Say Something escrita por Garota Anônima


Capítulo 1
Say Something - I


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas! Quantos séculos sem aparecer por aqui ;D(ok, só um aninho sem fic aqui).Essa one-shot (que pode vir a ser um "two"-shots, porque Ashara está rodando meus pensamentos) exigiu ser escrita desde o momento em que eu ouvi a música Say Something e, então, aqui estou eu, procrastinando com o TCC para escrever e postá-la aqui :)Confesso que não é uma das minhas melhores, ela estava bem melhor na minha mente, mas como sempre, fanfics com a Elia são tão escassas que... Não faz mal postar essa, né? O amor a essa personagem fala mais alto, sempre.Espero que gostem e que dividam o meu amor pela Elia (e que sejam um pouco indignados com o Rhaegar e a Lyanna como eu sou).Boa leitura!



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“And I am feeling so small, it was over my head. I know nothing at all. And I will stumble and fall. I'm still learning to love, just starting to crawl”
(Say Something, A Great Big World ft. Christina Aguilera)

Elia Martell nunca estivera tão ao norte do reino como estava agora. Sentada na parte mais elevada das arquibancadas, um local especialmente dedicada a realeza, ela podia sentir o vento fresco das terras do Rio, conflitando com o sol brilhante e céu limpo acima da sua cabeça. Os maesters diziam que a primavera já havia chegado, mas os ventos traziam um aroma que só o inverno possuía, mesmo que o perfume das flores tentasse mascará-lo.

O rei e a rainha estavam sentados a sua direita, um pouco mais acima dela e, a sua direita, suas damas de companhia. Um dos lugares estava vazio há algum tempo e Elia perguntou-se se algo de grave havia acontecido com sor Arthur. Quando Rhaegar derrubara o amigo e cavaleiro da Guarda Real no penúltimo embate, o homem levantara-se sozinho e saíra andando. Logo em seguida Ashara pedira licença e se retirou para certificar-se de que o irmão estava bem. Agora, a princesa achava que, talvez, ele não estivesse tão bem.

Havia assistido a diversos cavaleiros competirem na arena que se estendia sua frente, justa atrás de justa, até que apenas dois deles restassem. Ignorou a fadiga e a ocasional tontura que sentia ali, sentada por um tempo longo demais, e deixou que um singelo sorriso enfeitasse seu rosto. A sua frente, seu marido e sor Barristan Selmy preparavam-se para por fim a competição e definir os campeões.

Ouviu uma pequena agitação a suas costas, onde os cavaleiros da Guarda Real estavam dispostos, e olhou por cima do ombro. Observou enquanto uma sorridente Ashara aproximava-se com dois copos de bronze, sentando-se ao seu lado. O vestido violeta que a mulher usava combinava perfeitamente com o tom de seus olhos e destacava ainda mais a pele clara. Mas o sorriso que os lábios traziam nada tinha a ver com o brilho entristecido dos olhos púrpuros.

Sem conseguir pronunciar as palavras por estar em público, Elia questionou a amiga com o olhar, que apenas dispensou o assunto com um leve aceno de cabeça, estendendo para ela um dos copos.

A dornesa soltou o tecido leve e colorido da saia de seu vestido e alisou o amassado antes de aceitar o copo. A mão estava um pouco tremula, mas forçou-se a permanecer firme. Maester Pycelle havia recomendado que ela ficasse na Fortaleza Vermelha, que ainda não tinha recuperado suas forças após o parto. Mas ela não podia aceitar, havia dado a luz a um menino, provara ao rei que tinha sim o que era necessário para ser uma rainha e se recusava a mostrar-se fraca para todo o reino. Era uma rainha Targaryen, afinal.

Envolvendo o copo com as duas mãos, levou-o até os lábios e agradeceu silenciosamente Ashara quando o hidromel escorreu por sua garganta, fechando os olhos momentaneamente. O som das trombetas anunciando a entrada dos últimos combatentes fez com que a princesa abrisse os olhos em um rompante e baixasse o copo em seu colo. Os cavalos estavam parados em lados opostos, o garanhão azulado de Rhaegar permanecia calmo, enquanto o cavalo de sor Barristan parecia mais agitado, riscando o chão de terra.

Apertando os dedos em volta da haste do copo, Elia notou com a luz do sol, que estava alto no céu, reluzia a armadura negra do marido. Bastou piscar duas vezes para que as lanças estivessem a postos, as trombetas soaram mais uma vez e antes mesmo que tivessem silenciado, os cavalos já estavam a trote, acelerando um na direção do outro. As lanças cruzaram-se a poucos metros do púlpito onde a mulher se encontrava, lascas voando para todos os lados ao som da torcida, com ambos os cavaleiros permanecendo firmes na sela.

As lanças quebradas foram substituídas com a ajuda de escudeiros e os cavaleiros trotaram de volta para suas posições, o sol brilhante reluziu na armadura de sor Barristan e Elia experimentou a cegueira momentânea no mesmo momento em que as trombetas anunciavam o novo encontro. Piscou os olhos algumas vezes, ansiosa por saber o desfecho do embate. Voltou a focar o mundo quando estilhaços de uma única lança voavam pelo ar, encontrando seu destino no chão, junto do cavaleiro caído.

Sem se preocupar em esperar a ajuda, sor Barristan levantou-se, acompanhado pelo som metálico de sua armadura e pela torcida acalorada da platéia. Com o mesmo sorriso singelo do inicio da justa, Elia aplaudiu o marido, parado no lado mais distante da arena, entregando a lança e o elmo ao escudeiro. Mesmo de longe ela podia ver o sorriso do homem enquanto passava as mãos pelos cabelos.

A frente do púlpito real, sor Barristan retirou o elmo e fez uma leve reverencia ao rei e a rainha, antes de se retirar com um leve mancar. Com o campeão anunciado, a princesa dornesa observou a coroa de rosas azuis ser entregue na mão do príncipe e como ele deixou o cavalo andar lentamente pela extensão da arena.

Para a grande maioria das donzelas, receber a coroa do amor e da beleza era uma declaração, era constatar que era a mais encantadora de todas. Mas para Elia Martell era o símbolo de que finalmente havia se provado digna da família Targaryen. Independente dos bons costumes, que levavam o marido a sempre coroar a esposa, ela havia se provado digna do nome que agora levava. Não era apenas a mãe de uma princesa – embora ela própria nunca tivesse visto o problema nisso – mas era também a mãe do príncipe herdeiro, havia dado a vida aquele que continuaria a linhagem Targaryen, contra todas as expectativas.

Pensar nas palavras de desprezo que ouvira do rei até o dia em que Aegon veio ao mundo, chutando e gritando a plenos pulmões, fez com que um sorriso orgulhoso tremulasse em seus lábios. Empertigou-se na cadeira, que a essa altura já estava desconfortável demais, e respirou fundo, tentando manter o semblante sereno.

Mas a tentativa logo falhou. O cavalo de Rhaegar parou a bons metros da mulher. Ela não podia ouvir o que ele dizia, mas a expressão calma e devotada fez com que um zumbido repentino soasse em seus ouvidos. O príncipe estendeu a coroa e uma garota levantou-se, aceitando-a lentamente. A platéia estava em silêncio e o coração de Elia bateu pesado no peito, como se pudesse sair voando dali.

Sabia que alguém estava falando ao seu lado. O rei? Não podia ouvir. Seus olhos estavam focados em Rhaegar e um sentimento azedo espalhava-se dentro dela. O que ele estava fazendo? Estava realmente coroando a outra? Estava mesmo declarando, em frente a todas aquelas pessoas, que ela não era suficiente? Que os dois filhos que ela quase havia morrido para trazer ao mundo, não lhe bastavam? Ela havia lhe dado um menino.

Sentiu vontade de gritar e atirar algo contra ele. Depois, desejou desaparecer.

– Elia? – longe, por cima do zumbido em seus ouvidos, ela podia ouvir a voz fraca chamando-a. – Elia?

Piscando os olhos rapidamente, desviou o rosto e encarou Ashara, preocupada ao seu lado. Sentiu as mãos úmidas, assim como parte do vestido, e percebeu que havia derramado a taça em algum momento. Horas pareciam ter se passado, mas encarando Rhaegar mais uma vez, percebeu que foram poucos segundos.

– Você está branca, está se sentindo bem?

– Não. – respondeu com a voz fraca, ignorando alguns olhares ocasionais.

Tentou se levantar e, por um instante, seus pés falharam e ela tropeçou. Seu corpo foi prontamente amparado por um cavaleiro da Guarda Real e Ashara, que levantara-se junto dela.

– Acho melhor levá-la para os seus aposentos.

– Não. Eu vou sozinha. Você fica. – colocou-se de pé, as mãos de ambos ainda em seus braços, firmando-a sem necessidade.

Ashara olhou-a ferida, como se dissesse que não queria deixá-la sozinha.

– Eu acompanharei a princesa em segurança até seus aposentos. – uma voz grossa pronunciou-se ao seu lado e, só então, ela percebeu que o cavaleiro que a ajudara era Arthur.

Relutantemente, Ashara assentiu e sentou-se novamente, um sorriso duro no rosto não conseguia mascarar o desgosto. Elia olhou uma última vez para o marido, que então, notou-a. Ele a encarou com a expressão em branco e ela apertou os lábios em uma linha reta antes de apressar-se em direção as escadas do púlpito.

Segurou o vestido molhado com as mãos tremulas e seguiu um caminho de terra para dentro da fortaleza de Harrenhall. As pessoas que estavam pelo caminho nem mesmo tentaram ser discretas, seus olhares cheios de pena e mesmo de zombaria já diziam tudo. A dornesa apressou o passo e ouviu o tilintar da armadura do cavaleiro as suas costas, o som solitário enquanto atravessavam os longos corredores vazios da fortaleza.

O coração continuava acelerado e as unhas das mãos, fechadas em punhos, machucavam a carne macia de sua palma. Sentiu o ar falta e ofegou, a respiração audível e descompassada enquanto ela tentava impedir-se de chorar.

Nunca achara que estar casada com Rhaegar seria fácil. A própria rainha havia lhe avisado da melancolia que tomava conta do filho vez ou outra, da personalidade distraída e sonhadora. Mas também havia ouvido o quanto ele era inteligente e justo. Nos anos de casada, havia sentido a sensibilidade e amabilidade do marido.

Eram apenas estranhos, forçados aquela convivência, relegados ao casamento. Mas com o tempo, ela aprendeu a amá-lo e gostava de pensar que ele também. Ela o amava pelo modo que a tratava na frente de todos, e também quando estavam a sós. Amava-o pelos filhos, pela maneira com que ele os venerava, mesmo quando Rhaenys era a única que tinham – e quando todos os outros duvidavam de sua capacidade de produzir outra criança.

Elia amava-o por tudo que ele era, e pelo que não era. Ela sempre achou que ele também a amava, especialmente agora. Eu dei um filho a ele. Gritou em sua mente.

Quando foi que se tornara tão indigna de ser amada? Não era interessante o suficiente? Culta? Bonita? Não merecia ser amada de volta, ou se quer respeitada?

Seus passos ecoavam no grande corredor que levava até os aposentos que lhe foram cedidos e Arthur percorreu todo o caminho em silêncio. Mas ele não se atreveria a falar, não quando ela estava prestes a desabar. Porém, antes que pudesse abrir a porta que a levaria para a antecâmara, ouviu seu nome sendo chamado mais uma vez.

– Elia. – a voz saiu baixa, como se ele não estivesse certo do que dizer.

Pressionando uma das mãos contra o peito para tentar normalizar a respiração, a princesa olhou-o por cima dos ombros. Os olhos violeta, que tanto a lembravam Rhaegar, observavam-na com pesar e dor. A boca estava aberta, pronta para dizer-lhe qualquer coisa. Permaneceram em silêncio por um longo momento, mas o cavaleiro nada disse.

Com os olhos ardendo e a cabeça girando, Elia abriu as portas duplas e entrou no cômodo, fechando-as as suas costas e deixando-se cair contra as mesmas. Tapou a boca com ambas as mãos, deixando que o grito fosse abafado enquanto as lágrimas fáceis escorriam suas bochechas.

A frustração e o sentimento de humilhação extravasaram e ouviu diversas vozes na sua cabeça. Maester Pycelle falando que ela não poderia engravidar outra vez, as palavras maldosas do rei Aerys. Os sussurros dos servos, especulando quanto tempo ela duraria ao lado de Rhaegar sem dar-lhe um filho. As palavras do próprio, sobre como precisavam da terceira cabeça do dragão.

Era fraca, doente. Uma garota boba. Uma dornesa estúpida. Apenas uma afronta a lord Tywin. As palavras continuaram a girar em sua mente, enquanto ela deixava o corpo escorregar em direção ao chão.

Cobrindo o rosto com as mãos, ela viu o rosto de seus filhos e sentiu-se ainda mais humilhada e ultrajada. Se ela não era o suficiente para ele, seus filhos deveriam ser. Tinham sangue Targaryen, eram dragões. Como ele tivera a coragem para transformá-la em algo tão descartável, na frente de todos? Como ele pode ser tão cruel, quando ela jamais escondeu seus medos e anseios dele?

Ergueu a cabeça e encarou o grande cômodo, iluminado pelos fortes raios de sol. Humilhada. Despreza. Sozinha. Não era uma Targaryen e fora tola em pensar que algum dia seria. Poderia ser a mãe de dois dragões, mas seria para sempre uma Martell, descendente da Rainha dos Roinares, Nymeria.

Humilhada. Desprezada. Sozinha. Mas nunca curvada. Nunca submissa. Nunca quebrada.


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Notas finais do capítulo

Se curtiram, deixem um comentário. Não arranca pedaço e me deixa saber o que acharam, além de me deixar saber que eu posso voltar a postar coisas aqui quando estiver procrastinando :)Ah, e quando deixar o comentário, me diz ai: gostaria de ler algo sobre a Ashara?xoxo