The New Storybrooke I - The Fairytales are Back escrita por Black


Capítulo 4
The Price of Magic


Notas iniciais do capítulo

Vocês devem estar querendo me matar pela demora, mas eu realmente estava sem criatividade para escrever esse capítulo. Sorry, guys!
Sem mais delongas, espero que gostem e boa leitura!
PS.: Eu esqueci de colocar nas notas finais do capítulo anterior. Aquelas músicas que eu escrevi lá não são minhas. 'Once Upon A Dream' é de Lana Del Rey e é a trilha sonora de 'A Bela Adormecida (1959)' e 'Malévola (2014)'. 'Unhappy Endings é instrumental de Mark Isham e é a trilha sonora de Once Upon A Time. Às partes que eu não coloquei título pertencem à Let It Go, versão de Demi Lovato.
PSNº2: Quem quiser que eu poste outro capítulo de 'The New Caribbean - New Pirates on Seven Seas' fique sabendo que eu só vou postar quando o capítulo que já está postado atingir 5 comentários.



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Depois que assistiu Elena desaparecer no portal verde, Jack suspirou pesadamente, balançando a cabeça em um gesto de reprovação. O que foi que você fez? O albino pensou e virou-se para o castelo, centrando seu olhar na janela do quarto de Elsa, onde não mais podia ver a loira que, a partir do momento que Elena passara por aquele portal, teria que cuidar.

Com mais um suspiro audível, o albino alçou voo até o parapeito da janela, onde se equilibrou e pôde ver Elsa deitada encolhida em sua cama, com a face enterrada no travesseiro que estava molhado com suas lágrimas. Mesmo lá de fora, conseguia ouvir os soluços incessantes da loira, o que lhe incomodava e entristecia profundamente mesmo sem ele saber completamente a razão.

Sem dificuldade e completamente em silêncio, Jack abriu a janela e adentrou lentamente no quarto da loira, tentando ao máximo não fazer barulho e obtendo sucesso em seu feito. Assim que estava dentro do lugar, virou-se para fechar novamente a janela, porém não conseguindo obter o mesmo silêncio de quando a abriu.

Interrompeu-se ao escutar um grito assustado vindo de trás de si e se virou, vendo Elsa ainda mais encolhida em sua cama, mas agora tremendo e com os olhos vidrados nele. Por que ela está assim? Automaticamente se perguntou. Ela não se lembra de você, idiota! A parte mais agressiva de sua mente gritou e ele sentiu o impulso de estapear a própria testa por ter se feito uma pergunta tão estúpida. Pelo menos ela consegue me ver. Suspirou com um pouco de alívio.

– Elsa. – Ele falou pela primeira vez desde que entrara, decidido a fazer a loira se acalmar e confiar nele, uma vez que ela teria que tolerá-lo pelo resto de sua vida.

– Quem é você? – A loira perguntou com a voz embargada e assustada, olhando alarmada para Jack.

– Sou Jack. – O albino sorriu levemente, encorajando a loira a acreditar nele. – Jack Frost.

– Jack Frost? – Elsa repetiu com incredulidade, uma vez que conhecia a lenda do Espírito do Inverno.

– Isso mesmo. – Aproximou-se da loira em dois passos relutantes, as quais ela não pareceu se importar. – Você se lembra de mim? – Apelou para as lembranças de Elsa, uma vez que ela podia até não se lembrar, mas eles haviam se conhecido muito tempo atrás.

Elsa pareceu pensar por alguns minutos antes de abrir um sorriso tristonho para o albino, o que demonstrava que ela havia se recordado dele. Jack retribuiu o sorriso de forma mais animada e os dois só foram interrompidos por batidas na porta.

– Elsa? – Ouviram a voz da Rainha de Arendelle vinda do outro lado. Mesmo não podendo vê-la, Jack pôde perceber todo o sofrimento que estava contido por meio de sua voz. – Você está bem?

Elsa olhou para Jack e ele fez que não com a cabeça. Adultos não podiam vê-lo, ou pelo menos a maioria não podia, então dizer à mãe o que estava acontecendo só serviria para que pensassem que a loira era louca, algo que definitivamente não era aconselhável.

– Sim. – Elsa respondeu relutantemente, ainda sem conseguir esconder o sofrimento presente em sua voz, assim como a Rainha.

O barulho de passos se afastando denunciou que a mulher fora embora. Jack desviou o olhar da porta e voltou a fitar Elsa, que novamente havia deixado as lágrimas a dominarem. Jack se aproximou dela lentamente, hesitante, e sentou-se na cama dela, colocando a mão em seu ombro em um gesto reconfortante.

– Elsa. – Chamou, mas a loira não o olhou. – Elsa, olhe para mim. – Pediu e relutantemente ela obedeceu. Ele então viu os grandes olhos azul-gelo cheios de lágrimas, mas continuou. – Eu sei que está triste. Elena não está mais aqui, mas você não pode ficar assim. Ela não iria querer. – Sentiu-se mal por sustentar a mentira inventada por Jack O’Lantern à menina, mas não tinha escolha. Elena realmente estava bem longe de Arendelle, sequer estava na Floresta Encantada.

Elsa assentiu, mas foi incapaz de conter as lágrimas que se seguiram à menção da irmã mais velha, a qual não estava mais ali por sua culpa.

– Você já sabe que eu e a Elena éramos amigos, não é? – Jack perguntou e a loira assentiu por entre as lágrimas. – Ela me pediu para que se algo acontecesse a ela, eu cuidasse de você. Apesar de tudo, acho que ela nunca te deixou. – Deu um sorriso, tentando animar a menina, mas não obtendo um resultado tão bom quanto esperava. – Então, para o que você precisar, Elsa, eu vou estar aqui.

– OUAT –

O sol raiava anunciando mais uma manhã em Storybrooke. Elsa acordou pela manhã bem cedo, fez sua higiene matinal e vestiu-se com botas pretas, calças pretas e blusa azul-clara com mangas longas.

Saiu do quarto, encontrando Mylena vestida com calças pretas, suas inseparáveis botas pretas e uma blusa vermelha de mangas dobradas até os cotovelos lendo alguns papéis e com as olheiras parecendo ainda mais profundas do que na noite anterior.

– Bom dia. – Elsa cumprimentou, estranhando o horário na qual a morena acordava.

– Oi. – Mylena sorriu levemente. Era incrível como a presença da loira substituía o habitual vazio em sua vida por algo diferente: Felicidade.

– Dormiu bem? – Elsa arqueou uma sobrancelha, sentando-se à mesa, uma vez que a morena já havia deixado um café da manhã pronto para ela.

Mylena sorriu marota para Elsa, como uma criança fazendo algo que sabe que não devia e que acabara de ser flagrada por alguém que sabe que não irá castigá-la.

– Não dormiu de novo. – A loira concluiu com um suspiro pesado, massageando os olhos com as pontas dos dedos.

– Eu estava trabalhando. – Mylena justificou e voltou a se concentrar nos papéis em suas mãos.

– Sempre trabalhando. – Elsa murmurou de modo que apenas ela pudesse escutar.

Mylena levantou o olhar, fitando Elsa como se a desafiasse a dizer o que quer que tenha dito em voz alta, mas a loira acabou por não perceber e a morena voltou a examinar os papéis à sua frente.

– Por que você nunca dorme? – A loira arqueou uma sobrancelha, olhando a outra com preocupação e verdadeiro interesse.

A pergunta pegou Mylena de surpresa. Os segundos passaram em um silêncio incômodo que nenhuma das duas rompeu pelo que lhes pareceu um tempo longo demais. Suspirando pesadamente, a morena finalmente falou:

– Não tenho tempo. – Sorriu com uma pontada de ironia, embora não fosse realmente aquele o motivo. Preferia guardar seus pensamentos para si mesma.

Elsa riu baixo, apesar de que aquilo a estava incomodando. Mylena parecia extremamente cansada e poderia estar estressada, embora não deixasse a loira perceber. Com uma ideia em mente, a loira sorriu.

– Tem como tirar o dia de folga? – Perguntou inocentemente.

– Não há ninguém para me substituir. – Mylena respondeu sem tirar os olhos da papelada á sua frente e tomando também um gole do café que estava perto de si na mesa.

Elsa franziu o cenho, insatisfeita. Milhares de formas para retirar a morena do trabalho que lhe pareceram ineficazes passaram por sua cabeça em apenas um único segundo. Uma memória bastante antiga, de sua infância não muito feliz, instalou-se em sua cabeça e ela sorriu, já sabendo exatamente quem jamais negaria um favor a elas. Ou pelo menos, a loira rezava para que a versão amaldiçoada de seu noivo ainda tivesse a amizade antiga que costumava ter com Elena, a qual fez com que ele passasse anos a fio cuidando da loira quando a morena fora embora.

– Eu sei quem pode te substituir. – Elsa declarou com um sorrisinho satisfeito de quem estava aprontando alguma coisa.

– Quem? – Mylena a olhou e arqueou uma sobrancelha, expressando desconfiança.

– Alguém que jamais lhe negaria um favor. – Elsa respondeu com o mesmo sorriso de antes.

Elsa praticamente arrastou Mylena pelas ruas de Storybrooke. Ainda lembrava-se claramente de Anna dizendo que Jack, na versão amaldiçoada Jake, trabalhava no abrigo de animais com Andersen, Andrew ali.

– Abrigo de Animais? – Mylena arqueou uma sobrancelha com confusão enquanto a loira a arrastava para dentro do lugar.

– É. – Elsa concordou, levando a morena pelos corredores do local até a porta da sala que pertencia ao supervisor.

Largou o braço de Mylena, que naquele momento estava vermelho por causa da força empregada pela loira, e bateu algumas vezes na porta, recebendo um ‘Entre!’ vindo lá de dentro. Desse modo, Elsa entrou com Mylena, encontrando Andrew examinando uma papelada enquanto Jake colocava ração em um aquário de peixes que havia na sala.

– Oi. – Elsa cumprimentou e ambos os rapazes lá dentro olharam para as duas recém-chegadas.

O olhar de Jake pousou em Elsa e o rapaz sorriu ao vê-la.

– Olá, garota que beija a bochecha de estranhos. – Ele brincou com um sorriso nos lábios.

– Olá, melhor conselheiro de Storybrooke. – Elsa repetiu o gesto dele, retribuindo o sorriso caloroso que ele lhe lançava.

– Essa é nova. – Andrew e Mylena disseram ao mesmo tempo, ambos alternando olhares entre Jake e Elsa.

Só então os dois mais velhos pareceram notar a presença um do outro e se fuzilaram com os olhos.

– Olá, Storm. – Mylena cumprimentou com uma frieza calculista, tratando o supervisor do Abrigo de Animais pelo sobrenome.

– Oi, Black. – Andrew replicou o tom da morena, transmitindo um desagrado quase idêntico ao dela.

– Eu acho que perdi alguma coisa. – Elsa se aproximou de Jake e murmurou em um tom que apenas o rapaz, por estar próximo a ela, poderia escutar e ele riu.

– Ainda tem muita coisa que você precisa saber sobre essa cidade. – Jake replicou o tom baixo usado pela loira, de modo que apenas ela ouviu.

– Tipo? – Elsa arqueou uma sobrancelha, alternando olhares entre Mylena e Andrew, que continuavam a se encarar com olhares quase homicidas.

– Andrew Storm e Mylena Black se odeiam até a morte. – O rapaz riu, parecendo se divertir com a tensão que havia entre os dois morenos que se encaravam mortalmente à sua frente.

Isso sem dúvidas surpreendeu a loira, que apenas se manteve calada assistindo a cena mais que incomum à sua frente. Antigamente, na Floresta Encantada, Elena e Andersen se davam tão bem...

Balançando a cabeça abruptamente, Elsa de repente se lembrou do porquê de ter ido ali e arrastado Mylena com ela.

– Tenho uma coisa para te pedir. – Deu as costas para Andrew e Mylena, que estavam pulando a parte de se encarar e começando realmente a discutir, e virou-se para Jake.

– O que? – Ele arqueou uma sobrancelha, expressando pura curiosidade.

– Eu estou querendo passar um tempo com a Mylena, conviver mais com ela como você mesmo me sugeriu, mas ela não para de trabalhar. Então... – Falou sem graça, envergonhada por estar pedindo um favor a ele, que naquela cidade mal a conhecia.

– Então você quer que eu a substitua. – Jake completou com um sorriso compreensivo.

– É. – Elsa admitiu meio sem graça.

– Tudo bem. – O rapaz concordou, recebendo um abraço animado e agradecido de Elsa, novamente se surpreendendo com o quão à vontade a loira se sentia perto dele.

– Obrigada. – Elsa agradeceu, sorrindo e logo depois, soltou Jake.

– Não tem problema. – Jake passou a mão pelos cabelos castanhos, envergonhado. Decidiu-se por escapar daquela situação. – Mas haverá problemas enormes se você não fizer aqueles dois pararem de discutir. Eu vou substituir a Mylena, mas ela ainda está armada, sabe? – Apontou para Mylena e Andrew, que naquele momento trocavam insultos.

– ... Idiota. – Mylena insultou.

– Fria. – Andrew retrucou.

– Lento.

– Vazia.

– Metido...

Os dois, sem dúvidas, continuariam com aquela rodada de insultos se não fosse Elsa a interrompê-los. A loira se interpôs entre os dois, que pareciam que a qualquer momento iriam começar a realmente brigar.

– Já conseguimos o que queríamos. – Elsa sorriu, alternando olhares entre os dois, que continuavam a se encarar mortalmente.

Vendo que tanto Andrew quanto Mylena continuavam inclinados a retornar a discussão, Elsa arrastou a morena para fora dali, tendo certeza de que poderia confiar em Jake para cuidar da delegacia enquanto conversava com ela.

– OUAT –

O tempo foi se passando desde a fatídica noite. A contragosto de Jack e mesmo que ele se opusesse, Elsa acabou por se isolar em seu quarto, temendo pela segurança de sua família. O que mais temia era fazer com seu pai, sua mãe e Anna o mesmo que acabara por fazer com Elena.

O sol já havia nascido e Elsa, agora com doze anos, acabara de acordar. Como todos os dias, foi possível ouvir batidas e a voz de Anna vinda de trás da porta.

Do you wanna build a snowman? – Ela cantava, como todos os dias. – Or ride our bikes around the halls? – Prosseguiu. I think some company is overdue. I've started talking to the pictures on the walls! It gets a little lonely. All these empty rooms. Just watching the hours tick by. Do you wanna build a snowman?

– Vá embora Anna. – Elsa pediu ainda sentada em sua cama.

Ok, bye. – A voz da ruiva, desta vez mais baixa, se fez ouvir, expressando tristeza e descontentamento.

Jack assistiu a mesma cena se repetir, como ocorriam todos os dias desde que Anna descobrira o isolamento de sua irmã. A única companhia que Elsa tinha era o Espírito de Inverno, a qual o pai e a mãe pensavam ser um amigo imaginário criado pela loira para que não se sentisse tão sozinha, mas o próprio Jack julgava que apenas sua companhia e convivência não eram o suficiente.

Logo depois, não era mais possível ouvir a voz de Anna, apenas o som de passos se afastando vagarosamente. A ruiva havia ido embora. Tendo fitado a porta ao perceber que a mais nova mais uma vez desistira de chamar, só então Jack olhou novamente para Elsa, vendo que a loira estava chorando e um pouco de gelo se espalhava pelo quarto. Jack aproximou-se da loira e sentou-se ao lado dela, como adquiria o costume de fazer.

– O que eu faço? – Elsa perguntou, não parecendo perguntar a qualquer pessoa em particular, deitando-se na cama em seguida. – Eu queria que você estivesse aqui para me dizer, Elena.

Elsa chorou ainda mais ao se lembrar da irmã mais velha. Jack já tinha plena consciência da falta que a morena fazia na vida da loira e sentia-se mal sempre que via Elsa derramar lágrimas por causa de Elena. Mas não podia fazer nada. Dar esperanças falsas a alguém é pior do que mentir. Jack pensou consigo mesmo, já que sabia que a morena jamais voltaria.

Ainda chorando, Elsa abriu os olhos ao ouvir o barulho dos passos de seu então melhor amigo. Sentou-se na cama enquanto assistia ele se dirigir a passos lentos até a janela que desde que ele chegara estava sempre aberta.

– Ela precisa de você, Elena. – Jack sussurrou baixo o suficiente para que apenas ele conseguisse ouvir, por mais que Elsa estivesse atenta a ele. – Você precisa voltar.

– OUAT –

Elsa ainda teve bastantes problemas em convencer Mylena de que Jake conseguiria cuidar da delegacia enquanto ela estivesse fora e só depois de muito tempo a morena concordou com a loira, embora mostrasse relutância.

As duas estavam andando pelas ruas de Storybrooke e acabaram indo à ponte do pedágio, a qual havia uma clareira perto que Anna apelidara de a Casa dos Trolls, tendo várias pedras redondas por lá que a ruiva dizia que eram as criaturinhas da história do livro.

A ponte estava completamente vazia. Não eram muitas as pessoas que gostavam de ir ali, mas Elsa se afeiçoou ao local quando Mylena o mostrou.

– Então... – Mylena começou, fazendo Elsa olhá-la, e respirou fundo antes de prosseguir. – Você me tirou do trabalho. É bom que tenha uma excelente razão para isso.

– Ora, vamos. – Elsa sorriu. – Sei que está feliz em passar um tempo comigo ao invés de estar trabalhando.

– Estou? – Mylena arqueou uma sobrancelha, mas sorriu também.

Passaram-se alguns segundos em um silêncio confortável enquanto as duas apreciavam a paisagem do belíssimo local.

– Bem... – Mylena sugeriu. – Eu não sei muita coisa sobre você. Acho que já que eu estou liberada do trabalho, a gente podia aproveitar para se conhecer.

Acredite, não há ninguém que a conheça melhor do que eu. Elsa pensou, rindo baixo por causa disso, mas Mylena não a conhecia como Elena, então era melhor que fizessem aquilo que a mais velha sugerira.

– Por onde quer começar? – Elsa questionou com um sorriso satisfeito nos lábios.

– Talvez pelo começo. – Mylena deu de ombros. – Infância? – Sugeriu.

Elsa ficou calada em seu lugar, estática. Apesar de sempre ter tido Jack tentando animá-la e fazê-la feliz, a infância da loira não foi a mais feliz do mundo, apesar de que o albino a tornara muito melhor do que se ela estivesse sozinha. Ela ficou quieta em seu lugar enquanto os milhares de lembranças lhe invadiam a mente.

– Eu disse algo errado? – Mylena perguntou automaticamente se sentindo culpada por ter entristecido a loira, embora não soubesse o porquê disso lhe incomodar tanto.

– Não. – Elsa balançou a cabeça em negação. – É só que eu não tive a melhor infância do mundo, se é que me entende.

– Eu nem me lembro da minha, então acho difícil. – Mylena deu de ombros e colocou uma mão no ombro de Elsa, solidária.

– Não lembra? – A loira questionou, olhando-a nos olhos. – E acha isso normal?

– Na verdade, sim. – Mylena bufou e revirou os olhos. – O tempo passa. Esquecemos as coisas. É normal. – Suspirou e então sustentou o olhar de Elsa. – Mas não era de mim que estávamos falando.

– Eu sei. – Elsa fechou os olhos e suspirou pesadamente, encostando-se à ponte.

– Quer me contar? – A mais velha sorriu fracamente. – Talvez ajude.

As lembranças da época em que era pequena e não podia ser mais feliz vieram à mente de Elsa, em especial quando teve um pesadelo e Elena correu até ela, dizendo também a mesma frase que a loira acabara de escutar: “- Quer me contar? – A mais velha sorriu fracamente. – Talvez ajude.”.

Apesar de não ter consciência, Mylena ainda preservava a personalidade de antes da Maldição e isso fez Elsa sorrir e tomar coragem para contar. Ela nunca havia dito nada a Elena sobre como foi sua infância depois que ela foi embora, mas quando a Maldição fosse quebrada, a mais velha iria saber.

– Tudo bem. – A loira concordou.

– OUAT –

Alguns dias se passaram depois daquilo. Já era tarde quando Jack, que estava distraído olhando pela janela, escutou um grito vindo de Elsa. O albino olhou com preocupação para trás e encontrou o quarto semicongelado e Elsa olhando para as próprias mãos.

Os pais da loira logo entraram no quarto e se aproximaram de Elsa, que estava em pé encolhida num canto da parede.

– Elsa, o que aconteceu? – A rainha perguntou, aproximando-se.

Elsa recuou ao notar a aproximação da mãe e o pai a olhou preocupado, assim como ela percebeu que Jack também o fazia.

– Não se aproximem. – Elsa pediu. – Eu não quero machucá-los.

– Elsa, venha comigo. – O rei chamou.

Relutantemente, a loira seguiu o pai para fora do quarto e ambos foram para uma das centenas de salas do castelo. Jack os seguiu, uma vez que jamais se afastava da loira por mais tempo do que o necessário. Em frente à lareira, o rei estendeu para Elsa um par de luvas.

– Isso vai ajudar. – O pai da loira disse, estendendo as luvas para a filha.

Ele entregou o par de luvas brancas à Elsa e a loira imediatamente as colocou, para desgosto de Jack, que lançou um olhar reprovador ao Rei de Arendelle.

– As luvas vão ajudar. – O homem declarou, ajoelhando-se para ficar da altura da filha e segurando sua mão já vestida com a luva branca. – Veja... Conceal. – Ele começou, dando a deixa para que ela prosseguisse.

Don’t feel. – Elsa continuou. – Don’t let it show.

Jack balançou a cabeça em reprovação pela atitude do homem à sua frente. Ele não devia encorajar Elsa a esconder o dom maravilhoso que tem, deveria ajudar a controlá-lo. O albino até poderia tentar convencer Elsa de que o uso daquelas luvas não era necessário, mas como a teimosa que era, a loira não o escutaria.

O Guardião da Neve e da Diversão suspirou audivelmente, fazendo com que Elsa o olhasse com preocupação pelo canto do olho para que o pai não percebesse. Você fazia parecer fácil. Jack pensou, lembrando-se de todas as vezes que vira Elsa sendo cuidada pela irmã mais velha.

– OUAT –

É claro que Elsa não contara tudo. Havia coisas que a morena realmente não precisava saber, e que sua versão amaldiçoada não acreditaria, e a loira rezava para que nunca descobrisse, uma vez que sabia o quanto sua felicidade era importante para Elena e que a mais velha ficaria excepcionalmente culpada em saber o que ela acabara de contar à sua versão amaldiçoada, Mylena.

– Eu... – Mylena falou pela primeira vez desde que Elsa iniciara a história, percebendo que de algum modo o sofrimento da loira também a feria. – Eu não sei o que dizer.

– Não precisa dizer nada. – Elsa respondeu, olhando para as águas do raso rio que corria por baixo da ponte. – Isso já faz muito tempo. O passado está no passado.

– Mas as memórias ainda podem machucar. – Mylena disse e franziu o cenho.

Elsa, ao perceber o desconforto e inquietação da morena ao seu lado, fitou-a.

– Algo errado? – A loira questionou.

– É só que... – Mylena começou, mas se interrompeu. Pareceu pensar por alguns segundos e então reiniciou a falar. – Sua irmã, Elena, ela já te fez tanto mal. Ela já te abandonou e passou anos longe de você sem te dar qualquer satisfação ou mesmo uma notícia. Mas mesmo assim, você ainda parece determinada a encontrá-la. Eu só não entendo o porquê. – Olhou nos olhos de Elsa. – Por que ainda se importa?

– Porque ela é família. – Elsa respondeu, voltando a fitar as águas do raso rio. – Não se abandona família.

– Mas ela já te abandonou uma vez. – Mylena retrucou, seguindo o olhar dela.

– Eu posso não saber os motivos, mas há uma coisa que eu sei e na qual nunca vou deixar de acreditar. – Um sorriso brincou no canto dos lábios de Elsa.

– O que? – A morena arqueou uma sobrancelha, embora ainda continuasse a fitar a água abaixo da ponte em que estavam.

– Que ela me ama. – A loira deixou um sorriso verdadeiro e feliz aparecer. – Eu acredito nisso com todo o meu coração. E eu também a amo. Muito.

Mylena também sorriu. De algum modo, era bom ouvir aquilo, mesmo que não entendesse o motivo do porquê uma simples frase de Elsa direcionada à irmã mais velha desaparecida lhe deixaria tão contente.

– Você parece feliz. – Elsa a observou, não contendo a satisfação ao finalmente ver um sorriso verdadeiro no rosto da morena ao seu lado.

– Você fala como se eu nunca sorrisse. – Mylena brincou sem deixar o sorriso se desfazer.

– E não sorri. – Elsa respondeu e a morena a fitou com surpresa e curiosidade. – Você não me engana com um sorriso falso.

A frase pegou Mylena de surpresa e ela gargalhou audivelmente, realmente feliz.

– Achei que iria morrer sem alguém descobrir isso. – A morena riu e seus olhos pareciam brilhar quando estava realmente feliz.

– Foi fácil. – Elsa deu de ombros, mantendo o sorriso no rosto ao ver o mais próximo de sua irmã que já havia visto desde que chegara a Storybrooke. – Eu sei quando você mente.

– De acordo com a Anna, você sabe quando todo mundo mente. – Mylena revirou os olhos.

– É. – Elsa concordou. – Mas não foi por isso que eu descobri. Eu te conheço. Sei perfeitamente bem quando mente, embora você consiga fazer isso melhor que os outros.

A afirmação da loira pegou a morena de surpresa e ela a fitou com curiosidade, embora ainda mantivesse o sorriso feliz nos lábios.

– Como assim? – Perguntou.

– História longa. – Foi só o que Elsa respondeu e a outra também não insistiu.

As duas conversaram por mais algum tempo e foram andando de volta às ruas de Storybrooke.

– OUAT –

Um ano se passou após Elsa ganhar as luvas, mas elas já não pareciam ajudar tanto. Elsa gritou ao perceber que os poderes estavam ficando mais fortes, e os pais logo chegaram ao quarto dela, preocupados com a filha. Jack assistiu a tudo trazendo um semblante infeliz não usual ao Guardião da Diversão, estando parado de braços cruzados, encostado a uma parede no canto oposto do quarto.

– Estou com medo. – Elsa falou, andando de um lado para o outro, mas virando para os pais em seguida. – Estão ficando cada vez mais fortes.

A garota estava em um dos cantos da parede e este estava completamente congelado.

– Ficar transtornada só piora as coisas. – O rei tentou se aproximar na tentativa de reconfortar a filha. – Acalme-se.

– Não. Não me toque. – Elsa exclama, ao perceber a aproximação do pai. – Por favor. Eu não quero te machucar.

O rei e a rainha se entreolharam, preocupados com a filha. Jack abaixou a vista, não conseguindo mais olhar o sofrimento da loira da qual devia cuidar, mas que se tornara realmente importante para ele com o passar do tempo.

– OUAT –

Depois de voltarem da ponte, não havia realmente mais nenhum lugar que as duas estivessem dispostas a ir. De certa forma, estar com Mylena, por mais que ainda sentisse uma enorme falta de Elena, deixava Elsa feliz. Pois, por mais que a versão amaldiçoada ainda tivesse suas diferenças, não era como em sua infância, quando a morena estivera completamente ausente. De certa forma, ela estava ali ao seu lado.

– Você sempre sorri para o nada? – Mylena questionou, olhando para Elsa pelo canto do olho e expressando um meio sorriso.

Foi só então que Elsa percebeu que estava com um sorriso feliz estampado no rosto. Riu baixo com suas próprias reações e olhou para a morena ao seu lado pelo canto do olho.

– E quem nunca? – Deu de ombros e voltou a fitar o caminho à sua frente.

– Eu? – Mylena respondeu como se fosse óbvio, soltando um riso baixo e também olhando para frente.

– Você é uma exceção. – A loira brincou, realmente aparentando todo o seu bom humor.

As duas riram audivelmente e continuaram a andar. Pararam em uma esquina próxima à Lanchonete da Vovó quando Jake colocou a viatura bloqueando o caminho das duas.

– Oi. – O rapaz saiu do carro, fechando a porta e trazendo um sorriso de canto entusiasmado no rosto.

– Espero que não tenha batido o carro. – Mylena cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha, embora estivesse visível que ela estava apenas brincando.

– Olha só quem está de bom humor. – Jake bagunçou os cabelos dela, denunciando que mesmo ali em Storybrooke, eles continuavam sendo bons amigos. – Você conseguiu um milagre, Elsa. – Olhou de soslaio para a loira e sorriu para ela, que retribuiu o gesto.

– Acho que sim. – Elsa concordou com um sorriso bobo no rosto enquanto olhava para Jake, que parecia estar do mesmo modo que ela. – Mas não foi fácil.

Mylena alternou olhares entre os dois, que naquele momento pareciam estar completamente alheios à sua presença e revirou os olhos, rindo baixo.

– Parece que eu estou sobrando aqui. – A morena fez menção de se retirar, mas teve cada um dos braços segurados pelos outros dois.

– O que? – Jake ficou com o rosto vermelho. – Não!

– É. Não sei do que você está falando. – Elsa desviou o olhar. Ela podia saber quando as pessoas mentiam, mas ela mesma não era boa no ato.

– Claro que não sabe. – Mylena deu de ombros e se desvencilhou dos dois com um sorrisinho sapeca, trazendo ironia em seu tom de voz.

Jake e Elsa se entreolharam e depois tornaram a olhar para Mylena, que permaneceu quieta, fitando a viatura policial como se de repente fosse a coisa mais interessante do mundo a se fazer.

– Bom... – Jake passou a mão pelos cabelos castanhos, sem graça. – Eu acho que já vou. – Declarou, sorrindo envergonhado para Elsa.

– Tudo bem. – A loira concordou com um gesto mínimo da cabeça. – Então... Te vejo depois? – Arqueou uma sobrancelha.

– Com certeza. – Ele afirmou com um sorriso satisfeito e entusiasmado, logo voltando para a viatura e indo embora dali.

Elsa ficou observando o carro se distanciar e assim que não podia mais vê-lo, virou-se para Mylena, que, por sua vez, falou antes que ela pudesse.

– Ora, vamos. – A morena cruzou os braços e fez uma expressão de quem falava algo extremamente óbvio. – Até a Anna poderia ver que você está gostando do Winter. – Falou, usando o sobrenome do rapaz.

– Não estou não. – Elsa rebateu, desviando o olhar para a calçada.

– Claro que não está. – Mylena revirou os olhos, trazendo em seu rosto um sorriso irônico. – E eu sou um personagem de Contos de Fadas.

Com isso, Elsa teve que rir, pois, por mais que não se lembrasse disso e não acreditasse, Mylena era sim um personagem de Contos de Fadas.

– OUAT –

Mais anos se passavam. Elsa agora tinha dezoito anos, a idade que Elena tinha quando “morreu”, enquanto que Jack continuava com a mesma aparência de sempre. Pela primeira vez em anos, a loira saiu do quarto para se despedir dos pais, que iam viajar. Jack foi com ela, querendo se certificar de que nada poderia acontecer para deixar Elsa ainda mais transtornada e com medo de seus belos dons.

– Vocês têm mesmo que ir? – A loira perguntou, olhando com pesar para os pais.

– Você vai ficar bem, Elsa. – O pai assegurou com confiança, sorrindo para a filha. Já sei de onde Elena tirou o otimismo. Jack pensou consigo mesmo, bufando inaudivelmente.

O rei e a rainha saíram e foram até as docas para embarcar no navio em que viajariam. Jack ficou observando o navio partir pela janela do castelo, de onde podia ver quase todo o reino e se virou para Elsa, só então notando que a loira já não estava mais ali.

Já sabendo onde Elsa estaria, dirigiu-se ao quarto da loira. Assim que Jack entrou no quarto da loira, usando a porta como qualquer pessoa normal faria, viu Elsa andando de um lado para o outro, fitando as luvas.

Conceal, don’t feel, don’t let them know. – Elsa cantou a música que seu pai há muito lhe ensinara e que Jack fortemente desaprovava.

O albino sentiu um aperto no coração ao ver a mais nova cantar mais uma vez a letra que os dois já haviam memorizado. Depois de anos, Jack acabou por descobrir que discutir com Elsa quando a loira colocava uma ideia na cabeça era inútil e a única pessoa que conseguiria fazê-la mudar de ideia estava realmente muito longe dali.

Olhando para Elsa, Jack conseguia perceber o quanto a loira e Elena eram parecidas. Elsa estava ficando exatamente igual à morena, com a diferença apenas dos cabelos, que não eram castanho-escuros, eram loiro-esbranquiçados. Os olhos de Elena também eram ligeiramente mais escuros que os de Elsa, mas ainda assim, a semelhança entre as duas era mais que notável. Facilmente seriam confundidas com gêmeas se alguém visse Elena com dezoito anos ao lado de Elsa naquele momento.

Jack sorriu ao constatar pela primeira vez a semelhança entre elas, algo que até poderia vir a deixar a loira feliz algum dia, mesmo que para seu desgosto, Elsa continuasse a cantar aquela mesma letra.

Don’t let them in. Don’t let them see. Be the good girl. You always have to be. – A loira continua repetindo, ainda cantando. – Conceal. Don’t feel. Don’t let them know.

Ambos naquele quarto sabiam muito bem qual seria a frase de Elena ao ouvir a loira falando aquilo: Well, now they know.

Jack riu baixa e fracamente ao constatar o fato e se virou para a janela, observando o céu azul apoiado no parapeito. Não se surpreendeu muito ao notar Elsa ao seu lado, seguindo seu olhar até as nuvens e colocou o braço ao redor dos ombros da loira, que deixou a cabeça se encostar ao ombro do albino.

– OUAT –

Elsa e Mylena, depois do encontro inesperado com Jake, foram à Lanchonete da Vovó, encontrando lá Annabelle, que acabara de sair da escola.

– Oi, garotas. – A ruiva cumprimentou, dando um abraço em cada uma assim que as viu entrar. Virou-se para Mylena com um olhar surpreso. – Você não devia estar no trabalho?

– Consegui que ela tirasse uma folga. – Elsa riu baixo e Anna a acompanhou.

– Você conseguiu um feito e tanto. – Annabelle disse e logo as três se sentaram a uma mesa, a qual Marina logo foi anotar seus pedidos. – Ela nunca sai do trabalho por nada. Falo por experiência própria, afinal já tentei várias vezes. – Riu baixo com o que ela própria havia dito.

– Alguém por aqui tem que ser responsável, não é? – Mylena arqueou uma sobrancelha, mantendo o sorriso no rosto, e então fechou os olhos, como se para lembrar-se de algo. – Be the Good Girl. You always have to be. – Cantarolou baixinho, mas Elsa a ouviu.

A loira arregalou os olhos, fitando a morena com incredulidade, mas a mais velha não percebeu, ainda estando com os olhos fechados. Elsa imediatamente olhou para Annabelle de forma inquisitiva, transmitindo à ruiva certa confusão.

– Mylena! – As três ouviram uma voz chamando a morena e se viraram na direção do som, percebendo ser uma loira com os cabelos arrumados em um coque desarrumado e olhos azuis.

– Adriana. – Mylena se levantou, cumprimentando a loira. Virou-se para Elsa e Anna. – Já volto. – Então, foi até onde a loira, Adriana, esperava.

Assim que Mylena se distanciou, Elsa se aproximou de Anna, falando em um tom baixo que apenas as duas poderiam ouvir:

– Aquela é a Astrid, não é? – A loira arqueou uma sobrancelha, olhando para Adriana pelo canto do olho.

– É sim. – Anna assentiu, parecendo feliz com a confirmação de que Elsa acreditava nela. – Aqui é Adriana Clark, bibliotecária.

– Não combina nada. – Elsa franziu o cenho, estranhando o fato de Astrid, uma grande treinadora de Dragões de Berk, ser uma bibliotecária.

– Eu sei. – Annabelle concordou com um gesto quase imperceptível da cabeça. – Mas se fosse para ser como antes, acho que teríamos ficado todos na Floresta Encantada, não é? – Brincou e Elsa soltou um riso baixo.

A loira ainda manteve o sorriso divertido e feliz no rosto, mas logo se lembrou de sua preocupação anterior.

– Você escutou o que a Mylena disse? Antes de a Adriana a chamar, quero dizer. – Elsa perguntou em um tom nervoso e preocupado, afinal ela conhecia aquela letra muito bem.

– Está falando daquela música? – Anna arqueou uma sobrancelha, não parecendo achar nada de estranho. – Ela canta sempre. Não é tão incomum assim. Por que a surpresa?

– É uma parte da música que eu costumava cantar quando era pequena. – A loira explicou rapidamente. – Não viu isso no seu livro?

Annabelle pareceu pensar por alguns poucos segundos antes de franzir o cenho e assentir levemente com a cabeça.

– Não tinha percebido, mas agora que você falou... – Anna comentou em tom baixo e contrariado, visivelmente chateada por não ter percebido antes.

– Ela é sempre assim? – A loira indagou com certa preocupação.

– Fechada e sozinha? – Anna respondeu com outra pergunta e Elsa assentiu minimamente. – Sim. Mylena não é exatamente uma pessoa sociável. Ou pelo menos, nunca foi. Parece ter mudado um pouco depois que você chegou aqui.

– Eu? – Elsa pareceu confusa e Anna concordou.

– Claro. – Anna sorriu levemente. – Eu e ela não somos muito parecidas, mas acho que ela teve a mesma impressão que eu, que ela também teve aquele sentimento de quando se tem a família completa.

Elsa também sorriu. Havia passado vinte e oito anos sozinha e finalmente havia achado sua família, o que a fazia imensamente feliz.

A ruiva e a loira ficaram caladas por alguns minutos até que Mylena finalmente voltou à mesa, sentando-se em seu lugar de frente para Anna e Elsa.

– Como vai a Adriana? – Annabelle puxou conversa, tentando disfarçar a impressão que ficara enquanto ela e Elsa conversavam sem que a morena ouvisse.

– Bem. Ela achou alguns livros estranhos na biblioteca há alguns dias. – Mylena deu de ombros com o habitual desinteresse. – Do que estávamos falando antes de eu ir?

– Para falar a verdade, eu nem me lembro mais. – Elsa riu de leve. – O tempo passa e as pessoas esquecem as coisas, não é mesmo? – Arqueou uma sobrancelha.

Elsa e Mylena riram enquanto Anna alternava olhares entre as duas com uma expressão confusa no rosto, parecendo não entender do que elas estavam rindo.

Logo depois, Marina trouxe os pedidos das três, que logo se puseram a comer, trocando apenas algumas poucas palavras durante a refeição.

Então, logo após terminarem, Annabelle saiu com a desculpa de ir encontrar Alicia e uma garota chamada Rachel Lockwood para estudar. Logo que a ruiva saiu, Elsa e Elena se dirigiram ao apartamento que dividiam.

– OUAT –

Alguns dias se passaram depois que o rei e a rainha viajaram. Elsa estava deitada em sua cama, com um dos braços tapando os olhos, e Jack olhava novamente pela janela, perdido nos próprios pensamentos, principalmente sobre os Guardiões, uma vez que Norte e Coelhão já haviam reclamado nas poucas vezes em que ele comparecera na Oficina a respeito de sua ausência.

Tão distraídos os dois estavam, acabaram por se assustar ao ouvir batidas na porta, e para a surpresa de ambos, não era Anna quem estava ali.

– Princesa Elsa? – Era a voz de um dos conselheiros do rei, que Jack descobriu se chamar Kai.

– Sim? – A garota respondeu relutante.

– Eu tenho uma notícia a lhe dar. – O conselheiro, Kai, respondeu, trazendo em seu tom receio e pesar. – Poderia, por favor, vir aqui fora?

Elsa pensou por alguns segundos e, após constatar que tinha o controle de seus poderes no momento e também receber um olhar de encorajamento de Jack, dirigiu-se à porta e a abriu. Jack também se aproximou quando a porta se abriu e revelou o conselheiro. Ele parecia extremamente infeliz.

– Qual o problema? – Elsa perguntou.

– Eu não sei como dizer isso, mas... – Ele começou, mas logo se interrompeu.

– O que? – Elsa e Jack perguntaram juntos, embora Kai só pudesse ouvir a voz da loira.

Elsa olhou para o albino pelo canto do olho, disfarçando para que o conselheiro não percebesse, mas Jack manteve os olhos vidrados no homem, pressentindo que nada de bom sairia daquela conversa.

– O navio que seus pais estavam... – Kai falou lentamente, derramando algumas lágrimas e fazendo com que Elsa voltasse a fitá-lo. – Naufragou e... Não houve sobreviventes.

Elsa ficou paralisada em seu lugar e Jack se aproximou dela, colocando as mãos em seus ombros, procurando reconfortá-la. Lágrimas banhavam o rosto da loira, que mais uma vez perdera alguém que amava.

Ao perceber as paredes a sua volta começando a congelar, Elsa rapidamente entrou novamente no quarto com Jack, trancando a porta em seguida. Ela se escorou na porta e foi escorregando até estar sentada. Jack sentou-se ao lado dela e a abraçou, fazendo-a se acomodar perto dele, chorando como nunca antes esteve.

O enterro foi realizado e nem Elsa, nem Jack compareceram, por mais que este último fosse apenas um espírito. Jack não tivera sossego por um minuto sequer por causa da infelicidade de Elsa, mas mesmo assim, permaneceu todo o tempo ao lado da loira, embora não conseguisse nem imaginar como ela estava se sentindo. Elsa precisava de apoio. Mais do que nunca, a loira precisava do albino.

Já estava anoitecendo quando se fizeram ouvir batidas na porta do quarto. Era Anna. Novamente.

– Elsa? – A ruiva chamou. – Please, I know you’re in there. – Ela cantou. – People are asking where you’ve been. They say “have courage” and I’m trying to. I right out here for you. Just let me in. – A voz da mais nova trazia toda a tristeza que a mesma estava sentindo no momento. – We only have each other. It’s just you and me. What are we gonna do? – Ela encostou-se à porta e escorregou até estar sentada. – Do you wanna build a snowman?

Do outro lado da porta. Elsa estava sentada do mesmo modo que Anna, tendo Jack abraçando-a numa tentativa de reconfortá-la e com as paredes que os rodeavam congeladas. A loira estava encolhida no chão e Jack a abraçava enquanto a escutava chorar.

– OUAT –

– Ah, eu ia me esquecendo. – Já no apartamento que as duas dividiam, Mylena entregou o livro ‘Once Upon A Time’ de Anna à Elsa.

– Terminou de ler? – A loira questionou, aparentando estar surpresa.

– Não. – A morena balançou a cabeça, negando. – Eu termino depois. Acho melhor que devolva à Anna. Tenho certeza que ela sente falta do livro.

– Em que parte você parou? – Elsa perguntou, abrindo o livro em uma página aleatória, que por curiosidade, tratava-se da página que contava sobre quando a loira e Jack Frost receberam a notícia de que o Rei e a Rainha de Arendelle haviam morrido em um naufrágio.

– Nessa aí. – Mylena apontou para a página a qual a loira abrira o livro. – Aí fala que os pais das princesas morreram, não é?

– É sim. – Elsa respondeu, não aparentando sua tristeza ao se lembrar do fatídico dia em que Kai lhe contara o que havia acontecido com seus pais.

– Você acredita que eu me peguei pensando em como a Princesa Elena se sentiria ao receber a notícia? – Mylena falou como se fosse algo absolutamente maluco, demonstrando estar sem graça, uma vez que era uma parte que não havia no livro, que falava apenas da Floresta Encantada.

– Sério? – Elsa até se sentiu um pouco mais contente ao saber que poderia estar conseguindo algum resultado.

– Sim. – A morena concordou com um gesto mínimo da cabeça. – Apesar de tudo, acho que onde quer que ela estivesse, ela ia ficar realmente triste. – Declarou, achando estranho o que ela própria havia dito.

– OUAT –

Olhando para o mar que parecia ser infinito à sua frente e encostada com os braços cruzados numa árvore ao seu lado, Elena não havia envelhecido sequer um dia desde que deixara a Floresta Encantada e seu Reino Arendelle, mesmo que já fizessem quase dez anos que fora embora.

A morena abraçava o próprio corpo e fechava os olhos sempre que alguma memória de suas irmãzinhas, Elsa e Anna, e de seus pais lhe vinha à mente e a saudade assolava seu coração.

– O que você quer? – Perguntou ao notar a presença de alguém, uma vez que havia ouvido os passos mesmo sobre a areia fofa e a respiração nervosa e descompassada do recém-chegado.

– Ele me pediu para falar com você. – O rapaz recém-chegado respondeu. Ele tinha cabelos castanhos muito claros, olhos azul-água e pele bronzeada. Usava as roupas habituais dos outros que moravam naquele lugar, ou seja, calças marrons, camisa verde, cinto marrom, botas pretas e carregava um bastão impregnado com veneno.

– Já disse a ele que não quero conversar. – Elena suspirou com impaciência ao ter que repetir algo que já havia dito várias vezes. – Vá embora, Rufio.

– É importante. – O rapaz, Rufio, argumentou em um tom preocupado e receoso.

Elena suspirou pesadamente e fez um gesto com a mão, indicando que ele falasse.

– É sobre os seus pais. – Ele declarou e a morena imediatamente se virou para ele, embora pelos olhos de Rufio, já soubesse que a notícia não podia ser boa.

Assim, o rapaz contou à morena sobre o naufrágio do navio em que os pais estavam e, assim que ele terminou, Elena se encostou à árvore atrás de si e foi escorregando as costas por ela até estar sentada, com várias lágrimas molhando seu rosto.

– Você quer ficar sozinha? – Rufio perguntou, sentindo-se mal e querendo mais do que tudo sair dali.

– Acho que é melhor. – A morena concordou com um gesto mínimo da cabeça, escondendo o rosto com as mãos.

– Posso só lhe perguntar uma coisa? – Rufio deu um passo relutante à frente.

– O que quer saber? – Elena perguntou, embora não olhasse para o rapaz.

– Por que você foi embora? – Rufio perguntou, esboçando a mais pura confusão, trazendo também um toque de curiosidade. – Posso ver que você os amava, ainda ama. Então por que os deixou?

– Porque toda magia vem com um preço. – A morena respondeu, batendo a cabeça na árvore atrás de si, fitando o céu enquanto as lágrimas caíam insistentes por seu rosto. – E esse foi o meu.


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Notas finais do capítulo

Já sabem para onde a Elena foi? Pelo amor de Deus, só falta eu colocar um placa bem grande com letras brilhosas, não é?
Enfim, o que acharam? Ficou, pelo menos, aceitável? Eu realmente estava sem criatividade.