The New Storybrooke I - The Fairytales are Back escrita por Black


Capítulo 6
The Guardian


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, desculpem pela demora, mas eu escrevi esse capítulo inteiro hoje e acabei agora, por isso, perdoem os erros de ortografia que virem por aí e me desculpem se não gostarem.
Mas, enfim, espero que gostem e boa leitura!
PS.: Haverá várias referências à série original nesse capítulo.
PSNº2: Só para constar, quando estivermos na parte de Storybrooke, eu continuarei chamando-os pelo nome de Storybrooke, pelo menos nessa Fic, para não confundir muito. Sendo assim, em Storybrooke, não fiquem confusos quando eu me referir ao Soluço como Simon já que ele recuperou a memória.



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Jake Winter andava calmamente pelas ruas de Storybrooke. Seu turno no Abrigo de Animais já havia terminado e naquele momento ele seguia para a casa que dividia com o próprio supervisor do abrigo, Andrew Storm.

Não prestava atenção em nada em particular enquanto andava, mas parou subitamente ao avistar alguém do outro lado da rua e esse alguém era ninguém menos que Elsa Snow, que também pareceu avistá-lo, uma vez que correu até ele com um sorriso no rosto.

– Oi, Jake. – Elsa o cumprimentou, começando a acompanha-lo na caminhada.

– Olá, Elsa. – Ele lhe respondeu com um sorriso alegre. Não podia negar que a presença da loira sempre lhe fazia muito bem. – Como estão Annabelle e Mylena? – Perguntou.

– Estão bem. – Elsa assegurou, mantendo seus olhos azul-gelo centrados nele. – Apesar de que Mylena colocou Anna de castigo pelo que aconteceu na mina. De casa para a escola e da escola para casa por um mês. – Riu, aparentando divertir-se com a situação.

Jake também riu, aproveitando tanto o que ela havia dito tanto com a presença da própria loira, a qual sempre parecia gostar.

– E ela obedeceu? – O rapaz quis saber.

– Eu não desobedeceria. – Elsa levantou o olhar, fitando as estrelas que se manifestavam no céu noturno.

– E quanto a sua irmã? Elena, não é? – Perguntou e ela assentiu, subitamente parecendo distante dali, pensativa. – Você a encontrou? – Preocupou-se.

– Bem que gostaria. – Ela suspirou com cansaço, passando a mão pelos cabelos loiro-esbranquiçados, platinados. – Mas acho que ainda vai demorar bastante.

– Tem certeza de que ela está aqui, em Storybrooke? – Ele arqueou uma sobrancelha.

– Absoluta. – Elsa respondeu sem deixar brecha para que sua palavra fosse contestada. Ela tinha completa certeza disso e isso Jake percebeu sem maiores dificuldades.

– Bem... – Ele parou de andar e ela também parou. O rapaz passou a mão pelos cabelos castanhos e engoliu em seco, nervoso. – Se quiser, posso te ajudar a procurar. – Ofereceu-se, mas cerrou os olhos com força, temendo que ela fosse chama-lo de intrometido e nunca mais falasse com ele.

Porém, para sua surpresa, a loira apenas o abraçou com força, fazendo com que ele finalmente abrisse os olhos e retribuísse o abraço, sentindo-se bem ali.

– Obrigada. – Elsa agradeceu com um sorriso emoldurando os lábios.

– Estou à sua disposição. – Ele assegurou com uma réplica do sorriso que ela exibia, não parecendo nenhum pouco inclinado a romper o abraço que ela iniciara.

Assim, Elsa foi a primeira a se distanciar, mas se mantendo segurando a mão do rapaz, que pareceu bastante satisfeito com isso. Desse modo, os dois começaram a andar em direção ao apartamento que a loira dividia com a Xerife de Storybrooke, ainda de mãos dadas.

O tempo passou-se rapidamente e logo eles haviam subido as escadas da construção e estavam de frente para a porta da casa da loira. Viraram-se um de frente para o outro e ficaram se olhando pelo que lhes pareceu um longo tempo até que...

– O que vocês estão fazendo? – A voz de Annabelle soou quando a porta foi aberta e a ruiva percebeu os dois prestes a se beijar.

– Nada. – Elsa respondeu rapidamente e soltou a mão de Jake, passando por Annabelle para dentro de casa e desaparecendo da vista do Winter.

– É, nada. – Ele confirmou o que ela havia dito e também se retirou com pressa dali, deixando a ruiva com um sorriso sapeca.

– OUAT –

Um rapaz em seus aparentes dezoito anos, de cabelos e olhos castanhos, pele branca e usando calças marrons, descalço e vestido com uma camiseta branca, corria por uma vila de tamanho médio com algumas crianças atrás de si, aparentando divertir-se. Gostava tanto dos risos dos pequenos que o perseguiam quanto gostava de respirar. Era quase necessário na vida dele.

Aquele era Jackson Overland Frost, também conhecido na vila como Jack Frost. O brincalhão da vila. Aquele que sempre trazia alegria às crianças e até mesmo a alguns adultos.

Já era quase noite e, como todos já estavam se retirando para suas casas, bem como as crianças, Jack retornou à sua própria casa.

Era uma cabana não muito grande, mas também não tão pequena. Completamente de madeira e com uma pequena varanda na frente, na qual estava postada perto da porta uma cadeira de madeira empoeirada. O rapaz passou por ela e entrou em casa, fechando a porta ao passar.

– Mãe? – Chamou ao entrar em casa, varrendo-a com os olhos à procura da mãe.

Mas quem atendeu ao seu chamado não foi sua mãe, foi sua irmã, que apareceu correndo até ele e se atirando nos braços do rapaz, abraçando-o com força.

– Jake! – A menina, com apenas quatro aninhos, pronunciou erroneamente o nome dele, uma vez que ainda não sabia falar muito bem.

– Não, Emma. É Jack. Repita comigo. J-A-C-K. – Ele riu, falando pausadamente cada parte de seu nome de modo que ela conseguisse entender e repetir.

– J-ake. – Emma, apesar do visível esforço, continuou a falar do mesmo modo de antes, apenas provocando risadas no irmão mais velho.

– Pois bem. – Ele se levantou com ela nos braços, olhando em volta, ainda à procura da mãe. – Cadê a mamãe? – Perguntou sem parar de procura-la pelo cômodo.

– Aqui, meu filho. – Quem lhe respondeu não foi sua irmã, como esperava, e sim sua mãe, que aparecia pelo mesmo caminho que antes a pequena menina percorrera.

Era uma mulher alta e excessivamente magra. Tinha cabelos castanhos como os de ambos os filhos e olhos também castanhos. A pele era extremamente pálida, doentia, como se ela realmente estivesse com problemas de saúde.

– Agora, vocês dois, para suas camas. – Ela declarou com um sorriso gentil no rosto enrugado, mas ainda assim, jovem. – Vou contar uma história. – Declarou.

Jackson assentiu com um gesto mínimo da cabeça e, ainda com sua irmã nos braços, dirigiu-se para o quarto que dividia com Emma, colocando-a na cama, que era ao lado da sua, e seguindo para a própria.

Sua mãe, Jill, sentou-se numa cadeira velha de madeira que havia entre as duas camas, pegando a mão de cada um dos filhos e fechando os olhos, como se quisesse visualizar o que iria contar daquela vez, uma vez que era seu costume contar histórias para os filhos, por mais que o mais velho já tivesse dezoito anos.

– Era uma vez, um príncipe de um reino longínquo que era prometido em casamento a uma princesa de outro reino, mas que era apaixonado por uma ladra. – Jill começou a contar, ainda de olhos fechados. – A princesa também não o amava e, como prova, mostrou-lhe aquele a quem pertencia seu coração. Era um bravo cavaleiro que, por conta de uma maldição, foi transformado em ouro, e quando o príncipe lhe perguntou como podia ajudar, ela lhe contou uma história. “Existe a lenda de um lago” Ela disse. “O Lago Nostos. Dizem que suas águas tem o poder de restaurar algo que você perdeu. Ele é guardado por uma terrível fera que engana e afoga suas vítimas, prendendo-as ali pela eternidade” E, mesmo sabendo do perigo, o jovem príncipe aceitou ajudar-lhe, enfrentando o monstro do Lago Nostos e vencendo-o, retornando à princesa com a água, que curou o cavaleiro e permitiu que ambos ficassem juntos. Deste modo, o príncipe finalmente estava livre para ir atrás de seu Amor Verdadeiro e quando a princesa lhe perguntou sobre o porquê, ele lhe respondeu: “Amor Verdadeiro não é fácil, mas deve-se lutar por ele, pois uma vez que o ache, ele nunca será substituído”. Assim, o príncipe partiu em busca da ladra que lhe roubou o coração e... – Interrompeu-se ao abrir os olhos e perceber que tanto Emma quanto Jackson já estavam dormindo tranquilamente.

A mulher sorriu e se levantou de sua cadeira, dando um beijo na testa de cada um dos filhos e saindo do quarto.

– OUAT –

Entrando em casa, Elsa imediatamente sentou-se no sofá, só então notando a presença de Simon Harris, que agora se lembrava de ser Soluço Horrendous Haddock III. Percebeu também que Mylena não estava no apartamento, deixando-a sozinha com uma sorridente Annabelle e um curioso Simon.

– Acho que perdi alguma coisa. – A loira declarou, ainda estranhando um pouco a presença do psicólogo na casa que dividia com a irmã mais velha que não se lembrava dela.

– Anna me chamou aqui. – Simon, ou Soluço, deu de ombros, rabiscando um pouco no caderninho que só então Elsa percebera que ele tinha em mãos. – Já que eu me lembrei, ela acha que talvez eu possa ajudar os outros a lembrarem de tudo também. – O castanho sorriu.

– Ah, sim. Claro. – Elsa concordou, ainda meio avoada, fazendo com que Annabelle abrisse ainda mais o sorriso sapeca.

– Ela está meio distraída porque estava com o Jake. – A ruiva brincou, fazendo Elsa suspirar, embora a loira também tivesse corado violentamente. – Ora, vamos, Elsa. Jack Frost é seu noivo de qualquer forma, não é?

– Acontece que, por mais que de alguma forma ainda seja ele, aquele não é o Jack. – A loira afundou na poltrona, desanimada, suspirando com cansaço. – Eu queria que ele se lembrasse.

– Todos nós queremos. – Simon interveio, solidarizado com o desanimo de Elsa, afinal Astrid, que na cidade se chamava Adriana, também não se lembrava dele. – E é por isso que estamos aqui: Para descobrir um modo de trazer todos eles de volta.

– Claro. – Elsa concordou, respirando fundo e recompondo-se, forçando seu melhor sorriso, tentando parecer mais animada. – Então vamos começar com a pergunta do como você se lembrou. – A loira sugeriu, inclinando-se para frente.

– Não sei bem. Tudo me voltou à cabeça quando toquei no Banguela. – Simon respondeu, acariciando a cabeça do cachorro que só então Elsa percebera estar ali. Annabelle tinha razão, ela estava completamente distraída.

– Então, quer dizer que as memórias voltam quando tocamos em algo importante? – Annabelle arqueou uma sobrancelha, ainda meio confusa com tudo.

– Qualquer coisa não. – Simon balançou a cabeça em negação, trazendo uma expressão pensativa no rosto sardento. – Talvez algo que tenha marcado nossas vidas. Ou alguém, no meu caso. – Passou mais uma vez a mão sobre os pelos pretos do cachorro ao seu lado. – O que vocês acham que poderia funcionar?

– O cajado do Jack. – Elsa respondeu prontamente, atraindo os olhares dos outros para si. – Eu o conheço bem. Aquele cajado era muito importante para ele. – Concluiu.

– Então, o cajado. – Simon concordou. – Mas onde ele está? – Arqueou uma sobrancelha, deixando Elsa e Annabelle preocupadas e desanimadas.

Jake, depois dos acontecimentos no mínimo estranhos daquela noite, finalmente chegou à casa que divida com Andrew Storm. A casa era simples e de tamanho médio, suficiente para talvez três pessoas morarem. Alguns degraus levavam à pequena varanda que havia na frente e então à porta. As paredes eram de um verde bastante claro e alguns detalhes brancos se faziam presentes nas colunas da varanda e nos degraus.

O castanho não tardou em entrar na casa, fechando a porta ao passar. Encontrou Andrew meio largado no sofá bege da sala assistindo televisão sem muito interesse e resolveu se juntar ao amigo.

– E aí? – O supervisor do Abrigo de Animais o cumprimentou assim que ele se sentou ao seu lado, embora não tirasse os olhos da tela da televisão, na qual passava um filme que nenhum dos dois parecia se importar com qual era.

– Boa noite. – Jake respondeu-lhe com seu habitual jeito formal e educado, diferente daquele Jack Frost divertido e com personalidade eterna de adolescente brincalhão.

– Onde estava? – Andrew perguntou, ainda sem tirar os olhos da televisão, embora não aparentasse que realmente queria saber.

– Fui à Lanchonete da Vovó e vindo para cá, encontrei a Elsa. – Jake declarou, lembrando-se da loira com um sorriso bobo nos lábios.

Só então Andrew tirou os olhos da televisão e virou-se para o amigo, rindo baixo ao ver o sorriso bobo estampado nos lábios do castanho enquanto, o supervisor sabia, ele se lembrava da loira recém-chegada na cidade.

– Parece que tem alguém apaixonado aqui. – Andrew disse com seu melhor sorriso sapeca, deixando Jake completamente vermelho.

O castanho, corado, ficou calado por alguns segundos, sem ter uma resposta decente para dar a ele, e depois de pouco tempo, finalmente encontrou um bom argumento para rebater.

– Só se for você pela Mylena. – Respondeu com uma réplica do sorriso que há poucos segundos o supervisor exibia.

– Mylena Black? – Andrew arqueou uma sobrancelha, parecendo não ter acreditado no que acabara de ouvir.

– Existe outra Mylena na cidade? – Jake arqueou uma sobrancelha, divertindo-se.

Andrew os fuzilou com os olhos assim que ouviu a resposta do melhor amigo, fazendo com que Jake risse com vontade.

– Você está perdendo o pouco juízo que tem, Winter. – O supervisor do Abrigo de Animais declarou com os olhos semicerrados, tratando o outro pelo sobrenome, afinal se irritara com o que ele dissera.

– Se você diz... – Jake levantou os braços em sinal de rendição, embora ainda gargalhasse audivelmente.

Depois de alguns poucos minutos, Jake se calou e os dois voltaram a assistir televisão embora sequer soubessem do que se tratava o filme que passava na tela e depois de um tempo, Andrew se levantou e se espreguiçou, produzindo um barulho de estralar de ossos ao fazê-lo, e bocejando.

– Vou dormir. – O supervisor declarou e pôs-se a andar em direção às escadarias que levariam ao corredor dos quartos, mas se virou para o amigo antes de subir o primeiro degrau. – Mas ainda acho que você deveria chamar a Elsa para sair. – Disse e então desapareceu da vista do castanho.

Jake ficou sentado no sofá por mais algum tempo, pensativo. Talvez Andrew tivesse razão e ele estivesse mesmo gostando de Elsa, então por que não chama-la para sair?

Com esse pensamento em mente e um sorriso bobo nos lábios, o castanho se levantou e do sofá e seguiu o mesmo caminho de Andrew em direção ao próprio quarto.

– OUAT –

Os anos foram se passando. Jack atingira seus vinte e um anos enquanto a pequena Emma estava em seus plenos sete, já conseguindo falar perfeitamente o nome do irmão, o que o fazia quase sempre explodir de satisfação sempre que ela pronunciava.

Os dois, depois de um longo dia com Jackson divertindo ela e as outras crianças com suas costumeiras palhaçadas e bom humor, estavam voltando para casa, onde sua mãe provavelmente os esperava com uma nova história a ser contada.

– Mãe? – Jack chamou enquanto entrava em casa com Emma, mas, mesmo analisando cada canto do cômodo, não a encontrou. – Mãe?! – Tentou mais uma vez, falando um pouco mais alto do que antes, porém obteve a mesma resposta de anteriormente, ou seja, nenhuma.

A casa continuava naquele silêncio incômodo, como se não houvesse ninguém lá. Com Emma perto de si, Jack pôs-se a andar pela casa à procura da mãe, olhando em cada lugar, mas encontrando-a apenas no quarto da mulher.

Porém, não a encontrou como esperava.

Jill estava mais pálida do que se lembrava e suava bastante, grudando seu cabelo castanho na testa. As mãos estavam trêmulas por cima do lençol que a cobria na cama em que estava deitada. Vez ou outra ela tossia violentamente, aparentando seu péssimo estado de saúde.

– Mãe! – Jack correu até ela, gesto esse que Emma imediatamente imitou, ambos preocupados com a mulher doente deitada naquela cama.

Ela nada disse a nenhum dos dois e Jackson não tardou em chamar alguém da vila que entendesse sobre o assunto para examinar sua mãe.

Depois do que lhe pareceu uma eternidade enquanto estava sentado do lado de fora do quarto com uma chorosa Emma, Jack finalmente viu o médico sair do quarto de sua mãe, vindo em direção a ele.

– Senhor Overland, eu lamento, mas não conheço o mal que aflige sua mãe. – O homem declarou com aflição e pena. – Receio que ela não tenha mais do que alguns dias de vida. Realmente sinto muito. – Disse enquanto se dirigia à porta da cabana, abrindo-a. – Ela quer vê-los. – Falou antes de sair e fechar a porta ao passar.

Jack permaneceu quieto, atônito, ainda processando a informação que o homem lhe dera, demorando a acreditar nela. Apenas o puxão de Emma o trouxe de volta à realidade enquanto a pequena o guiava para o quarto onde a mãe estava.

Ao entrar no quarto, deparou-se mais uma vez com a forma debilitada de Jill Overland Frost, que permanecia do mesmo modo de quanto ele a vira ao chegar a casa horas atrás. Continuava doentiamente pálida e magra, com suor escorrendo e grudando os cabelos no rosto enquanto tremia de leve.

Ao vê-los, Jill ergueu a mão fraca e trêmula na direção dos dois, chamando-os. Assim, Jackson e Emma se aproximaram da mulher e Jack segurou a mão que ela estendia, permitindo que ela relaxasse.

– Mãe... – Ele não conseguiu fazer nada mais além de chorar, fechando os olhos com força, como que para evitar visualizar a forma debilitada da mulher à sua frente.

– Está tudo bem, meu filho. – Jill tentou tranquiliza-lo, mas a voz rouca e dificulta que soou pelo quarto apenas fez com que o rapaz se sentisse ainda pior.

Jackson Overland Frost não era do tipo que chorava. Não era alguém tão afetado pela tristeza, ou pelo menos, nunca fora. A diversão e a alegria sempre o acompanharam, mas parecia que naquele momento, vendo sua mãe perecendo diante de seus olhos, tudo se esvaía juntamente com a vida dela.

– Conte-me uma história. – O castanho abriu os olhos ao ouvir novamente a voz da mãe, deparando-se com um sorriso fraco, mas verdadeiro, e surpreendendo-se com o pedido dela.

Com ela naquele estado, ele não poderia lhe negar nada. Pôs-se a pensar em uma história, qualquer uma que ela houvesse lhe contado, mas parecia que nenhuma lhe vinha à mente.

– “Existe a lenda de um lago”. – Jackson virou-se para trás ao escutar a voz de sua irmãzinha, Emma. – “O Lago Nostos. Dizem que suas águas tem o poder de restaurar algo que você perdeu”. – A pequena continuou. – “Mas o lago é guardado por um terrível guardião que engana e afoga suas vítimas, prendendo-as ali pela eternidade”. – Finalizou o trecho da história que a mãe lhe a havia contado três anos antes, fazendo com que Jill sorrisse.

– Sabem, este lago... – Jill começou na mesma voz rouca de antes, ainda trazendo o sorriso fraco nos lábios. – Ele realmente existe. Está congelado, atualmente, mas é verdadeiro. Quanto à lenda, eu não sei, mas suas águas realmente são verdade. – Riu roucamente, mas acabou tossindo com violência e Jackson a amparou.

Depois de alguns poucos segundos, já estando completamente exausta, Jill adormeceu, permitindo que Jackson e Emma deixassem o cômodo.

O mais velho levou a irmã à cama, afinal já era noite, e deitou-a lá, cobrindo-a com o cobertor e então se deitando na própria cama para dormir.

Jackson ainda pensava bastante no estado de saúde de sua mãe. Tinha de haver alguma coisa que ele pudesse fazer para ajuda-la, mas o castanho não conseguia pensar em nada. Lembrava-se das histórias que a mulher lhe contava todas as noites, de como eram fantasiosas, fantásticas, e sua mente o dirigiu à lenda do Lago Nostos. Sim, ele era verdadeiro e estava congelado. Algumas vezes levara Emma para patinar lá, mas até a noite em que sua mãe lhe contara aquela história em especial, ele não sabia que havia alguma lenda a respeito dele. Para o rapaz, aquele era apenas um lago comum.

“Existe a lenda de um lago. O Lago Nostos. Dizem que suas águas tem o poder de restaurar algo que você perdeu. Mas o lago é guardado por um terrível guardião que engana e afoga suas vítimas, prendendo-as ali pela eternidade”. Era isso que a lenda dizia.

Mas ele não acreditava nisso. Afinal, como poderia? A lenda do Lago não passava de mais uma das histórias que sua mãe lhe contara antes de dormir. Não havia nada de real nela.

Ou havia?

– OUAT –

Na manhã do dia seguinte, Jake se levantou rapidamente e fez sua higiene matinal, animado com a decisão tomada na noite anterior. Eram aproximadamente oito horas da manhã e o rapaz se vestiu com calças jeans, camiseta branca e um moletom azul escuro que ficou aberto. Calçou também tênis all-star azuis antes de sair de casa e partir em direção à Lanchonete da Vovó.

A sorte estava ao seu lado, pois ao entrar no estabelecimento a primeira coisa que viu foram cabelos loiro-platinados arrumados numa trança caída por cima do ombro. Elsa estava sentada a uma mesa com Annabelle, Simon e Mylena, esta última parecendo completamente entediada com a conversa do psicólogo e da estudante enquanto a loira-platina apenas assistia a tudo calada.

Sem pensar duas vezes, Jake se aproximou da mesa onde estavam os quatro, atraindo a atenção deles e vendo um sorriso se formar quase inconscientemente nos lábios de Elsa assim que a loira olhou para ele. Também sorriu bobamente para ela, colocando as mãos nos bolsos e só então se lembrando do porquê de estar ali.

– Posso falar com você, Elsa? – Pediu meio envergonhado, embora também se mostrasse decidido, remexendo-se nervosamente em seu lugar.

– Claro. – Elsa concordou e com um último olhar para os outros, levantou-se de seu lugar e seguiu Jake para fora da Lanchonete. – Então? – Arqueou uma sobrancelha assim que o rapaz a sua frente parou de andar e se virou para ela.

– Então... – Ele repetiu visivelmente nervoso, arrancando uma risada mínima dela. – Eu só queria saber se... – Jake se interrompeu, respirando fundo antes de prosseguir. – Se você gostaria de passar o dia comigo, talvez? – Olhou para o chão ao falar, envergonhado.

– Eu adoraria. – Para sua surpresa, Elsa aceitou prontamente.

Ao olhar novamente para a loira, avistou o mais belo sorriso que já havia visto em toda sua vida, inevitavelmente sorrindo também.

– Só vou avisar aos outros e já venho. – Elsa disse e se virou para a Lanchonete, mas não precisou entrar, afinal Simon e Annabelle espiavam os dois pela janela da frente do estabelecimento.

A loira revirou os olhos e gesticulou para o rapaz atrás de si. Annabelle assentiu e então Elsa finalmente se virou para Jake, que lhe estendeu o braço, a qual ela enganchou o seu com este, e os dois saíram dali.

– Algum motivo em especial para o convite? – Elsa perguntou depois de terem passado alguns minutos num silêncio confortável, ainda sorrindo para o rapaz ao seu lado.

– Preciso de um para querer sair com a garota mais linda de Storybrooke? – Ele sorriu bobamente, olhando fixamente nos olhos azul-gelo dela.

Elsa riu e corou, fazendo com que Jake também risse enquanto os dois continuavam a andar. Inconscientemente, os dois acabaram indo a um poço que havia num bosque que rodeava Storybrooke.

– “Poço dos Desejos”. – Elsa leu o que havia escrito numa plaquinha perto do poço ao se aproximar.

– Faça um pedido. – Jake sugeriu, estendendo para ela uma moeda, ainda olhando fixamente os olhos azul-gelo hipnotizantes.

Elsa riu e pegou a moeda que e lhe estendia, fechando os olhos com força e também com um sorriso pequeno nos lábios ao jogá-la na água e só então voltar a abrir os orbes azuis e dar de cara com Jake olhando-a do mesmo modo de antes.

– Acredita nessas coisas? – A loira decidiu-se por perguntar, curiosa para saber o quão difícil seria trazer seu noivo de volta.

– Não completamente. – Jake deu de ombros, mas continuou sorrindo. – É claro, essas lendas não surgem do nada, elas têm que vir de algum lugar, tem que ter fundamento, mas não acho que sejam completamente verdade, embora também não signifique que sejam completamente inventadas. – Finalizou.

Elsa assentiu, mais animada do que antes. É claro, ele era cético, afinal quem naquela cidade não era?, Mas pelo menos não negava tudo completamente como Mylena fazia. Talvez realmente só precisasse encontrar o cajado do Guardião da Neve e da Diversão para fazer com que as lembranças de seu Amor Verdadeiro voltassem. Por um segundo, pegou-se pensando em como via Jack Frost. O via como Anna sempre descrevera que o amor seria e como sempre julgara que não existia nada como aquilo. Pela primeira vez na vida, sentiu-se feliz por estar errada.

Os dois continuaram a conversar por bastante tempo, sempre rindo e aproveitando a companhia do outro até o final da tarde quando Jake a levou pela segunda vez ao apartamento que a loira-platina dividia com a Xerife sempre ocupada de Storybrooke.

– Então, amanhã... – Ele começou a falar, sem graça. – Posso te levar para jantar amanhã? – Perguntou.

– Claro. – Elsa respondeu-lhe sem pensar duas vezes.

Os olhos de Jake se iluminaram e o sorriso alegre se alargou. Ele a abraçou com força antes de sair satisfeito dali, deixando uma Elsa satisfeita e com um sorriso de canto para trás.

– OUAT –

Os dias se passavam e o estado de saúde de Jill piorava consideravelmente com o passar do tempo. Jack a via todos os dias definhar e adoecer ainda mais à sua frente sem poder fazer nada, sentindo-se impotente, infeliz.

O rapaz não mais andava sorridente pela vila, não mais espalhava alegria e diversão por onde passava. Sempre que saía de casa, estava cabisbaixo e tristonho, quase não respondia quando falavam com ele e não dava mais tanta atenção às crianças como era de seu costume.

Em um desses dias, não tendo mais aguentado ficar em casa vendo sua mãe perecer à sua frente, Jackson saiu para caminhar pelo bosque que rodeava a vila em que morava. Seus passos eram lentos e os ombros, caídos. O rosto desanimado e infeliz denunciava seu sofrimento, bem como a cabeça baixa.

– Tristinho? – A voz debochada e sarcástica que soou por seus ouvidos fez com que Jackson levantasse a cabeça e finalmente percebesse que havia mais alguém ali.

O homem à sua frente vestia uma armadura medieval negra como a noite e não tinha cabeça, mas sim uma abóbora com feições esculpidas parecendo estranhamente vivas onde a cabeça deveria estar.

– Quem é você? – Jackson recuou alguns passos, semicerrando os olhos na direção do recém-chegado, que apenas riu; um som que se assemelhava a ferro se partindo em conjunto com um grito agoniado. Era de doer os ouvidos.

– Quem quer saber? – O castanho questionou desafiador e de mal humor. Todo o estresse e tristeza dos últimos dias o haviam deixado bastante irritadiço.

– Jack O’Lantern. – O outro se apresentou, curvando-se ligeiramente e abrindo um sorriso nas feições esculpidas.

– Pois bem. – Ele finalmente concordou. O outro havia se apresentado, e seu nome lhe parecera bastante familiar. – Sou Jackson Overland Frost, ou só Jack Frost.

– Não podemos ficar fora por um tempo e as pessoas já copiam o nosso nome? – O’Lantern brincou, divertindo-se com a situação. – Enfim, não é por isso que estou aqui. Estou aqui para falar com você. – Fez uma pausa antes de prosseguir. – Sobre a sua mãe.

Os olhos castanhos de Jackson se arregalaram em surpresa. O que aquele estranho poderia querer falar com ele sobre sua mãe? Em primeiro lugar, como ele a conhecia? Como o conhecia?

– Sim, eu sei quem é sua mãe e também sei quem é você. – O’Lantern falou antes que o rapaz pudesse começar a lhe fazer perguntas as quais ele certamente não queria responder. – E eu sei que Jill está doente. – Declarou, deixando o outro ainda mais confuso. – E também sei como curá-la. – Sorriu.

Aquilo foi o suficiente para que Jackson deixasse de lado todas as dúvidas que tinha a respeito do homem à sua frente. Por mais que pudesse não ser verdade o que aquele estranho estava dizendo, Jackson estava sem opções e se agarraria a qualquer coisa que pudesse salvar a vida de sua mãe.

– Como? – Jack deu um passo à frente, aproximando-se do homem que agora sorria mais abertamente para ele.

– Façamos o seguinte. – O’Lantern começou a falar, também se aproximando do rapaz. – Um pequeno acordo. Eu lhe conto o que é necessário para salvar sua mãe e você faz algo para mim. – Propôs.

– Fazer o que para você? – Jackson questionou com desconfiança, arqueando uma sobrancelha.

– Pois bem. – O’Lantern se pôs a explicar. – Tudo o que você tem que fazer é ir ao Lago Nostos e trazer um pouco das águas dele para sua mãe beber. – Disse, observando a expressão confusa e descrente do castanho à sua frente. – Acredite ou não, a lenda do Lago é tão verdadeira quanto eu. – Deu tapinhas leves na cabeça de abóbora e logo em seguida, ao ver que o rapaz não estava convencido, a retirou do lugar, segurando-a em suas mãos. – Acredita agora? – A boca esculpida da abóbora, embora estivesse fora do lugar, se mexeu, assustando Jackson, que finalmente assentiu.

– E o que você vai querer que eu faça, afinal? – Convencido, Jack finalmente perguntou o que O’Lantern queria ouvir.

– Quero que mate a Guardiã do Lago Nostos para mim. – O’Lantern lhe respondeu com simplicidade, como se um assassinato não fosse mais do que algo absolutamente natural e sem importância.

Jackson arregalou os olhos. Ele não era um assassino. Não sabia ser um. Como poderia cogitar a ideia de matar alguém, por mais que fosse um monstro que afogava quem quer que se aproximasse?

– Não é muito difícil. – O’Lantern declarou ao perceber os temores do rapaz se tornando claros em seu rosto. – Quando chegar a hora, você vai saber o que fazer. – Disse e quando Jackson olhou mais uma vez na direção dele, ele não estava mais ali.

– OUAT –

No dia seguinte, à tarde, Jake já havia escolhido uma roupa e um lugar para levar Elsa, mas sentia que faltava alguma coisa.

Teve seus devaneios interrompidos por duas batidas na porta aberta de seu quarto e ao se virar, percebeu-se tratar de Andrew, que o olhava com um sorrisinho de canto vitorioso, aparentando estar bastante satisfeito.

– Oi. – O supervisor do Abrigo de Animais cumprimentou, ainda parado à porta do quarto examinando o amigo.

– Olá. – Jake lhe respondeu, embora ainda parecesse estar com a cabeça bem distante dali, pensativo.

Andrew, percebendo isso, aproximou-se do amigo. Ele já sabia sobre o encontro de Jake com Elsa, então rapidamente falou:

– Você já tem a roupa e reservou um lugar. O que mais o preocupa? – Arqueou uma sobrancelha, curioso.

– Acho que falta alguma coisa. – Jake lhe respondeu ainda pensativo.

Andrew também se pôs a pensar por mais alguns segundos antes que uma luz parecesse brotar em sua cabeça e ele ter uma ideia, chamando a atenção de Jake.

– Um presente. – O supervisor disse com um sorriso, estralando os dedos.

Jake assentiu, também sorrindo, percebendo ser aquilo que o estava incomodando. Porém, agora lhe vinha a pergunta: Onde conseguiria algo tão em cima da hora?

– Vá à Loja de Penhores do Gold. – Andrew sugeriu, percebendo o novo dilema nos olhos do melhor amigo.

Com um novo sorriso, Jake assentiu e correu para fora de casa, deixando Andrew rindo no quarto.

– OUAT –

Já no dia seguinte, tarde da noite, Jack se levantou de sua cama silenciosamente. Emma e Jill já dormiam profundamente, então, na ponta dos pés, o rapaz se pôs a sair de casa, pegando também o cajado de madeira que sua mãe lhe dissera pertencer a seu pai. Não era afiado nem nada do tipo, mas poderia ser útil alguma hora.

Vestido e segurando com força o cajado, carregando também uma adaga prateada presa no cinto, Jackson saiu de casa silenciosamente e fechando a porta sem fazer qualquer ruído. Assim, virou-se para ir embora e quase caiu para trás ao constatar ninguém menos que sua irmãzinha, Emma, olhando-o com as mãos na cintura e expressão reprovadora.

– O que quer que você vá fazer, não irá sem mim. – A pequena menina de sete anos avisou mal humorada pelo irmão querer sair sem ela.

– Emma, você não vai comigo. – Jackson respondeu autoritariamente. Não queria que sua irmã se machucasse.

– Se você não me levar com você, eu vou acordar a mamãe. – Emma ameaçou.

Jack suspirou com cansaço e fez sinal para que ela o seguisse. Assim, os dois partiram pelo bosque que rodeava a vila até o lago congelado onde costumeiramente, Jackson levava Emma para patinar.

No caminho, como um silêncio desconfortável tinha se instalado, Emma puxou assunto:

– Sabe, hoje quando eu saí de casa, várias garotas me perguntaram sobre você. – A pequena declarou, rindo com divertimento ao notar o rosto corado do irmão.

– Emma, isso é idiotice. – Jackson respondeu ainda olhando para frente. – Sabe que não gosto de nenhuma delas e não vou dar esperanças falsas para ninguém.

– Eu sei. – Emma assentiu, mantendo o sorriso nos lábios. – Eu só queria saber que tipo de garota você está esperando aparecer. – Os olhinhos castanhos da menina brilharam.

Jackson pareceu pensar por um segundo e, ainda andando, finalmente virou o rosto para fitar a irmã mais nova.

– Emma, por mais que as coisas pareçam complicadas agora, acho que amor é uma coisa que eu posso ter. – O rapaz abriu um sorriso sonhador. – E quando eu encontrar alguém com que queira ficar será porque eu escolhi passar o resto da minha vida com essa pessoa. – Finalizou.

– Jack, eu não acho que se pode ter tudo na vida. – Emma suspirou.

– Amor Verdadeiro nunca é fácil. – O outro respondeu com o mesmo sorriso de antes, sem se deixar abalar. – Mas deve-se lutar por ele, pois uma vez que o ache, ele nunca será substituído.

– Você está falando como os príncipes das histórias da mamãe. – Emma riu. – Significa que vai casar com uma princesa? – Ela arqueou uma sobrancelha e sorriu com divertimento.

– Melhor. – Ele sorriu, entrando na brincadeira da irmãzinha. – Com uma Rainha. – Riu.

– OUAT –

Jake não se importava com mais nada. Corria como nunca até a Loja de Penhores do homem mais poderoso da cidade.

Com cada respiração arranhando sua garganta seca e os pulmões mais parecendo estar em chamas por causa do esforço de ter corrido até ali, uma vez que sua casa não era exatamente perto da Loja, ele finalmente chegou e abriu a porta.

Um som do sininho soou pelo local, mas ninguém apareceu para atendê-lo. Talvez John Gold estivesse ocupado no momento, Jake concluiu, mas começou a olhar os objetos espalhados pela loja, procurando por algo que talvez Elsa pudesse gostar.

Havia de tudo ali. Espadas, joias de todos os tipos, mapas, adagas, garrafas que pareciam ser feitas de ouro, bonecos de madeira. Enfim, tudo.

Mas não foi nada disso que lhe chamou a atenção.

– OUAT –

Depois de andarem bastante, Emma e Jackson finalmente chegaram ao Lago Nostos. Como esperado, o Lago estava completamente congelado e vazio. As pessoas não se atreviam a chegar perto dele e sempre que Jack levava a irmã para patinar lá, se perguntava o porquê, mas agora já sabia.

Um monstro habitava aquele lugar.

– Fique aqui. – Jack pediu a Emma e a mais nova assentiu.

Assim, o castanho se aproximou cautelosamente do lago, apertando com força o cajado, que rangeu em protesto, e parou quando seus pés tocaram o gelo, aproximadamente no meio do lago.

– Vamos lá. – Ele respirou fundo uma vez antes de bater com o cajado no gelo, mas apenas conseguindo rachá-lo.

Franziu o cenho e tentou mais uma vez, rachando mais, e depois novamente, desta vez conseguindo quebrar o gelo e revelar a água escurecida pela pouca luz. Sem tirar os olhos da água, estendeu a mão para Emma e a mais nova se aproximou dele, também em cima do gelo, e lhe entregou o cantil que os dois trouxeram para que pudessem levar água à mãe. Jack o mergulhou na água, que tremeu ligeiramente assim que entrou em contato com algo.

Jackson se levantou e colocou Emma atrás de si, ficando entre a irmã e o buraco de gelo quebrado, pegando a adaga no cinto.

Uma forma começou a sair do lago e Jack ficou ainda mais tenso, segurando com firmeza o ombro da irmã caçula. Porém, o que se apresentou fora do lago era o que ele menos esperava ver.

Uma mulher. Loira e de olhos azuis. Tinha pele levemente bronzeada e usava um vestido branco encharcado. Era incrivelmente bonita e trazia um sorriso nos lábios finos.

– Qual é o seu nome? – A mulher perguntou, de pé com naturalidade sobre a água do lago, olhando para Jackson com um sorriso nos lábios. – Quer saber o meu? Porque eu posso ser quem você quiser. – Deu um passo à frente, pisando na superfície fria do gelo, mas sem parecer se incomodar.

– Não se aproxime. – Jack lhe apontou a adaga prateada e segurou Emma com mais firmeza atrás de si. – Quem é você?

– Sou uma sereia. – Ela lhe respondeu com simplicidade, levando-o a dar um passo para trás e passar o cantil com água para Emma. – E você, quem seria?

– Não diga. – Emma falou antes que Jackson pudesse, atraindo os olhares dos outros dois. Emma sempre fora a que mais prestava atenção nas histórias que a mãe contava. – Ela é uma sereia. As palavras dela são um feitiço para atrair você para a morte, Jack. – A mais nova disse com convicção, embora se mostrasse bastante assustada.

A sereia a olhou com desprezo, parecendo mal humorada por ter seus planos revelados antes da hora.

– Saia de perto. – Jack advertiu, apertando o cabo da adaga com mais força do que antes.

– Então, você é imune a mim. – A sereia disse, afastando-se alguns passos, mas mantendo um sorriso nos lábios. Voltou a ficar de pé sobre a água e se abaixou, pegando um pouco desta e derramando-a sobre si.

Quando Jackson a olhou novamente, ela estava diferente. Seus cabelos continuavam sendo loiros, mas agora estavam mais claros. Estava loiro-platinados. Os olhos continuavam azuis, mas ficaram mais escuros, como gelo. Seu rosto também mudou e se transformou em um que Jack nunca havia visto, mas que era o mais belo que ele poderia sequer ter sonhado.

– Gosta mais de mim agora? – Ela perguntou e sua voz também estava diferente. Era mais musical e bela, como se ela fosse começar a cantar a qualquer segundo.

– Quem é você? – Embora ainda estivesse maravilhado com a nova aparência da sereia, Jack apertou ainda mais o cabo da adaga, por mais que estivesse fraquejando um pouco.

– É algo que eu sei fazer. – A sereia começou a andar em volta dele e de Emma, falando com sua voz musical. – Me transformo no Amor Verdadeiro das pessoas. Por isso fui escolhida para ser a Guardiã do Lago Nostos. Você pode nunca ter visto essa garota, ela pode nem ter nascido, mas foram feitos um para o outro. – Ela se aproximou dele e, inexplicavelmente, ele nada fez para repeli-la. – Apenas saiba que, tudo o que você quer e não pode ter, eu posso te dar. – Sorriu mais abertamente.

– Não é real. É uma ilusão. – Ele rebateu, embora ela tivesse começado a abaixar o braço com a qual ele segurava a adaga e ele sequer tivesse percebido, hipnotizado por aquele rosto, aquela voz, aqueles olhos azul-gelo.

– Às vezes, as ilusões são melhores que a verdade. – Ela sorriu como um anjo para ele e começou a guia-lo em direção ao buraco no gelo onde a água se apresentava, deixando uma Emma assustada para trás.

Sem que ele percebesse, ela o estava beijando e os dois estavam de pé sobre a água. Inconscientemente, ele deixou a adaga cair e afundar na escuridão gelada.

– Jack... – Escutou a voz de Emma vinda de trás de si e só então pareceu despertar, empurrando a sereia para longe dele.

– Não. – Disse com convicção. – Isso não é amor de verdade. Tenho minha mãe e minha irmã, então já senti e sei que não é isso. – Sua expressão era decidida. – Eu sei a diferença. – Declarou.

Para sua surpresa, ela nada fez mais além do que sorrir, mas desta vez, o sorriso era maldoso, cruel. Não combinava em nada com aquele rosto de anjo.

– Meus parabéns, Jack Frost. – Ela lhe deu as congratulações, chamando-o pelo nome apesar de ele nunca lhe ter dito. – Você foi o primeiro.

Ela partiu para cima dele, tentando jogá-lo na água, mas o castanho desviou do ato e a segurou com força, imobilizando-a. Surpreendendo-o, a sereia se soltou e o jogou no chão, próximo ao buraco no gelo onde se podia ver a água. Jack olhou para o lado e, vendo a adaga de prata flutuando ali, pegou-a no exato momento em que a sereia novamente o atacou, enterrando-a no peito dela, que voltou a ter a aparência inicial e caiu para o lado, afundando na água.

Assustado, Jackson se levantou, olhando em volta a procura de Emma, encontrando-a completamente aterrorizada olhando para o gelo abaixo de si, que só então Jack percebeu ter rachado pela pequena luta que teve com a Guardiã do Lago.

– Tudo bem. Tudo bem. – Ele tentou acalmá-la e, olhando naqueles olhos castanhos aterrorizados, percebeu que a sereia não era mais uma preocupação tão grande assim. – Não olhe para baixo, olhe para mim. – Pediu.

– Jack, eu estou com medo. – Emma lhe disse com os olhos arregalados aterrorizados e tremendo levemente, ainda segurando o cantil com força apesar de tudo.

O gelo abaixo dela rachou mais um pouco por causa da tremedeira da menina e Jackson tratou de tentar acalmá-la logo e arranjar um jeito de tirá-la dali.

– Eu sei. – Ele disse, tentando tranquiliza-la. Tentou da um passo na direção dela, mas o gelo abaixo de si também rachou mais um pouco e ele parou. Forçou um sorriso animado para ela. – Mas você ficará bem. Não vai cair. – Assegurou. – Ao invés disso... – Pensou por um segundo. – Vamos nos divertir. – Propôs.

– Não, não vamos. – Emma respondeu ainda com medo.

– Eu já enganei você? – Ele perguntou.

– Sim, você sempre me engana. – Ela disse e estaria zombando dele se não estivesse com tanto medo.

– Não desta vez. – Ele disse com seu melhor sorriso tranquilizador. – Eu prometo que você ficará bem. – Disse. – Precisa acreditar em mim. Quer brincar? Que tal amarelinha? Como brincávamos todos os dias? – Arqueou uma sobrancelha e abriu os braços, lembrando-se de como se divertia com sua irmã antes de a mãe adoecer. – É bem fácil. Um... – Ele tentou dar um passo, mas o gelo rachou. Mesmo assim, continuou. – Dois. Três. – Chegou à parte onde o gelo era mais duro e não rachava, onde tinha deixado o cajado de madeira. Abaixou-se para pegá-lo. – Agora é sua vez. – Estendeu-o para ela. – Um... – O gelo abaixo da menina rachou ainda mais, quase se partindo completamente. – Dois. Três. – Puxou-a para onde estava, mas acabou escorregando para onde antes ela estivera.

Ambos sorriram com animação um para o outro antes de o gelo abaixo de Jackson se quebrar completamente, jogando-o no água gelada.

A última coisa que o castanho ouviu foi sua irmã chamando seu nome e a última coisa que viu foi a lua no céu estrelado.

– OUAT –

Os olhos castanhos de Jake Winter estavam presos a um objeto em particular. Sem saber a razão, ele se sentia inconscientemente atraído àquilo, como se dependesse da tal coisa para viver.

Seus pés o guiavam para mais perto do objeto sem que ele notasse e seu braço se erguia na direção dele, sua mãe ansiando para pegá-lo.

– Posso ajudar? – Foi interrompido pela voz do proprietário do estabelecimento, John Gold, que aparecera ali sem que ele percebesse.

Só então, Jake pareceu acordar de seu transe e se virou para ele com um sorriso sem graça, passando a mão nervosamente pelos cabelos castanhos.

– Desculpe, não. – Se atrapalhou, mas logo se lembrou do porquê de estar ali. – Espere, quero dizer, sim. Eu gostaria de comprar um presente para alguém. – Ficou ainda mais sem graça.

– Entendo. – John concordou com um gesto mínimo da cabeça, saindo de trás do balcão onde estava. – E quem deseja presentear? Talvez eu possa lhe dar uma sugestão. – Propôs.

– A Elsa. – Jake respondeu com certa relutância.

– Ah, a senhorita Snow. – John assentiu com um sorriso de canto mínimo. – Sim, claro. Vejamos. – Começou a analisar os objetos distribuídos pela loja e pegou um em particular.

Era uma corrente prateada com um pingente também prateado. Jake, por causa da Maldição que ainda estava sobre ele, não sabia, mas aquele era o símbolo do Reino de Arendelle, a qual Elsa um dia fora Rainha.

– Tenho certeza de que ela irá gostar. – John sorriu para ele e havia alguma coisa naquele sorriso que o Winter não conseguiu identificar.

– Quanto custa? – Jake perguntou ao pegar o objeto e analisa-lo, concluindo que aquele era o presente perfeito para dar a Elsa.

– Por conta da casa. – John respondeu, surpreendendo Jake. – Digamos apenas que estou de bom humor hoje. – Sorriu.

Ainda surpreso, Jake assentiu e deixou a loja com o objeto.

O que ele não sabia era que o objeto que havia prendido sua atenção antes de John interrompê-lo e o que estava deixando para trás era muito importante.

Afinal, pendurado na parede na posição horizontal, sempre muito limpo e em perfeitas condições, estava o item que podia fazê-lo recuperar sua memória.

Ali estava o Cajado de Jack Frost.

– OUAT –

Na água gelada, um rapaz de cabelos castanhos de olhos fechados, inconsciente, flutuava sob a luz da lua. A luminosidade ficou mais forte e seu cabelo clareou até tornar-se completamente branco. Sua pele também ficou mais clara, pálida, quase tão branca quanto seu cabelo.

Assim, ele abriu os olhos azuis de súbito, assustado, e vendo a lua através do gelo acima de si, um nome lhe veio à mente.

Apenas um nome e nada mais.

“Jack Frost”.


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Notas finais do capítulo

Sobre o nome da irmã do Jack, sempre que eu pesquisava aparecia Pippa, Emma, ou Jill. Decidi colocar Emma como uma homenagem à minha querida Emma Swan, que é uma das minhas personagens preferidas da série, e coloquei Jill como o nome da mãe dele porque eu gostei mais desse nome do que de Pippa.
Mas, enfim, o que acharam? Ficou, pelo menos, aceitável?
Só lembrando que eu preciso de reviews para viver, sabem?
Próximo capítulo: Heartless.