The Amazing Spider-Man escrita por Leinad Ineger


Capítulo 33
Capitulo 33 - Bom Dia


Notas iniciais do capítulo

O dia começa para Peter Parker, o Espetacular Homem-Aranha! Mas, em Nova York, esse dia calmo é o prenúncio de uma tempestade...



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É engraçado ter um emprego novo. Por pior que seja, há uma mistura de ansiedade e excitação quando acordamos para o trabalho. Novos colegas, novos afazeres, novas dores de cabeça... Mas isso acaba sendo tão doce, tão deliciosamente vantajoso, que a gente nem presta atenção nas mazelas.

Peter estava precisando disso. Viver uma nova vida, ver o mundo com novos olhos.

Ajustar a perspectiva.

As coisas pareciam estar dando muito certo, afinal.

– Bom dia, Peter.
– Bom dia, tia May. Quais as novas?
– Ora, me conte você – respondeu ela sorrindo. – Como está o emprego novo?
– É... É incrível, tia! Eu nunca tive a oportunidade de ver a ciência aplicada a algo tão... importante, de tanta... responsabilidade! O que eu faço no laboratório da polícia ajuda a deter criminosos, impedir novos crimes... Agora eu vejo que ainda tenho muito a aprender. Terminar a faculdade, dar aulas, isso não foi nada! Estou me sentindo no lugar certo, pela primeira vez na vida!
– Bom ouvir isso, Peter – respondeu May Parker, enquanto servia o desjejum ao sobrinho. – Depois de investir tanto na faculdade, é bom sentir-se parte de algo tão nobre. Tão gratificante.
– É verdade – continuou Peter, abocanhando um pedaço grande de panqueca. – O Dr Eisner é muito bacana. Tem também o Sam Stacy. O pai dele era primo do Capitão Stacy.
– Ora, vejam! Que mundo pequeno!
– E tem também a Mari...
– Mari?
– Marianne Potter. Garota legal.
– Mari, hein? – insinuou May com um sorriso.
– Nem pense nisso, tia.
– Não pensei, Petr. Não pensei.
– Te conheço. Mas, enfim: ganho mais do que na UES e passo menos stress do que no Clarim.
– Isso é ótimo, Peter. Já soube o que aquele horrível Homem-Aranha fez com o Abutre? Foi assustador...
– Nós estávamos trabalhando nesse caso. O Abutre matou...
– O Homem-Aranha quebrou os dois braços daquele pobre senhor. Não importa que crimes ele tenha cometido, mas parece que o Clarim tinha razão sobre uma coisa, afinal. E eu estou contente por você não depender mais das fotos que tirava dele, querido.
– Eu... Preciso ir, tia.

Peter se levantou e saiu apressado, não querendo prolongar uma discussão que, tinha certeza, não venceria. O Abutre confessara tudo depois da prisão. Quebrar seus braços foi uma maneira de extravasar a raiva e dar uma lição àquela ave que jamais esqueceria. Não tinha motivo nenhum pra pegar leve com um assassino.

Ou com seus cúmplices.

Enquanto isso:

– Bom dia, querida.

Heather estava acordada. Semeghini sabia que ela já estava acordada apenas pela maneira como ela respirava. Passou muitos dias, muitas noites, vendo o corpo inerte sobre a cama, o cérebro milagrosamente preservado dentro de um corpo falho. Ela passou muito tempo de olhos fechados. Semeghini só não sabia se rezando, dormindo ou esperando pela morte.

Desde que fora exonerado da polícia, Edward Semeghini passava praticamente o tempo todo ao lado de sua esposa. Sua recuperação era impressionante. Meses atrás, ela não era capaz de comer ou se limpar sozinha. Agora, queria voltar a escrever e cantarolava baixinho as músicas que, antes, ele cantava para ela.

Antes do Doutor Octopus curá-la.

Semeghini passara anos culpando Octuopus pela condição de sua mulher. Em uma batalha com o Homem-Aranha, o vilão arremessou um carro nela. A lesão na espinha a mantinha presa à cama, incapaz de falar, se mexer.

Ou amar.

Em troca de sua liberdade, Octopus a curou. A policia conseguiu abafar o caso, forçando Semeghini a pedir exoneração. Um acordo garantia que ele recebesse seus ordenados enquanto era investigado pela corregedoria.

Mas ele não se importava com nenhuma dessas coisas.

Enquanto Heather dormia, Semeghini agia livremente como o Vigilante, nas sombras da Grande Maçã.

– Hmmm... Bom dia. Como sabia que eu estava acordada?
– Você nunca me enganou.

Na verdade, Semeghini a vira dormir por anos. Não havia um só dia, desde então, que não agradecesse a Deus, com lágrimas nos olhos, por ter sua mulher de volta.

Por quaisquer meios necessários.

Felizmente, Heather o apoiou, apesar do preço. A carreira do marido estava arruinada, mas ela não queria passar o resto dos seus dias numa cama e sabia que ele não aceitaria isso.

Estavam juntos novamente.

Era tudo que importava.

– Eu amo você, Heather.
– Eu sei, Edward. Você nunca me enganou.

De volta ao laboratório da polícia:

– Bom dia, Peter.
– Hã? Ah, oi. Oi, Mari. Como está o seu irmão?
– O Harry? Ficou com uma cicatriz na testa, mas tudo bem.
– Eu deixei uma cicatriz na testa do Harry Potter?
– Ele levou numa boa, relaxa. Você tem uma força e tanto, Peter. O Harry falou que a porta quase arrancou a cabeça dele.
– Eu sou meio desastrado.
– Ah, imagina. Escuta, eu estava pensando se você...
– Olha, não é o Stacy ali? Ei! Sam!
– ... não estava a fim de...

Peter deixou Mari para trás e foi falar com Samuel Stacy. A garota se sentiu constrangida por ser ignorada dessa forma, mas sabia quando era hora de tirar o time de campo.

Contudo, alguma coisa em Peter Parker não se encaixava e ela ainda ia descobrir o que era!

– Bom dia, Peter.
– Tudo certo aí?
– Tudo. Viu as notícias? O Aranha prendeu o Abutre e o velhote confessou ter matado o Juiz Hilbert. Nosso caso está encerrado. Parecia até que o Aranha foi atrás do Abutre só pra isso.
– Por que diz isso?
– O Aranha foi direto até o covil do Abutre, logo depois do assassinato, e quebrou os dois braços dele.
– Bom, o Abutre é um assassino. Acho que ele merecia isso, não?
– Talvez. Mas ver o Aranha agindo dessa forma... Eu já disse o que penso daquela roupa preta. Parece um mau presságio. Espero estar enganado, ou logo estaremos analisando pistas pra prender o Aracnídeo.

Peter se afastou sem dizer nada. Não tinha como explicar para Sam Stacy tudo que havia passado. As mortes, o sangue, os pesadelos, a dor... Desde o incidente com a Mulher-Aranha, teve poucas oportunidades de testar suas novas teias orgânicas. Mas elas pareciam, de longe, mais confiáveis que seus antigos lançadores. Já estava adaptado a elas. Mas o uniforme negro, a mudança de atitude... Será que era tão difícil assim entender que o Homem-Aranha estava apenas reagindo à altura dos últimos acontecimentos?

Talvez devesse se concentrar no trabalho. Analisar suas teias orgânicas, descobrir como sua fisiologia as processava.

Mas em quem iria confiar?

Quem teria coragem de fazer o que precisava ser feito?

Snap!

Afastou o pensamento e tentou começar a trabalhar, sob o olhar curioso de Mari Potter.

– Bom dia, Nova York! Aqui é a KNAC, trazendo a programação...

Mitch Hundred podia ouvir tudo.

Desde telefones celulares, alarmes de carro e caixas eletrônicos até marca-passos, relés de tempo e higrômetros digitais. Desde o estranho acidente que lhe conferiu poderes, não havia nenhum aparelho eletro-eletrônico que não pudesse ouvir. Falava a mesma língua que eles, era capaz de controlá-los com um simples comando vocal.

Mesmo assim, sentia-se terrivelmente sozinho.

Agir ao lado do Homem-Aranha e do Vigilante como Grande Máquina tinha sido uma das experiências mais memoráveis de sua vida. A batalha com o Super-Patriota no coração de Manhattan o colocara na ribalta dos super-heróis de Nova York – posto usualmente ocupado pelo Quarteto Fantástico e pelos Vingadores.

Ouviu pessoas comentando em seus celulares, canais de TV com matérias especiais e até programas de rádio se perguntando quem era esse novo herói. Todos queriam um pedaço do Grande Máquina, a nova sensação de Nova York.

Ainda tinha seu emprego, tinha alguns amigos o ajudando nessa empreitada, e contava com a confiança da população. Mas seria o bastante? Até quando seria o queridinho da mídia? Até sua próxima aparição? Até cometer um erro?

Nova York era uma excelente cidade, com um grande povo. Infelizmente, a opinião pública mudava de maneira rápida, inclemente e imprevisível. Eram necessárias tragédias como o 11 de setembro para unir a população, mas, afora isso, não havia um líder, não havia alguém que representasse o que a cidade tinha de melhor, que fosse uma referência.

Claro, a cidade tinha seus cidadãos proeminentes, como Tony Stark. Grandes ícones, como o Capitão América. E Reed Richards, que era as duas coisas. Mas não era como em Metrópolis, que tinha o Superman e Lex Luthor. O mundo inteiro conhecia o Superman, Lex Luthor era o presidente dos Estados Unidos, e a imagem de ambos estava irrevogavelmente atrelada à de Metrópolis.

Eles eram Metrópolis.

Quem podia dizer o mesmo em Nova York?

Mitch Hundred podia ouvir tudo, mas só agora começava a enxergar o que estava bem diante de seu nariz.

Fim do expediente:

– Bom diaaaa!
– Como é?!
– Você está olhando pra essa tela de computador como um zumbi, Peter. Acorda pra vida! Vai ficar até mais tarde?
– Não, eu... Tinha mergulhado. No trabalho. Estava vendo essa lista de casos não resolvidos.
– Hmmm... Posso? Ah, eu lembro desse. William Thorne, advogado. Assassinado, possivelmente a mando de Wilson Fisk. Envolvimento da Gata Negra. Por que estava concentrado nesse caso, Peter?
– Foi por acaso. A propósito, eu não vi o Dr Eisner hoje...
– Ele tem uma reunião amanhã no Empire State com as autoridades municipais. Sabe como é, as eleições estão chegando e o partido quer se armar pra que Luthor não seja reeleito. Vale até aliança entre Democratas e Republicanos. Quer uma carona pra casa, Pete?
– Valeu, Mari, mas eu vou a pé. Na verdade, eu estava querendo falar com o Sam, mas acho que ele já foi...
– Ah. Claro.

Se Peter tivesse aceitado a carona, aquele dia teria terminado de maneira bem diferente.

Ele não teria, por exemplo, passado em frente ao restaurante onde Mary Jane estava jantando com o astronauta John Jameson.

Ele podia ter aceitado a carona, mas é impressionante como esses detalhes parecem feitos pra acabar com o dia da gente.

Não que tenha sido fácil pra Mary Jane. Ela também o viu, pela grande janela envidraçada do restaurante. Mesmo sem “sentido de aranha”, ela imediatamente percebeu que alguém parou na calçada para observá-la. Na fração de segundo que levou para levantar o olhar, soube que não era um paparazzi, um fã ou algum conhecido qualquer.

Mesmo a uma distância de dez metros, ela reconheceu em Peter aquele olhar que dizia “mas que diabos...?!” Durante os poucos anos que foram casados, foram mais íntimos do que a maioria dos casais consegue ser. Ela conhecia Peter melhor do que ele mesmo, melhor do que a si. Acompanhara as notícias dos últimos dias, sabia que ele estava passando por uma fase... amarga, pra dizer o mínimo. Confrontos violentos, o uniforme negro – que ela tanto detestava – o Homem-Areia, o Justiceiro, Dr Octopus, o Abutre, Edward Semeghini – seu amigo na polícia – exonerado...

Talvez... Não. “Talvez”, não. Certamente Peter precisava conversar, mas ele nunca mais a procurara. Talvez fosse a hora de ela parar de esperar um pretexto pra ir atrás dele e...

– Mary Jane?
– O que?
– O que foi? Você ficou... distante, de repente...
– Não, eu...

Olhou para fora de novo, mas Peter não estava mais lá.

– Não é nada, John. Pensei ter visto alguém. Não foi nada.

John estava cego pela estonteante beleza de Mary Jane, mas, ainda assim, notou que o sorriso forçado era indigno de uma atriz com as qualidades dela.

– Bom dia, Harriet.
– Senhor Osborn? São oito da noite!
– Oito da manhã no Japão, Harriet. Bom dia.

Norman Osborn entrou em seu escritório após passar o dia todo negociando a compra de indústrias químicas falidas em Gotham City. Era difícil conseguir fechar um negócio por lá... Parecia que Bruce Wayne sempre chegava primeiro. De qualquer forma, tinha feito um excelente negócio. Mas, ao abrir a edição do dia do Clarim Diário, se deparou com uma matéria... incomum.

– Ora... Ele finalmente enlouqueceu!?

O Abutre tinha sido preso pelo Homem-Aranha e afirmava, categoricamente, que o Aracnídeo quebrou seus dois braços no processo! O que aquilo significava? Homem-Aranha sinistro e misterioso? Violência. Fúria. E aquela roupa preta ridícula? Quem Peter achava que era? O maldito Batman!?

Abriu um grande sorriso. Talvez tivesse que mudar seus planos. Ou apressar velhas idéias que tinha para o garoto, fazer alguns contatos...

No fundo, isso não mudava nada.

Era um excelente dia, afinal.

E assim por diante.


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Notas finais do capítulo

A seguir: Seqüestro no Empire State!"



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