Criança Perdida escrita por Lu Rosa


Capítulo 14
Capitulo Quatorze




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—... E então toda a família festejou o salvamento da pequenina e nos homenagearam com presentes

O Doutor balançou a cabeça, incrédulo.

— Olha, nem Rose Tyler conseguiu se meter em tanta confusão em tão pouco tempo. Em algumas horas você consegue irritar a Presidente de Gallifrey, sobreviver à passagem de uma horda de Shobogans, salvar uma garotinha e ser homenageada pela família dela.

— O que eu posso fazer? Os problemas realmente gostam de mim.

— É deve ser o nosso charme, por que eles me perseguem também.

Os dois riram descontraindo o ambiente. Quando os dois entraram na TARDIS, Alexia pensou que, daquela vez, havia extrapolado a paciência do Doutor e que ele a levaria para a Terra e a deixaria lá. Mas à medida que ela foi contando a história, o ambiente começou a suavizar e ele já até elogiara a sua coragem.

— Mas a presença dos Shobogans ainda é muito estranha. Eles podem causar problemas às pessoas e saírem assim, impunes?

— Política, cara Alexia. Com certeza o Alto Conselho não quer conflitos com o líder dos Shobogans.

— Mas e a Presidente não sabe o que acontece?

— Para mim, Júlia é mais uma peça decorativa do que realmente a mandatária do planeta. Eu soube que ela havia sido indicada por Flávia, mas acho que ela foi imposta à Flavia pelo Alto Conselho.

— Mas estamos aqui só de visita, não é?

— Claro. Claro. – concordou ele em um tom não muito convincente. Ela previu problemas. Ele iria se meter.

— Bem, vou deixá-la se aprontar. Afinal você é a estrela.

— Estrela? Tenho certeza que serei ofuscada por estrelas bem maiores.

— Não para mim. – o Doutor retrucou com voz profunda. – estarei esperando você aqui na sala de controle.

Alexia não soube por que seu coração aqueceu-se ao ouvir o tom de voz do Doutor. Era como se doces promessas estivessem no ar.

Ela foi para o quarto que fora reservado para ela, ao lado daquele onde a TARDIS estava estacionada. Duas criadas a aguardavam sorridentes. Ela abraçava a caixa como se fosse um escudo.

— Bem vinda, senhora Alexia. Vamos cuidar dos preparativos da senhora para o baile. Somos da família Mantovarvaron e somos muito gratas pelo que fizera à nossa amada Alec-xya. Ficamos imaginando como seria a jovem que a salvou. Agora vemos que a senhora é como um anjo

— Ora obrigada. Talvez tenha sido a Providência Divina que me fez vir para cá no momento certo. E agora senhoras, eu estou entregue a vocês.

Nunca Alexia havia recebido tanto cuidado de alguém quanto das duas moças. Ela foi banhada, seca e perfumada. Seus cabelos secos e escovados até que caíssem como um suave manto negro às suas costas. Mas na hora do vestido as coisas ficaram um tanto confusas. Ela não havia pegado nada na TARDIS.

— Não posso entrar lá envolta em uma toalha! O Doutor ficaria chocado.

Uma das moças viu a caixa em cima da cama e reconheceu os símbolos inscritos nele.

— Senhora Alexia, esse tecido é o Luna Lux. A jóia de nossa família. Quem lhe deu?

— O senhor Mantovarvaron me deu em agradecimento pela vida da sua neta.

— Alec-xya não é sua neta. O parentesco deles já se perdeu pelo tempo, Senhora.

Alexia sentou-se na cama surpresa.

— Como assim? Ele a adora como um avô ama a neta.

— Sim, é verdade. Mas entre Alec-xya e Oxis Mantovarvaron existem pelo menos uma diferença de oitocentos anos.

— Minha nossa! Ele quantos anos ele tem, então? Novecentos?

— Um pouco mais do que isso, senhora. Ele tem mil e trinta anos. E está conservado, não acha?

Alexia abriu a boca pra responder, mas não conseguiu emitir nenhum som. Quando perceberia que a contagem de tempo no Universo era bem diferente do que na Terra? Como os terráqueos deveriam ser insignificantes para eles.

— Bem, vocês estavam me falando do tecido.

— Sim, esse é o Luna Lux. Se as histórias de nossa família forem verdadeiras, a esposa de Oxis Mantovarvaron, a Grã sacerdotisa da Irmandade de Karn, Syria, teceu isso usando magia e a luz das luas de Gallifrey. Dizem que o tecido nunca verá tesoura e agulha e que ele se amolda ao corpo. Dizem que ela o usou apenas uma vez e Oxis Mantovarvaron fala que ela era a própria luz da lua.

— Bem, então teremos a oportunidade de viver a lenda, senhoras. Como será que deve ser feito?

— Dizem que o tecido deve ser jogado para cima e envolver a pessoa como uma chuva de pétalas de flor ou com a própria luz da lua.

Alexia pegou o diáfano tecido nas mãos e fechando os olhos o jogou para cima. Seu único pensamento era que o Doutor a achasse bela.

O tecido desceu suavemente sobre ela e a magia se fez presente naquele quarto. Quando ela abriu os olhos, viu que estava vestida como uma dama medieval. O tecido amoldara-se em seu corpo revelando suas curvas de forma discreta. E o tecido descia suave pelos braços envolvendo em ondas. E a cor havia mudado também. Como se refletisse a natureza apaixonada da moça ele havia se tornado de um vermelho suave, como as cores de uma tarde que morria.

— Senhora! – as duas exclamaram assombradas. – as lendas são verdadeiras.

— Eu disse ao senhor Mantovarvaron e agora digo a vocês: Eu nunca na vida me senti tão honrada de ter algo tão precioso.

— A Senhora será a estrela do baile esta noite.

Uma batida na porta se fez ouvir.

— Então já está pronta? – o Doutor perguntou entrando no quarto.

Ele prendeu a respiração quando as mulheres saíram de perto de Alexia e ele pode ver a transformação da moça. Seus olhos percorreram Alexia de cima a baixo não perdendo nenhum detalhe, fazendo que o coração de Alexia saltasse dentro do peito devido à intensidade que ele a olhava.

Um riso baixo os tirou da imobilidade e olhando em volta, o Doutor viu as duas mulheres trocando olhares e risinhos.

— Você está linda! Eu... – ele gaguejou – eu lhe trouxe algo para completar sua toilette. – ele abriu uma caixa quadrada grande e estreita. Parecia um colar.

— O que é isso? Um colar? – Alexia perguntou

— Não. Isso é um diadema. Permita-me. – ele tirou a peça da caixa e se aproximou de Alexia. Ele arrumou a jóia sobre os cabelos da moça e se afastou para apreciar o efeito. O diadema circundava a cabeça de Alexia e uma delicada correntinha pendia sobre sua testa terminando em um pequeno diamante.

— Isso é muito bonito. De quem é?

— É uma jóia de família. Achei que seria o momento certo dele tomar um pouco de ar. Era a jóia preferida de minha mãe. Bem, acho que devemos ir.

— Sim, é claro. – ela se voltou para as servas. – Senhoras, muito obrigada pela atenção que me dispensaram.

— Foi uma honra, Senhora Tyler. – disse uma delas

— Será sempre lembrada e homenageada por nós senhora. – completou a outra.

— Doutor, eu devo dizer que você também está muito elegante.

Realmente, o Doutor estava muito distinto em um traje de gala Eduardiano. Cruzando o peito, estava uma faixa azul celeste presa a cintura por uma estrela de diamantes.

— Isso... É a Ordem da Jarrateira?

— É. O Rei Charles II a concedeu para mim por serviços prestados. Ainda bem que ele não a tirou de mim quando mandou me prender na Torre.

— Você ficou preso na Torre? – o espanto dela era enorme.

— É. Sabe como é... Barbara Castlemaine adorava ver um rosto diferente na Corte. E ela queria muito, mas muito mesmo pintar um quadro meu.

— E ela o fez? Quer dizer, o quadro.

— É Claro. Retratou-me com o deus Apolo. Mas o Rei não gostou muito da idéia. Acho que não existem dois Apolos no Olimpo. – ele sorriu com malicia.

Não era preciso pensar muito para saber como Bárbara Castlemaine costumava retratar os homens como os deuses do Olimpo. Alexia riu, balançando a cabeça.

Os dois chegaram ao salão principal. Lá estavam além da Presidente Julia e seu fiel escudeiro, o Conselheiro mor Roth, membros do Alto Conselho e suas respectivas esposas e acompanhantes.

Alguns casais rodopiavam ao som do grupo de músicos que estavam em um canto.

— Doutor! Senhorita Tyler! – a Presidente Julia veio ao encontro dos dois – Que belo vestido. É da Terra?

— Não. Foi um presente local. Conheci uma família muito amável hoje, os Mantovarvaron. Eles ficaram muito agradecidos por eu ter salvado o membro mais jovem da família hoje.

— Então é de você que toda a cidade baixa aclama como heroína. – a gallifreyana admirou-se.

— Sim. Somos capazes de muitas coisas, senhora presidente, apesar de nossa mortal fragilidade. E, como agradecimento, a família me presenteou com esse tecido lindíssimo. Acho que eles chamaram de Luna Lux. Está na família há gerações.

— Sua acompanhante é formidável caro Doutor. Nas suas primeiras horas em Gallifrey ela já se torna uma celebridade.

— Alexia é realmente surpreendente. – o Doutor olhou para Alexia que sorriu docemente.

— Então, por favor, aproveitem o baile. E, Alexia, - Julia a chamou quando os dois começaram a se afastar – foi muita coragem sua pular na frente dos Shobogans para salvar a menina.

Alexia acenou em agradecimento ao cumprimento da Presidente. Os dois então foram para o centro do salão e começaram a rodopiar ao som da música que tocava.

O capitão Sorus estava em um canto olhava os convidados com olhar atento. Há algum tempo ele ouvia rumores de um possível golpe na Presidência. Como Castellan seu dever era zelar pela ordem no Panopticon. Mas seus olhos acabaram caindo nas figuras de Alexia e do Doutor movendo-se acompanhando o ritmo da música que tocava. Ele lembrou-se da coragem da moça ao salvar a menina Mantovarvaron. Ele deixaria a vida no exercito por uma mulher como ela. E se, tivesse a oportunidade, ainda diria isso a ela.

A música parou por um momento, e o Doutor acompanhou Alexia até a mesa de iguarias. Ela ficou meio indecisa ao que pegar, ele se adiantou e pegou o que parecia um bolinho com creme por cima.

— Prove esse. É trinfish com raiz de sarrandole.

Ainda receosa, Alexia deu uma mordida na iguaria. Na mesma hora, seu rosto cobriu-se de um vermelho intenso, e ela não cuspiu fora o que tinha na boca devido a muito treinamento. Engoliu a comida que desceu rasgando por sua garganta. Mas, mesmo o mais rigoroso treinamento não impediu que ela começasse a tossir incontrolavelmente.

— Alexia, Alexia! O que houve? – o Doutor deu a ela uma taça de vinho que ela bebeu sofregamente e pediu outra.

— Muito quente! – ela murmurou quando conseguiu recuperar a voz.

Ele mordeu o bolinho.

— Não. Não está quente. – ele estranhou, esquecendo-se que havia uma diferença entre os paladares.

— Doutor! Talvez a Senhora Alexia não esteja acostumada com nossa culinária. – Julia comentou.

Quando Alexia levantou os olhos lacrimejantes, ela viu que todos olhavam para ela.

Ela não deixou se abater por aquilo e disse:

— Bem, quem sabe seja melhor eu dançar do que comer. Guarde outra taça de vinho. Está delicioso. Com licença.

Ela começou a andar na direção do capitão Sorus.

O capitão bebeu o resto do vinho da taça que segurava e a colocou em uma mesinha próxima e aguardou. Ela caminhava em sua direção devagar, o vestido ondulando ao seu redor.

Ela aproximou-se dele e pediu em voz baixa.

— Dance comigo.

— Eu não sei dançar muito.

— Não tem problema. Se começarmos a nos mover os outros começaram também e pararão de olhar para mim.

— Está bem. – ele pegou na mão dela e segurou em sua cintura. Ela levantou uma parte do vestido com a outra mão para não tropeçar e eles começaram a mover-se lentamente enquanto a música tocava. Alguns casais começaram a se mover também.

A Presidente Júlia entregou uma taça de vinho para o Doutor enquanto comentava.

— Sua acompanhante é bem desenvolta, Doutor. Ela soube muito bem agir com sutileza.

— Alexia é muito bem treinada, Júlia. Ela teve treinamento militar, sabia? Sabe sair de qualquer situação. Das mais perigosas que se possa imaginar.

— Fico imaginando como ela sairá daquela situação. – ela indicou o casal que dançava. – Me parece que a Terra terá que mandar outro representante para fechar qualquer acordo comercial conosco.

Foi quando o Doutor percebeu que os dois encaravam-se quase esquecidos de todos. Ele teve o impulso de arrancar Alexia dos braços do capitão, mas antes de qualquer coisa, os dois pararam de dançar e saíram do salão.

— Bem, Doutor. Parece que teremos novidades logo.

— Antes que todos imaginam, Júlia. – o Doutor acrescentou de cenho franzido.


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