Minha mente pensa em mil desculpas e eu resolvo falar a mais coerente:

―Vim falar com o marido da minha prima, mas ele esta meio ocupado no momento.

Vou em sua direção e começo a caminhar ao seu lado, felizmente ele me acompanha para fora da delegacia:

―Lembra que eu te falei da minha quase ex.

―É impossível esquecer.

―Como você me aconselhou,eu vi falar com ela mesmo que eu esteja morto para ela.Porem,ela foi transferida e a delegada não quer me dizer para onde.

―Que merda, mas você demorou muito também não foi?

―Eu não estou certo se ele queria me ver entende?-Ambos paramos na frente do carro de Pierre,ele parece aflito.

E como eu,ele foi outra vitima.

Eu já sei mais o que devo fazer, mas sei que quem merece toda a minha raiva (como Kaleb mesmo disse) é o infeliz do Nicollas e ele vai pagar pelo sofrimento causado, tanto para mim,tanto quanto para o irmão.

Eu respiro fundo, pensando no que fazer.Eu sinceramente não sei, passei um ano da minha vida acumulando ódio de uma pessoa que talvez não merecesse nem um pouco:

― Lliaza?-Ele me chama e eu desperto dos meus pensamentos.

―Ahn?-Eu pergunto um pouco distraída.

―Vamos tomar alguma coisa?

―Claro, eu preciso de algo forte.

―Conheço um bar bem perto daqui.

_____

É realmente um lugar aconchegante e reservado.Estamos em um canto meio isolado, ele pediu uma cerveja e eu uma caipirinha.Ficamos quietos a maior parte do tempo,ate que ele começa a batucar a mesa acompanhando a musica ambiente:

―Essa musica é ótima-Ele diz um pouco animado de mais e eu esboço um sorriso.

―E de quem é a musica Reneé?

―I Don't Wanna Believe do Hinder-Ele diz dando de ombros e começa a cantarolar uma parte-But something about you makes it right to give it one more try.

A voz dele é ate que interessante, o mesmo tom de quanto ele fala com o mesmo sotaque.É ate que bonitinho e fofo se fosse em outra parte da minha vida.A parte da musica que ele escolheu cantar foi “Mas algo em você me fez achar melhor tentar mais uma vez.”

―Que coincidência uma musica que é quase uma indireta.

―É,claro que é uma coincidência-Ele ri e toma mais um gole da sua cerveja-Você por acaso acha que eu paguei o DJ do bar para tocar justo essa musica para te dar uma indireta.

―Já que você não tem meu Facebook,sim acho que foi isso.

―Você esta certa-Ele solta uma gargalhada mais solta e eu acompanho novamente, uma risada tão genuína e sem ser forçada acaba influenciando.Uma das poucas que tivemos a oportunidade de ter juntos.

―Dou um ponto pela criatividade.

―Você sendo simpática?O que aconteceu com a Lliaza gelada?

―Vamos dizer que você conseguiu derreter o meu coração de gelo-Dou um gole na minha caipirinha e olho para Pierre que sorri com um ar de satisfeito.

―E quando foi que eu fiz isso?

―Estou em duvida exatamente quando foi.

―Foi meu peitoral no meu apartamento?

―Não seja tão egocêntrico-Eu reviro os olhos.

―Foi poder andar no meu carro?-Eu discordo com a cabeça.

―Mesmo que eu soubesse o motivo de estar um pouco mais simpática com você, eu não diria.Isso iria aumentar muito o seu ego.

―Quase certeza que iria.

―Puta que pariu, você me lembra ela.E muito, ate seu sorriso as vezes se parece muito com o dela.

―Eu terei que ouvir isso para sempre de você?

―Eu sei, é dificil.Mas os poucos momentos que eu e ela tivemos juntos fica vindo e vindo na minha cabeça a todo instante.Eu me arrependo de deixa-la ir,eu deveria ter feito tudo para protege-la.Ela cometeu um erro enorme e eu não soube dar a volta por cima.

Eu o olho, tentando verificar se ele realmente diz a verdade, estar perto do Pierre queria dizer abaixar toda a minha guarda e ser acertada em cheio.Eu ouvi uma explicação de Ricardo e eu sei que a merda toda foi culpa do Nicollas.Eu também cometi um erro,e estou cometendo desde quando eu o conheci.Ryan tem razão, a pessoa que eu mais tenho que culpar, sou eu.Mas a raiva de Nicollas não me deixa nem por um minuto, ele me ferra desde o primeiro dia:

―O que foi?-Ele pergunta e eu volto a atenção para ele.

―Estou pensando.

―Em que?

―Quanto tempo se conheciam?

―Pouco, seria vergonhoso dizer quanto.

―E foi tudo tão intenso assim?

―Eu descrevia exatamente assim, intenso.Tudo com ela era intenso,era como se ela tivesse sido feita para mim.Eu não conhecia tão bem quanto queria, mas ela me intrigava.Ela era diferente-Ele olha para algum ponto acima da minha cabeça, como se tivesse relembrando de tudo-Ela era gordinha sabe?Mas não qualquer gordinha, ela era linda, charmosa, e sabia se vestir e muito bem.Tinha um sarcasmo genuíno e uma coragem que poderia enfrentar o mundo.

E quando eu menos percebo, estou sorrindo.Nunca tinha ouvido alguém falar assim de mim e isso me deixava um pouco abobada de mais.Ele sorri também enquanto fala, como se gostasse de relembrar cada momento que tivemos juntos:

―Eu a conheci na entrevista, outra pessoa não teria aceitado ela somente pela merda de padrões na sociedade. Mas era isso que a tornava especial,era isso que a tornava unica.Eu adorava ver ela enfrentar o meu irmão e ela adorava quando eu a defendia, não precisava ser um gênio para isso.Porem,como tudo na minha vida, foi destruído pela minha família.Eu só queria voltar atras e poder lutar pelo o que eu queria.

Eu coloco a mão em cima da sua e dou um sorriso para Pierre:

―Não se culpe tanto, você disse que ambos cometeram erros-Ele concorda com a cabeça.

―Sim,e não foi erros pequenos.Nem meu e nem dela,eu só queria pedir desculpas a ela e ver se podíamos recomeçar.Mas que garota aceitaria recomeçar com um cara que a mandou para a cadeia injustamente?

Ele aperta a minha mão,fazendo eu fixar meus olhos nos deles,nos encaramos por um momento.E eu sinto novamente aquela força intensa que senti aquele dia na sala de interrogatório.Ele solta a mão da minha, se levanta rapidamente e coloca o meu rosto entre suas mãos, e me beija.Ele coloca uma mão no meu pescoço me trazendo par a mais perto de si, e eu ainda continuo sentada e ele de pé.Enquanto nos beijamos a musica I don't wanna believe vai dando seus acordes finais.Ele se afasta agora, e me olha fixamente.Eu não acredito que isso realmente aconteceu,eu finalmente beijei Pierre e eu nem sou eu mesma:

―Desculpe, isso não devia ter acontecido-Ele diz voltando a sua cadeira e colocando o rosto entre as mãos.

Meu celular vibra no bolso, por um momento eu esqueci que eu tinha um ou que carregava um.Eu dou um sorriso para Pierre que concorda com a cabeça.Olho o visor do celular e esta descrito restrito,atendo um pouco tensa:

―Alo?

―Pandora Fountaine?-Pergunta uma voz desconhecida no telefone.

―Quem deseja?-Pergunto desconfiada,meu corpo se arrepia quando ouço meu nome verdadeiro, quem poderia ser para me ligar no celular perguntado sobre meu antigo eu.

―É a Angela do Hospital Santa Rosa, estou ligando referente ao Ryan Montovani.

―Ryan,o que aconteceu?

―Ele teve um acidente de carro e esta em coma.

E meu mundo desaba, mais uma vez.