Steven G. Rogers estava vivendo cada dia mais confuso do que nunca. Ele não sabia o que devia pensar ou agir quando se tratava da sua mais nova “amiga”. Só o que ele sabia era que aos poucos, sem que ele percebesse ou entendesse o motivo, Ela estava começando a dominar seus pensamentos e reflexões.

Tudo teve seu marco inicial com um despertar, Ela abriu seus olhos castanhos confusos e curiosos para entrar num mundo onde o próprio Steve ainda estava aprendendo a se habituar. Desde tal dia, Rogers passou quase um mês começando a conhecer XX-23, ele tinha plena consciência de que esse tempo não era suficiente para fazê-lo por completo, mas era mais do que o necessário para que um sentimento terno em relação a Ela, que não sabia nomear ainda, pudesse crescer dentro dele.

A garota desacordada naquele quarto fictício nos andares inferiores do prédio S.H.I.E.L.D. se tornou para Steve uma XX-23 extrovertida, engraçada e confiável, cuja companhia era agradabilíssima; estar com ela o fazia bem.

Depois, essa XX-23 se tornou uma Lola.

Uma Lola traumatizada que possuía sérios ressentimentos pelo país que ele tanto amava e havia dedicado à vida. Essa mesma Lola não conseguia aceitá-lo como Capitão América; Rogers passou a querer ser capaz de imaginar uma forma para poder ajudá-la, mas se sentia de mãos atadas, ele queria saber fazê-la se sentir tão bem quanto ela o fazia se sentir.

A XX-23 acabou evoluindo para uma Lola, que Steve achava que necessitava ainda mais da amizade dele. Ela podia odiar sua pátria amada, mas ele não passou a enxergá-la como um inimigo, pelo contrário. Lola era a dama condenada a ver o mundo de uma forma equivocada graças aos fantasmas dos traumas de seu passado; como amigo, Steve sentia a necessidade de tentar salvá-la de si mesma, mas seria ele capaz de tal façanha?

E agora, essa Lola havia se tornado uma Lola Stark

Uma Lola Stark que não gosta de ser vista chorando; Uma Lola Stark que o tempo inteiro desde seu Despertar demonstrou disciplina e submissão às regras impostas pela S.H.I.E.L.D., mas que na última reunião com Fury revelou seguir as recomendações apenas por esse ser seu desejo e interesse momentâneo; Steve não sabia muito bem como lidar com essa mais nova versão, a Stark.

No fim das contas, ela era um quebra-cabeça, um enigma, talvez um codex ou qualquer outra coisa nesse estilo, mas indiscutivelmente, ela era cheia de imprevisibilidades.

Rogers refletia sobre estas coisas enquanto estava em uma das cozinhas dos andares superiores do prédio. Era madrugada, um pouco mais de 02:00h, ele vestia um pijama cinza padronizado com a insígnia da SHIELD; o andar estava completamente deserto, e as luzes estavam baixas.

Steve mantinha um sanduíche natural em sua frente, sob a bancada central do cômodo. Ele mesmo o havia preparado, mas não havia tocado ainda na comida por estar mesmo mergulhado em seus pensamentos.

Rogers não sabia definir em palavras o que sentia por aquela garota, só sabia que repetidas vezes, em que ele se deparava com o castanho daqueles olhos, sentia uma vontade imensa de depositar um beijo nos lábios dela.

Steve já se pegou imaginando isso, e em seus devaneios, os lábios de Lola Stark eram macios como algodão, e doces, tão doces quanto açúcar. Ele tentava reprimir ao máximo tais pensamentos, evitá-los, Rogers se sentia envergonhado, sujo, ou como diriam atualmente, se sentia quase um tarado, por causa dessas coisas, que na verdade não eram nada demais, mas pelo seu jeito de ser, considerava um absurdo, era com se ele estivesse desonrando-a.

Entretanto, em alguns flashes de momentos, Rogers percebia que talvez Lola sentisse o mesmo que ele. Os climas estranhos que surgiam em certas conversas, os sorrisos, as bochechas vermelhas, os momentos constrangedores que surgiam quando acidentalmente as mãos deles se topavam. Mas é claro que tudo isso foi drasticamente esfriado quando ela soube que Steve era o Capitão América, e Rogers acabou colocando em sua cabeça que todos os sinais que notava antes sobre a correspondência dela, não passava de sua própria imaginação “poluída”.

Só que depois da última “aula” dele com Lola, que Tony se intrometeu, Steve teve um vislumbre diferente quando ele e Lola ficaram frente a frente, próximos, quase se tocando. Ele pode ver novamente uma reciprocidade nos olhos dela, e ao mesmo tempo uma tentativa imensa de resistência.

Ela estava lutando, lutando por dentro para não sentir o que quer que estava sentindo por ele também. Lola acidentalmente baixou a guarda, e Steve estava felizmente perto demais, conseguindo enxergar uma parte dela por dentro.

Como sempre, os Stark’s e seu hábito de se manterem em suas armaduras figuradas ou não figuradas.

Mas daquela vez, a armadura de Lola se tornou translúcida por uma fração de segundo, e num momento curto de fraqueza dela, Steve quase pensou que ela queria ser beijada tanto quanto ele queria beijá-la.

– Deu formiga na sua cama também?! – Disse uma figura rosa saindo da escuridão e se aproximando da luz.

Steve foi bruscamente acordado de seus pensamentos sobre Lola, por ela mesma.

A garota não vestia o pijama padronizado da SHIELD, usava um pijama rosa felpudo com bolinhas brancas. Com certeza fora algo trazido da viagem dela com o irmão.

– Vim fazer um lanche... – Steve, sentindo-se encabulado por seus próprios pensamentos, apontou para o sanduíche intocado sobre a bancada.

– Você leu meus pensamentos... – Ela quase saltitou pela cozinha dirigindo-se aos armários. -... Estou faminta!

– O que houve com os seus cachos? – Steve notou que os cabelos dela estavam naturalmente escorridos outra vez.

– Tive que me livrar deles... Se os usasse o tempo todo, quando tentasse ficar bonita outra vez não seria uma novidade... – Lola disse distraidamente quase escalando um balcão para alcançar uma portinha mais alta.

Steve por pouco não fez um comentário dizendo que ela era bonita em qualquer forma, mas conseguiu ser mais rápido e se autocensurar. Apenas se permitiu divertir com os comentários irritados dela ao desistir da porta alta resolvendo abrir a geladeira e só encontrando comidas saudáveis.

– Poxa! Como faço para contrair hiperglicemia num mundo de super-agentes malhados e saudáveis?! – Ela remexeu um saco com alfaces frescas como se estivesse pegando na coisa mais nojenta do mundo.

– O que você está comendo? É algo que preste?... – Lola deslizou com suas pantufas da Hello Kitty até debruçar-se na bancada ao lado de Steve. -... Porque se for eu não vou querer, quero algo que me dê diabetes ou no mínimo um colesterol alto...

– Sanduíche de pasta de pepino. – Rogers apresentou seu prato.

– ECA!... Afaste isso de mim! – Lola se benzeu e depois voltou a vasculhar as portas mais baixas dos armários.

Steve deu uma risadinha. Depois resolveu ajudá-la em sua busca, ele sabia exatamente onde estava o tipo de comida que ela buscava.

Rogers se levantou de seu banco e caminhou até a mesma portinha que ela não tinha alcançado abrir. Ela o seguiu com os olhos curiosamente. Ele abriu a porta e um mundo de guloseimas e porcarias surgiu brilhando como ouro aos olhos da garota. Agradecida Lola pôs uma mão num braço de Steve, sem tirar seus olhos que brilhavam do conteúdo da prateleira.

– Você acabou de me mostrar Shangri-la!... – Ela tirou a mão dele e colocou em cima de seu próprio coração fingindo estar comovida. -... Acho que estou entrando em estado de Nirvana... Agora a única coisa que eu preciso é de uma banana...

– Uma banana? Mas frutas não são consideradas alimentos saudáveis? – Rogers questionou.

– Ah, Steve Rogers... – Lola suspirou o nome dele. -... Não subestime minha capacidade de tornar qualquer alimento prejudicial a saúde! – Ela sorriu maliciosamente balançando a cabeça. Steve riu.

Lola acabou montando uma gororoba bastante esquisita. Colocou uma banana num prato, cobriu-a com chantilly, picou bastante granulado, jujubas, jelly beans, calda de caramelo, pasta de amendoim, calda de chocolate, ovomaltine e outras coisas que tornavam a mistura enjoativa só de se olhar de longe.

– Mas o que é isso? Como você chama essa coisa? – Steve olhou preconceituosamente, eles estavam sentados um do lado do outro e ele começara a comer seu sanduíche.

– Hummm... Não sei... Acabei de inventar... – Ela começou a olhar para o prato e para Steve intercaladamente. -... Acho que vou chamá-lo de Steve-nator!

– Por que não Lola-nator? – Ele interrogou meio risonho pela homenagem.

– Ah! Chegou atrasado... Inventei o Lola-nator quando eu tinha treze anos, depois veio o Lola-zilla, o Lola-nizer, e depois de todas as combinações com o meu nome comecei a inventar com o nome das pessoas ao meu redor... Stu-nator, Tony-zilla, e assim por diante... – Lola disse com um orgulho evidente.

– Okay... – Steve cedeu a um riso breve. Lola começou a devorar sua gororoba diabética e sem perceber acabou sujando logo abaixo de seu lábio inferior com um pouco de calda de chocolate.

Steve acabou percebendo e inevitavelmente iniciou um dos devaneios que estavam começando a se tornar constantes. Como seria se ele resolvesse limpar com seu dedo polegar aquele pingo marrom e depois puxasse-a fazendo os lábios dos dois colidirem? Ou melhor! Como seria se ele mesmo usasse os lábios para limpar aquele chocolate?

Oh Não! – Steve pensou recobrando a consciência. Aquilo precisava parar! Ele precisava parar com isso! Esse tipo de pensamento nunca passara por sua cabeça antes. O que ele estava se tornando agora? Um tipo de tarado desassisado? Pensar aquelas coisas era errado! Muito errado! Ele tinha que parar, precisava parar!

Steve se retraiu no banco e virou o rosto para direção contrária de onde estava a garota enquanto apertava os olhos e balançava a cabeça constrangido, tentando dissipar seus pensamentos.

– Você se sujou, um pouco acima de seu queixo... – Ele disse ainda tentando se esconder, como se ela fosse adivinhar os pensamentos dele se o olhasse.

– Obrigada. – Ela se limpou com as próprias mãos e despreocupadamente retornou a seu Steve-nator, sem sequer perceber coisa alguma; era até impossível para qualquer um fazer tal coisa, os conflitos de Rogers eram bem internamente.

Steve estava descobrindo um mundo novo em si mesmo, e sua inocência não conseguia fazê-lo compreender, ao ponto dele achar que havia algo de muito errado consigo, mas não havia. Tudo naquele novo mundo era bastante natural e compreensível para o resto do mundo, principalmente quando envolvia um homem e uma mulher; aquele mundo poderia ser chamado de Desejo.