Say Something escrita por Garota Anônima


Capítulo 2
Say Something II


Notas iniciais do capítulo

Mais de um ano depois eu volto aqui com uma nova one-shot.
Juro que ela saiu sem querer, ouvi a música de novo e POP surgiu.
É de conhecimento geral o rumor de que um Stark desonrou Ashara durante o torneio de Harrenhal e que, possivelmente, ela se matou após dar a luz ao fruto dessa desonra, uma menina natimorta.
Muita gente aposta que esse Stark era o Ned, simplesmente porque ele era apaixonado por ela. Mas Ashara era uma dama de uma casa nobre e o Ned era livre e desimpedido, sem contar o valor que ele dá a honra. Não vejo porque ele desonraria ela e não iria propor casamento (também não vejo o Lorde Stark recusando isso ao Ned).
Por tanto, eu acho que esse Stark foi o Brandon! Brandon, que possuia o sangue do lobo e era um conquistador, que tinha uma noiva que o impediria de tomar a Ashara como esposa. E sei lá, eu sou simplesmente viciada nessa possibilidade de Brandon e Ashara, amo muito!
Então aqui está a one-shot, quem sabe mais alguém se sinta dessa forma?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/503073/chapter/2

“Say something I’m giving up on you. I’ll be the one if you want me to and anywhere I would‘ve followed you.”

Say Somethin, A Great Big World ft. Christina Aguilera

Os corredores de Harrenhal estavam escuros e relativamente silenciosos. A tempestade, que chegara sem qualquer aviso prévio, assolava as janelas e batia com força contra as pedras derretidas da fortaleza, mas não impedia as celebrações que aconteciam no salão principal. Chuva de verão, é o que todos garantem.

A música alta ainda podia ser ouvida de onde ela estava, mesmo que de forma mínima. Ela podia imaginar as risadas, os bardos tocando, os casais dançando e a comida sendo servida; as histórias sobre os combates do dia, sobre os prêmios. Os sussurros sobre o choque do dia, o momento em que Lady Lyanna Stark recebera em suas mãos trêmulas a coroa de rosas azuis e o título de Rainha do Amor e da Beleza.

Ashara podia sentir os dedos enrolando-se e as unhas cravando na palma das mãos ao lembrar do rosto pálido de sua princesa diante de tamanha humilhação. Achou que o coração havia se partido naquele momento, quando viu toda a dor e traição estampada no rosto da dornesa. Mas a verdade é que seu coração só havia se partido minutos atrás, quando procurara por ele em todos os cantos do salão sem qualquer sucesso. Ao menos até ouvir que sua família estava se preparando para partir.

Quando focou na porta a sua frente, apenas alguns metros de distância, as saias de seda outrora tão leves tornaram-se pesadas, dificultando suas passadas. As unhas voltaram a se cravar na pele macia das mãos, desejando que pudesse prolongar aquele momento, que o amanhã não pudesse chegar.

Mas nada que pudesse fazer poderia parar o tempo, nem mesmo os deuses estavam do seu lado.

Parada em frente a porta esqueceu-se de olhar para os lados e buscar por qualquer movimento nas sombras, esqueceu-se que o que estava fazendo não era próprio para uma lady, especialmente uma de sua estirpe. Ansiosa e alimentando uma dor que ameaçava escapar de seu peito a qualquer momento, Ashara ergueu o punho apertado e bateu contra a madeira.

Não demorou muito para que a porta fosse aberta. Por uma fração de segundos seus olhos se encontraram, os olhos dele eram cinzentos como a tempestade lá fora, como uma promessa de revolta. Como o mar de ressaca após a chuva forte.

Ela estendeu a mão, como fazia sempre, quase sem acreditar que ele pudesse ser real. Brandon Stark segurou seu pulso e a puxou com gentileza para dentro do cômodo, pressionando-a contra a porta enquanto a fechava, beijando-a de uma forma tão familiar que a garota não pode deixar de se perguntar em que momento daquela estadia ele havia começado a sentir como um lar.

“Ouvi dizer que vossa família está de partida.” Ela sussurrou entre o beijo, arrependendo-se logo em seguida.

Suas palavras o afastaram, levando consigo o calor aconchegante de seu corpo.

Ashara pressionou o corpo com mais força contra a madeira, como se pudesse enterrar-se ali, e ficou observando enquanto Brandon caminhava até a cômoda e servia uma taça com vinho.

“Assim que as chuvas possibilitarem a viagem.” Quando ele falou sua voz trouxe um tom diferente do habitual, um tom ao qual ela estava começando a se familiarizar, pois era um eco do seu próprio.

Algo que indicava que não estava completamente feliz em deixar aquelas palavras escaparem.

“Então acredito que vosso pai não tenha gostado muito de ver vossa irmã coroada como a rainha do amor e da beleza.” Dessa vez havia amargura escondida em sua voz, como se ela não conseguisse se segurar.

Brandon virou-se com sua taça em mãos e se aproximou, bebendo dela sem desviar o olhar intenso dela.

“Aquilo foi uma afronta!” ele cuspiu as palavras e ela pode ver a tempestade se erguendo em seus olhos. Os nortenhos que conhecera durante o torneio se referiam a isso como o sangue do lobo, diziam que estava dentro dele, parte animal e parte homem. Ele deixou a taça por cima da cômoda. “Uma humilhação para Lorde Baratheon...”

A meia risada escapou seus lábios sem querer, fazendo-a rolar os olhos. Ele não tornou a falar e então ela o fez.

“Para o Lorde Baratheon? Oh, por favor. Ele teve o ego ferido. E minha princesa que está com o coração partido?”

Se perguntou se algo em seus olhos denunciava o fogo de uma Dayne que queimava em seus ossos, assim como os dele denunciavam o lobo aprisionado em sua alma. Acreditou que sim, que seus olhos deveriam queimar com o brilho de mil estrelas dornesas, porque Brandon ficou em silêncio, observando seu rosto como se nunca o tivesse visto antes.

Pega de repente por uma timidez que não fazia sentido, desviou os olhos e deu alguns passos pelo aposento, observando as mãos com um interesse renovado.

“E ela não é a única.” Quando disse isso, pode ouvir suas palavras quebrando-se e desabando em seus pés, como o coração havia feito momentos antes.

Não ouviu os passos dele, mas sentiu o calor a suas costas. Apertou as mãos uma na outra, a dor física digladiando-se com a emocional. Ergueu o rosto e encarou o teto, sua cabeça tocando o ombro as suas costas, as mãos dele rapidamente deslizando por seus braços nus, apertando-a em um abraço dolorosamente reconfortante.

“Não era para ser dessa forma.”

Ela sabia que não. Ele estava noivo e ela vinha de uma casa menor, ambos conquistavam corações por onde passavam, nenhum deles jamais havia se deparado com os sentimentos que conseguiram despertar um no outro.

“Logo eu serei apenas uma lembrança, Brandon Stark. Apenas a memória de uma conquista, não se deixe afligir.” Tentou fingir confiança, mas a voz quebrada denunciava a dor que sentia. Respirou fundo, concentrando-se no aperto e no calor do corpo dele junto ao seu, como se isso pudesse acalmar o que sentia por dentro.

Mas não podia.

Era como se todos os seus ossos estivessem quebrando ao mesmo tempo e seu corpo inteiro estivesse caído no chão. Como se não houvesse ar o suficiente a sua volta. Era como se afogar em um mar escuro, sem saber o que viria em seguida.

“Você jamais será apenas uma conquista ou uma mera lembrança.” As mãos dele dançaram a sua volta enquanto ele se colocava a sua frente.

A expressão que trazia era um espelho da sua própria, desconfiava. Um misto de dor e derrota. Ela não estava acostumada a perder, a não ter o que queria, a impotência diante da situação deixou um gosto amargo em sua boca.

“Como ela é?” perguntou finalmente.

A incerteza estava pairando em sua cabeça desde o momento em que se conheceram. Queria ouvir que ela era mais bonita, mais gentil, mais doce, que ele a amava mais, que ela seria uma mãe melhor, uma senhora digna do norte. Ashara queria que ele provasse que sua noiva era mais do que ela, que estava perdendo ele porque alguém melhor já o tinha, não porque estava atrasada. Que ele estava sendo arrancado de seus braços porque existia uma mulher melhor para ele e não porque ela havia nascido na família errada.

Mas ele ficou em silêncio.

“Eu ouvi dizer que Catelyn Tully é uma lady excepcional. Que ela leva as palavras de sua casa muito a sério.” Seus lábios tremeram e ela podia sentir os olhos enchendo-se de lágrimas. Queria ser forte, mas as vezes, quando estava perto de Brandon, não sabia como manter-se inteira. “Família e dever... E honra. Ela realmente acredita nessas palavras.” Engoliu um soluço antes das lágrimas escorrerem por suas bochechas, tão quentes que ela tinha certeza que poderiam queimar sua pele. “Prometa que vai honrá-la, Brandon. Prometa que serei sua última, prometa que vai amá-la e honrá-la...” o restante das palavras ficaram presas em sua garganta, mas mesmo que estivessem prontas para sair ele não teria permitido.

O rapaz apertou os lábios contra os dela e, embora seu toque ainda fosse familiar, sua boca tinha uma urgência que ela não tinha sentido antes.

Das outras vezes em que estiveram juntos ela havia sentido como se tivesse todo o tempo do mundo, como se Harrenhal fosse uma pequena bolha onde o tempo seria eterno e ela nunca precisaria se despedir.

Mas a realidade era bruta e dura e ela sentia como se não fosse aguentar por muito mais tempo sob o toque quente das mãos dele, sob as exigências urgentes de seu corpo.

Quando se afastaram ela não podia respirar direito e registrou um novo senso de desespero no rosto dele.

“Você poderia vir comigo.”

A ideia era absurda, mas a garota apaixonada dentro dela agarrou-se a esperança de qualquer forma. Ela podia, podia ir com ele! Qual era o futuro que a aguardava de volta a Porto Real? Ou mesmo em Tombastela? Sabia que o irmão estava aguardando por um bom partido, para fechar alguma aliança poderosa com o seu casamento. Mas as pessoas estavam começando a falar, ela ouvia os boatos, quanto tempo até chegar aos ouvidos do irmão? Quanto tempo até ele decidir casa-la com qualquer velho que buscava pela quinta esposa?

Ela poderia, ela deveria...

E ainda assim ela não faria.

“Eu não sou esse tipo de mulher.” Sabia que deveria estar ofendida pela sugestão, mas na realidade parecia quase desapontada.

“Você pode se casar com Ned.” Sua voz era intensa, assim como o olhar que sustentava o da garota. Brandon segurava seus braços com firmeza, como se ela fosse se desfazer no ar a qualquer momento. “Ele faria, ele casaria com você. Ned está apaixonado e nosso pai não iria se opor. Case-se com Ned e venha conosco.”

Ashara encarou os olhos dele, tão similares ao do irmão e ao mesmo tempo tão diferentes. Onde Brandon era intensidade e paixão, Eddard era gentil e cordial. Ela sabia que ele se casaria, ela sabia disso desde o primeiro dia em que dançara com ele. Eddard Stark era um garoto doce e bondoso, um garoto apaixonado que poderia facilmente acreditar no amor. Ela não achava que ele tivesse visto a maldade dos homens como ela havia visto. O norte parecia não ser nada como a corte real, parecia ser simples e honesto.

Ele parecia tão justo e verdadeiro. Ele merecia alguém que pudesse amá-lo, amar seus filhos. Não alguém como ela, com a honra manchada e para sempre apaixonada por um homem que não poderia ter.

“Você poderia condenar seu irmão a uma pessoa como eu?” Sua voz voltou a estilhaçar-se enquanto falava, tentando se desvencilhar do aperto de Brandon.

Mas sua resposta o deixou nervoso, fazendo desnecessários seus esforços quando ele mesmo a soltou.

O rapaz passou as mãos pelos cabelos, escovando-os para trás enquanto a encarava. A dúvida que pairava em seu rosto parecia ser a mesma com a qual ela chegara ali, o que ela poderia fazer contra o que ela faria de fato.

“Eu estou tentando, Ashara. Não posso deixa-la ir. Eu não sei como.”

Quando notou, já estava sorrindo para ele.

“Você já deixou tantas antes partirem. Não é nada especial.”

“Não diga isso! ” Ele explodiu e o quarto se encheu com a raiva e a mágoa.

E mesmo que ela soubesse que os sentimentos se dirigiam a situação e não a ela, ainda se encolheu em seu próprio corpo.

“Só me diga algo, me diga o que fazer.” Ele falou mais baixo agora, aproximando-se novamente.

“Deixe ela.” As palavras foram como um tapa em Brandon. “Diga que me ama.”

O silêncio entre eles feriu mais do que uma espada.

“Eu não posso.” Suas palavras derrotadas pareciam estranhas saindo de seus lábios.

Ashara não soube dizer se ele estava falando sobre Catelyn ou sobre amá-la e decidiu que não queria saber. Não aguentaria saber.

Ela sorriu novamente, trêmula.

“Não...”

A garota deu um passo para trás, e mais um, abraçando o próprio corpo como se isso fosse tudo que pudesse mantê-la inteira.

“Adeus...” virou-se rapidamente, alcançando a porta como um dos raios que cortava o céu lá fora. “Não me esqueça, Brandon Stark.”

O caminho de volta pelo corredor fora diferente dessa vez. Sentia como se o corpo estivesse leve demais, frio demais, como se não fosse possível registrar o caminho que fazia. Haviam mãos em seu peito, diversas delas, mãos que a apertavam e espremiam todo o ar para fora de seu corpo, mãos que impediam que ela respirasse normalmente.

Deslizou por uma abertura escura entre as paredes, sem parar para notar se estava de frente a outra porta ou janela. Pressionou o corpo contra a pedra fria e fechou os olhos, sugando todo o ar que as mãos permitiam.

Haviam centenas de homens apaixonados por ela. Bons homens, homens dispostos a lhe honrar, lhe dar um nome, a ama-la por todos os dias até que os deuses lhes chamassem. Haviam centenas de homens que dariam um braço para ouvi-la dizer que os amava e, ainda assim, o único homem que conseguira amar pertencia a outra.

Colocou as mãos sobre o peito e começou a contar quantas vezes respirava fundo.

Fora uma garota tola por achar que ceder aos desejos do coração, mesmo que por pouco tempo, seria melhor do que jamais tê-lo. Achou que as lembranças, mesmo que do pouco tempo, serviriam para faze-la suportar o que quer que viesse pela frente.

Mas a verdade é que mesmo agora as lembranças eram dolorosas demais para suportar estar em sua própria pele. Brandon Stark fora um capricho, uma loucura momentânea e agora estava acabado.

No dia seguinte, quando entrasse no grande salão e não mais o encontrasse, teria de ignorar a ferroada de dor e com o tempo poderia aprender a lidar com ela, a controla-la. Afinal de contas, era uma mulher, o que mais poderia fazer se não sofrer em silêncio?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
Definitivamente há uma chance de vir mais alguma coisa, pois o trecho "you're the one that I love and I'm saying goodbye" tá preso na minha mente. Quem sabe não leve mais um ano para ele sair.... HAHAHAHAHA
Obrigada a qualquer um que se arrisque a ler! Comentários construtivos são sempre bem-vindos



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Say Something" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.