P.O.V Austin

Quando cheguei à escola hoje, Kira me esperava na porta. A morena segurou em minha mão e deitou a cabeça em meu ombro. Entramos. A reação foi imediata. Várias pessoas nos encaravam, curiosas. Kira olhou para mim e disse:

–É amor, tinha razão. As pessoas reagiriam assim. – Quando ela percebeu que não estava rindo, sussurrou em meu ouvido: - Não se esqueça do nosso acordo. – Ri, fracamente, e coloquei através de seu pescoço, meu braço.

–Pois é, querida. – Respondo.

...

Durante todo o dia foi assim. Encenação de minha parte, olhares curiosos, perguntas sobre a minha relação com Kira. Menos a Ally. Sobre essa parte, não sei se devo ficar aliviado ou preocupado.

Depois das aulas, Kira e eu fomos almoçar juntos em uma pizzaria, onde várias pessoas me reconheceram. Afinal, ela gritava meu nome cada vez que me chamava. Mais fotos foram tiradas.

De volta à escola, teríamos nosso primeiro ensaio. Mesmo sendo um pouco cedo, decidimos, ou melhor, Kira decidiu que já deveríamos ir ao teatro. Ao virarmos no corredor que dava para o teatro, ouvi uma melodia conhecida e uma voz que amava. Sem ligar para Kira, corri ao teatro. E lá estava Ally. Cantando seus gritos cheios de dor.

I let it fall, my heart

And as it fell, you rose to claim it

It was dark and I was over

Until you kissed my lips and you saved me

My hands, they're strong, but my knees were far too weak

[Eu deixei cair, meu coração

E quando caiu, você se levantou para reivindicá-lo

Estava escuro e eu estava acabada

Até que você beijou meus lábios e me salvou

Minhas mãos eram fortes, mas os joelhos eram muito fracos]

Eu tentava ignorar o fato de saber para quem eram esses versos.

But there's a side to you that I never knew, never knew

All the things you'd say, they were never true, never true

And the games you'd play, you would always win, always win

But I set fire to the rain

Watched it pour as I touched your face

Well, it burned while I cried

'Cause I heard it screaming out your name, your name

Mas há um lado seu que eu nunca conheci, nunca conheci

Tudo o que você diria, nunca era verdade, nunca é verdade

E os jogos que você jogaria, você sempre ganharia, sempre

Mas eu ateei fogo à chuva

Vi a chuva cair enquanto eu tocava seu rosto

Bem, o fogo queimava enquanto eu chorava

Porque eu ouvi gritar seu nome, seu nome

Mas é difícil ignorar a si mesmo.

–Olhe Austin, como você a machucou! – Disse ironicamente a morena, baixo. – Por que faria isso? Coitada! – Termina rindo baixo.

–Porque eu faria qualquer coisa para protegê-la. Mesmo que para isso eu tenha que fingir ser seu namorado, Kira. – Respondo olhando em seus olhos.

Ally ia finalizando a música a ponto de Kira começava a falar:

–Parabéns, monstrinho. Só não é pior que um grilo cantando. Não é mesmo, amor? – Olho para Ally culpado. Não consigo falar nada. Seus olhos marejados aumentavam minha culpa. – Vem Austin, vamos sentar, só tome cuidado com os cacos do coraçãozinho partido dela. Voaram longe quando ela ficou ali em cima, rugindo para si mesma. – Disse, andando como se tivesse medo de pisar em algo. – Ally me olhava enquanto chorava. Estava estático. Segui Kira e sentei.

Sou um idiota.

...

Minutos se passaram e a turma logo chegou. A professora passou instruções básicas e entregou o roteiro provisório. Tirando o começo da peça, eu e Ally teríamos a maioria das cenas juntos, o que me alegrava e preocupava.

Mesmo sem saber o texto, a professora pediu para que Ally e Elliot começassem. O garoto normalmente disse suas falas, porém Ally ao olhar para as pouquíssimas pessoas no teatro congelou e quando voltou a fazer algo, foi para sair correndo. Tentei me levantar, mas fui segurado pela mesma víbora de sempre.

–Trato... – Alertou.

Sentei-me, derrotado, a ponto de ver Ally e Elliot entrarem juntos, sorrindo. Começaram novamente. Perfeito. Assim que terminaram sua parte juntos, se abraçaram, me deixando incomodado. Mal se conhecem!

Em minha cena com Ally, tudo deu certo, mas foi tão seca, que todos se espantaram. Ela evitava meus olhos e até meu rosto. Chegava a doer a sua frieza.

Falei baixinho:

–Somos atores. Lembra? “Estamos apenas atuando”. Esqueça tudo. Aqui não somos Austin e Ally.

Ela não respondeu, mas melhorou sua atuação. Apenas seus olhos evitavam os meus. Melhor que nada.

P.O.V Ally

Depois que a professora e o restante dos alunos chegaram, os roteiros provisórios foram dados e pediram para que eu e um garoto, Elliot encenássemos, afinal, aparecíamos na primeira cena. Ele, confiante, disse suas falas muito bem e eu, bem..., corri do palco. O medo me consumiu novamente e não consegui falar nada.

Sentei em algum caixote e logo senti lágrimas me atingirem novamente.

–Ei, é..., com licença, Ally, não é? – Disse Elliot chegando perto de mim. – Assinto em resposta. – Qual o problema?

–Medo de palco. –Digo baixo.

–Ah, o que poderia fazer para se sentir melhor?

–Picles. – Falo sincera.

–Picles?! – Fala começando rir.

–É, adoro picles.

–Bem, serve um abraço?

Assinto.

Ele pega minhas mãos e me levanta. Envolve seus braços em volta de mim e eu faço o mesmo. O aperto.

–Ah, Ally. Está me sufocando. – Diz sem-graça.

–Desculpe! – Falo envergonhada me separando dele. – Estava precisando de um abraço.

–Tudo bem. Se eu fosse você também precisaria. Ver Austin com Kira deve ser duro.

–E é... espera! Como você sabe?! – Falo surpresa.

–Qual é! Todos meio que desconfiavam até hoje.

–Por quê?

–Vocês ficavam se olhando, sorrindo, abraçando, ele te defendeu, e aquele negócio de “sentimentos semelhantes” ajudou.

–Ah... – Falo preocupada. – Se importa de não...

–Contar a ninguém? – Completa.

–É.

–Claro que não! Amigos são para isso!

–Amigos...?

–Se quiser... – Fala sem graça. – Não tenho muitos amigos aqui desde que minha namorada foi fazer intercâmbio.

–Claro! Eu adoraria! Também não tenho muitos amigos...

–Então vamos?

–Sim.

–Só lembre-se: olhe para apenas uma pessoa, ajuda.

E assim foi. Fomos muito bem em nossa cena. O problema mesmo foi com Austin, o segundo a encenar comigo. Foi um desastre.

–Somos atores. Lembra? “Estamos apenas atuando”. Esqueça tudo. Aqui não somos Austin e Ally. – Disse ele em tom de súplica sussurrando.

Tentei me esforçar mais, funcionou, porém, fugia de seus olhos.

Era doloroso encara-los.