Criança Perdida escrita por Lu Rosa


Capítulo 25
Capitulo Vinte e Cinco




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Alexia olhava os flocos de neve cair suavemente no gramado. Um barulho às suas costas desviou sua atenção e ela olhou para sua amiga Sarah Jane.

— Você tem certeza que não quer vir para minha casa? – Sarah Jane a abraçou pelos ombros.

— Tenho sim. Nunca tive atração pelo Natal. E na sua casa vai ter muita gente. Alguns que eu nem conheço.

— Você me conhece, conhece o Luke, a Rani e o Clyde. É o suficiente. Os outros são lá do jornal. E nem vão ficar muito tempo. – Ela levantou-se e foi até o armário de Alexia. – Está decidido. Você vai pra minha casa. Arrume o Adrian e coloque esse lindo vestido verde esmeralda que você comprou e nunca usou.

Alexia olhou para o vestido e um nó se formou em sua garganta. Ela se lembrou de outro vestido verde esmeralda. Com muito mais tecido, mas igualmente lindo. Um vestido que estava lá largado em algum canto do enorme armário em seu quarto na TARDIS.

Sarah Jane viu que Alexia demorava a responder e surpresa viu que a amiga chorava. Alexia não havia chorado nem no parto de Adrian, sentindo dores e não podendo emitir nenhum som quando existia o perigo de algum Dalek a descobrir. Alexia era a pessoa mais forte que ela conhecia.

— Alexia, querida, o que houve? – as duas se abraçaram, e Sarah Jane podia sentir os soluços de Alexia no corpo que sacudia. Ela sabia que aquele choro estava preso há muito tempo.

— Lembranças, Sarah Jane. Ele só me deixou com lembranças.

Sarah Jane afastou Alexia pelos ombros para vê-la melhor.

— Tenho que discordar, Alexia. O Doutor a deixou com mais do que lembranças. Isso nós todas temos dele. Mas ele realmente a amou. E a prova está ali deitada naquela cama – apontou Adrian que dormia placidamente. – Isso é a maior prova do amor dele por você. Agora enxugue essas lágrimas e venha comigo. É Natal. Vamos festejar a libertação da Terra e dos outros planetas.

Alexia não resistiu ao apelo da amiga. Aqueles meses tinham sido de recuperação. A raça humana tinha muito pra comemorar naquele Natal.

— Está bem. – Alexia capitulou. – Vamos pra sua casa então. Se dê vinte minutos.

— Querida, você terá cinco minutos e meio. Se passar disso. Eu mando o Clyde vir buscar você. – retrucou Sarah Jane saindo do quarto.

Alexia riu começando a arrumar Adrian.

A TARDIS materializou-se nos fundos da casa de Sarah Jane. Era o lugar perfeito, pensou o Doutor. Agora, ele precisava de presentes. Afinal era Natal. Ele correu até uma sala onde ele guardava algumas preciosidades. Pegou um colar feito das safiras do planeta Meia noite para dar a Sarah Jane. Ele olhou para peça por alguns minutos e então mudou de idéia. Abriu outra gaveta pegando um objeto quadrado. Papel psíquico. O presente perfeito para alguém com Sarah Jane. Uma repórter. E para Luke, o filho dela, nada como um jogo de xadrez tridimensional do século 51. Afinal o garoto era só um adolescente.

Ao entrar em seu quarto, porém, o Doutor deteve-se diante de um cofre. Ele o abriu e tirou uma caixinha pequena. Quando a caixinha foi aberta, revelou um anel com uma pedra que lançou um delicado brilho azulado no aposento. Era o anel preferido de sua mãe, que seu pai dera a ele, antes que ele partisse de Gallifrey para viver tranquilamente na Terra. Ele sabia que seu único filho não era feliz com a mulher que ele escolhera, apesar do carinho e respeito que sentiam um pelo outro. Ele dissera ao Doutor: “Filho esse anel só revelará seu brilho verdadeiro ao seu amor também verdadeiro. Você saberá quando for o momento certo de dá-lo ao alguém. E isso pode levar anos.” No caso do Doutor uns dois mil e trezentos anos.

Ele devolveu a caixinha ao cofre e saiu da TARDIS. Chegando a porta ele tocou a campainha.

Um jovem negro abriu a porta.

— Oi, eu sou o Doutor. A Sarah Jane está?

O rapaz olhou para o Doutor de cima em baixo com um ar desconfiado, mas abriu mais a porta para que o doutor passasse.

— Sarah Jane, você tem uma visita.

Sara Jane veio da cozinha para ver quem era. Alexia, com uma taça de vinho na mão, a seguia.

— Olá Sarah Jane. – o Doutor a cumprimentou.

A taça de Alexia segurava caiu de sua mão sem que ela percebesse, mas no burburinho dos convidados o barulho da louça se quebrando nem foi percebido. Mas que depressa, Alexia correu para as escadas.

— Ei, onde é incêndio? – a jovem chamada Rani perguntou descendo as escadas.

— Vou ver se o Adrian acordou.

— Mas ele não estava na cozinha com você? – Rani estranhou o comportamento da amiga de Sarah Jane.

Alexia estapeou a própria testa. – Ah, é mesmo. Que distraída. – ela voltou pelas escadas correndo para a cozinha.

O Doutor só pôde vislumbrar um brilho verde passando rápido pelo seu campo de visão.

— Bem, Feliz Natal. – ele cumprimentou Sarah Jane entregando-lhe o pacote.

Sarah Jane olhou para o estojo contendo o papel em branco. – Um certificado do prêmio Pulitzer?

— Não. Isso é um papel psíquico. Ajudará muito em suas investigações.

— Ah meu Deus. Eu poderei entrar em qualquer lugar! – Sarah Jane jogou-se nos braços do Doutor. – Adorei.

— E este é para o Luke. – o Doutor estendeu o pacote para o filho adolescente de Sarah Jane – Ah um conselho... Use em locais fechados. Para não chamar a atenção.

— A atenção? – Luke estranhou.

— É um jogo de xadrez tridimensional. Então quanto maior o espaço...

— Maior as peças. – Luke completou. – Obrigado Doutor. – e o rapazinho saiu para ver o seu presente.

Sarah Jane e o Doutor ficaram em silencio por alguns minutos.

— E ela como está? – ele perguntou finalmente.

Sarah Jane ainda hesitou antes de responder.

— Ela está bem. Seguiu a vida, como você queria que ela fizesse.

Mesmo com a movimentação dos convidados de Sarah Jane, ele pôde pressentir a presença de Alexia na casa.

— Ela está aqui.

— Está. – Sarah Jane respondeu. – Mas Doutor... Ela seguiu a vida dela. Se ela vir você agora... Eu acho que não seria bom.

— Sarah Jane, eu vou vê-la. Eu não andei por meio Universo, salvei um planeta inteiro e enfrentei uma frota de Daleks por nada. Eu vou vê-la. – o Doutor sentenciou.

Sarah Jane viu a determinação em seus olhos azuis esverdeados. Nada deteria aquele homem.

Ela estendeu a mão para ele e juntos foram para a cozinha. Mas quando eles chegaram lá o aposento estava vazio. O carrinho de bebê encostado no canto chamou a atenção do Doutor, lhe dando um frio no estomago. A porta dos fundos batia entreaberta.

— Ela saiu. Ela sabe que eu estou aqui.

— Sim sabe. Ela estava comigo quando você chegou. Mas por que ela fugiria de você? Ela está sem memória. – Sarah Jane evitava olhar para o Doutor. Ela não podia mentir para ele. - Ela deve ter ido para casa.

— Pensei que ela morasse com você.

— Ela morava. Mas... Há algum tempo ela se mudou. Vamos, ela deve estar na casa dela.

Os dois passaram pela porta em direção à neve que aumentava. Mas ao contrário do que eles pensavam, Alexia não havia saído. Ela descera até o porão. No mesmo porão em que ela dera a luz ao seu bebê. Ela apertou Adrian contra o peito enquanto as lágrimas desciam pelo seu rosto. Nunca esperara rever o Doutor. Ele estava do mesmo jeito que lembrava. Por onde andara? O que ele teria visto? Mas a pergunta que martelava em seus ouvidos era: Por que ele voltara?

Ali, ela sabia que estava segura. Nem os Daleks a descobriram ali. Ela se lembrou daquelas horas sombrias, em que toda a humanidade se viu refém da frota Dalek sem que ninguém os desafiasse. Da pequena janelinha rente ao chão, Alexia podia ver os grupos de pessoas serem levadas. Sem distinção. Homens, mulheres, crianças. Velhos e moços, todos eram levados. Ela ainda podia ouvir os gritos daqueles que eram eliminados por se opor aos Daleks. Sempre após o comando dado em uma voz metálica: “Exterminar”.

Mas então o seu momento de dar a luz chegara. As dores eram insuportáveis. Somente muitos anos de treino a fizeram suportar a dor sem gritar. Seus lábios machucaram-se de tanto que ela os apertara com os dentes.

Então, o milagre acontecera. Um bebê nascera. Mas que depressa Alexia colocou o bebezinho em seu peito para amamentá-lo. Para que os Daleks remanescentes não ouvissem o seu choro. Quando o bebê se acalmou, ela o limpou da maneira que pode. Cansada da experiência ela adormeceu. E foi assim que Sarah Jane e Luke a acharam.

A presença do bebezinho foi um raio de esperança para todos. Nascido em um dia tão difícil para a humanidade, ele foi festejado e mimado como nenhuma outra criança o fora. E na hora de batizá-lo, Alexia se lembrou de uma noite em um planeta longínquo em que os meteoros riscavam os céus e a Terra tremia em sua descoberta do amor.

— Adrian. Ele irá se chamar Adrian Triannonseth Tyler.

E agora, o Doutor estava de volta. O que ela deveria fazer? Fugir, fugir sempre? Ou enfrentá-lo? Mostrar a ele que sua vida continuara. Ela agora era professora de uma escola maternal, e havia um dos professores que já demonstrara abertamente o seu interesse por ela. Todos acreditavam na história plantada por ela e Sarah Jane. Que ela havia sido uma recém casada que perdera o marido e que só então se descobrira grávida. Então ela havia vindo morar com a prima de seu marido. A Srta Sarah Jane Smith. E tem sido assim desde então.

Não. Ela não se esconderia mais. Toda sua vida era uma mentira. Fora uma mentira no passado, e o era agora. Ela iria contar a verdade agora. A todos. E o primeiro a sabê-la seria o Doutor.

***

— Ela não está em casa. Para onde teria ido? – Sarah Jane estava aflita.

— Talvez ela não tenha saído de sua casa, Sarah Jane.

— Você acha que ela ainda está lá?

— Você cuidou dela todo esse tempo. Você disse que só recentemente ela saiu de sua casa. Onde ela se sentiria mais protegida?

— É claro. Vamos voltar.

— Não. Eu não irei. Estarei na TARDIS. A minha presença só causou desagrado a ela. Eu errei em não querê-la ao meu lado durante a Guerra do Tempo. Quer dizer, por um momento apenas que eu revi todo o horror que a guerra produziu. Não queria que ela visse isso. Não queria que ela visse no que eu me tornei e as coisas que eu fiz em nome de uma paz e de uma sanidade que já não existiam.

— Mas o que você fez Doutor? O que poderia ser tão terrível?

— Você lembra que eu lhe disse há algum tempo atrás que todos haviam morrido?

— Sim quando nos reencontramos pela primeira vez.

— Então. Eu matei a todos. Bastou um só toque. E Gallifrey foi varrida do Universo. Por isso eu voltei. Voltei para aquele exato momento para impedir a mim mesmo de cometer genocídio.

— E você impediu?

— Sim. Mas não sozinho. Todos estavam lá. Todas as minhas versões. Nós usamos a energia de nossas TARDISes e congelamos Gallifrey. Ele está lá, em um pedacinho do Universo, parado em um momento único. – Doutor olhava o futuro diante dele – E um dia, nós nos reencontraremos. Mas nesse momento, uma coisa incrível aconteceu. Eu sempre pensei ser o último. Mas havia uma ultima TARDIS. De um jovem tão confiante que disse ser do nosso futuro. Ele nos deixou antes de sabermos quem era ele...

— Mas agora todo o seu passado mudou, Doutor. Vocês salvaram Gallifrey. – Sarah Jane estava muito feliz.

— Sim, nós salvamos Gallifrey. Mas somente eu e o jovem de nosso futuro sabemos disso. Para todos os outros, o passado não mudou.

— Mas agora precisamos saber onde está Alexia.

Voltando por um caminho diferente, ela viu a TARDIS parada em seu jardim. Em cima de seu canteiro de rosas que estavam protegidas do inverno

— Bom, Doutor. Se estivéssemos na primavera agora sua TARDIS estaria com perfume de rosas.

Ele olhou para o canteiro e suspirou.

— Eu não sei o que ela tem contra rosas . Desculpe-me.

— Não se preocupe. Estão protegidas contra o inverno. Deve servir para TARDISes também.

Sara Jane abriu a porta da cozinha.

— Amanhã eu virei. Eu vou me aproximar aos poucos. Quem sabe, eu acabe despertando algo nela e então poderemos recomeçar.

— Você acha que ela poderia vir a amá-lo novamente? E por quanto tempo você esperaria Doutor? Pense nisso. – com um cumprimento de cabeça Sarah Jane entrou.

Depois de fechar a porta, Sarah Jane tomou um susto ao dar de cara com Alexia sentada à mesa da cozinha bebericando um chá.

— Ele já foi?

— Já. – Sarah Jane esta irritada. – Onde você estava? Sabe o frio que tá lá fora?

— Não. Por que eu estou quentinha aqui dentro. – ela balançou o carrinho ninando a criança. – O que ele queria?

— Ele quer ver você. Quer que você o conheça e, quem sabe, voltar a ser amado por você.

Alexia bebeu mais um pouco do chá em silencio.

— E como ele pretende fazer isso? Se apresentando como um professor novo na minha escola? Ou como um jornalista colega seu?

— Ele vai aparecer como o Doutor. O Senhor do Tempo de Gallifrey que você ama. E não tente negar! Você fugiu dele porque não confiava em seu próprio coração.

— Eu tenho pleno controle sobre o meu coração!

Sarah Jane olhou por cima do ombro de Alexia como se visse alguém.

— Então me mostre. Ouviu tudo Doutor?

Alexia virou-se rapidamente, para somente ver o vazio atrás dela. Mas seu arfar e seu rosto violentamente corado a denunciaram.

— Está vendo? Você fugiu dele por que ainda o ama. Pois então você vai fazer o seguinte. E não aceito argumentação menina! – exclamou ao ver Alexia abrir a boca. – Você vai até a TARDIS e vai contar toda a verdade àquele homem. Toda a verdade.

— Na verdade, Sarah Jane, eu já pretendia fazer isso. – ela pousou a xícara sobre a mesa.

Foi quando Sarah Jane viu em cima da mesa um bule e três xícaras.


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