A Herdeira dos Black escrita por Akanny Reedus


Capítulo 16
Três Vassouras




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Madame Pomfrey insistiu em manter Harry na ala hospitalar pelo resto do fim de semana. Ele não discutiu nem se queixou, mas algo me dizia que não era cem por cento de bom agrado. Harry estava bem quieto e parecia triste, tudo pela perda da vassoura que nem ao menos deixou jogarem no lixo os estilhaços de sua Nimbus 2000. Meu lado bom queria confortá-lo por isso e é esse motivo que me fez ir visitá-lo depois do café da manhã para dividir os bolinhos que recebi de minha prima Andrômeda. Acabei voltando uma segunda vez acompanhada por Hermione e Rony na parte da noite.

Com o passar dos dias a minha relação com o trio foi tornando-se mais firme. Sim, por incrível que pareça eu não estava mais andando sozinha pela escola. Na maioria das vezes estava sempre andando com eles. Só que nada se comparava ao vínculo que criei com Harry. No dia seguinte quando recebeu alta ele veio correndo até mim, perguntando sobre meu padrinho e se poderíamos falar com ele sobre a ajuda. Foi o que fizemos no mesmo dia e o meu padrinho respondeu que o ajudaria, depois de insistir tanto para ensiná-lo e deixando a importância daquilo. Porém, Remus só ensinaria depois do Natal já que precisava de um tempo para recuperar as energias.

Logo o Natal estava chegando e a segunda visita para Hogsmeade também.

— Eu não sei — respondi meio incerta quando Hermione e Rony insistiram pela milésima vez para ir com eles a Hogsmeade. — Realmente não sei.

— Mas por quê? — Rony perguntou.

— Sei lá, Hogsmeade não me apetece tanto.

— Fala isso porque nunca foi — diz o ruivo.

— Acho que deveria ir — disse Harry. — Aproveita que tem a autorização e pode ir tranquilamente.

— E você vai ficar sozinho?

Ele balançou os ombros.

— Talvez, mas agora você tem companhia — e olhou para os amigos.

Percebendo que não teria escolha, desci ir no passeio e visitar o vilarejo.

Uma vez ou outra olhava Harry parado na escadaria do saguão nos observando. Depois de Hermione, disse meu nome ao zelador para consultar no enorme pergaminho. Quando Rony o fez, mandamos acenos ao Harry e seguimos caminho para a tão famosa Hogsmeade.

O tempo estava horrível em relação à temperatura, eu estava até “fofa” demais embrulhada com tanta roupa. Vestia por debaixo do meu casaco preto uma camiseta de manga comprida e por cima coloquei uma outra camiseta mais grossa. Tinha colocado uma calça por cima de uma meia-calça. Nos pés calcei uma bota que tinha e no pescoço coloquei o cachecol da grifinória; na cabeça a minha touca protegendo as minhas orelhas que são muito delicadas no frio e claro, luvas bem grossas e quentes. E por fim, para finalizar o meu visual, fiz a minha maquiagem de sempre: olhos contornados de preto.

Coloquei minhas mãos nos bolsos do casaco e tentando proteger um pouco a boca com o cachecol. No meu ombro estava carregando uma bolsa pequena preta.

Depois de uma caminhada longa (foi o que achei, acho que a neve deu essa sensação) chegamos a Hogsmeade. Não tinha muito o que dizer, já que era um vilarejo e todas as lojas estavam cobertas pela forte neve. Estava bastante cheio nas ruas com vários alunos e vários outros bruxos.

— Então, aonde iremos primeiro? — perguntei para a duplinha.

— O que você quer conhecer primeiro? — perguntou Hermione toda encolhida.

— Sei lá — respondi sem ânimo.

— Que tal irmos na Dedosdemel? — sugeriu Rony.

Hermione e eu concordamos.

A melhor palavra para descrever a Dedosdemel é paraíso. Além de estar tão quentinha, tinha um cheiro maravilhosamente doce. Eu definitivamente amo doces. Era tão linda, tinha até uma imagem colorida com a tanta quantidade de doces de vários tipos e cores. Havia prateleiras e mais prateleiras de doces com a aparência mais apetitosa que se pode imaginar. Tabletes de nugá, quadrados cor-de-rosa de sorvetes de coco, caramelos cor de mel; centenas de tipos de bombons em fileiras arrumadinhas; havia uma barricada enorme de feijõezinhos de todos os sabores... É muita coisa, que é até complicado de dizer tudo que se tinha.

— Isso é um paraíso — exclamei suspirando aliviada ao sentir mais uma vez o cheiro doce. — Prevejo que meus ouros vão ser muito bem gastos.

— Susana, você precisa ver isso. — Rony segurou minha mão e foi me levando para cada canto da loja.

Estava um pouco complicado andar sem esbarrar em alguém. A loja estava mega lotada, acho que a metade dos alunos estava aqui aproveitando ao máximo a loja quente e os doces divinos. Depois de fazer a festa com os doces, Hermione deu a ideia de pegar alguns para o Harry e é claro que concordamos.

Fomos até uma estante bem distante do salão e acima tinha um letreiro pendurado escrito: SABORES INCOMUNS. E devo concordar que são vários sabores incomuns.

— Que tal esse? — perguntou Rony que estava entre Hermione e eu.

— Credo esse não — disse a ele. — Isso é para vampiro! Definitivamente, Harry não irá querer um pirulito com gosto de sangue.

— E esses aqui? — perguntou Rony, enfiando um vidro de cachos de barata embaixo do nariz de Hermione e depois no meu.

— Decididamente não.

Rony quase deixou cair o vidro.

— Harry! — Hermione e eu berramos.

— O que você está fazendo aqui? Como... Foi que você...? — indagou Hermione.

— Como foi que você veio parar aqui? — perguntei surpresa.

— Uau! — exclamou Rony, parecendo muito impressionado —, você aprendeu a aparatar!

— Claro que não aprendi. — Harry baixou a voz de modo que nenhum dos alunos pudesse ouvir. E começou a contar a história como chegou aqui.

Segundo Harry os irmãos de Rony, Fred e Jorge tinham um mapa que mostrava absolutamente toda Hogwarts, mostrava cada um e suas respectivas localizações, além do nome do indivíduo. Nome do tal mapa era o Mapa do Maroto.

— Interessante — digo.

— Como é que Fred e Jorge nunca me deram esse mapa? — perguntou Rony indignado. — Eu sou irmão deles!

— Mas Harry não vai ficar com o mapa! — afirmou Hermione dando a impressão de que a ideia fosse ridícula. — Vai entregá-lo à Profª Minerva, não é Harry?

Hermione só pode estar maluca.

— Você é meio boba neh? — exclamei a olhando um tanto chocada. — Seria muita burrada do Harry entregar isso a McGonagall. — Apontei para o mapa nas mãos de Harry que parecia mais um pedaço de papel velho.

— Mas não irei entregar — disse Harry.

— Concordo com a Susana. Você só pode ser maluca, Hermione — exclamou Rony. — Entregar uma coisa boa dessas?

— Se eu entregar, vou ter que contar onde foi que o arranjei. Filch ia saber que Fred e Jorge surrupiaram dele!

— Mas e o Sirius Black? — sibilou Hermione.

— Sério mesmo... — Revirei os olhos e bufei.

— Ele poderia estar usando uma das passagens do mapa para entrar no castelo! — continuou ela sem se importar com a minha interrupção. — Os professores têm que saber disso!

— Ele não pode estar entrando por uma passagem — retrucou Harry depressa. — Tem sete túneis secretos no mapa, certo? Fred e Jorge calculam que Filch conheça uns quatro. E os outros três... Um desabou, de modo que ninguém pode passar. Outro tem o Salgueiro Lutador plantado na entrada, portanto, não se pode sair. E este que eu usei para chegar aqui... Bem... É realmente difícil ver a entrada dele no porão. Então, a não ser que Black soubesse que havia uma passagem…

Harry hesitou. Provavelmente pensando se o que disse era real. Vai que Black saiba das entradas.

— É impossível ele passar pelas Dedosdemel, Harry — comentei. Ele me olhou curioso e apontei para um aviso colado dentro da loja de doces.

POR ORDEM DO MINISTÉRIO DA MAGIA

Lembramos aos nossos clientes que até nova ordem, os dementadores irão patrulhar as ruas de Hogsmeade todas as noites após o pôr-do-sol. A medida visa garantir a segurança dos habitantes de Hogsmeade e será revogada quando Sirius Black for recapturado, portanto, é aconselhável que os clientes encerrem suas compras bem antes de anoitecer.

Feliz Natal.

— Estão vendo só? — falou Rony em voz baixa. — Eu gostaria de ver Black tentar entrar na Dedosdemel com dementadores pulando por todo o povoado. Em todo o caso, Hermione, os donos da Dedosdemel ouviriam se alguém arrombar a loja, não? Eles moram no primeiro andar!

— Tá, mas... Mas... Olha, ainda assim Harry não devia ter vindo a Hogsmeade. Ele não tem autorização! Se alguém descobrir, ele vai ficar enrascado até as orelhas!

— Só vão descobrir se alguém der um de dedo-duro — digo olhando-a.

— Vai me denunciar? — perguntou Harry à ela, sorrindo.

— Ai... Claro que não... Mas ainda não anoiteceu... E se Sirius Black aparece hoje? Agora?

— Ia ter muito trabalho para encontrar Harry no meio disso aí! — disse Rony indicando as janelas de caixilhos, pelas quais se via a nevasca rodopiando lá fora. — Vamos, Mione, é Natal. Harry merece uma folga.

Hermione mordeu o lábio.

— Mas…

— Não tem “mas”, Granger — digo. — Só vamos agradecer ao Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontos por essa maravilha de mapa.

Mostramos ao Harry tudo o que tinha de bom na loja. Depois que pagamos todos os doces que compramos, saímos da Dedosdemel para enfrentar a nevasca lá fora. Encolhi-me assim que saímos e o vento veio como um tapa na minha cara.

Caminhamos pela rua de cabeças abaixadas contra o vento, Rony e Hermione gritavam por dentro dos cachecóis.

— Ali é o Correio…

— A Zonko’s fica mais adiante.

— Podíamos ir até a Casa dos Gritos…

— Vamos fazer o seguinte — sugeriu Rony com os dentes batendo —, vamos tomar uma cerveja amanteigada no Três Vassouras?

Grato Rony!

— Apoiado! — digo.

Atravessamos a rua e logo entramos em uma minúscula estalagem.

A sala estava cheíssima, barulhenta, quente e enfumaçada.

— Aquela é a Madame Rosmerta — disse Rony apontando para uma mulher tipo violão, com um rosto bonito e que estava servindo um grupo de bruxos. — Vou pegar as bebidas, está bem? — acrescentou, corando ligeiramente.

— É impressão minha, ou o Rony está gamado nessa tal Madame Rosmerta? — sussurrei para que Harry e Hermione depois que Rony se afastou.

— Não é impressão, ele está gamado nela — respondeu Hermione rindo, me fazendo rir junto.

Seguimos até o fundo do salão, onde havia uma mesinha desocupada entre uma janela e uma árvore de Natal próxima à lareira. Sentei-me ao lado de Harry, tirei meu casaco e a luva já que estava bem quente no local e a toca. Passei a mão no meu cabelo para arrumar as duas tranças que tinha feito no cabelo. Rony voltou em cinco minutos, trazendo quatro canecas espumantes de cerveja amanteigada.

— Feliz Natal! — desejou ele alegremente, erguendo a caneca.

Retribui o gesto e bebi. Aquilo era tão delicioso, conseguia esquentar cada pedacinho de mim. Foi uma ótima sugestão do Rony para virmos até aqui. Claro que iria querer brincar um pouco com ele em relação a Madame Rosmerta, mas antes de abrir a boca uma brisa repentina tomou o local. Olhei para a porta que se abriu.

— Minha nossa. — Foi a única coisa que disse ao ver a professora McGonagall e o professor Flitwick, seguidos de perto por Hagrid, que vinha absorto em uma conversa com um homem corpulento de chapéu-coco verde-limão e uma capa risca de giz, que logo reconheci ser Cornélio Fudge, o Ministro da Magia.

Ouvi Harry se engasgando ao meu lado e por uma fração de segundo, Hermione e eu, ao mesmo tempo, tínhamos posto as mãos na cabeça do garoto e feito-o escorregar do banquinho para baixo da mesa.

Hermione pegou sua varinha, apontou para árvore ao nosso lado e sussurrou:

— Mobiliarbus!

A árvore de Natal ergueu alguns centímetros do chão, flutuou de lado e desceu com um baque suave bem diante da nossa mesa, nós escondendo. Espiava entre os ramos densos, vi os quatro se sentando em uma mesa bem ao lado, depois ouvir os resmungos e suspiros dos professores e do ministro ao se sentarem.

Em seguida, veio Madame Rosmerta carregando uma bandeja com algumas bebidas.

— Uma água de Gilly pequena…

— É minha — disse a voz da Profª McGonagall.

— A jarra de quentão…

— Obrigado — disse Hagrid.

— Soda com xarope de cereja, gelo e guarda-sol…

— Hummm! — exclamou o Prof Flitwick estalando os lábios.

— Para o senhor é o rum de groselha, ministro.

— Obrigado, Rosmerta, querida — disse o ministro. — É um prazer revê-la, devo dizer. Não quer nos acompanhar? Venha se sentar conosco…

— Bem, muito obrigada, ministro.

Ela se afastou e retornou.

Rony, Hermione e eu trocamos olhares preocupantes. Nunca me senti assim, mas minha respiração estava bem ofegante. Para tentar abafar o nervosismo fui tomando alguns goles da cerveja amanteigada.

— Então, o que é que o traz a esse fim de mundo, ministro? — perguntou a voz de Madame Rosmerta.

Vi Fudge se virar na cadeira, como se verificasse se havia alguém escutando. Depois respondeu em voz baixa:

— Quem mais se não Sirius Black? Imagino que você deve ter sabido o que houve em Hogwarts no Dia das Bruxas?

— Para falar a verdade, ouvi um boato — admitiu Madame Rosmerta.

— Você contou ao bar inteiro, Hagrid? — perguntou Profª Minerva, exasperada.

— O senhor acha que Black continua por aqui, ministro? — perguntou Madame Rosmerta.

— Tenho certeza — respondeu Fudge laconicamente.

— O senhor sabe que os dementadores já revistaram o meu bar duas vezes? — falou Madame Rosmerta, com uma ligeira irritação na voz. — Espantaram todos os meus fregueses... Isto é muito ruim para o comércio, ministro.

— Rosmerta, querida, gosto tanto deles quanto você — disse Fudge, constrangido. — É uma precaução necessária... Infelizmente, mas veja só... Acabei de encontrar alguns. Estão furiosos com Dumbledore porque ele não os deixa entrar nos terrenos da escola.

— É claro que não — disse a Profª McGonagall, rispidamente. — Como é que vamos ensinar com aqueles horrores por todo o lado?

— Apoiado, apoiado! — exclamou Prof. Flitwick com sua voz esganiçada.

— Mesmo assim — disse Fudge em tom de dúvida —, eles estão aqui para proteger vocês de coisas muito piores. Nós todos sabemos o que Black é capaz de fazer…

— Sabem, eu ainda acho difícil acreditar — disse Madame Rosmerta pensativamente. — De todas as pessoas que passaram para o lado das trevas, Sirius Black é o último em que eu pensaria... Quero dizer, eu me lembro dele quando era garoto em Hogwarts. Se alguém tivesse me dito, no que ele iria se transformar, eu teria respondido que a pessoa tinha bebido quentão demais.

— Você não conhece nem metade do que ele fez Rosmerta — disse Fudge com impaciência. — A maioria nem sabe o pior — disse Fudge com impaciência. — A maioria nem sabe o pior.

— Pior? — exclamou Madame Rosmerta, a voz animada de curiosidade. — O senhor quer dizer pior do que matar todos aqueles coitados?

— Isso mesmo.

— Não posso acreditar. Que poderia ser pior?

— Você diz que se lembra dele em Hogwarts, Rosmerta — murmurou a Profº McGonagall. — Você se lembra quem era o melhor amigo dele?

— Claro — disse Madame Rosmerta, com uma risadinha. — Nunca se via um sem o outro, não é mesmo? O número de vezes que os dois estiveram aqui, ah, me faziam rir o tempo todo. Uma dupla incrível, Sirius Black e James Potter!

Ouvi Harry deixar cair a caneca com estrépito.

— Exatamente — disse a Profª. Minerva. — Black e Potter líderes de uma turminha. Os dois muito inteligentes, é claro, na verdade excepcionalmente inteligentes, mas acho que nunca tivemos uma dupla de criadores de confusões igual…

— Não sei — disse Hagrid, dando uma risadinha. — Fred e Jorge Weasley seriam páreo duro para os dois.

— Poder-se-ia até pensar que Black e Potter eram irmãos!

O Prof. Flitwick entrou na conversa.

— Inseparáveis!

— Claro que eram — comentou Fudge. — Potter confiava mais em Black do que em qualquer outro amigo. Nada mudou quando os dois terminaram a escola. Black foi o padrinho quando James se casou com Lily. Depois, eles o escolheram para padrinho de Harry. O garoto nem tem ideia disso, é claro. Vocês podem imaginar como isso o atormentava.

— Por que Black acabou se aliando a Você-Sabe-Quem? — cochichou Madame Rosmerta.

— Foi muito pior do que isso, minha querida... — Fudge baixou a voz e continuou numa espécie de sussurro grave. — Muita gente desconhece que os Potter sabiam que Você-Sabe-Quem queria pegá-los. Dumbledore, que naturalmente trabalhava sem descanso contra Você-Sabe-Quem, tinha um bom número de espiões úteis. Um deles avisou-o e ele, na mesma hora, alertou James e Lily, Dumbledore aconselhou os dois a se esconderem. Bem, é claro que não era fácil alguém se esconder de Você-Sabe-Quem. Dumbledore sugeriu aos dois que teriam maiores chances de escapar se apelassem para o Feitiço Fidelius.

— Como é que é isso? — perguntou Madame Rosmerta, ofegante de interesse.

O Prof. Flitwick pigarreou.

— Um feitiço extremamente complexo — explicou com a sua vozinha fina —, que implica esconder o segredo, por meio da magia, em uma única pessoa viva. A informação é guardada no íntimo da pessoa escolhida, ou fiel do segredo, e torna-se impossível encontrá-la, a não ser, é claro, que o fiel do segredo resolva contar a alguém. Enquanto ele se mantiver calado, Você-Sabe-Quem poderia revistar o povoado em que Lily e James viviam durante anos sem jamais encontrá-los, mesmo que ficasse com o nariz grudado na janela da sala deles!

— Então Black era o fiel do segredo dos Potter? — sussurrou Madame Rosmerta.

— Naturalmente — respondeu a professora Minerva. — James Potter contou a Dumbledore que Black preferiria morrer a contar onde eles estavam, que Black estava pensando em se esconder também... Mesmo assim, Dumbledore continuou preocupado. Eu me lembro que ele próprio se ofereceu para ser o fiel do segredo dos Potter.

— Ele suspeitava de Black? — exclamou Madame Rosmerta.

— Ele tinha certeza de que alguém íntimo dos Potter tinha mantido Você-Sabe-Quem informado dos movimentos do casal — respondeu a Profª. Minerva sombriamente.

— De fato, ele vinha suspeitando havia algum tempo de que alguém do nosso lado virara traidor e estava passando muita informação para Você-Sabe-Quem.

— Mas James Potter insistiu em usar Black?

— Insistiu — disse Fudge com a voz carregada. — E então, pouco mais de uma semana depois de terem realizado o Feitiço Fidelius…

— Black traiu os Potter? — murmurou Madame Rosmerta.

— Traiu. Black estava cansado do papel de agente duplo, estava pronto a declarar abertamente o seu apoio a Você-Sabe-Quem, e parece que planejou fazer isso assim que os Potter morressem. Mas, como todos sabem, Você-Sabe-Quem encontrou sua perdição no pequeno Harry Potter. Despojado de poderes, extremamente enfraquecido, ele fugiu. E isto deixou Black numa posição realmente muito difícil. Seu mestre caíra no exato momento em que ele, Black, mostrará quem de fato era, um traidor. Não teve outra escolha senão fugir…

— Vira-casaca imundo e podre! — exclamou Hagrid tão alto que metade do bar se calou.

— Psiu! — fez a Profª. Minerva.

— Eu o encontrei! — rosnou Hagrid, — Devo ter sido a última pessoa que viu Black antes de ele matar toda aquela gente! Fui eu que salvei Harry da casa de Lily e James depois que o casal morreu! Tirei o garoto das ruínas, coitadinho, com um grande corte na testa, e os pais mortos... E Sirius Black aparece naquela moto voadora que ele costumava usar. Nunca me ocorreu o que ele estava fazendo ali. Eu não sabia que ele era o fiel do segredo de Lily e James. Pensei que tinha acabado de saber da notícia do ataque de Você-Sabe-Quem e vindo ver o que era possível fazer. Estava tremendo, branco. E vocês sabem o que eu fiz? EU CONSOLEI O TRAIDOR ASSASSINO! — bradou Hagrid.

— Hagrid, por favor! — pediu a Profª. Minerva. — Fale baixo!

— Como é que eu ia saber que ele não estava abalado com a morte de Lily e James? Quem estava preocupado era com Você-Sabe-Quem! Então ele disse: "Me dê o Harry, Hagrid. Sou o padrinho dele, vou cuidar dele”... Ah! Mas eu tinha recebido ordens de Dumbledore, e disse não, Dumbledore tinha me mandado levar Harry para a casa dos tios. Black discordou, mas no fim cedeu. Me disse, então, que eu podia pegar a moto dele para levar Harry. "Não vou precisar mais dela", falou. Eu devia ter percebido, naquela hora, que alguma coisa não estava cheirando bem. Black adorava a moto. Por que estava dando ela para mim? Por que não ia precisar mais da moto? A questão é que a moto era muito fácil de localizar. Dumbledore sabia que ele tinha sido o fiel do segredo dos Potter. Black sabia que ia ter que se mandar àquela noite, sabia que era uma questão de horas até o Ministério sair à procura dele. Mas e se eu tivesse entregado Harry a Black, hein? Aposto como ele teria jogado o garoto no mar no meio do caminho. O filho dos melhores amigos dele! Mas quando um bruxo se alia ao lado das trevas, não tem mais nada nem ninguém que tenha importância para ele…

Seguiu um longo silêncio. Então, Madame Rosmerta falou com uma certa satisfação.

— Mas ele não conseguiu desaparecer, não foi? O Ministério da Magia o agarrou no dia seguinte!

— Ah, se ao menos isso fosse verdade — lamentou Fudge com amargura. — Não fomos nós que o encontramos. Foi o pequeno Pedro Pettigrew, outro amigo dos Potter. Com certeza, enlouquecido de pesar e sabendo que Black fora o fiel do segredo dos Potter, Pedro foi pessoalmente atrás dele.

— Pettigrew... Aquele gordinho que sempre andava atrás dos dois em Hogwarts? — perguntou Madame Rosmerta.

— Ele venerava Black e Potter como se fossem heróis — disse a Profª McGonagall. — Não estava bem à altura deles em termos de talento. Muitas vezes fui severa demais com ele. Podem imaginar agora como me... Como me arrependo disso... — Sua voz parecia a de alguém que apanhou de repente um resfriado.

— Vamos, Minerva — consolou-a Fudge, com bondade. — Pettigrew teve uma morte de herói. Testemunhas oculares, trouxas, é claro, depois limpamos a memória deles, nos contaram como Pettigrew encurralou Black. Dizem que ele soluçava: “Lily e James, Sirius! Como é que você pôde?” Então fez menção de apanhar a varinha. Bem, naturalmente, Black foi mais rápido. Fez Pettigrew em pedacinhos…

A Profª Minerva assoou o nariz e disse com a voz embargada:

— Menino burro... Menino tolo... Nunca teve jeito para duelar... Deveria ter deixado isso para o ministério…

— E vou dizer uma coisa, se eu tivesse chegado ao Black antes de Pettigrew, não teria apelado para varinhas, eu teria despedaçado ele aos bocadinhos — rosnou Hagrid.

— Você não sabe o que está dizendo, Hagrid — disse Fudge com severidade. — Ninguém, a não ser bruxos de elite do Esquadrão de Execução das Leis da Magia, teria tido uma chance contra Black depois que ele foi encurralado. Na época, eu era ministro júnior no Departamento de Catástrofes Mágicas, e fui um dos primeiros a chegar à cena depois que Black liquidou aquelas pessoas, nunca vou me esquecer. Ainda sonho com o que vi, às vezes. Uma cratera no meio da rua, tão funda que rachou a tubulação de esgoto embaixo. Cadáveres por toda a parte. Trouxas berrando. E Black parado ali, dando gargalhadas, diante do que restava de Pettigrew... Um monte de vestes ensanguentadas e uns poucos, uns poucos fragmentos…

A voz de Fudge parou abruptamente. Ouviu-se o barulho de cinco narizes sendo assoados.

— De uma coisa é certa nessa história toda, a que mais sofreu foi sem dúvidas a pobre da Evanna. Além de ter perdido os melhores amigos, foi enganada pelo homem que pensava em dividir a vida.

— Não me digam que Sirius Black era casado? — perguntou Madame Rosmerta surpresa.

— Sim, ele era casado com Evanna Niccol. Que inclusive era a melhor amiga de Lily, e tinha um ótimo relacionamento de amizade com James. Assim como o Black, Evanna foi a madrinha do casamento de James e Lily e foi a escolhida para ser a madrinha de Harry Potter — respondeu a Profª McGonagall.

— Agora que lembro, teve um tempo naquela época que Sirius Black sempre vinha acompanhado com uma mesma garota de cabelos castanhos, lisos e tão sedosos. Era sempre muito bem arrumada, então ela era a futura mulher de Black?

— Exato — responde a professora.

— E o que houve com ela?

— A coitada está morta — respondeu Fudge com tom de pena. — Depois de ter passado por tudo aquilo, das perdas e ainda perde o marido. Sim, ela acabou perdendo Black de vez, inclusive fiquei sabendo que ela o desprezou na mesma hora que soube de tudo. Enfim, acho que dois dias depois do ocorrido com os Potter e com o marido dela, a coitada foi morta e assim como o afilhado ficou sozinho, sem os pais, Evanna também acabou deixando um herdeiro.

— Um herdeiro não, mas uma herdeira — corrigiu Profª McGonagall.

— Por céus! Não me digam que além de Black ter sido casado, também era pai? — exclamou Madame Rosmerta perplexa.

Sentia perfeitamente minha respiração ofegante. Não estava curtindo muito o rumo dessa história.

— Evanna acabou engravidando de Black e deu à luz uma garotinha linda. Que teve como madrinha, Lily. E com a perda da mãe e claro do pai, a menina acabou ficando aos cuidados do padrinho a pedido da própria mãe — respondeu a professora.

— Que não era James Potter?

— Ai que está, James não foi o padrinho da menina e sim um outro amigo de Potter e Black, Remus Lupin. Acho que deve se lembrar dele?

— Lembro sim, era um garoto que parecia estar sempre doente? Inclusive, via sempre ele andando ao lado de Potter e Black. Então a menina é afilhada dele e continua aos cuidados dele, certo? Ela está em Hogwarts?

— Ela se mudou esse ano para a escola e veio junto com Lupin, que é o nosso novo professor de Defesa contra as Artes das Trevas.

— A menina já é bem popular na escola, já é muito falada pelos corredores — comentou o Profº Flitwick com sua voz fina. — Não nego que é uma ótima aluna. Uma das melhores.

— E me digam, por acaso ela caiu na mesma casa dos antepassados dela? Já que pelo que sei os Black são famosos por serem da Sonserina.

— Naturalmente todos da família Black foram da Sonserina, mas a menina não seguiu essa linhagem dos antepassados. Ela foi para Grifinória como o pai.

— Agora eu que estou querendo saber — começou Fudge curioso para a Profª McGonagall. — Como é o nome da filha de Sirius Black?

— Susana Black.

A caneca de cerveja amanteigada escorregou de minha mão e caiu com tudo na mesa, derramando todo o líquido da caneca.

— Que barulho foi essa? — perguntou uma voz que reconheci ser do ministro.

Não via nada e não conseguia me mover, apenas segurei a caneca ainda tombada na mesa com a cabeça baixa. Hermione e Rony também seguravam minha mão e se abaixaram para esconder o rosto.

— Não deve ser nada, apenas um dos clientes deve ter derrubado algo — respondeu Madame Rosmerta.

— Sabe, Cornélio, se você vai jantar com o diretor, é melhor voltarmos para o castelo — sugeriu a Profª Minerva.

Um por um, ouvi os passos de cada um se afastar. Quando ouvi a porta do Três Vassouras se abrir e bater novamente, dando em mente que todos saíram. Logo me levantei apressada, quase derrubando a cadeira que Rony segurou.

— Susana?

Não olhei para cara de nenhum deles, peguei apenas meu casaco e me retirei daquele bar às pressas. Não conseguia olhar para ninguém e muito menos falar. Minha cabeça martelava repassando cada palavra dita pelos adultos. Aquilo tinha que ser um pesadelo! É tudo mentira!

Não…

Eu não posso…

Não...!

Eu não posso ser filha de Sirius Black. Não posso!

.

.

.

.

Sirius Black não pode ser meu pai.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?



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