Desertoras escrita por Beatriz Carvalho, Lua


Capítulo 2
Capítulo 2- Z12's P.O.V.


Notas iniciais do capítulo

Lua: MINHA VEIX NESSA POURRA Bia: *hugga ela* Eu senti falta da fic, Tsuki-chan! Lua: Desculpa pela demora, Kyojin-chan ;-; Bia: Anyway, se divirtam e vejam como é ELA quem me humilha. Lua: Hahá, boa piada.



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Capítulo 2 - Z12´s P.O.V.

Eu já tinha acordado bem antes daquela aranha idiota de cabelo azul. Sério, qual era o problema dela? Ela não devia entender as regras de sobrevivência da Ala Z daquele orfanato. Bem, aquela seguidora de Aracne que se fudesse! Mesmo assim, não a aguentava falando mal de mim sem ao menos saber o que eu tive que aguentar e o que me fez ficar assim. Ela era realmente uma idiota.

Saí do quarto dela; a única coisa que ela tinha de bom era o gosto musical. Eu juro que só o quarto dela que prestava; se bem que ela deveria ter escolhido os primeiros CDs e vinis que achou, só pode. Gente idiota nunca tem um bom gosto musical. É um fato.

Ela ainda não havia acordado, então achei que conseguiria passar, minimamente, o resto do dia longe daquela garota. Problemática. Giganta. Aranha. Quem me dera poder passar qualquer segundo longe dela. Parei de pensar na maldita e apreciei os segundos que estava passando sem ela. Acho que estava até começando a sentir falta de seus xingamentos. Não, esquece. A vida era realmente melhor sem ela.

Peguei meu café da manhã no grande refeitório e saí correndo o mais escondida possível por entre as mesas das Alas. O meu objetivo era simplesmente sair do prédio. Ficar longe de todos. Não arrumar confusão. E simplesmente achar um jeito de ficar pelo menos mais alguns segundos longe daquela aranha peçonhenta de araque. O problema era passar pelas mesas. Eu era conhecida. Na Ala Z, principalmente. E não era o tipo “conhecida” no sentido legal. Nem perto disso. E agora faltavam poucos segundos para que eu passasse pela mesa aonde as pessoas que me “conheciam” estavam.

No último momento, mudei de ideia. Passar por aquelas pessoas não seria nada, mas nada bom. Entrei pelo corredor à minha esquerda, que dava para os quartos da Ala Z. O lugar, como sempre, estava vazio. Todos os integrantes da Ala Z não eram muito chegados aos quartos. Qualquer um que ficasse lá por mais que o tempo necessário para dormir já provavelmente arranjaria um nariz quebrado, um braço torcido ou, no mínimo, algum machucado, uma suspensão por causa de uma briga, etc. O pessoal de lá gostava de uma briga, mas precisava de um motivo para isso, mesmo que mínimo. Acho que isso resume um pouco do que era a Ala Z. E também resume um pouco a explicação do por quê de eu ser forte assim.

Fui até o meu quarto deixando que a felicidade que sentia por não ter sido vista me fizesse flutuar. Abri o pacotinho aonde a Sra. Troggins mandava seus funcionários enfiarem um pão e um pedacinho de queijo que eram o nosso café da manhã. Comi com calma, primeiro o pão, puxando primeiro o miolo e depois guardando o resto em um dos bolsos,

para quando tivesse fome mais tarde. Saboreei o queijo com calma. Eu adorava queijo. Era como se algum deus tivesse descido do Olimpo para a terra pra dar queijo pras pessoas. Não duvido.

Por sorte, eu era respeitada naquele conjuntinho idiota de quartos, assim, meu quarto estava exatamente do jeito que eu o havia deixado. Na verdade ele era relativamente bagunçado. E eu não ligava nada pra isso. Fui até um canto do quarto, aonde eu guardava uma caixinha com as minhas coisas preciosas e a abri, sentindo seu cheiro. Talvez eu fosse realmente estranha. Louca. Mas isso não dava direito à magricela, pernas-de-aranha, Seguidora de Aracne peçonhenta repetir isso em voz alta. Merda, pensei, Eu não prometi parar de pensar naquela imbecil e aproveitar o tempo em ela?. Mordi o lábio inferior. Vou parar, me prometi, eu juro.

Voltei a atenção novamente para a caixinha. Nela eu guardava algumas fitas com músicas dos Smiths, Beatles, Led Zeppelin, U2, Eric Clepton, Bon Jovi, Elton John, alguns blues pouco conhecidos, Creedence, Chico Buarque, Rita Lee, e até alguns clássicos de piano que eu gostava, admito. Eram fitas conseguidas quase em um contrabando que, a pouco tempo, eu havia descoberto que existia naquele orfanato. Se você escrevesse, em uma certa parede da Ala X, o nome de algumas bandas ou músicas e do lado, sempre com a mesma caneta, o que você daria em recompensa pela fita com as músicas gravadas um membro da Ala X que visse e aceitasse a recompensa escreveria “Cabelo?” ao lado dos seus escritos. Ai era só você dizer qual(is) era(m) a(s) cor(es) do seu cabelo (nenhum estilo de cabelo se repetia naquele orfanato) e a fita era entregue pra você no seu quarto, depois de dada a recompensa para o membro do X (era assim que costumávamos chamá-los popularmente).

Já o walkman, azul escuro desbotado, descascado em alguns cantos, fora mais difícil de conseguir. Não é preciso dizer que eu já havia entrado em muitas brigas, àquela altura da minha vida, mas aquela havia sido excepcionalmente grande e sangrenta. Começou logo na minha chegada à Ala Z. Como vocês já devem imaginar, eu me encaixava na vida e no estilo da Ala Z, mas a parte que vocês não devem imaginar (e que é sempre a melhor parte) é que eu me encaixaria igualmente em qualquer uma delas, na verdade, mas como a Ala Z precisava de mais integrantes me enfiaram lá. Eu fiz jus ao meu título de integrante da Ala Z logo no primeiro dia. Isso meio que me fez bem. Mas só meio. Por que uma fama desse tipo pode fazer tanto pessoas te respeitarem quanto te desafiarem. Mas bom, o que vocês precisam saber não é isso.

Afinal, tudo começou no dia 18 de Novembro de 1982, na tarde chuvosa da minha chegada ao orfanato. Eu estava na rua, na chuva. Eu gosto de chuva, na verdade, gosto do jeito como ela molha as coisas, do cheiro do cimento molhado. Uma mulher meio corcunda, que me lembrava uma tartaruga, gritou da calçada ao meu lado e eu, é claro, prestei

atenção nela. A mulher estava parada, com as mãos quase na cabeça, de frente para um homem que insistia que ela passasse para ele tudo o que tinha; um assalto. O homem não estava armado e, como na época não sabia que a melhor coisa a fazer é sempre, sempre, SEMPRE, ficar na sua e deixar a vida acontecer, eu decidi ajudar a velha. Na verdade ela não era tão velha, mas assim a história fica mais legal e não parece que eu salvei uma mulherzinha que estava dando gritinhos por causa de um cara desarmado. Eu fui pra cima do assaltante e o bati até que ele ficou inconsciente. O que eu não sabia era que a mulher era a Sra. Troggins.

Depois de uma série demorada de perguntas, a mulher descobriu que eu não tinha uma casa, que era uma órfã. Quando ela perguntou meu nome, eu menti, é claro. Não deixaria que ela tirasse me mim a única coisa que eu tinha, a única memória da minha mãe. Sua cara pálida e doente dizendo “Eu te amo Chihiro”, as lágrimas escorrendo por suas maçãs do rosto flácidas… Foi a única vez que eu vi ela na vida. A primeira e a última. E eu não deixaria que isso fosse de mais ninguém; era só meu e eu não compartilharia algo assim com uma mulher qualquer, com ninguém na verdade. A mulher me disse que se chamava Myra, Myra Troggins e que era dona de um orfanato. Ao som dessas palavras eu corri, pelo menos, tentei correr, por que Myra agarrou meu punho com um aperto forte de unhas longas.

–Sabe, você se daria bem na Ala Z. -foram suas únicas palavras antes de me arrastar à força para seu orfanato, com um sorriso quase maldoso e ao mesmo tempo gentil, como se ela acreditasse que o que estava fazendo era bom, ótimo.

Quando cheguei no orfanato de Myra, me deram roupas, fizeram uma ficha para mim com os meus “dados” e ela me perguntou, parecendo pela primeira vez animada, de que cores eu gostaria que fosse o meu cabelo e eu fiquei confusa:

–Como assim? -disse, torcendo o nariz.

–Um dia, eu deixei que minhas crianças saíssem do orfanato e comprassem umas coisinhas, tingissem o cabelo, fizessem tatuagens. Como não posso mais fazer exatamente isso no momento, deixo que as novatas escolham a cor dos seus cabelos e os tinjam.

–Ah... Uhm... As cores do Arco-íris.

–Arco-íris?

–É, vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e roxo. Em ordem.

–Ta bom.

E com essa conversa ela me levou para uma sala branca, branca demais, como o resto de todas as paredes que eu veria durante um bom tempo. Lá eles tingiram o meu cabelo e o deixaram do jeito que está até hoje. Depois me deixaram na Ala Z, onde um homem grande de pele escura, que eu depois descobriria ser o X, me indicou um quarto e me deu boa sorte. Passei os primeiros minutos da minha vida no orfanato

deitada na cama que havia no meu quarto, olhando para o teto branco demais e na verdade nem percebi o menino alto, forte e branquelo que estava parado na porta do meu quarto até que ele me chamou.

–Ei, novata!- eu me virei no mesmo segundo, me pondo de pé na frente do menino.

–O que você quer?- respondi da maneira mais hostil possível, como se deixasse veneno escapar nas palavras.

–Acalma essa fúria ai- ele disse, com um sorriso de deboche- se usar toda a sua energia pra isso não vai passar um dia viva aqui -ele me olhou de cima à baixo- muito menos com esse tamanho.

Fitei ele com olhos raivosos e retruquei, fingindo fofura e amizade, sorrindo:

–Eu uso minha hostilidade com quem eu quiser, meu queridinho. Agora sai da minha frente ou responde a merda da pergunta, loirinho!

–Eu só ia te dizer que ficar no seu quarto não é um bom jeito de sobreviver à Ala Z, baixinha, e que queria ser o primeiro e te desafiar hoje.- fiz uma cara confusa e ele explicou- A cada dia, duas pessoas da Ala Z se desafiam para uma luta. É a única luta sem um exato propósito que acontece entre a gente, e é praticamente uma tradição desafiar os novatos no primeiro dia deles.

–Uhm, ótimo então. Acho que te vejo depois, quando você vai ser derrotado por uma novata.- o olhei com desafio e ele fez uma careta.

–Acho que seria bom você treinar antes… Acho uma covardia enfrentar alguém que nunca teve acesso às brigas da Ala Z. É claro que ninguém sabe que eu acho isso, mas você não vai estar em muito boa condição depois da nossa briga pra que consiga contar para alguém. -ele tinha um sorrio malicioso nos lábios.

–Certo, sr. Idealizações de um menino perfeito, então me treine, se é assim, eu não ligo.- disse, dando de ombros.

Passei quase o dia inteiro levando surras do loirinho, que me dizia como eu deveria lutar, etc., etc. No fim, tipo, quase de madrugada, eu derrotei ele, prendi ele no chão segurando seus braços.

–Finalmente- ele disse, e eu pude ouvir que ele estava sorrindo- Achei que você nunca ia conseguir. Agora me solta e vamos logo, temos que dormir para que amanhã meu desafio seja justo. E não pense que vou te deixar ganhar que nem agora.

–Está bem. - eu disse, sem antes dar um torcidinha no pulso dele.

–Você é impossível, Arco-íris.

–Cala a boca, loirinho.

E assim ele foi para o seu quarto. Talvez ele gostasse de mim. Nunca tive como saber, por que para ele, tudo acabou no dia daquele desafio.

Na manhã seguinte eu fui acordada pela luz do sol e, seguindo os conselhos do loirinho, sai o mais rápido possível do meu quarto, indo para onde fiquei sabendo ser o refeitório. Peguei a tradicional trouxa

de pão e queijo e saboreei o cheiro do pão e queijo frescos. Eu estava faminta. Mas é claro que eu não era idiota. Puxei o miolo do pão, como faria por mais muitos anos, o comi e guardei o resto para depois, cheirei o queijo e mordi um pedacinho, colocando o resto envolto no pão.

Não demorou muito tempo para que a Sra. Troggins, que eu costumava chamar de Myra, vir falar comigo.

–Bom dia minha querida Z12. Esse é seu nome a partir de agora. Esta tudo bem?

–Sim, senhora, Myra.

–Ótimo então. Aquela - ela disse, apontando- é a sua mesa, onde todos da sua Ala se sentam. Fique a vontade.

E com isso se retirou, me deixando a direção da mesa gravada na cabeça. Andei até lá, a comida escondida nos bolsos. A primeira pessoa que encontrei, por acaso, foi o loirinho:

–Bom dia baixinha, pronta para o desafio de hoje? Você vai ser trucidada - ele riu- o pessoal daqui não te ama muito... Te desafiaram pra duas seguidas! Eu preciso conseguir te vencer na primeira... Uma baixinha idiota que nem você não deve ser difícil. - ele tinha um sorriso malicioso esboçado nos lábios. E isso contou para o meu estoque de raiva.

– Cala a boca, imbecil. Que horas é a merda da luta? Aonde?

–Esfria essa cabecinha- ele disse, me dando um cascudo. E isso também foi para o estoque.- daqui a 5 minutos. Dentro dos corredores da Ala Z. Te vejo lá!

E com essas palavras o loirinho de deixou. Eu corri para a Ala Z. Lembrava de ter visto algumas barras dentro do meu quartinho.

Realmente haviam barras no quarto. Passei todos os meus cinco minutos treinando, fazendo flexões, essas coisas... Já estava nos corredores antes que o loirinho pudesse vir me chamar. Ele começou a reclamar para mim que tinham colocado outro adversário na frente dele. Isso encheu minha paciência. Mas eu lutei ao máximo para não deixar esse ódio do loirinho todo na menina que estava me desafiando.

Ela não era das melhores. Descobri rápido seus pontos fracos e só a imobilizei no chão. Ouvi vivas. Foi ai que toda minha reputação começou. Mas nada se compara ao que aconteceu a seguir. Era a vez do loirinho. Ele fez questão de não parar de me irritar por um segundo sequer. Eu estava com raiva. Raiva demais. Eu conhecia o estilo de luta dele.

–Você nem conheceu seus pais. Sua vida é um lixo. Você nunca vai saber se sua mãe te amava. Não deveria amar, já que te deixou pra definhar nessa merda de orfanato.

E essa foi a gota d'água. A voz fina e irritante do loirinho penetrou na minha cabeça como uma faca, minha visão enuviou... Não me lembro o que aconteceu. As cenas foram deletadas da minha memória. Só

sei que eu fui pra cima dele. Não parei até ouvir um barulho estranho. Eu consegui ver as coisas. Eu tinha quebrado o pescoço do garoto.

Ele não sobreviveu. Todos os pertences dele ficaram comigo, por quase um contrabando da Ala Z, já que eu fiquei de detenção. A partir daquele momento todos começaram a me respeitar. Por mais que eu tivesse passado uma semana fazendo trabalho pesado e conversando só com Myra. Quando eu voltei para a Ala Z ninguém ousou me desafiar. Ficavam longe de mim nos corredores. Foi só um quando entrei no meu quarto pela primeira vez depois da detenção que percebi. Os pertences do loirinho estava ali. Pelo menos foi o que eu deduzi. Entre eles estava meu walkman.

***

Me levanto, espantando os devaneios sobre aqueles dias. Tinha que sair logo do prédio. Corri pelos corredores da Ala Z até uma saída que dava para um varanda. Me sentei com os pés para fora do prédio e comecei a comer as sobras do meu café da manhã bem devagar. Mal sabia eu que aquele lugar também era uma saída da Ala F.


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Notas finais do capítulo

Lua: A Beabea quase me matou pq eu matei ele :x Mas ela que é a assassina aqui, cuidado. Bia: É claro que eu quase te matei! Nunca mais faça isso! Lua: Olha quem fala! Bia: Eu... eu só atirei em um... e quebrei o crânio do outro... e transformei outro em papel... Lua: Só cala a merda da boca. Calma ae, quem virou papel? Bia: Você, se não reviver ele agora. Lua: MAS MAS MAAAAASSSSS..... Bia: Como é que eu ia te fuggin transformar em papel, Baka Maka? Lua: Vai saber, né? Bia: *revirada de olhos* Espero que aguardem pelo próximo capítulo... Lua: E QUE ME DEIXEM REVIEWS :3 FAÇO QUALQUER COISA POR UMA REVIEW >< Bia: Vc dançaria caramelldansen? Lua: Sem sombra de dúvida. Bia: DEIXEM REVIEWS! DEIXEM REVIEWS AGORA! VAMOS LÁ! EU TENHO QUE VER ISSO. Lua: Baka -.-