– Oi, Rogers. – Lola adentrou a sala de treinamento do Capitão, como sempre, ele estava distraído fazendo os preparativos para a aula dela.

Steve virou o rosto para a morena que se aproximava e disse:

– Olá, STARK. – Ele deu ênfase na última palavra.

A garota sorriu quase com cinismo ao chegar mais perto da bancada onde ele mexia em algumas cordas.

– Por que você me deixou falar mal do seu próprio irmão para você? Por que não me fez parar? – Steve quis ir direto ao ponto para impedir constrangimentos futuros e para acabar com o incômodo atual que sentia.

– Ah, Steve... – Ela disse meio risonha. -... Primeiro, você é um bom homem e seria interessante saber sua opinião sobre o irmão que havia se tornado um desconhecido para mim; Segundo, sempre soube que ninguém da minha família é cem por cento flor que se cheire, inclusive eu; E terceiro, a situação estava divertida demais para que eu tentasse acabar com ela... – Lola quase gargalhava.

– Não tinha nada de divertido naquilo, foi estranho, isso sim... – Rogers continuava meio acanhado sobre o assunto.

– Relaxa, Steve... – Lola deu uma cotovelada nele, ainda rindo. -... Se serve de consolo, nesse tempo sozinha com o Tony deu para descobri que parte da sua opinião sobre ele é verdade... Mas apenas parte!... Anthony é meu bebezinho, sempre o defenderei incondicionalmente, embora tenha percebido que nunca poderei dizer isso a ele, ou nunca pisará no chão, já se acha demais...

– Disso não posso discordar... – Steve deu um breve riso também. -... Agora, vamos começar... Pegue uma dessas cordas, nós vamos pular...

Lola escolheu uma corda e se afastou de Steve, o Capitão escolheu uma corda e começou a guardar as outras embaixo da bancada, enquanto do nada a garota iniciava uma cantoria:

– Senhoras e senhores, ponham a mão no chão... Senhoras e senhores, pulem de um pé só... – Steve se virou para olhá-la e a viu pulando e cantando. -... Senhoras e senhores deem uma rodadinha...

– Mas o que você está fazendo?! – Ele disse já rindo.

– E vá para o olho da rua... Brincando. – Ela respondeu.

– Quando eu disse que íamos pular corda, não era desse jeito que eu queria dizer... – Steve ainda ria observando Lola que pulava com a empolgação de uma garotinha.

– Eu sei... Imaginei que iríamos pular como aquecimento da forma esquisita que os lutadores pulam... – Ela explicou parando de pular. -... É que bateu uma nostalgia...

Rogers balançou a cabeça, ao passo que tentava dissipar seu próprio riso.

– Hello, meus picolezinhos favoritos! Sentiram minha falta? – Tony Stark chamou a atenção dos dois ao adentrar a sala de treinamento de Steve, ele segurava uma maleta quadrada e funda nas mãos.

– Anthony?! – Lola expeliu surpresa.

– O que você está fazendo... aqui? – Rogers tentava entender.

– Se Maomé não vai à Montanha, a Montanha vai até Maomé!... Você me deve trinta e nove anos de brigas, confidências e conversas fraternais, Lola. Não pense que porque quer brincar de agente secreta vai se livrar tão fácil de mim! – Tony caminhava até eles.

– Você não tem nada melhor para fazer ao invés de atrapalhar nosso treino, não?!... Ah, é!... Você não trabalha... – Steve provocou.

– Seja um bom soldadinho e busque seu escudo, ou eu te nego minha benção... – Tony olhou maliciosamente para Lola.

– Sua benção para quê? – Steve perguntou inocentemente sem entender.

Lola entendeu. Ela arregalou os olhos e disse:

– Para nada, Steve!... É melhor você ir buscar esse escudo ou ele não vai nos deixar treinar em paz! – Lola tentava convencer Steve.

– Mas para quê eu tenho que trazer meu escudo? – Rogers ainda estava confuso.

– Porque eu trouxe brinquedinhos... – Tony colocou a maleta em cima da bancada e a abriu revelando um par de “luvas” de uma de suas armaduras.

– Uh! – Lola esqueceu-se completamente do constrangimento que sentiu há pouco e quase se debruçou na caixa mexendo nas “luvas”. – Fazem parte do seu traje?

– De um deles sim... – Tony explicava pomposo.

Steve se deu por vencido e foi buscar seu escudo deixando os dois sozinhos. Assim que ele saiu, quase trinta segundos depois, Lola mudou suas feições e começou a ameaçar o irmão mais novo.

– Anthony Stark, se você fizer qualquer outra insinuação de que entre eu e o Steve existe algum envolvimento amoroso... Eu juro que te trucido antes de você sequer começar a pensar no “P” de “Potts”! – Ela ameaçava irritada, mas mantinha uma voz baixa para que ninguém que possa sonhar em passar pelo corredor escutasse.

– Ui! Que agressividade é essa jovem? Sente aqui, vamos conversar!... – Ele sorria zombeteiramente.

– É sério, Tony! Pare com isso!... Uma coisa é você me encher o saco sozinha, outra coisa diferente é fazer isso na frente dos outros, ainda mais na... dele! – Lola acabou aumentando a voz acidentalmente na última frase, mas a abaixou de novo na ultima palavra.

– Não se preocupe, Lolita... Não farei mais hoje, pode relaxar, vamos apenas treinar, me comportarei! – Tony se divertia ao analisar o nervosismo dela.

– Voltei! – Steve atravessou a porta segurando seu escudo de Capitão América.

– Ótimo! – Tony ainda sorria.

– Okay... Agora você pode explicar para quê me fez pegar meu escudo?! - Steve ainda não entendia.

– Ah, Capitão! Não honre a cor do seu cabelo, por favor!... Eu trouxe meus brinquedos e mandei você buscar os seu... Estamos durante o período de aula da minha irmã, logo... – Tony deu um espaço para que Rogers adivinhasse.

–... Vamos treiná-la com eles?! – Steve deduziu.

– BINGO! – Tony falou sarcasticamente, Lola ficou animadíssima com a novidade.

– Você pediu permissão a alguém para interferir desse jeito? – Steven ignorou a ironia dele.

– O que você acha? – Tony levantou uma sobrancelha. -... Tenho cara de que peço permissão a alguém sobre qualquer coisa?!

Rogers deu de ombros, talvez fosse uma boa ideia incrementar as aulas, apesar de Tony estar atrapalhando o dia que era para ser só dele com Lola.

A garota estava quase pronta para tentar colocar as “luvas” do Homem de Ferro quando foi interrompida por ele e suas mãos repressoras.

– Na, na, ni, na, não!... A senhorita não vai brincar com elas!... Primeiro vai observar eu e o Capitão, depois vai imitar o que ele fizer com o escudo dele, só e somente! – Ele explicou causando o desaparecimento do sorriso empolgado no rosto dela.

– Ah, não, Tony!... Você quer que eu brinque com o escudo do Capitão América?! Isso não é justo!... – Ela protestou.

– Você acharia justo brincar com outras coisas do Capitão América? – Tony perguntou com uma expressão maliciosa. Lola e Steve eram inocentes, mas não tanto ao ponto de não entender as palavras de duplo sentido. Ela arregalou os olhos e ele ficou vermelho, ambos congelaram, felizmente não estavam de frente para o outro.

Tony resolveu se retratar rapidamente apenas por um lapso de piedade.

–... Quero dizer, o ringue dele, os sacos de areia dele... ou as cordas que vocês estavam segurando?! – Ele disse enquanto os envergonhados soltaram o ar de seus pulmões aliviados, quase se sentido culpados por terem entendido “errado” a situação.

– Não, Tony! O justo seria eu usando suas luvinhas legais com lanternas nas palmas das mãos. – Ela explicou.

– Não são lanternas!... É por essas e outras que você não vai treinar com elas, você não sabe manuseá-las, pode acabar dando prejuízos ao caolho e pondo esse lugar a baixo... – Disse Tony.

– Ele tem razão. – Steve teve que concordar mesmo a contragosto.

– Ah, mas você pode me ensinar um dia e me deixar usá-las, não é?! – Lola piscava os olhos tentando convencê-lo.

– Quem sabe?! Talvez... – Tony se fazia de difícil. – Pensa rápido, Picolé! – Anthony rapidamente colocou suas luvas e com as palmas das duas mãos começou a lançar uma rajada energética na direção de Rogers.

Steve foi capaz de acompanhar o movimento e usou seu escudo para amparar o raio propulsor do Homem de Ferro.

– Observe, maninha! – Tony piscou para Lola e começou a projetar um raio mais forte.

Steve conseguiu se manter firme por um tempo, então o Stark aumentou muito mais a intensidade, até quando Rogers precisou dar um passo para trás para manter seu próprio equilíbrio.

Satisfeito, Tony, parou o raio e anunciou a Lola:

– Agora é só você tentar resistir como ele fez!

– Nossa! Meu nível de adrenalina foi às alturas... – Lola ironizou nem um pouco impressionada.

– Não é tão fácil quando parece. – Steve tentou explicar.

– Vamos, Capitão, entregue o escudo logo a ela! – Tony apressou-os.

Lola aceitou o escudo que Rogers cedia a ela, mas fez uma careta esquisita ao pegar o objeto e ao girar em quase 360º.

– Isso só pode ser uma piada de muito mau gosto de Deus, do destino, ou de quem quer que esteja tentando me ensinar uma lição. – A garota constatou olhando quase que enojada para a estrela branca e para o azul e vermelho do escudo.

– Na verdade, não é de mau gosto, estou achando isso muito engraçado. – Tony mantinha uma cara risonha.

Rogers permaneceu calado, ele também não via graça na situação, mas ainda não sabia lidar muito bem com essa repulsa de Lola pelo país amado dele.

Lola se posicionou frente a Tony.

– Você deve segurar firme nessa tipoia, e quando o impulso dele vier tente dividir pelo seu corpo, canalizando a diferença de força para o chão... – Steve ajeitava a mão dela no apoio manual do escudo.

– Entendi. – Lola disse determinada, tentando esquecer do fato que estava segurando o principal adereço do Capitão América.

Rogers deu alguns passos ficando atrás dela.

– Manda a ver, Tony! – Lola ordenou confiante.

– Pensa rápido de novo, Rogers! – Disse ele, só de maldade Anthony lançou um raio com potência máxima.

A garota não conseguiu permanecer resistente e acabou sendo empurrada bruscamente para trás, encontrando apenas um obstáculo; o peitoral de Steve.

Rogers agarrou os antebraços dela, fazendo-a frear. Ele usou seu próprio tronco para diminuir a velocidade dela.

– Eu disse que não era tão fácil assim! – Steve a relembrou rindo.

Aborrecida, Lola se virou para encará-lo de frente, sem aumentar em muitos centímetros a distância entre eles.

– Você está rindo de mim!... Essa já é a segunda vez que você ri de mim, Rogers... Acho que preciso pensar numa maneira de punir você por isso! – Ela disse com um sorriso brincalhão que se desmanchou ao encontrar os olhos azuis dele.

Lola paralisou, nunca tinham estado tão perto dessa forma. Steve também parou de rir, enquanto as pupilas dela se dilataram. Por um breve instante, Lola havia perdido a noção de tempo, espaço e sentidos. Rogers não conseguia enxergar mais nada naquela sala a não ser aquela morena enigmática, e de repente tudo o que ele queria era apenas se aproximar mais, só que foi interrompido pela garota que recobrou a consciência e se afastou.

– Tenho que me motivar com alguma memória ruim que nem da vez que destruí um saco de areia, certo? – Lola caminhou até a posição inicial frente a Tony.

– É pode ser... – Steve coçou a cabeça ainda confuso pela situação estranha, mas logo recobrou a consciência e consertou. -... Não! Não é isso!... Você tem que aprender a canalizar a força do ataque para o resto do seu corpo e o chão! Não tem nada a ver com lembranças... É apenas pratica...

– Lola... – Tony que assistira a tudo com um sorriso descarado estampado no rosto se pronunciou. -... Sabe aquele meu radar interno que te falei?... Está apitando loucamente...

– Que radar? – Rogers questionou permitindo-se ficar curioso para esquecer o constrangimento.

– Nenhum!... Esquece, Steve, é bobagem... – Lola interviu antes que Tony respondesse. -... Anthony! Por favor! Para de falar besteiras e vamos logo treinar!

Mas nada apagou o sorriso cínico do rosto irônico daquele Stark.