The New Storybrooke I - The Fairytales are Back escrita por Black


Capítulo 5
That Strange Dragon's Voice


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, me desculpem pela demora, mas a falta de criatividade me impediu de escrever um capítulo decente.
Mesmo assim, espero que gostem e boa leitura!



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Berk. Um reino Viking tão antigo quanto qualquer outro na Floresta Encantada, mas com uma grande diferença dos demais. Enquanto os outros reinos são assolados por pragas como ratos ou mosquitos, os problemas de Berk eram com dragões. Porém, quando as feras não atacavam, aquele reino era um ótimo lugar para se viver.

E entre as pessoas que lá viviam, estava um rapazinho de cinco anos, que tinha cabelos castanhos e olhos verdes, era extremamente magro e até alto para sua idade.

– Pai. – O menino se aproximou de um homem grande e gordo de cabelos ruivos e olhos verdes como os dele.

– Que bom que voltou, filho. – O pai dele, Stoico, que era o rei dos vikings daquele reino, se abaixou e pegou o garoto nos braços. – Então, Soluço? Como foi em Arendelle?

– Foi bom. - O menino, Soluço, respondeu com entusiasmo, visivelmente ainda animado pela viagem da qual acabara de voltar. – Quero voltar o mais rápido possível! – Levantou os braços, gesticulando exageradamente como qualquer criança da sua idade.

– Acalme-se, filho. – Stoico riu da animação do castanho, que parecia realmente feliz. – Tenho certeza de que Anthony e Annabelle adorarão recebê-lo lá mais uma vez, mas eu também senti sua falta, sabia? – Brincou e o garoto riu, abraçando o pai.

– Eu também, pai. – Soluço declarou ainda abraçando o pai e sorrindo com a animação da criança que era. Porém, logo se separou e gesticulou indicando que queria descer e assim o pai fez. – Mas agora preciso ir. Tenho que ajudar o Bocão! – Anunciou e saiu correndo dali o mais rápido que conseguia.

Stoico ficou apenas parado, observando o filho se distanciar com um sorriso orgulhoso no rosto. Tinha que admitir que Soluço não aparentava que um dia teria o porte de um verdadeiro viking, mas que o garoto era uma excelente pessoa, isso ele tinha que admitir.

– Você é um bom garoto, Soluço. – Stoico murmurou para si mesmo, ainda olhando na direção na qual seu filho desaparecera de sua vista. – Tomara que nunca mude. – Disse isso e também saiu dali.

– OUAT –

No consultório de psicologia, Simon anotava algumas coisas em um caderno sobre a consulta com Anna, que estava sentada numa poltrona próxima a ele, olhando-o com atenção e parecendo pensativa. Uma das pernas da calça do rapaz estava meio largada e vazia, sendo que uma perna de madeira que era uma réplica perfeita de uma perna humana estava em cima da mesa de centro, pintada da mesma cor da pele de Simon e com um tênis verde calçado.

– Você não foi sempre um treinador de dragões. – De repente, a ruiva declarou, ainda parecendo estar com a cabeça bem distante dali.

– Ah, mas eu... – Simon de início não entendeu, mas assim que a compreensão brotou em sua mente, largou o caderno e a caneta na mesinha de centro que havia entre ele e Annabelle, inclinando-se para frente, fitando-a com certa curiosidade. – Por que você acha que eu sou o Soluço? – Arqueou uma sobrancelha, parecendo que realmente queria saber. – Por que você acha isso, Belle? – Insistiu quando ela aparentou que iria permanecer calada.

– Porque esse é você. – Annabelle respondeu com simplicidade e um sorriso de canto contido.

– E quem sou eu? – Simon questionou, recostando-se a sua poltrona e cruzando os braços, esperando que ela falasse.

– Você é alguém que está sempre tentando ajudar os outros. É uma boa pessoa. – A ruiva respondeu no mesmo tom simples de antes, como se não estivesse dizendo nada fora do comum.

O silêncio se instalou ali e nenhum dos dois o quebrou por um longe tempo, não parecendo incomodados. Simon olhava para Annabelle ainda tentando descobrir o que se passava naquela cabeça ruiva e Anna o olhava como se esperasse que a qualquer momento ele fosse se levantar e sair correndo pela cidade procurando Banguela.

– Belle, eu já te perguntei uma vez e você disse que ia pensar no assunto. – Simon finalmente rompeu o silêncio, mais uma vez inclinando-se para frente. – Por que você acha que é tão importante que essa sua teoria de Contos de Fadas seja real?

– É... – Annabelle franziu o cenho, como se estivesse pensando em algo a qual não conseguia achar a resposta. – Simplesmente é. – Deu de ombros.

– Continue pensando nessa resposta, Belle. – Simon sorriu com a possibilidade de entender essa obsessão que a ruiva tinha com Contos de Fadas. – Porque eu acho que ela quer dizer alguma coisa. – Finalizou, mais uma vez recostando-se a sua poltrona.

– Não gostei dessa ideia. – Elsa cruzou os braços e fez biquinho, como uma criança petulante tentando convencer um adulto de algo.

O motivo do descontentamento da loira se devia à ideia com a qual Mylena amanhecera o dia na cabeça.

– Ora, vamos. – Mylena pediu, rindo da expressão de Elsa, divertindo-se. – Não há muita coisa acontecendo para fiadores por aqui. – Tentou convencer, mantendo o sorrisinho divertido no rosto.

– Não quer dizer que eu queira trabalhar na delegacia. – Elsa desviou o olhar, não querendo mais fitar o sorriso de divertimento da morena, ainda trazendo o biquinho petulante nos lábios.

– Por favor. – Mylena replicou a expressão de petulância de Elsa, tendo muito mais sucesso que a loira, que não conseguiu não olhar e não ceder.

– Tudo bem. – A mais nova assentiu de má vontade, trazendo uma expressão carrancuda no rosto. – Mas eu não vou usar aquilo. – Apontou para uma caixa que estava no chão próxima à porta do escritório da xerife que trazia um uniforme.

– Eu também não ia pedir. – Mylena riu, parecendo satisfeita por Elsa pelo menos ter aceitado trabalhar com ela. – Eu não acho que seja necessário vestir uma mulher de homem para ela ter autoridade. – Brincou, fazendo a loira se esforçar para manter a expressão carrancuda no rosto. – Mas, pelo menos, use isso. – A morena estendeu um distintivo de assistente de xerife para a loira, que fez uma careta. – Ora, vamos. – Mylena sorriu de canto. – Se quiser mesmo fazer parte dessa comunidade, tem que oficializar. – Insistiu.

Relutantemente, Elsa estendeu a mão para o distintivo. Logo levou até o cinto e o colocou lá, ato este que foi seguido por um violento tremor que cessou da mesma forma repentina com a qual surgiu.

A loira e a morena se entreolharam e logo em seguida os telefones da delegacia começaram a tocar incessantemente, fazendo paralelo com os alarmes dos carros que soavam do lado de fora. Mylena não tardou em correr para fora do lugar, enquanto que Elsa ainda ficou imóvel por alguns segundos, com a mão sobre o distintivo que mal começara a usar, sabendo exatamente o que havia causado aquele tremor.

Elsa balançou a cabeça e logo seguiu Mylena para fora.

Ainda dentro dos limites da cidade, mas um pouco mais afastado de lá estava uma enorme cratera na terra que trazia uma abertura sustentada por colunas de madeira em estado precário.

– É uma cratera? – Uma garota de cabelos castanho-escuros e olhos verdes questionou, olhando diretamente para o buraco gigantesco no chão.

– Não. São túneis de minas antigas. – Marina explicou, também prestando bastante atenção. – Acho que alguma coisa desmoronou.

Uma multidão de formava, aproximando-se cada vez mais do buraco e Pitch Black apareceu, colocando-se entre as pessoas e a mina.

– Atenção. Todos para trás, por favor. – Ordenou e olhou em volta, logo encontrando Mylena, que acabara de chegar com Elsa. – Xerife, defina o perímetro. – Aproximou-se dela e ordenou, logo se virando para Marina e a morena de cabelos repicados ao lado dela. – Senhorita Scott e Senhorita Lockwood, por que não ajudam com o Corpo de Bombeiros. – Sugeriu e as duas assentiram, logo saindo dali. Virou-se para Elsa, parecendo finalmente perceber a presença da loira ali. – Senhorita Snow, esse assunto é de responsabilidade da prefeitura. Você pode... – Foi interrompido.

– Eu estou trabalhando para a prefeitura. – Elsa declarou com um sorrisinho satisfeito.

Pitch virou-se para Mylena, esperando que a morena explicasse.

– Ela é minha nova assistente. – Mylena respondeu com simplicidade, dando de ombros e cruzando os braços.

– Dizem que o prefeito sempre é o último a saber. – Pitch sorriu falsamente, escondendo o quanto estava irritado.

– Está no meu orçamento. – Mylena retrucou com um sorriso maroto de quem esperava ser repreendida.

– É verdade. – Pitch concordou, segurando-se para não gritar com ela na frente de todos. Virou-se para Elsa, que até então havia permanecido calada. – Assistente, seja útil e ajude no controle da multidão.

Elsa olhou para Mylena e a morena assentiu com um curto gesto da cabeça, indicando que ela fosse. Pitch ainda lançou um último olhar à filha mais velha antes de seguir para a multidão.

– Povo de Storybrooke, não se assustem. Sempre soubemos que nessa área havia túneis de uma antiga mina. – Falou sem emoção na voz, nem se dando ao trabalho de fingir preocupação. – Não tenham medo. Vou realizar o projeto para tornar esta área segura e fazer com que seja útil para o município. – Sorriu maldosamente, planejando algo. – Vamos demoli-la, cobri-la e pavimentá-la.

– Pavimentar? – Anna, que havia acabado de chegar ao local com Simon, apareceu por entre a multidão, olhando para o pai com certa acusação. – E se houver alguma coisa lá embaixo?

– Belle, o que está fazendo aqui? – Pitch questionou, olhando diretamente para a ruiva.

– O que tem lá embaixo? – Anna insistiu.

– Nada. – Pitch respondeu prontamente. – Agora vá para trás. – Por mais incrível que parecesse, ela obedeceu. O prefeito se dirigiu à multidão. – Na verdade, todos para trás. – Gesticulou e eles obedeceram. – Obrigado.

Pitch teve um vislumbre de algo brilhando no chão e, assim que percebeu que não havia ninguém olhando, se abaixou para pegar. Era um pedaço de gelo relativamente grande em formato de floco de neve, mas destruído e com partes faltando, quebrado. Guardou-o no bolso, mas não antes que Elsa e Annabelle percebessem.

– O que é aquilo? – Anna sussurrou para Elsa, mas o prefeito a escutou e foi até ela.

– Belle, já chega. Espere no carro. – Ele ordenou e, de má vontade, Anna obedeceu. Virou-se para Mylena e Elsa. – Assistente Snow, Xerife, isolem a área. – Disse isso e saiu dali.

Dentro do carro, Anna ficou observando Pitch, esperando que ele se distraísse, e assim que percebeu que ele não mais prestava atenção nela, saiu do carro.

– Elsa, Mylena, Simon. Por aqui. – Chamou em voz não muito alta, evitando que seu pai escutasse.

Escondeu-se atrás da viatura e Simon logo foi até lá. Elsa e Mylena ainda terminaram de isolar a área com a fita amarela policial antes de seguir até onde a ruiva e o castanho estavam.

– Isso requer tudo da Operação Boneco de Neve. – A ruiva declarou, alternando olhares entre eles. – De vocês três.

– Mas eu não sabia que eu estava na Operação Boneco de Neve. – Simon respondeu com certa confusão na expressão.

– E você deve saber que eu não faço a mínima ideia do que você está falando. – Mylena cruzou os braços e se encostou à viatura.

– Em primeiro lugar – Annabelle se virou para Simon. – É claro que você está, afinal sabe de tudo. Em segundo lugar – Virou-se para Mylena. – Isso tudo é sobre você e a Elsa, então é claro que está envolvida. – Suspirou com cansaço ao ver a expressão cética da irmã mais velha. – Não podemos deixá-lo fazer isso. Não podemos deixá-lo destruir a mina. E se houver alguma coisa lá embaixo?

– São só alguns túneis antigos. – Mylena retrucou com desinteresse e ceticismo.

– Que por acaso desabaram depois que a Elsa chegou. – Anna gesticulou para a loira, que até então havia permanecido calada. – Vocês duas estão juntas. – Gesticulou para a loira e a morena. – Estão mudando as coisas. A Maldição está enfraquecendo.

– Não é isso que está acontecendo. – Mylena suspirou com cansaço, colocando as mãos nos bolsos da calça.

– É sim. – Annabelle insistiu e se virou para Elsa. – Você fez alguma coisa diferente hoje? Porque algo fez isso acontecer.

Sem perceber, Elsa acabou por levar a mão ao distintivo preso ao cinto e Mylena alternou olhares entre a loira e a ruiva, que pareciam tramar alguma coisa entre si. A morena bufou.

De repente, Pitch apareceu ali, colocando uma mão no ombro de Anna e fazendo-a se virar para fitá-lo.

– Belle, eu disse para você me esperar no carro. Vá. – Ordenou e a ruiva saiu contrariada dali, deixando apenas Mylena, Elsa e Simon. – E quanto a vocês, sugiro que façam seu trabalho. – Disse com frieza e a morena o fuzilou com os olhos antes que Elsa a puxasse para longe dali. Virou-se em tempo de ver Simon se distanciando silenciosamente. – Doutor Harris, uma palavra, por favor. – Pediu em tom de ordem e o castanho se virou relutantemente para ele. Os dois se aproximaram. – Muito bem. Terminamos com isso.

– Ah, eu não entendi. – O castanho respondeu com confusão.

– Minha filha. – Pitch explicou em tom duro e gélido. – Precisamos de um novo plano de tratamento. Tudo o que eu faço ela pensa que é uma conspiração. Eu não posso nem encobrir um risco de segurança sem ela pensar que eu estou escondendo alguma coisa. Por que eu estaria escondendo alguma coisa terrível numa mina velha, me diga. – Arqueou uma sobrancelha, aparentando estar mais irritado. – Como é que isso pode acabar sendo tão lógico para ela?

– Principalmente para uma adolescente, a imaginação dela é incrível... – Simon começou a falar, mas foi interrompido.

– Sim e que você deixou aumentar. – Pitch retrucou em um tom irritadiço e ameaçador.

– Seria errado e cruel destruir o mundo que ela criou. – O castanho argumentou, já começando a ficar mais abalado. – Eu preferia tentar outra... – Novamente foi interrompido.

– Às vezes eu acho que você esqueceu que você trabalha para mim. – O Prefeito de Storybrooke falou por entre os dentes trincados, raivoso. – Você é meu funcionário. Eu posso demiti-lo. Essa é minha cidade. Você pode perder seu consultório, sua casa. Eu posso te cortar em pedaços até que você vire apenas uma criatura pequena e frágil sem nenhum teto sobre a sua cabeça.

A expressão de Simon enrijeceu, mas ele estava visivelmente infeliz pelo que teria que fazer.

– O que você quer que eu faça? – Perguntou.

– Quero que você tire essa maldita ilusão da cabeça da minha filha e acabe com ela. – Pitch respondeu no mesmo tom duro e hostil de antes e saiu dali.

– OUAT –

Dois anos se passaram e Soluço então estava com sete anos. Não havia mudado muito. Continuava magro e franzino e não crescera mais do que alguns poucos centímetros. Os cabelos castanhos estavam um pouco mais longos e desorganizados enquanto que a pele já começava a apresentar algumas sardas.

Era noite e o castanho estava deitado em sua cama quando barulhos incessantes e estridentes foram ouvidos do lado de fora. Ao sair, ele percebera que a vila mais uma vez estava sendo atacada por dragões.

Mais uma vez, como fazia sempre que algo assim acontecia, Soluço saiu correndo o mais rápido que conseguia de sua casa, afinal precisava ajudar seu reino a lutar contra a ameaça que os dragões representavam.

Porém, no final da noite e com a vila já livre da ameaça, as coisas não haviam saído do modo como o castanho esperava. Metade de Berk estava em chamas e a outra metade eram apenas destroços do estrago que ele causara sem ter a intenção.

Em frente à sua casa e com toda a população do reino viking olhando para ele com reprovação e um pouco de raiva, Soluço se virou para o pai, que parecia bastante desapontado com ele.

– Eu só queria ajudar. – Disse com uma voz baixa quase indetectável que apenas Stoico conseguiu ouvir com certo esforço.

– Eu sei, Soluço, mas ambos sabemos que isso não pode continuar assim. – O rei dos Vikings suspirou com cansaço. – Sempre que você sai de casa, alguma coisa acontece e isso não pode continuar. – Massageou as têmporas.

– Mas, pai, eu... – Soluço tentou argumentar, mas o pai o interrompeu.

– Para dentro, agora. – Stoico ordenou com dureza e autoridade no tom de voz. – Não quero mais estragos hoje, filho, então entre nesta casa agora. – Fitou o garoto.

Soluço abaixou a cabeça e caminhou desanimadamente até a porta de sua casa, a qual abriu e entrou, fechando-a logo em seguida.

– OUAT –

No dia seguinte, Simon estava sentado em seu consultório, de cenho franzido e com a expressão dura, algo incomum para o sempre gentil rapaz.

A porta foi aberta, fazendo com que ele saísse de seus devaneios e encarasse a recém-chegada, percebendo ser ninguém menos que Adriana.

– Oi, Simon. – A loira cumprimentou com um sorrisinho de canto meio afetado.

– Adriana, o que está fazendo aqui? – Ele perguntou, levantando-se de sua poltrona, surpreso em vê-la ali. Ela gesticulou como se comesse alguma coisa e então ele se lembrou. – Ah, o almoço. Desculpe, mas eu esqueci e agora tenho outro paciente. Importa-se se remarcamos?

– Não, tudo bem. – Ela concordou com um gesto mínimo da cabeça no mesmo momento em que Annabelle chegou ali. – Oi. – Cumprimentou a ruiva. – Tenha uma boa sessão, Belle. – Disse isso e saiu dali, fechando a porta.

Annabelle logo contornou o sofá e se sentou ali com a mochila que trazia.

– Está recrutando a Astrid para a Operação Boneco de Neve? – A ruiva questionou com animação, fazendo Simon se sentir ainda mais culpado pelo que iria fazer.

– Acha que a Adriana é a Astrid? – Ele perguntou com a expressão dura e sem sorrir.

– Claro, ela é a namorada do Soluço e a Adriana é a sua. – Anna deu de ombros como se fosse algo absolutamente comum.

– Em primeiro lugar, ela não é minha namorada. – Ele respondeu com a face dura e gélida, mas levemente corado. – Em segundo lugar, precisamos falar sobre isso, tudo bem? – Começou a andar pela sala, nervoso.

– Sei que você não está convencido, mas eu posso achar provas. – Ela sorriu e se levantou, aproximando-se dele e abrindo a mochila para que ele pudesse ver o conteúdo.

Simon examinou a mochila, percebendo os objetos lá dentro.

– Mas o que é isso? – Simon perguntou, pegando uma barra de chocolate da mochila. – Uma lanterna? Chocolates? – Foi então que percebeu a intenção da ruiva e a olhou quase em desespero. – Belle, você não vai lá.

– Elsa está aqui e ela e a Mylena estão juntas. As coisas estão acontecendo. – Anna tentou convencê-lo com um sorriso confiante. – Eu tenho que... – Foi interrompida.

– Belle, Belle, pare. – Simon a segurou e a colocou sentada no sofá, olhando-a nos olhos. Sentou-se na poltrona de frente para a ruiva. – Não existem provas. – Inclinou-se para frente. – Tudo isso... – Gesticulou. – Tudo isso é uma ilusão. Você sabe o que é uma ilusão?

– Sim. – Ela concordou prontamente, confusa com a atitude dele.

– É algo que não é real, e nem é saudável. – Mesmo com a confirmação dela, Simon acabou por explicar, suspirando de forma cansada. – Olhe, eu achei que você ia superar isso, mas Belle, agora isso virou psicose. Você sabe o que é psicose? – Perguntou, mas não esperou que ela respondesse. – É quando não se sabe mais o que é real. E se isso continuar, Belle, eu vou ter que internar você. Belle, isso tem que parar para o seu próprio bem. – Respirou fundo antes de prosseguir. – Essa loucura tem que acabar.

Anna o olhou como se tivesse acabado de ser traída por ele e saiu dali sem dizer uma única palavra, abrindo a porta e fechando-a com força ao passar.

– Pare de tomar tanto café. – Elsa advertiu, olhando para Mylena por cima do livro que lia ao ver a morena tomando outro copo de café no apartamento que as duas dividiam.

– Tenho que tomar. – Ela bocejou, espreguiçando-se na cadeira em que estava enquanto examinava uma papelada da delegacia. – Estou ficando com sono.

– Então durma. – A loira sugeriu com preocupação mascarada por sarcasmo ao fitar as olheiras e o rosto cansado da mais velha.

– Sem tempo. – Mylena respondeu enquanto tomava mais um gole de café, fitando os papéis à sua frente. – E chega de falar dos meus problemas de insônia. – Revirou os olhos e passou a olhar Elsa. – E você e o Jake? Como andam?

Elsa ficou vermelha da cor dos cabelos de Marina e nada disse, fazendo com que Mylena gargalhasse em alto e bom som.

– Se gosta dele, vá em frente. – A morena sorriu enquanto voltava a examinar os papéis. – Acho que ver você feliz ainda vai compensar a dor de cabeça de eu ter que aturar o melhor amigo do Storm. – A voz transmitia desagrado ao mencionar o sobrenome do supervisor do abrigo de animais.

Elsa já ia perguntar a ela sobre o porquê de ela e Andrew se darem tão mal quando a campainha tocou e a loira se levantou para atendê-la antes que Mylena pudesse. Ao abrir a porta, deu de cara com o rosto vermelho e as lágrimas de Annabelle.

– Anna? O que aconteceu? – Perguntou quando Anna a segurou num abraço apertado, desabando completamente no choro.

Simon estava sentado na mesma poltrona onde estivera quando conversara com Annabelle. O castanho olhava desolado para o teto, pensativo, ainda lembrando-se de como a ruiva o olhara antes de sair batendo a porta do consultório.

– Simon! – Escutou a voz de Elsa vinda de trás da porta juntamente com fortes batidas na mesma. – Simon!

Ele não se levantou para abri-la, então a própria loira a arrombou, fechando-a com mais força do que Anna fizera ao passar por ela, encarando o psicólogo.

– O que você fez? – A loira perguntou em um tom acusatório, por mais que se recusasse a acreditar que uma pessoa tão boa quanto o castanho pudesse ter sido capaz do que Anna lhe dissera. – Não sou psicóloga, mas eu sei que não se pode destruir as crenças de alguém assim. Você teve sorte de a Anna ter segurado a Mylena em casa porque ela iria te matar, literalmente. Anna ficou arrasada. – Por mais que soubesse que não era culpa do amigo, foi mais dura com ele do que pretendia, afinal estava com raiva por ele ter feito a ruiva chorar e sofrer tanto quanto ela vira.

– Quando a terapia não funciona você faz ajustes... – Simon não se levantou da cadeira enquanto falava. Permaneceu sentado e apoiou a cabeça no braço.

– Isso é coisa dele? – Elsa mais uma vez o acusou, interrompendo-o, referindo-se ao prefeito de Storybrooke. – Ele te ameaçou? O que seria forte o bastante para abafar a sua própria consciência?! – Elevou a voz algumas oitavas.

– Não preciso defender a minha decisão profissional para a Mylena, e tampouco para você. – Simon finalmente se levantou, encarando-a com firmeza ao falar.

Elsa estava para retrucar quando seu telefone tocou e ela atendeu, ainda fitando o psicólogo:

– Alô?

Anna está com você? – Escutou a voz de Mylena vinda do outro lado da linha.

– Eu a deixei com você, lembra-se? – A loira respondeu confusa.

Ela me convenceu a ir lavar o rosto para tentar me acalmar e não correr até aí para matar o Simon. – Era perceptível a raiva contida em sua voz, por mais que também houvesse uma preocupação absurda ali. – Quando voltei, ela não estava mais aqui.

Eu não sei onde ela está. – Elsa respondeu, já começando a ficar desesperada, andando de um lado para o outro pelo consultório.

Foi então que Simon percebeu, já sabendo onde a ruiva se encontrava. Passou a mão pelos cabelos castanhos e suspirou com cansaço.

– Ah meu Deus. – Simon murmurou, chamando a atenção de Elsa. – Eu sei.

Anna estava com uma lanterna em mãos e a mochila nas costas em frente à entrada da mina, que estava destruída e cheia de faixas amarelas. Limpou o restante das lágrimas secas do rosto com a mão livre e com uma expressão decidida, adentrou na mina abandonada.

– OUAT –

Depois de mais um ataque de dragões a Berk, Soluço estava correndo pelo lugar, escondendo-se de seu pai, que o procurava furioso pelo mais novo envolvimento do filho no ataque, que resultara em mais destruição do que os dragões seriam capazes de realizar sozinhos.

– SOLUÇO! – Escutou a voz de Stoico, que vasculhava incessantemente todo lugar em busca do castanho, que fazia de tudo para evitar que ele o achasse.

Enquanto corria, Soluço sentiu seu braço ser puxado por alguém e foi jogado no pouco espaço que havia entre duas casas, vendo seu pai passar pelo lugar onde ele estivera apenas alguns segundos depois.

Assim, virou-se para seu salvador, no caso, salvadora.

Ninguém mais, ninguém menos do que a pequena Astrid, que tinha a idade de Soluço, apenas sete anos.

– Você é um idiota. – A loira declarou com um expressão de desinteresse e ceticismo, girando um punhal por entre os dedos finos e pequenos.

– O que? Por quê? – Soluço perguntou em voz baixa para que seu pai não ouvisse, mas a indignação no tom era mais que presente.

– Porque sempre que você sai de casa, alguma coisa ruim acontece. – Ela revirou os olhos e abriu um sorriso debochado. – Você não é um matador de dragões, então não tem como ajudar, apenas pode atrapalhar, e isso, você já faz bastante, em minha opinião. – Gesticulou para as casas destruídas ao redor, fazendo o castanho se sentir envergonhado.

– Eu só queria ajudar. – Ele murmurou e com certo esforço ela ouviu.

– Você sempre diz isso, mas não consegue. – Ela fez uma expressão séria. – Você precisa entender, Soluço, que às vezes a melhor ajuda é não atrapalhar. – Disse isso e saiu dali, deixando o castanho sozinho, encolhido e envergonhado em seu lugar.

– OUAT –

Já na entrada da mina abandonada, Elsa e Simon procuravam por qualquer sinal de Annabelle quando Mylena chegou ao local. A loira teve que segurar a morena para que ela não sacasse a arma e atirasse no psicólogo por considerá-lo culpado por Anna ter feito o que fez.

Já mais calma, Mylena começou a procurar a irmã com os outros dois.

– Anna! Anna!

Simon olhava em volta até que avistou um tom de azul perto da poeira e sujeira da entrada da mina. Seguiu para lá, pegando a barra de chocolate do chão.

– Tem certeza que ela está aqui? – Elsa perguntou, aproximando-se do castanho com a morena em seu encalço.

– Sim. – Simon afirmou com um gesto mínimo da cabeça, exibindo a barra de chocolate que achara no chão. – Isso estava com ela.

Assim, os três se puseram a forçar a vista na tentativa de talvez conseguir avistar Annabelle no meio da escuridão que se estendia dentro da mina.

Anna andava pelos túneis, apontando a lanterna em todas as direções, procurando por algo que pudesse fazer com que as pessoas acreditassem nela.

Dentro da mina era mais frio do que ela julgava e, mesmo por debaixo do grosso casaco roxo que gostava de usar, ela tremia, batendo levemente os dentes também, enquanto realizava sua busca por provas. Ao apontar a luz da lanterna para uma das paredes do local, algo brilhou e ela se aproximou para ver do que se tratava.

Pegou o pedaço de gelo em formato de floco de neve quebrado um pouco maior do que o que vira Pitch pegar outro dia e o examinara com a luz da lanterna até que um tremor preencheu o local.

Um tremor preencheu a entrada da mina e Elsa e Mylena caíram no chão ao se desequilibrarem.

– Belle! – Simon chamou enquanto adentrava na mina na tentativa de achar Annabelle para tirá-la de lá. – Belle, não é seguro! – Tentou mais uma vez, procurando a ruiva pela escuridão da caverna.

– Simon! Anna! – Ele podia ouvir Elsa e Mylena chamando desesperadas do lado de fora quando a entrada da mina desabou, prendendo ele e Annabelle lá dentro.

Simon não conseguia ver nada na escuridão do local e pegou seu celular, ligando-o e usando a luz do visor para iluminar os túneis sombrios. Ele sem dúvida percebera o súbito frio lá dentro e estremeceu, apertando-se ainda mais contra a jaqueta marrom que usava.

– Belle! – Foi chamando enquanto adentrava ainda mais na caverna, procurando pela ruiva.

Foi então que ouviu um barulho de passos apressados e Annabelle apareceu à sua frente, quase o cegando ao apontar a lanterna extremamente forte para o rosto dele.

– Simon? – Ela perguntou confusa, mas pareceu se alegrar ao notar a presença do castanho. – Você veio me ajudar? – Perguntou com um sorriso mais entusiasmado no rosto.

– Não, Belle. – Simon respondeu ao se livrar da forte luz em seu rosto, olhando-a com seriedade e preocupação. – Nós temos que sair daqui.

– Então você ainda está contra mim. – Annabelle deu alguns passos para trás, desfazendo o sorriso. – Você vai ver. – Saiu correndo para longe dele pelos túneis.

– Belle! – Simon chamou-a, mas ela não escutou, então o castanho se pôs a correr atrás dela, seguindo-a com certa dificuldade por causa da perna postiça que substituía à que ele perdera.

– OUAT –

Com os anos, vinham mais ataques de dragões a Berk. Soluço, agora com onze anos, continuava tentando ajudar como podia, mas tudo o que conseguia fazer era tornar o estrago das feras ainda pior.

Depois de mais uma tentativa de ajuda mal sucedida e ainda não tendo sido encontrado por seu pai, Soluço se encontrava encolhido no chão, com um olho roxo e um pouco de sangue escorrendo do canto do lábio ferido.

– É bom que aprenda o seu lugar, pirralho. – Um menino que não devia ser mais velho que Soluço declarou em um tom irritado, mas ao mesmo tempo vitorioso. – Você não é um viking. Nunca será um. Desista.

Soluço ficou calado e o menino até estava começando a pensar que havia conseguido seu objetivo quando o castanho finalmente proferiu a palavra:

– Não. – Disse de modo sério e decidido.

– Não? – O menino repetiu a palavra como se ainda não acreditasse no que havia dito, irritando-se logo em seguida quando o castanho balançou a cabeça em concordância. – Você não tem medo de morrer, seu moleque? – Pegou Soluço pela gola da camisa verde que o mesmo usava e o levantou de modo que os pés do castanho não mais tocavam o chão.

– Isso mesmo que você ouviu. – Soluço respondeu com dificuldade por causa da posição em que se encontrava. – Não vou desistir de ajudar os outros e não são suas ameaças que irão me impedir. Eu ainda irei ser útil, irei ajudar o reino. – Disse em tom decidido.

O garoto se irritou e bateu ainda mais em Soluço, só indo embora quando ouviu a voz do pai do castanho, que o procurava.

Quando Stoico o encontrou, Soluço estava largado no chão, sangrando e com vários hematomas pelo rosto e pelos braços magros. Assim, o líder de Berk levou o filho de volta para casa.

– Viu no que dá, Soluço? – Perguntou enquanto colocava alguns curativos no rosto do filho, que olhava para ele como se o avaliasse.

– Pai, eu já disse. – O castanho insistiu. – Vou ser útil. Vou ajudar o meu povo.

– Não vai conseguir com isso. – Stoico apontou para o filho.

– Mas você está apontando para eu todo. – Soluço respondeu com certa insatisfação, cruzando os braços machucados e fazendo um biquinho dolorido.

– Soluço... – Stoico tentou falar, mas o castanho se levantou e o interrompeu.

– Pai, eu não vou desistir. – Soluço disse em um tom que não deixava brechas para retrucar. – Mesmo que me ameacem e batam em mim, eu não vou desistir de ajudar as pessoas. Vou fazer de tudo por isso. – Disse isso e saiu dali, andando a passos pesados para seu quarto.

– OUAT –

Depois de correr bastante pelos gélidos túneis, Simon finalmente encontrou Annabelle, que estava agachada no chão apontando a lanterna para uma brecha que se fazia presente ali.

– Belle, você tem que ir devagar. – Simon disse sem fôlego enquanto mexia na perna falsa tentando ajustá-la de modo que não lhe fosse tão difícil correr.

– Tem alguma coisa brilhando lá embaixo. – A ruiva o ignorou, continuando a fitar a brecha no chão com a luz da lanterna.

– Belle, isso é muito perigoso. Nós temos que sair daqui. – Simon tentou convencê-la, aproximando-se a alguns passos hesitantes dela.

– Pode ser alguma coisa. – Annabelle insistiu, ainda forçando a vista para ver o que quer que estivesse escondido nas profundezas daquela mina abandonada.

Simon se aproximou dela e a segurou pelos braços, forçando a ruiva a olhá-lo de modo que percebesse o desespero presente nos olhos verdes por trás dos óculos de armação negra dele.

– Belle, olhe para mim. – Ele pediu aflito. – Eu estou com medo por você, Belle.

– Porque você acha que eu sou louca... – Ela murmurou fitando o chão, mas por estar suficientemente próximo, ele a ouvira.

– Não! – Ele se apressou em se defender. – Não é isso. Eu estou com medo porque estamos soterrados no fundo de uma mina abandonada, Belle. – Respirou fundo antes de continuar. – E não tem como sairmos.

Do lado de fora da mina, boa parte da cidade já estava se mobilizando para desobstruir a entrada da mina para que pudessem tirar Simon e Annabelle de lá. Um cachorro negro como a noite de grandes olhos verdes que havia fugido do Abrigo de Animais latia incessantemente enquanto Andrew tentava fazê-lo ficar quieto.

– Simon é esperto. – Adriana, que estava com Mylena e Elsa observando enquanto algumas pessoas trabalhavam em retirar os escombros da entrada, declarou, embora parecesse bastante preocupada. – Ele vai manter Annabelle a salvo até chegarmos lá. – Falou como se ela própria tentasse se convencer daquilo.

Um novo tremor percorreu o local provocado pela retirada das pedras da entrada da mina e Mylena gritou com os trabalhadores:

– Parem! – Ordenou e eles começaram a se afastar hesitantes da entrada. – Isso só está piorando as coisas. – Ela sussurrou, andando de um lado para o outro e passando a mão pelos cabelos castanho-escuros desorganizados.

– Mylena, nós vamos conseguir salvá-la. – Elsa a parou segurando-a pelos braços e forçando-a a olhá-la. – No final das contas, você sabe por que ela entrou lá, não é? – Piscou algumas vezes como que para se livrar da raiva. – Porque o pai de vocês a fez pensar que tinha que provar alguma coisa.

– Mas também é culpa nossa. – Mylena se desvencilhou de Elsa, recomeçando a andar de um lado para o outro. – Não somos nós quem estamos encorajando ela?

– Mylena, você não pode se culpar. – Elsa tentou segurá-la, mas ela se afastou.

– Não temos muito tempo antes que ela fique sem oxigênio. – A morena mudou de assunto, parando de andar e voltando a fitar a entrada da mina com o olhar desolado.

Dentro da mina, Annabelle e Simon andavam por entre os túneis até que escutaram um latido insistente de cachorro.

– Belle, você ouviu isso? – O psicólogo perguntou com um ar mais esperançoso.

– É um cachorro. – A ruiva respondeu com um sorriso mais animado no rosto. – Só pode vir lá de cima.

– Vamos seguir o som. – Simon sugeriu e os dois começaram a correr na direção de onde vinham os latidos.

Elsa sentia-se imensamente mal ao ver o desespero da morena ao olhar para a entrada do túnel e se aproximou dela, colocando a mão em seu ombro.

– Nós vamos conseguir. – Tentou convencê-la, embora também tentasse convencer a si própria daquilo. – O que você precisa que eu faça?

Mylena respirou fundo algumas vezes antes de finalmente se virar para Elsa. Seu rosto era absolutamente triste e desesperado, mas nenhuma lágrima se apresentava em seus olhos.

– Que me ajude. – A morena respondeu em um tom embargado embora não chorasse.

Simon e Annabelle seguiram o mais rápido que conseguiam na direção do som dos latidos até o que lhes parecia ser uma porta de ferro avermelhada e enferrujada.

– Está mais alto por aqui. – Simon declarou, abrindo a porta de ferro com certa dificuldade. – Parece... – Começou a examinar o cubículo enferrujado e empoeirado, logo o identificando. – Parece um elevador.

– Nós precisamos achar uma forma de perfurar o solo. – Mylena sugeriu, passando a mão pelo cabelo castanho-escuro, hábito esse que a loira sabia que ela tinha quando estava nervosa, e jamais olhando diretamente para Elsa. – Precisamos de alguma coisa grande.

– Como o que? – Elsa franziu o cenho sem conseguir pensar em algo apropriado em meio ao turbilhão de pensamentos que assolava sua mente.

– Explosivos. – Ambas viraram-se em tempo de ver quem falara. A morena de cabelos repicados e olhos verdes que acompanhava Marina na noite passada. Rachel Lockwood. – Acho que alguns explosivos darão conta do recado.

Elsa e Mylena se entreolharam, pensativas sobre o que deveriam fazer para salvar a ruiva e o castanho.

Simon adentrou no elevador enquanto Annabelle permaneceu do lado de fora. O castanho pôs-se a olhar para cima, por onde podia ver entrar uma ínfima luz.

– Vai até o alto. – Ele disse esperançoso. – É por isso que conseguimos ouvir esse cachorro latindo.

– Podemos fazê-lo funcionar? – Annabelle perguntou com mais entusiasmo, inclinando-se para dentro do elevador.

– Podemos tentar. – Simon respondeu enquanto ajustava a perna de mentira e forçava um sorriso reconfortante para a ruiva, que também adentrou no elevador.

Os explosivos sugeridos por Rachel foram colocados na entrada da mina e todos ali presentes se protegeram atrás dos carros antes que fossem detonados.

– Me ajude aqui. – Simon pediu enquanto girava a válvula enferrujada do elevador e, com a ajuda de Annabelle, estava conseguindo fazê-lo subir.

– Detone. – Mylena e Elsa disseram ao mesmo tempo e logo uma explosão seguida de bastante fumaça se fez presente no local, deixando impossível ver qualquer coisa na entrada da mina.

Com uma explosão ouvida vinda de cima e um tremor, o elevador despencou alguns metros, jogando Annabelle e Simon no chão e prendendo-os lá dentro.

Antes que Mylena pudesse fazê-lo, Elsa passou pela fita amarela em direção à nuvem de poeira que cobria a entrada da mina, desaparecendo por ali.

Depois de alguns minutos, finalmente a loira voltou, mas não parecia muito feliz.

– Funcionou? – Mylena perguntou com ansiedade e desespero, torcendo internamente para que houvesse pelo menos uma passagem na entrada.

– Não abriu. – Elsa respondeu em um tom desolado e tristonho.

– Então o que foi que fizemos? – Adriana centrou o olhar na nuvem de poeira, tentando ver a entrada da mina por entre ela.

Ninguém ali respondeu e Mylena caiu sentada no chão, parecendo atônita demais para sustentar o próprio peso e Elsa correu até ela.

Chegando perto da morena, percebeu que o rosto dela era um máscara de como por anos vira o seu próprio no espelho quando estivera trancada em seu quarto em Arendelle. O medo ali se fazia mais que presente enquanto Mylena se encolhia em seu lugar, com os olhos fixos no chão sem realmente parecer ver alguma coisa. Assim, a loira correu até ela e a abraçou na tentativa de consolá-la e também consolar a si mesma.

Para a surpresa de todos, Andrew, com quem Mylena tinha tantos problemas, se pronunciou, dirigindo-se aos funcionários que colocaram os explosivos.

– Mas o que foi isso?! – O rapaz exclamou de forma acusatória, parecendo alterado. – Vocês disseram que podiam fazer! – Já estava gritando, visivelmente irritado. – Podiam ter matado a irmã dela! – Apontou para Mylena, que ainda estava atônita demais para ficar surpresa ao notar a reação de Andrew para com o sofrimento dela.

– Andrew. – Jake se aproximou dele, segurando-o antes que ele partisse para cima do homem responsável pelos explosivos. – Todos nós sabemos disso, mas discutir não está ajudando. – Tentou acalmar o moreno.

– Se soubéssemos exatamente onde eles estão, daria para perfurar na direção deles. – Jade se juntou aos dois, cruzando os braços e franzindo o cenho com preocupação. – E introduzir alguma coisa para trazê-los de volta. – Pareceu pensativa.

Elsa então passou a prestar mais atenção nos sons ao seu redor e notou o latido insistente do cachorro desconhecido, que então estava dentro de um carro para evitar atrapalhar nas buscas.

Relutantemente, a loira soltou Mylena e correu até o cachorro, abrindo a porta do carro e permitindo que ele saísse. Assim que se viu livre, o cachorro negro pôs-se a farejar até um lugar em especial, onde parou e começou a latir.

– É onde eles devem estar. – Elsa declarou enquanto se aproximava do cachorro com Adriana, Jade, Rachel, Marina, Andrew e Jake em seu encalço. – Bom garoto. – Inconscientemente acariciou a cabeça do animal.

Todos se aproximaram dali e Andrew retirou a terra de lá. Então todos perceberam algumas grades tapando um buraco na terra.

– O que é isso? – Marina perguntou, agachada de frente para as grades.

– É para ventilação. – Andrew respondeu, tentando ver por entre a escuridão lá de baixo, mas sem obter qualquer sucesso.

Dentro do elevador, Annabelle ainda olhava para cima na tentativa de ver qualquer coisa que os pudesse ajudar enquanto Simon tentava consertar a perna falsa que havia se quebrado quando o elevador despencara.

– Eu realmente, realmente sinto muito. – Anna se sentou no chão com um suspiro cansado e se encostou às paredes do elevador.

– Tudo bem. – Simon balançou a cabeça e bagunçou os próprios cabelos castanhos sempre muito bem penteados, deixando-os desorganizados.

– Eu só queria achar provas. – Anna abaixou a cabeça e pôs-se a fitar o chão.

– Está tudo bem, Belle. – Simon sorriu levemente para ela na tentativa de lhe proporcionar alguma calma na situação em que estavam. – Eu também sinto muito. Ah, olhe, eu não acho que você está louca. – A viu ficar ligeiramente mais alegre ao dizer isso. – Eu só acho que você tem um pai muito forte que tem uma ideia clara de um caminho para você, Belle, e quando você se desvia desse caminho, acho que ele fica com medo. Isso é bem natural, em minha opinião. – Suspirou com cansaço. – Mas ele também não tem o direito de intervir na sua vida e fazê-la seguir esse caminho se isso a deixar infeliz. Então... – Respirou fundo. – Na verdade, eu não queria ter dito aquelas coisas para você.

– Tudo bem. – Annabelle concordou ainda cabisbaixa, mas visivelmente melhor depois que Simon lhe falou aquelas coisas.

– Eu só acho que não sou exatamente uma boa pessoa. – Simon deixou a cabeça pender para trás e se apoiar na parede. – Eu não sou o homem que eu quero ser...

Foi interrompido por um novo tremor que fez o elevador ranger.

Com a ajuda de um guincho, as grades foram retiradas e o buraco ficou livre. Mylena já havia se recuperado de seu estado de choque e estava junto com Elsa e Andrew tentando ver até onde aquele túnel levava.

– E agora? – Andrew arqueou uma sobrancelha, alternando olhares entre Elsa e Mylena.

– Acho que você pode ser ele. – Annabelle se repente declarou com um sorriso de canto. – Acho que você pode ser uma boa pessoa, afinal você é o Soluço.

– Soluço é o personagem de uma história e francamente não acho que ele seja eu. – Simon suspirou com cansaço.

– Ou talvez só te falte alguma coisa. – Anna sugeriu, mas não tardou em se corrigir. – Ou alguém.

Mais um tremor percorreu o local e um novo rangido veio do elevador, que ameaçava despencar a qualquer segundo.

– Nós precisamos descer alguém. – Adriana declarou enquanto mexia firmemente no gancho do guincho. – Ou o cabo pode acabar fazendo desabar as paredes do túnel.

– Eu tenho um arreio no meu carro. – Andrew declarou e se distanciou até seu carro.

– Eu vou descer. – Mylena declarou com os olhos fixos no túnel.

– De jeito nenhum. Eu vou. – Elsa respondeu preocupada tanto com Mylena quanto com Annabelle.

– Ela é minha irmã. – Mylena retrucou, embora não parecesse irritada por Elsa querer fazer algo que ela devia. Parecia até tocada pelas atitudes da loira.

Elsa se aproximou dela e a segurou pelos braços, olhando-a nos olhos. Azul no Azul.

– Eu posso ver que você não está bem. – Disse. – Eu posso fazer isso. Confie em mim. – Abriu um sorriso mínimo, mas confiante.

– Apenas traga-a de volta. – Mylena pediu e Elsa a abraçou com força, sendo retribuída logo em seguida.

Simon e Annabelle estavam sentados quietos no elevador quando perceberam uma luz forte vinda de cima. Ao olharem, perceberam Elsa descendo amarrada a alguns cabos.

– Vocês estão bem? – A loira perguntou ao parar de pé acima do elevador. – Pode parar. – Falou para o rádio que trazia consigo. – Aguentem firme aí. – Disse enquanto abria a parte de cima do elevador, estendendo a mão para que algum dos dois a pegasse. Simon ajudou Annabelle a subir e Elsa a segurou. – Te peguei.

– Ela está bem? – Simon perguntou quando o elevador começou a tremer, indicando que iria despencar.

– Simon? – Elsa chamou-o, atraindo a atenção dele para ela. – Eu sinto muito.

– Está tudo bem. – Ele sorriu para as duas.

Um barulho estrondoso se fez ouvir quando o elevador despencou.

– Soluço! – Anna e Elsa gritaram instintivamente.

Para alívio das duas, Simon havia usado a perna falsa para se segurar ao cinto de Elsa, salvando-se. Os três sorriram enquanto eram puxados de volta para cima.

Vários aplausos foram ouvidos quando Elsa, Annabelle e Simon foram puxados de volta para cima e Mylena sorriu como nunca antes alguém havia visto, genuinamente feliz.

Adriana, Jake e Andrew ajudaram Simon a levantar, visto que ele estava sem uma das pernas enquanto que Mylena puxou Anna e Elsa para um abraço, surpreendendo as duas.

– Não faça mais isso comigo. – A morena falou fingindo irritação enquanto abraçava as duas, mas visivelmente falando com Annabelle.

Apoiado em Adriana e Jake, Simon se aproximou das três, sorrindo para a cena, aparentemente satisfeito.

– Obrigada, Simon. – Mylena agradeceu assim que se soltou da loira e da ruiva, mas ainda abraçando-as de lado, uma com cada braço.

– Tudo bem. – O castanho sorriu para ela. – E pode ficar tranquila quanto à Anna. – Declarou, chamando a ruiva do mesmo modo que ela e Elsa costumavam chamar. – Seu pai não me assusta mais. – Assegurou e Mylena assentiu.

– OUAT –

Mais um ataque a dragões no reino de Berk. Por mais que Bocão tivesse insistido para que Soluço não interviesse, o castanho saiu correndo em direção ao campo de batalha. Enquanto corria, conseguia escutar alguns gritos das pessoas:

– FÚRIA DA NOITE! – Gritavam desesperadas ao avistarem um dragão negro voando pelos ares sem realmente se aproximar dali.

– OUAT –

– Então esse é o cachorro que nos salvou? – Simon perguntou quando Adriana e Jake o levaram até o cachorro negro que estava com Andrew. Foi então que todos perceberam que o cachorro não tinha dentes.

– Esse mesmo. – O Supervisor do Abrigo de Animais concordou, segurando o cachorro com cuidado.

– De quem ele é? – O castanho questionou com curiosidade.

– Não tem dono. – Foi Jake quem respondeu. – Apareceu há alguns dias no abrigo. Nem nome tem.

Simon pareceu pensar por um momento e se virou para Andrew com um brilho especial nos olhos.

– Posso ficar com ele?

– Claro. – Andrew pareceu feliz com a decisão do castanho e entregou a corda da coleira do cachorro a ele. – Que nome vai dar?

– Sei que pode acabar sendo apenas mais um motivo para a Anna me chamar de Soluço, mas vai ser... – Simon parou por um segundo antes de continuar. – Banguela.

Adriana, Jake e Andrew precisaram ir falar com Marina e Rachel e deixaram Simon sentado no chão com o cachorro. Assim que o castanho tocou no animal, uma enxurrada de imagens lhe veio à cabeça subitamente, deixando-o atônito, arfando.

– Tudo bem, Simon? – Annabelle perguntou, aproximando-se dele com Elsa.

– Por que está me chamando assim? – O rapaz sorriu maroto para as duas, que trocaram um olhar rápido e surpreso.

– Espera... – A loira finalmente compreendeu. – Soluço?

– O próprio. – O castanho sorriu com entusiasmo, logo em seguida recebendo abraços da loira e da ruiva. – Então... – Começou assim que elas o largaram. – Como quebramos uma Maldição? – Arqueou uma sobrancelha e sorriu de canto.

Algumas horas depois, já à noite, enquanto todos estavam distraídos, Pitch apareceu no local sem que ninguém percebesse e se aproximou do buraco com grades por onde Elsa havia trazido Annabelle e Simon. Olhou uma última vez para o pedaço de gelo em sua mão antes de deixá-lo cair por entre as grades.

O pedaço foi caindo até chegar ao fundo, aonde não chegou a atingir o chão, sendo levado pelo forte vento frio que alastrava a caverna subterrânea abaixo da mina.


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Notas finais do capítulo

Notaram que o flashback termina no começo do filme 'Como Treinar o Seu Dragão'?
Enfim, o que acharam?
Ficou, pelo menos, aceitável?
Próximo capítulo: The Guardian.