A Rainha dançava e girava, com os olhos fechados e um brilho opaco no rosto. Girou até parar virada de costas para os dois que continuavam olhando-a. Ela cantava, mexia a cabeça e sacudia os quadris, o que fazia o vestido branco coberto de tule e brilho soar um farfalhar suave.

– Rainha? - Alice disse num tom de quase sussurro, receosa e com o rosto corado de choro.

Mirana parou de se mexer e de cantar. Abaixou os braços e levantou o vestido, o que revelou uma camada de seda azul lisa e brilhosa. E foi virando, devagar, até olhar diretamente para os dois.

– O-olá - gaguejou - vocês estão aí á muito tempo..?

– Ahn - disseram os dois - Mais ou menos...

Alice corou ainda mais e abaixou a cabeça, deixando os longos cabelos caírem dos ombros e Chapeleiro colocou a mão no pescoço, corando também.

– Ahn, ok. Como estão? - começou Mirana, disfarçando e se aproximando para assim empurrá-los para fora do salão verde. - Há quanto não nos vemos não é Alice? Finalmente conseguiu voltar minha querida!

Mirana secava as lágrimas do rosto disfarçadamente e sorria para Alice carinhosamente, como uma mãe ao ver uma filha que volta de uma viagem longa.

– Estão com fome? Por favor, vamos á cozinha. A lebre deve ter preparado algo para comer. - Andavam pelo jardim, driblando bancos, cadeiras, mesas, anões de jardim, pequenos animais em gesso, bebedouros de pássaros, moitas, árvores prateadas, margaridas gigantes. - Pronto, chegamos!

Entraram no castelo e seguiram por vários cômodos até chegar na cozinha. Panelas voavam, sopas escorriam nas paredes, vários cheiros diferentes vindos do fogão e a geladeira escancarada cheia das mais variadas comidas. Haviam gelatinas de caju, sucos de abóbora verde, ovas de peixe-boi e manteiga de pepino.

– Sentem aqui, nesse balcão meninos. Vamos, vamos! Contem tudo, principalmente você Alice! Como vão meus dois súditos preferidos? - Mirana ria - E essas mãos?

Alice e Chapeleiro não entenderam na hora, olharam então para o balcão onde suas mãos repousavam, uma em cima da outra. Os dois coraram e tiraram as mãos rapidamente.

– Rainha! - disse o Chapeleiro mudando rapidamente de assunto - Alice chegou hoje de manhã, e decidimos vir aqui antes mesmo de ela provar meu mais novo chá de folha de mandrágora com pimenta. Ela disse que precisava vê-lá e conversar.

– Sim Rainha, gostaria muito mesmo de vê-lá e decidi vir aqui. Precisava saber como anda tudo por aqui e como anda a melhor Ranha do mundo.

– Ah Alice querida - Mirana repousava as mãos no colo e mesmo disfarçando, suspirava a todo momento. A Lebre de Março continuava batendo panelas. - Depois da queda da cabeçuda, que a vida á perdoe, tudo voltou a ser como antes. O País das Maravilhas vive feliz, e choros são raros. Vivemos em festa e vivemos bem entre nós. Estamos fazendo trocas com a Terra de Oz e com o País Azul. Basicamente é isso...

– Oh, que bom, eu acho. Rainha, gostaria de fazer dois pedidos, o primeiro é de telas e tinta, preciso pintar algumas coisas, e o segundo é de uma conversa particular com a senhora. E os dois são muito importantes e urgentes!