabeça e olhou para gente.

— Do… do que estão rindo? — perguntou ele em um tom de sono. — O que aconteceu com todo mundo? Onde estão Sirius e Lupin?

Harry, Hermione e eu, nos entreolhamos.

— Vocês duas explicam — pediu Harry, servindo-se de mais um pedaço de chocolate.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?



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