The Amazing Spider-Man escrita por Leinad Ineger
23:58
Ela não costuma pensar muito antes de fazer esse tipo de coisa, mesmo sabendo que vai doer. Muito. Com a prática, ela até achava natural.
E ninguém praticava mais do que ela.
Seus golpes eram certeiros. Os dedos, estrategicamente calejados, impunham a força que o soco exigia. Ainda que suas mãos fossem delicadas e bem tratadas.
Seu alvo, um boneco de madeira rígida, não resistiu muito tempo.
Ela respirou, profunda e pausadamente, enquanto a poeira se espalhava pelo apartamento. Era um momento quase zen, de descarregar a fúria e aguardar até que a pressão sanguínea baixasse, lentamente...
O telefone tocou, tirando-a do transe. Ninguém tinha aquele número, ninguém ligaria naquele horário. A menos que...
Ela atendeu, sabendo o que a voz do outro lado da linha diria:
– Josephine...
Duas noites depois...
Um certo Amigão da Vizinhança balança entre os prédios de Manhattan, pensando, obviamente, nela.
– Eu posso mandar flores, mas dá muito na cara... Mas não é pra dar na cara mesmo? Afinal, a gente já se conhece. Mas eu mando flores... E aí? Convido pra sair? Claro. Então, marcianos brancos invadem a Terra, o Doutor Destino tenta afundar Nova York ou o Gorila Grodd foge do zôo e se muda pra minha casa. O encontro vai pro brejo. E se eu ficar só nas flores...?
A noite estava tranqüila, o clima ameno ajudava a relaxar. Não estava tão frio quanto no Natal, mas era assim que ele gostava.
Parou no topo de um edifício envolto em teias, sua silhueta contra a lua.
– Onde você está agora, MJ?
Foi quando o Homem-Aranha notou uma presença incomum num prédio próximo. Uma mulher escalando um arranha-céu no melhor estilo “aracnídeo”, os longos cabelos loiros descendo pelo seu corpo. A princípio, o Aranha achou tratar-se da Mulher-Aranha, mas não estava usando o uniforme tradicional. Apenas uma roupa preta, como uma ninja.
O Aranha saltou até o prédio e foi escalando até alcança-la. Quando conseguiu emparelhar com ela (a garota devia estar em forma, era bem rápida!), deu-lhe um cutucão no ombro:
– Faz favor, dona... Eu perdi minha lente de contato. Me ajuda a procurar?
Porém, ao contrário do que o Aranha esperava, ela não se assustou. Apenas desconectou as ventosas eletrônicas que prendiam suas mãos à parede e sacou uma arma, com incrível velocidade, e disparou. Foi o Sentido de Aranha que impediu nosso herói de ser atingido pelos dardos da arma. Dando uma seqüência de três saltos...
Nota do autor: imagine o Aranha quicando numa parede de vidro vertical, a 42 metros de altura, numa noite estrelada de 13 graus, ao lado de uma loira irresistível usando colante preto. Eu sei, a cena já está toda descrita no parágrafo, mas eu não consigo tira-la dos olhos!
... e partindo para o contra-ataque. A janela, porém, não resistiu ao impacto, e ambos caíram dentro de um amplo escritório.
– Olha só... – disse o Aranha, em cima da misteriosa invasora. – De que adianta fazer vidros à prova de balas se a janela é toda montada em plástico? Não é a toa que... UNGH!
Ela tinha pernas estonteantes, olhos verdes capazes de destruir a índole de um homem e um cruzado de direita que... rapaz! Mas, antes que pudessem continuar sua “conversa”, a segurança do escritório (três homens, ao todo) já tinha armas apontadas para ambos.
Foram levados para um cubículo e trancados lá, enquanto os seguranças decidiam o que fazer com a dupla.
– Orgulhoso, “herói”? Você estragou minha missão!
– Missão? Estraguei!? Qualé, o que custava me dizer que você estava numa missão? Era só falar: “Desculpe, senhor Aranha, mas estou no meio de uma missão”! Mas você fez isso? Nããão... Foi logo passando chumbo em mim...
– Eram dardos tranqüilizantes, eu não ia te matar...
– Ah, não!? Então você me tranqüiliza, eu caio duma altura daquelas e me arrebento todo no asfalto, belo e tranqüilizado? Você deve ser do tipo que pensa que, só porque uso roupa colorida, volto da morte o tempo todo...
– Você nunca cala a boca?
– ...
– ...
– ...
– Melhor assim, obrigada.
– De nada, mas não começa a pensar que você é a chefa aqui, só porque te fiz um favor e não suporto mulher que reclama de tudo, porque se eu fosse um cara quieto, como o Batman, você ia reclamar do silêncio e implorar pra eu falar alguma coisa...
– Ghrmph...
– Quifoi!?
– Cala essa boca agora!
– Vem calar, arremedo de James Bond...
Nesse instante, um dos seguranças abriu a porta para silenciar (definitivamente), a gritaria dos dois, mas o golpe da loira o nocauteou de imediato. O Aranha saltou pela porta, inutilizando os outros dois – o primeiro com uma bola de teia, e o segundo com a boa e velha muqueta na fuça.
– Parabéns, Aranha. Belo plano.
– Plano?
– Era um plano, não era?
– ...
– Aranha...
– Claro, claro. Era um plano. E, já que trabalhamos bem em equipe, que tal me contar o que você estava fazendo pendurada num prédio a essa hora da noite?
– Estamos no escritório da Umbrella Corporation, Aranha. Essa empresa fornece equipamentos para o Governo Luthor, mas as pessoas para quem trabalho estão desconfiadas que essa empresa, na verdade, é fachada para fabricação de armas químicas. E você? O que fazia pendurado num prédio a essa hora da noite?
– Perdi minha lente de contato, lembra?
– Claro... Mas e aí? Vai me ajudar?
– Moça, eu nem sei...
– Nikita.
– ...
– Mais alguma coisa?
– Bonito nome.
Enquanto isso, em Gotham City...
– Alguém está invadindo os computadores da Umbrella Corporation.
– Rastreie, descubra quem é e copie os dados.
– Feito, Batman. Enquanto estivermos monitorando as empresas ligadas ao governo Luthor, nada vai escapar.
– Bom trabalho, Oráculo. Alguma pista do invasor?
– Por enquanto não, mas ele deixou uma assinatura: “alguém aí viu minha lente?”
De volta a Nova York.
– Muito engraçado, Aranha. Não te ocorreu que alguém pode te rastrear?
– Que nada. É piada nova. Daqui a pouco o Deadpool ta imitando. Mas escuta... Que garantia eu tenho de que você falou a verdade?
– Bom, eu não roubei nada, não matei ninguém...
– Roubou informações!
– Eu não roubei. Copiei.
– Muuuito engraçado. E se...
Sentido de Aranha. Um dos seguranças tinha acordado e pressionado um botão na parede, sorrindo maldosamente. Uma porta de aço se abriu atrás dele e o que parecia ser a carcaça de um dobermann saltou, trucidando a garganta do desavisado agente. O Aranha e Nikita se olharam:
– A casa caiu, Nikita.
– Conta a piada da lente pra ele...
O Aranha agarrou Nikita e saltou, grudando no teto. Mas faltava pouco para que o dobermann os alcançasse. Pularam até uma mesa e, de lá, cada um para um lado. A criatura foi atrás de Nikita.
Encurralada contra uma parede, o Homem-Aranha tentava conter os avanços da fera com sua teia. Porém, a carne putrefata parecia imune à dor.
A fera avançava.
– Nikita, saia daí!
Ela ainda tinha os dardos tranqüilizantes, mas o que garantia que funcionariam? AS teias começavam a perder resistência e aderência...
– Nikita!
Ela só teria uma chance. O dobermann destruiu com os dentes os últimos fios de teia, sua carne ensangüentada pendurada ao longo do corpo. O cheiro de sangue em suas presas chegava até as narinas, instigando, enfurecendo...
Até o momento do ataque.
– Não!
Com um golpe decisivo, na ponta do focinho, Nikita conseguiu atordoar o cachorro tempo suficiente para que o Aranha o prendesse em um enorme casulo de teia.
– Uau! Você ta bem?
– Sim, Aranha. Obrigada. Essa foi por pouco.
– É melhor sairmos daqui antes que apareçam mais. Mas por que eu ainda me sinto como se estivesse ajudando uma criminosa?
– Aranha, o que eu faço está à margem da Lei, mas alguém tem que investigar esse lugar, livre das restrições governamentais do Luthor.
– Entendo. Bom, vai ser do seu jeito, então. Se isso puder garantir que não vamos ter mais bichos como esses correndo por aí...
– Nós trabalhamos de forma diferente, Aranha. Apenas confie em mim.
Os dois saíram antes que o prédio fosse interditado e seguiram caminhos separados, uma vez mais.
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