Criança Perdida escrita por Lu Rosa


Capítulo 13
Capitulo Treze




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Treze

Sorus e Alexia então desceram a escadaria que levava ao pátio externo da Cidadela.

Dois guardas andavam a frente deles e outros dois andavam atrás deles, Alexia parou.

— Capitão Sorus, isso é necessário?

Sorus olhou-a surpreendido.

— É claro, Senhora Tyler. A senhora não é escoltada quando caminha junto ao povo?

— Não. Nunca precisei disso na Terra. Preferia andar incógnita entre a população local. Seria possível?

— Como queira senhora Tyler. – ele voltou-se para os guardas. – Senhores, estão dispensados. Obrigado. Por favor, deixem em meu gabinete – ele entregou seu capacete e as insignias que usava.

Os guardas prestaram continência e se retiraram.

— Está melhor assim, senhora Tyler? – ele postou-se diante dela.

Alexia, então, viu realmente o capitão Castellan pela primeira vez. Ele era tão alto quanto o Doutor, talvez o excedendo em dois ou três centímetros. Os olhos experientes da militar entraram em ação e ela sabia que não havia nenhum peso excedente no corpo do capitão. Resultado de muito, mas muito treinamento mesmo. Os músculos do capitão transpareciam sob a roupa e, numa reação puramente feminina, Alexia apreciou a companhia do capitão.

— Sim, capitão. Mas ficaria melhor de deixarmos de lado as cerimônias. Seu nome é Sorus o meu é Alexia. Nada de Senhora, está bem. – Alexia acenou com a cabeça.

O militar pensou um pouco e respondeu. – Bem, eu poderia chamá-la de senhora Alexia, então.

Alexia considerou a questão. O pobre homem estava acostumado a formalidades e resolver dar um refresco ao soldado. – Está bem. Agora sim podemos conhecer Gallifrey.

Os dois passaram pelos portões, caminhando entre as pessoas. Alexia reparou que as ruas estavam enfeitadas e nas casas, grandes panos colocados nas varandas retratando o grande símbolo idêntico ao que ela tinha visto no grande salão do Panopticon.

— Então, está tudo enfeitado para uma grande festa. O que vocês comemoram?

— É o Festival da Criação. Uma homenagem a Rassilon, um dos fundadores de Gallifrey. Eles determinaram normas e leis que são a base de nossa sociedade. Os Anciãos são reverenciados, mas em relação à Rassilon essa reverencia chega as raias da divindade.

— Nossa! Ele deve ter sido muito enfático na formação de Gallifrey.

— Como assim senhora Alexia?

— Sorus, como você me disse e o Doutor havia me dito há algum tempo. Gallifrey havia saído de um estado primitivo quando os Anciãos estabeleceram a base da nova Gallifrey. Como eles fizeram isso? Como muitas civilizações por ai a fora e na própria Terra isso aconteceu. Um grupo vence, seja em número ou estratégia. E então uma nova sociedade surge.

— É uma forma triste de ver as coisas, senhora Alexia.

— Mas é a verdadeira, não?

O capitão deu um suspiro.

— Quando a verdade é muito crua para se ensinar às crianças, devemos enfeitá-la um pouco. – ele parou e mostrou um grupo adiante.

Alexia viu um grupinho de crianças que brincavam de enfeitar um mastro com fitas coloridas. Isso a fez lembrar-se de sua infância quando ela via outras crianças enfeitando mastros de maneira semelhante durante o Festival da Primavera.

Sorus abriu os braços mostrando tudo a sua volta.

— Aqui é o centro externo da Cidadela. É onde os negócios comerciais se realizam. Embora Gallifrey não seja um planeta comercial, nos dias de festa todas as outras cidades de Gallifrey vêm expor seus produtos.

— Embora eu esteja a 250 milhões anos luz de distância da Terra, aqui parece uma cidade da média Europa. Basta pegar um avião no aeroporto mais próximo e chegaremos a Londres.

— Londres? É onde fica sua casa? – o capitão quis saber.

— Sim. – ela não pode deixar de sentir certa emoção – Londres é uma das capitais mais importantes da Terra. E é uma cidade linda, na primavera. Você iria gostar de conhecê-la.

O capitão ia dizer que gostaria de estar em qualquer lugar desde que na companhia de alguém como ela, mas algo adiante deles chamou sua atenção.

Uma nuvem de poeira se levantava e pessoas começavam a correr na direção deles. Tropel de veloqüinos e gritos se faziam ouvir.

— Shobogans! Protejam-se!

Assim que ele deu o alerta, as pessoas correram para se proteger e os comerciantes fecharam as portas. Uma horda de Shobogans se aproximava e as crianças que, até aquele momento riam deliciadas, agora gritavam aterrorizadas. Algumas eram pegas no colo por outras pessoas, mas uma garotinha de longos cabelos loiros permanecia estática abraçada a um estranho bichinho de tecido.

Alexia pressentiu a tragédia. A menininha iria ser pisoteada por aquela espécie estranha de montaria. Ela não pensou duas vezes e começou a correr na direção da menina.

Sorus estava direcionando algumas pessoas para um abrigo, quando Alexia passou por ele como um foguete. Os longos cabelos esvoaçavam e o olhar estava fixo. Sorus reconheceu um soldado em batalha e sua admiração pela terráquea somente aumentou.

O cavaleiro aproximava perigosamente da menininha e Alexia não teria uma segunda chance. Ela agarrou a menina segundo antes do Shobogan passar. Ela rolou pelo chão tentando proteger o rosto da menina, parando quando suas costas bateram contra uma parede.

A menininha começou a choramingar assustada, mas Alexia começou a embalá-la e ela se acalmou encostando a cabecinha no ombro da jovem. Sorus correu até elas.

— Senhora Alexia, a senhora está bem?

— Estou sim, capitão. Quem eram eles?

— Os Shobogans. - a voz do capitão era dura - São aqueles que não se submetem as leis dos Senhores do Tempo. Vivem a margem da sociedade. Eles sempre aparecem nos dias de festa quando a vigilância é relaxada. – a raiva transparecia na voz dele.

— E eles não podem ser detidos, capitão? Quer dizer, eles põem a vida das pessoas em perigo.

— A Presidente Romana decretou que todos em Gallifrey têm direito de ir e vir. Apesar de viverem na parte externa da cidade, nas montanhas, os Shobogans são Gallifreyanos.

— Ah então quer dizer que eles não se submetem às leis, mas desfrutam dos direitos?

— Por isso eles também pagam um tributo ao Alto Conselho.

— As coisas começam a ficar um pouco mais claras para mim, capitão. – Alexia declarou.

Os Shobogans entravam na cidade por que tinham permissão do Alto Conselho para isso, mas não podiam ser detidos pelos guardas porque não eram submetidos às leis de Gallifrey. “Interessante...” - ela pensou.

Um rapazinho vinha na direção deles com duas mulheres. As duas choravam copiosamente, mas sorriam alegres. Alexia logo percebeu que era a família da menina.

Ela estendeu a menina para a mulher mais jovem, ela agarrou a menina enquanto a mulher mais velha segurou as mãos de Alexia dizendo:

— Venha conosco.

Alexia olhou para Sorus, pedindo auxilio, mas ele sorriu para ela acalmando-a. Se aquelas pessoas quisessem lhe fazer mal, com certeza ele não permitiria.

As lojas começavam a reabrir e foi para uma delas que as mulheres conduziram Alexia.

Sorus aproximou-se dela sussurrando:

— Esta é a loja da família Mantovarvaron. São grandes comerciantes de tecido e lã. Na verdade, os maiores de Gallifrey. A menina deve ser neta do patriarca da família.

Um senhor vestindo uma longa túnica vermelha brilhante se aproximou.

— Minha cara senhora, é uma honra recebê-la. Esta casa é abençoada por que uma de nossas crianças foi salva da morte.

Alexia viu que eles falavam da menininha. Sorus inclinou-se em respeito ao ancião.

— Meu senhor Mantovarvaron. Esta é a Senhora Alexia Tyler. Ela é representante do planeta Terra, e está em visita comercial.

Alexia viu que eles reagiram alegremente à menção de seu nome. O ancião ergueu as mãos para o céu exclamando:

— Então os céus nos abençoaram mais uma vez. – ao ver que a jovem o olhava interrogadamente, ele a esclareceu – Seu nome, minha jovem, é sinal de boa sorte. É o nome da minha netinha. Alec-xya. Quer dizer “aquela que traz paz”.

— Fico feliz que meu nome seja de bom augúrio, senhor Mantovarvaron. E eu agi de forma impulsiva. Não podia deixar a menina ser ferida.

O ancião chamou a mulher mais velha e disse algo em seu ouvido. A senhora o olhou surpreendida, mas inclinou-se respeitosamente e saiu.

— Minha esposa era uma mulher tão especial quanto à senhora. Ela era membro da Irmandade de Karn. – Mantovarvaron viu que o soldado reagiu espantado, mas ela não reconhecera o nome - A Irmandade de Karn era um grupo de sacerdotisas que guardavam o segredo da imortalidade. Mas quando eu conheci Syria, nos apaixonamos no mesmo instante. Ela deixou a Irmandade e veio para Gallifrey comigo. Ela era perita em tecer e este tecido – ele recebeu uma caixa decorada e a abriu. Alexia viu um tecido branco dentro da caixa. – Este tecido foi feito quando ela ainda tinha seus poderes de sacerdotisa. Ele tem a luz das luas de Gallifrey e a magia dos antigos ritos da Irmandade. – pareceu a Alexia que o tecido fulgurava uma suave luz azulada no ambiente envolto na penumbra.

Alexia ouvia o ancião atentamente. Mantovarvaron tinha uma voz modulada e ela pode entender por que a jovem Syria deixara seu cargo de Grã Sacerdotisa para seguir a este homem. Era mais ou menos o que acontecera a ela. É. Senhores do Tempo realmente tinham o dom da palavra. Principalmente com as mulheres.

— Ficaríamos honrados se a senhora aceitasse este presente por ter salvado a vida de nossa Alec-xya. – ele estendeu a caixa ricamente trabalhada para ela.

Alexia sacudiu a cabeça. – Senhor Mantovarvaron... É algo muito precioso para que o senhor me dê. É uma recordação de sua amada esposa. Eu não mereço algo tão rico. – ela tocou os dedos em reverencia sobre o tecido.

Vozes consternadas se seguiram as palavras da moça.

— Por favor, senhora Tyler. Nada nos daria mais alegria saber que nossa jóia mais preciosa emoldurará tão corajosa jovem. É o que a minha Syria desejaria também.

Alexia sentiu um puxão tímido em sua roupa. Olhando para baixo ela viu a pequena Alec-xya olhando para ela com límpidos olhos azuis e um sorriso nos pequeninos lábios rosados. Ela sentiu lágrimas arderem nos olhos ao imaginar o pequenino corpo estendido sem vida, mutilado pelas patas da estranha montaria.

Seu coração se encheu de amor pela criança e em nome dele, ela resolveu aceitar o presente.

— Senhor Mantovarvaron. Eu é que ficaria extremamente honrada em aceitar o seu presente e sua amizade.

As pessoas da família se puseram a cantar com alegria fazendo Alexia se sentir estranha. Aquelas pessoas simples celebravam a vida com uma alegria que ela nunca vira. Eles recebiam uma estranha em seu convívio de uma forma tão espontânea que faltava aos pomposos Senhores do Tempo com toda a sua riqueza e extenso conhecimento sobre o tempo e espaço. Ali se detinha a verdadeira essência da vida.

Já escurecia quando Alexia e Sorus conseguiram se despedir de todos da família. E, por estar acompanhando Alexia, Sorus também foi presenteado com um lindo corte de tecido. Os Mantovarvaron eram celebres na fiação e coloração de tecidos. Famosos em toda a Gallifrey. Seus produtos eram verdadeiros tesouros.

Alexia e Sorus, envoltos em uma nova camaradagem, passavam pelos portões quando viram o Doutor andando apressado acompanhado por dois guardas ao encontro deles.

— Alexia! O que aconteceu? Onde esteve? – ele perguntou fazendo um enorme esforço para se controlar.

Alexia sabia que, nesses momentos, ela era quem tinha que manter a calma.

— Uma longa história, Doutor. Vamos para a TARDIS que eu lhe contarei tudo. – ela voltou-se para o capitão Sorus.

— Obrigada, Sorus, pela aventura. Tenho certeza que levarei boas lembranças da cidade.

— Foi um prazer, Alexia. Fique a vontade para requisitar uma nova visita à família Mantovarvaron, quando quiser.

— Tenho certeza que é a primeira e a última vez que eu os vejo. Não sabemos quanto tempo ficaremos.

— É uma pena. Eles gostaram muito de você. – o Doutor acompanhava a conversa se sentindo totalmente excluído. – Mas nos veremos mais tarde no baile. Não estarei de serviço, mas é meu dever como Castellan estar presente.

— Um baile?! – Alexia perguntou.

— Sim. O Festival da Criação é sempre encerrado com um baile e queima de fogos. – o Doutor revelou.

— E nós iremos, não é? – a jovem perguntou ao Doutor.

O Doutor sentiu um estranho sentimento ao ter conseguido desviar a atenção de Alexia do capitão. Ele percebeu que era satisfação.

— E perder a chance de acompanhar tão bela jovem? – ele deu um olhar de esguelha para o capitão. Ele começou a querer tira-la dali.

Mas o capitão entendera o jogo do Doutor e resolvera entrar na disputa.

— Espero que você reserve uma dança para mim também.

— É claro. – disse a jovem voltando-se. – Aguarde-me.


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