– Receio que algo esteja terrivelmente errado aqui...

E o Aranha tinha razão. À sua frente, Eddie Brock estava caído, surrado e inconsciente. Mas, segundo Superman, Bizarro deveria estar ali em cima com ele. Então, onde estava Bizarro? E mais importante: onde estava o simbionte de Venom?

– Aranha, você tem mais experiência com Venom... Talvez você possa descobrir...

– Bom... O alienígena que forma o Venom com o Brock é um simbionte. Ele deve ter rejeitado Brock para se associar a alguém que ele considerou mais forte...

– Bizarro.

– Bizarro. Dá pra me explicar qualé a desse Bizarro?

– Tentaram me clonar anos atrás. O resultado é o Bizarro. É como uma cópia distorcida minha.

– Sei. Esquenta não, Super. Podia ser pior. O clone podia ter dado certo.

– Não entendi...

– Deixa pra lá. É uma longa história. No momento, temos que nos concentrar em achar o tal Bizarro. Ele tem os mesmos poderes que você?

– De certa forma. Mas todos "invertidos", se é que você me entende... Mas e você? O que está fazendo em Metrópolis?

– Soube do Venom e vim pra cá. Isso vai fazer um bem pra minha identidade secreta... Se é que você me entende.

– Perfeitamente. Mas não se preocupe. acho que ninguém... Espere!

A audição do Homem de Aço captou um estrondo, como uma tempestade. Mas vinha da rua, vários metrosabaixo. Os dois foram até a beirada do prédio e viram o simbionte Venom/Bizarro caminhando entre o trânsito, destruindo carros e prédios.

– Bom, Aranha... Como lidar com Venom?

– Ele é sensível ao fogo e ao som. E Bizarro?

– Ele é ingênuo e facilmente sugestionável.

Os dois saltaram, mas o Aranha parou muito antes do Superman. Com sua velocidade, o Homem de Aço chegou à rua, atingindo o simbionte, agora uma grotesca criatura de quase três metros. Seu ódio pelo Homem-Aranha também tinha crescido... Alimentado pelo ódio ao Superman. E, apesar do poderoso golpe, Bizarro continou avançando...

– Isso é demais! Como vim parar em Metrópolis? Ah, lembrei! O Jameson queria fotos do Aranha para sua nova coluna diária anti-Homem-Aranha. E sobrou pra mim! Como eu vou ajudar o Superman agora? Robbie e Tina sabem que estou em Metrópolis. Talvez se eu...

O Aranha voltou a subir no prédio, onde Brock estava:

– Eddie! Eddie, acorda! Sou eu...

– O que...!? Quem... Ah, seu FILHO DUMA...

– Calaboca, Brock! Seu "outro" foi levado pelo Bizarro! Se quiser vê-lo de novo, vai ter que me ajudar. Entendeu?

– Como quiser... Parker.

– Ótimo. Eu quero que você ligue para Robbie Robertson, no Clarim Diário...

Superman continuava tentando deter o avanco do Venom / Bizarro. Inutilmente. A visão de calor era anulada pela visão "gelada" do monstro. Os golpes do novo simbionte eram poderosos e, quando Superman tentou bloquear seu avanço com o corpo, sentiu os dentes do alienígena se cravarem em sua pele invulnerável. Foi quando o Aranha chegou à rua e, com uma bola de teia, bloqueou a visão do simbionte...

– Você está legal, Super?

– Mais ou menos. Pensei que você não quisesse se expôr...

– Não se preocupe, eu dei um jeito nisso. Agora vamos cuidar do simbionte!

O Aranha continuou soltando suas bolas de teia, confundindo o monstro. Superman aproveitou para acertá-lo com tudo. Mas, quando seus golpes não acertavam a massa liquefeita do simbionte, chocavam-se contra a muralha fortalecida do corpo de Bizarro. Até que o simbionte lançou uma teia grossa e viscosa, envolvendo o Homem de Aço em um casulo. Para desespero do Aranha.

– Isso é mal...

O Aracnídeo continuou saltando, tentando desesperadamente se esquivar dos golpes e teias do simbionte, quando ouviu um grito familiar:

– Ei! O que pensa que está fazendo!? Volte já aqui!

Era Brock, tentando reaver seu simbionte. A grotesca criatura caminhou até ele (dando tempo ao Homem-Aranha para livrar Superman do casulo). Brock continuou encarando seu "outro", apesar da deformidade causada pela simbiose com Bizarro.

– Nós vamos pra casa agora! Venha já pra cá!

A criatura rugiu, erguendo um punho para esmagar Brock. Superman o tirou do caminho, enquanto o Homem-Aranha pulou na cabeça do monstro, tentando cegá-lo. O Homem de Aço deixou Brock debaixo de uma marquise, voltando para o confronto, sob os protestos do antigo hospedeiro de Venom:

– Você não pode me deixar aqui, seu imbecil! Primeiro, vou pegar o meu outro, depois vou atrás de Kent, depois o Aranha e você!

Superman chegou a tempo de ver o monstro voando, com o Aranha grudado em sua cabeça, em direção ao prédio do Planeta Diário.

– Bom, Dra. McGee, é pegar ou largar.

– Eu ainda não estou certa dos benefícios que isso vai me trazer.

– Ora, Dra. McGee, a proposta do meu cliente não vai privá-la dos direitos sobre sua descoberta. Vai apenas transferir a responsabilidade para um laboratório maior, mais moderno e com muitos mais recursos para a conclusão de sua pesquisa. Os créditos e eventuais lucros decorrentes de seu estudo serão seus. Meu cliente deseja apenas associar seu nome à pesquisa.

– Mas, para isso, tenho que me mudar para a Costa Oeste...

– Não acredito que a mudança seja um empecilho, doutora. Afinal, sair dos laboratórios Delta para vir até a Universidade Empire State...

Tina começou a refletir sobre a proposta. Também tinha recebido uma proposta muito boa da Universidade Empire State, meses atrás, para deixar os laboratórios Delta. Agora um laboratório particular lhe fazia uma proposta ainda melhor. Realmente, sua pesquisa sobre mutação genética estava obtendo reconhecimento. Até a Gata Negra já tinha solicitado consultoria sua!

A Gata Negra...

Peter.

– ...não foi tão difícil assim. Estamos oferecendo melhores condições de trabalho, num laboratório adaptado para a sua pesquisa. E então? Aceita nossa proposta, dra. McGee?

– Sua proposta é: eu vou para a Costa Oeste, deixando o que tenho aqui para trás, para concluir minha pesquisa num dos laboratórios mais avançados do país?

– Exatamente. Se houver algo, ou alguém, que você queira levar para a Costa Oeste...

"Peter..."

– Não. Não há ninguém que eu queira levar comigo.

– Sangue de Cristo, alguém me TIRA DAQUI!!!

O Aranha continuava grudado no simbionte Venom / Bizarro, que voava na direção do Planeta Diário. Chegando lá, o monstro subiu no globo que servia de indicação do prédio e começou a urrar. Não mais alto que um certo Escalador de Paredes...

– SOCORRO!

– Calma aí, Aranha.

Superman tirou o Aranha de cima do bicho e voou, parando um pouco acima da cabeça do monstro.

– Que desespero...

– Desespero? EU!? Que nada. Só queria chamar sua atenção. Cadê o Brock?

– Lá embaixo.

– Precisamos dele. A única chance de separarmos Venom do Bizarro é o simbionte querer voltar pro Brock.

– E ele vai querer fazer isso? Ele está mais forte assim...

– Pode ser, mas o Brock o conhece melhor. Faz o seguinte: me larga aqui e vai atrás do Brock. Eu vou tentar me comunicar com o King Kong aí...

– Tem certeza que é seguro?

– Vai por mim, Super. Vai por mim...

Superman deixou o Aranha grudado no globo, em frente ao monstro, e foi atrás de Brock. A fera parou de gritar e começou a encarar o Aracnídeo:

– Hã... Oi! Escuta, eu não tou entendendo essa sua raiva? O que aconteceu? Unha encravada? Problemas conjugais? Teu time perdeu pro ASA de Arapiraca?

– GROARRRRRR!!!!!

– Nossa... Toquei num nervo exposto! Tudo bem, não vamos falar de futebol. Eu quero que você se acalme e...

– RANHHHHH.... RANHHHHHH...

– Ah, que monstrinho bunitinho, tentando me dizer alguma coisa...

– A... RANHHHHHAAAAAA... ARANHAAAAAA... ARANHAAAAAA...

– Sim, Aranha! Sou eu mesmo!

"Hmmm... O monstro tá erguendo os braços, como se quisesse me esmagar... Às vezes eu tenho a sensação de que falo demais..."

– PARKERRRR!!! Onde você foi parar, seu moleque!?

– Eu o mandei para Metrópolis, Jonah.

– Metrópolis, Robbie? Por que!?

– O Homem-Aranha e o Superman estão lutando com Venom e o Bizarro no centro da cidade.

– Superman? Claro! Esse sim, é um herói de verdade! Sem máscaras! Mas... Peraí, Robbie, como você sabia?

– Bom, como você está querendo fazer uma nova coluna sobre o Aranha, achei que seria uma boa termos algumas fotos do Venom e, como ele tinha raptado o Aranha...

– Raptado o Aranha? Que história é essa?

– Eddie Brock telefonou pra cá, Jonah. Ele disse que tinha raptado o Aranha e Clark Kent, do Planeta Diário, quando começou a enfrentar Bizarro. O Superman apareceu depois, uniu forças ao Aranha e o simbionte de Venom se uniu ao Bizarro. O Brock ligou para cá pra dizer que foi você que mandou o Superman atrás dele...

– Quem dera eu poder mandar o Superman atrás de alguém... Mas garanto que o primeiro Aracnídeo de minha lista não seria o Venom! De qualquer forma, parece que temos uma primeira página saindo, e com fotos de Peter Parker!

– É isso aí, Jonah.

– Excelente! Vamos ensinar àquele tal de Kent como se faz jornalismo de verdade!

– Arrã...

O Homem-Aranha tentou pensar em alguma piada para dizer antes que a criatura Venom / Bizarro o esmagasse. O melhor que conseguiu foi "Eu não devia ter mencionado o ASA de Arapiraca..." Mas, antes que o herói pudesse saltar, o monstro foi atingido por um murro do Superman. A criatura caiu de cima do globo, mas logo se recuperou e começou a voar em direção do Homem de Aço... que fugiu em direção aos céus! A criatura tentou acompanhá-lo mas, após quebrar a barreira do som, um estrondo sônico enfraqueceu o simbionte, o suficiente para que Superman o derrubasse no alto do Planeta Diário novamente, com um potente murro. O simbionte estava enfraquecido e rastejou para longe de Bizarro. O clone imperfeiro se levantou, tentando alcançar o simbionte que o tinha tornado tão poderoso, mas foi detido pelo Aranha:

– Peraí, Bizarro! Fica longe... Quer dizer...

– Fica no meu caminho!

– Hã... Mim ser... inimigo! Mim querer..., quer dizer, mim não querer ajudar...

– Ajudar? Como?

O simbionte foi rastejando em direção a Eddie Brock, formando um enfraquecido Venom:

– Você voltou... Meu outro voltou... Somos Venom novamente! E graças ao Aranha... Eu fiz o que ele pediu: telefonei para Robertson no Clarim Diário e contei a história que ele inventou. Isso vai proteger a identidade secreta de Parker. Estamos quites agora, Aranha. Não vou matá-lo - pelo menos, não hoje - mas voltaremos quando estivermos mais fortes... Você, Bizarro e Kent vão pagar por tudo que fizeram, Parker... Felizmente, Superman me trouxe até aqui... Para reaver o meu outro...

À noite, a camuflagem de Venom impediu que o Superman o visse, pois o Homem de Aço estava mais preocupado com o Aranha, que enfrentava Bizarro sozinho. Mas até que ele estava se saindo bem...

– Então, eu... Quer dizer, mim atrapalhar sua brincadeira. Mas você ter que ficar aqui... Pois a brincadeira não está em... Deserto do Saara!

– Não! Mim não gostar de aranhas! De nada, Homem-Aranha! Mim não ir para o Saara!

Bizarro saiu voando, já nem se lembrava mais do simbionte.

– Parabéns, Aranha. A mente distorcida do Bizarro é um desafio até para mim. - Eu, modéstia à parte, tirei de letra hehehe...

– ...

– Hã... Ei, cadê o Venom?

– Essa não! O simbionte estava aqui! Por que ele não atacou você quando teve a chance?

– Ele deve estar enfraquecido por causa do estrondo sônico. E, com o Bizarro fora do continente, ficamos livres dos dois por algum tempo.

– Assim espero. Só gostaria de poder arrumar uma solução definitiva para o Bizarro.

– Entendo. Por que você não leva ele pra passear com o Krypto?

– ...

– ...

Delegacia de Polícia de Nova York:

– Delegado Semeghini, encontraram mais...

O delegado Semeghini estava investigando o mistério dos homens-aranha mortos, sem sucesso, nos últimos meses. A situação se arrastava, a imprensa estava em cima do caso e, como o Homem-Aranha não aparecia para cooperar com a polícia, Semeghini estava tendo cada vez mais dificuldades.

– Me dê os detalhes.

– Quatro corpos...

– O QUÊ??

– Quatro corpos dessa vez, senhor. Todos vestidos como o Aranha, o que é a única coisa ligando os casos. Idades, sexo... nada coincide.

– A imprensa já sabe?

– Apenas de um dos corpos mas, se continuarem fazendo perguntas, logo vão chegar aos outros treze...

– Treze! Treze pessoas assassinadas em minha cidade e eu não consigo resolver isso! Eu não tenho escolha a não ser emitir um mandado de prisão para o Aranha!

– Mas, senhor... Eu achei que o senhor considerasse o Aranha um herói...

– E considero, mas esses crimes são, claramente, para atingí-lo de alguma forma. Mas a única maneira de descobrir o que está acontecendo é contar com a colaboração do Aracnídeo. Como ele está ocupado demais bancando o heróis solitário, sobra pra mim! A imprensa está caindo de pau - exceto o Clarim, que culpa o Aranha por tudo - e até o prefeito já me repreendeu. O prefeito considera o Aranha um herói desde os atentados de setembro... E ele tem razão, o Aranha tem feito muito por essa cidade há anos. Mas, para livrarmos a barra dele, precisamos dele aqui. Como ele não vem...

Semeghini abaixou a cabeça e pensou. Se chegasse ao conhecimento da imprensa que um mandado tinha sido feito para o Aranha, sua situação ficaria ainda pior. Não podia mandar prender o maior herói da cidade por um crime que, obviamente, não era ele quem estava cometendo. Foi quando teve uma idéia:

– Ei, oficial! Tem um jeito de resolvermos isso e livrarmos a cara do Aranha! Me ligue com Kim Fox agora!

– A advogada?

– Ela mesma! O Aranha o salvou no World Trade Center! Tenho certeza que ela vai querer retribuir o favor...

Epílogo:– Então, tudo resolvido aqui!?

– Sem dúvida, Aranha. Obrigado pela ajuda. Espero que você não tenha problemas com sua identidade secreta...

– Ah, não. Eu dei um jeitinho. A gente se vê, Super!

– Aranha, espere... Eu... estava pensando. Sua ajuda foi de grande valia hoje e eu soube dos seus esforços durante os ataques terroristas em Nova York...

– Bom... Eu faço o que posso...

– E faz muito bem. Você seria um membro valoroso da Liga da Justiça.

– ...

– Você aceita?

O Aranha se calou. Não estava acostumado a trabalhar em equipe, embora já tivesse colaborado com Vingadores e Quarteto Fantástico antes. Mas a Liga...

– Homem-Aranha, nós estamos dispostos a colocar uma série de recursos à sua disposição para que a Liga não interfira em sua vida...

– É exatamente esse o problema. Não me leve a mal, Super. Sei que a Liga não é pouca coisa. Mas... Bom, eu tenho minha vida, meu emprego... Acho que você não entende essas coisas. Sabe por que eu uso essa máscara?

– Sim, Aranha. Eu sei. A máscara não é para proteger você, mas para proteger as pessoas que você ama. Você, provavelmente, tem família e amigos e pessoas que se importam com você. E você ia se sentir culpado se algo acontecesse com eles, chegando ao ponto de esconder sua identidade deles mesmos. Eles não entendem você muito bem, mas ficam felizes quando o Aranha está por perto. Porque sabem que estão seguros. Como muitos na Liga.

– Eu... Eu...

– A Liga não é um clube ou um emprego, onde você cria um vínculo difícil de ser desfeito. A Liga existe para as pessoas que o Homem-Aranha protege. A diferença é que você não vai precisar mais trabalhar sozinho.

– Eu topo!