Regis um menino no espaço escrita por Celso Innocente


Capítulo 3
Planeta Suster.


Notas iniciais do capítulo

Depois de uma longa viagem, a nave pousa em seu destino, o planeta Suster. Terão se passado então 71 dias terráqueos, porem para os três tripulantes não se parecerão mais do que dez.



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Fui despertado por senhor Tony:

— Estamos chegando Regis! Em poucos minutos estaremos pousando em solo firme.

— Como assim? — Me admirei. — O senhor Rud me disse que teríamos uma viagem de setenta dias! Ainda não viajamos nem dez!

— Já estamos no espaço com você, por quase setenta e um dias!

— Não faz nada disso senhor Tony! — Sentei-me sobre a cama.

— Lembra quando lhe dissemos que aqui dentro o tempo passa mais devagar? Você tem a impressão que se passou apenas alguns minutos, mas na realidade já se passaram horas!

Após quase trinta dias susterianos de viagem pelo espaço sideral. Ou seja: Novecentos e cinquenta e sete horas susteriana, que é igual há setenta dias, vinte e uma horas e dezessete minutos (pouco mais de mil setecentas e uma horas) terráqueas, dia quatro de Junho, às oito horas e cinquenta minutos[1]. Seguimos juntos para a cabine da nave, permanecendo de pé, junto aos dois astronautas.

— Como esta nave pode suportar uma viagem tão distante? — Perguntei. — Como ela pode voar tão rápido?

— Como assim? — Retrucou Rud.

— É praticamente impossível algum material no mundo, ultrapassar a velocidade da luz! — Afirmei.

— Quem lhe disse que a velocidade da luz tem que ser o limite? — Quis saber Tony.

— Li no livro de ciências, que qualquer material se desintegraria a uma velocidade maior do que quatro mil quilômetros por hora.

— Você já disse isso!

— Sei que já! — Balancei os ombros. — Por que os professores fazem as crianças aprenderem isto, se não é verdade?

— Seus cientistas ainda não compreendem sobre uma viagem espacial. Eles lhes ensinam o que sabem!

— Tadinho de meu aprendizado de astrologia!

— O que astrologia tem a ver com nossa viagem? — Riu o homem.

— O senhor é bobo? — Gesticulei. — É o que estamos falando!

— Estamos falando de astronomia! Não astrologia!

— Hem!? — Não entendi mesmo.

—Astrologia tem a ver com os tais signos do zodíaco! Tudo bem que tem a ver com o mundo dos astros também!

— Como assim?

— Qual é seu signo?

— O que é isso?

— Deixa pra lá! O que estávamos falando antes?

— A velocidade desta nave! Meu livro de ciências!

— Um exemplo bem simples pra você terráqueo, são seus satélites girando na órbita de sua Terra. Pra colocá-los em órbita eles tiveram que ser jogado lá a uma velocidade de onze mil e setenta quilômetros por hora, que é a mesma velocidade em que gira a Terra. Se o tal satélite for de baixa órbita é pior ainda, pois a velocidade tem que ser de pelo menos vinte e seis mil e oitocentos quilômetros por hora e apesar do atrito e dos limites de quatro mil quilômetros descritos em seu livro de ciência, eles não se desintegram.

— Como o senhor sabe tantas coisas da Terra?

— Pra vir até aqui, precisei me dedicar a estudar um pouquinho sobre vocês. Aliás, não é muito diferente de nós.

— E como este disco voador consegue velocidades incríveis?

— Esta nave é feita de um material desconhecido a vocês terráqueos. — Afirmou Rud. — É como se fosse metal líquido.

— Como? – Achei muito esquisito. – Material líquido?

— Digamos: Espécie de mercúrio!

— De passar nos machucados?

— Não Regis! Mercúrio metal! Conseguido através de reagentes químicos!

— E é líquido?

— Quase!

— Como eu piso nela e ela não afunda?

— Menininho curioso! — Riu o senhor Rud, passan-do a mão sobre meus cabelos, bagunçado pelo repouso.

— Li também, que existem cometas muito grandes!

— Vá com calma! — Alegou o senhor Tony. — Uma coisa de cada vez!

— Eu li isso! — Gesticulei. — Tô dizendo!

— Claro que sim! — Exclamou Tony. — Você precisará conhecer mais sobre os mistérios do espaço sideral. Existem cometas tão grandes, que só sua cauda pode ter mais de cem milhões de quilômetros de comprimento. Nós já falamos sobre isso. Lembra?

— Eu sei! — Dei de ombros. — Mas é que tenho dúvidas!

— Claro! O Universo realmente é muito complicado! Jamais vamos conseguir entendê-lo!

— E onde está o paraíso de Deus?

— Deus está dentro de seu coração, Regis!

— Quando eu morrer vou morar em meu coração?

— Quando você morrer, você vai morar no coração das pessoas que te amam! Você viverá para sempre na memória daqueles que te querem bem!

— Triste! Não? — Me preocupei.

— O que é triste?

— Deus é apenas uma memória!

— Não sei falar sobre isso, menino! — Se perdeu o senhor Tony. — Mudemos de assunto!

Pensou um pouco e disse:

— Você sabia que nossa galáxia tem cem mil anos luz de largura?

— O senhor já falou isso!

— Sabia que o Sol, e as estrelas de meu mundo... — Colocou o indicador direito sobre meu peito. — E do seu também, estão localizados na faixa de vinte e seis mil anos luz do centro da galáxia?

— Isso o senhor não disse! Mas o que importa?

— Se nossos mundos estivessem mais ao centro da galáxia, ou mais nas bordas, jamais poderia ter vidas?

— Como assim?

— A faixa onde possa haver vida nessa galáxia, está entre vinte e trinta e seis mil anos luz do centro.

Franzi o nariz como a dizer, “o que importa?”

— Tem ideia do que vem a ser trinta e seis mil anos luz?

Tornei a franzir o nariz.

— Nem esta nave jamais conseguiria fazer tamanha viagem!

— Não quero mais falar sobre isso! — Insinuei fazendo careta.

— Por quê?

— Está me deixando tonto!

Naquelas longas conversas interessantes, porem complicada para minha idade, permanecíamos Durante muitas horas, todos os dias. Acho que era uma forma dos dois astronautas susterianos fugirem do stress de longa e quase solitária viagem.

O disco aterrissou em um enorme campo de pouso, com seu solo acinzentado escuro, feito. Saímos da cabine e após a porta externa se abrir, descemos, pisando em terra firme... Aliás, Suster firme... Ou sei lá o que! Mas era solo firme! Quer dizer: parecia mais mesmo, como algo emborrachado, pois meus pés sentia pisar em algo como se fosse feito com amortecedores fortes.

Muitas pessoas, homens e mulheres, todos com idade superior a vinte e cinco anos de aparência, pois na verdade, deveriam ter centenas ou milhares de anos de existência, estavam às voltas do disco voador, à nossa espera.

O Sol, aliás, uma estrela, brilhava no azul do infinito. A temperatura devia estar por volta dos quarenta graus, pois estava bastante calor, embora, houvesse uma brisa suave, mostrando que o ar era puro. Realmente era oxigênio e parecia não ter poluição, pois fazia meu organismo sentir de alguma forma, um bem estar, melhor do que na Terra, com a respiração agradável.

Quando Tony percebeu que eu exilava aquele oxigênio com certo prazer, ele passou as mãos sobre meus ombros e rindo perguntou:

— Gostou do ar de meu mundo?

— Alivio por sair daquela prisão! — Insinuei confi-ante, embora todo meu ser sentisse certo medo daquele lugar.

— Não gostou de viajar em meu avião especial?

— Estou com medo, senhor Tony!

— Nada temas! Todos aqui te amam!

Três outros discos, semelhante àquele em que chegamos, estavam estacionados, naquele enorme campo de pouso e a uns duzentos metros, terminava o campo, onde se formava uma gigante e bela residência. Um verdadeiro palácio. Ao longe, naquela cidade susteriana, se viam grandes, belas e brilhantes casas, refletindo os raios de sua estrela, como se fossem construídas talvez de aço, níquel ou metal.

— Estas pessoas que vieram nos receber gostariam muito de falar com você, Regis. — Disse-me Rud. — Acene pra elas.

Obedeci à ordem: levantei a mão direita e acenei timidamente; em resposta, todos acenaram para mim, sem que ninguém, nem eu, dissesse uma palavra sequer.

Dali, acompanhando os dois astronautas, segui para a bela residência. Entramos e depois de seguirmos por um longo corredor vitrificado em verde, paramos diante de uma porta escura, que se abriu sozinha e entramos. Era uma gigantesca sala, muito elegante, possuindo como mobília, algo que seria um enorme computador, de uns quatro metros de comprimento, tendo bem ao centro, um aparelho semelhante a um vídeo cassete, para reproduzir tapes. Próximo às paredes, dois grandes armários, cheio desses que seriam tapes e livros. Alem de quê, por traz de uma escrivaninha, tendo uns três metros, construída ricamente em acrílico e metal dourado, sentado em uma poltrona branca, estava um homem alto, moreno claro, com vestes douradas, aparentando uns trinta anos de idade; na verdade deveria ter uns dez mil.

Assim que entramos, aquele homem me olhou firme, dos pés à cabeça e levantando-se, disse rindo:

— Finalmente chegaram!

— Missão cumprida, senhor Frene! — Afirmou Rud. — A viagem foi longa e de certa forma assustadora, mas tudo correu muito bem!

— Muito agradecido! — Se aproximou, abaixando-se à minha frente. — Vocês merecem honras de heróis!

— Que nada! — Negou Tony. — Já foi uma honra, esta missão.

— Gostaria que saíssem agora! — Pediu o senhor Frene, acariciando meu rosto e ombros.

Sem mais comentários, os dois astronautas se retiraram e eu tentei os acompanhar. Mas o senhor Frene, puxando-me pelo braço, impediu-me:

— Você não Regis! Você fica! Precisamos conversar.

Parei e fiquei olhando para ele, que me disse, apontando para outra poltrona, também branca:

— Você deve estar cansado. Sente-se!

Sem querer prolongar conversas desnecessárias, sentei-me. Ele se aproximou, abaixando-se em minha frente. Colocou as mãos sobre minhas pernas e perguntou:

— O que você está achando de meu mundo?

— Seu mundo! — Exclamei admirado. — Então este planeta pertence ao senhor?

— Não! — Riu ele. — Meu mundo, no modo de dizer! Na verdade pertence a Deus.

— E qual é o seu Deus? — Perguntei desconfiado.

— Meu Deus é o seu Deus, garoto!

— Como sabe?... Qual é o seu Deus?

— É o Todo Poderoso! O Criador do meu e do seu mundo! O Criador do Universo, enfim.

— E o senhor... Crê... Em Deus?

— Claro que sim! Você não crê?

— Com certeza! — Sorri. — Com meu coração... E minha alma!

— Você é um menino muito inteligente e gentil, mas ainda não respondeu minha pergunta: o que você está achando de meu mundo?

— É muito bonito... — Respondi. — Mas não posso viver aqui!

— Claro que pode! Você veio pra viver aqui!

— Não posso! Tenho saudades de meu pai e mamãe! Tenho certeza que eles estão sofrendo com a minha ausência!

— Eles se conformarão!

— Jamais! Eles me amam e nunca me esquecerão!

— Esquecerá sim! Eles têm outros filhos pra lhes dar amor! Você nos pertence.

— Não sou objeto pra pertencer a alguém! — Já começara a chorar. — Ninguém é dono de mim!

— Calma! Você está nervoso! Quer dizer que nem seus pais são donos de você?

— Não! A eles eu devo amor e obediência! Quer dizer: se eles fossem meus donos, poderiam fazer o que quisessem comigo: me vender, trocar, ou até me matar?

— Calma! Você entenderá porque fomos buscá-lo na Terra!

— Eu já sei! É pra ficar vivendo aqui!

— Sim, é! Desde o dia em que nasceste você foi cuidadosamente preparado pra deixar a Terra e vir permanentemente para o meu mundo!

— Já sei sobre isso! — Continuava com jeito choroso. — O senhor Tony me falou tudo!

— Mas sabe por que motivo?

— Não! Isso ninguém me contou ainda!

— Assim que chegou aqui, quem esperava vocês no campo de pouso?

— Pessoas! — Insinuei, balançando os ombros. — Muitas pessoas!

— Que tipo de pessoas?

— Não sei! Comuns! Homens e mulheres!

— Não pareceu lhe faltar nada?

— Não! — Balancei os ombros.

— Você viu homens e mulheres... E!...

Dei de ombros como a não saber o que dizer.

—Você deve ter percebido que aqui existem homens e mulheres, como na Terra. Não lhe pareceu nada estranho?

— Não sei!

— Aqui em meu magnífico mundo, Regis, infeliz-mente, não existe nenhum rostinho bonito de criança!

— Quer dizer que aqui não existem crianças?

— Isso mesmo! Não existem!

— Ora, essa é boa! — Exclamei rindo. — E precisava ir tão longe? Gastar muito dinheiro e cometer um crime, sequestrando uma pessoa, se o problema é tão simples!

— Tão simples! — Admirou-se ele. — Nós precisamos ter um garotinho... Ou que fosse uma princesinha , pra dar amor e nos dar felicidades. E você acha que é tão simples? Como deveríamos fazer?

— Fazer uma criança!

— Não é isso que queríamos! Não uma máquina!

— Eu não disse pra fazer uma máquina! Eu disse pra fazer uma criança!

— Como? Um robô? Queremos um menino como você: com alma, inteligência, coração... Um menino que pensa, anda, fala... Ama...

— Então! Vocês não têm mais de três bilhões de homens e mulheres saudáveis?

— O que você quer dizer, Regis?

— De namoro... Senhor Frene! — Exclamei um pouco tímido com a palavra. — Não me diga que o senhor é tão velho e não sabe como nasce uma criança!

— Me diz uma coisa: Você sabe como nasce uma criança?

— Sei! — Baixei a cabeça.

— Sabe de onde vem?

— Todos sabem!

— Como? Seus pais?

— Não! Eles nunca falam dessas coisas com a gente! Foi a professora na aula de ciências.

— Não foi a cegonha! Foi?

— Já passei dessa fase! Mas não preciso falar. Preciso?

— Não! Acredito em você!

— Quando a professora explicou sobre, como nascem os bebês, eu cheguei em casa e falei com minha irmã sobre isso. Mamãe quase me bateu.

— Muito bem: — Afirmou ele. — Os bebês nascem exatamente do jeito que você aprendeu em sua escola! Embora eu ache que nem era hora ainda de estudar isso. Mas tudo bem: não há porque ter vergonha, receio ou coisa parecida por isso. É a mais bela forma de prova de amor, que Deus deixou para a procriação das espécies. A mulher entrega seu corpo ao esposo e dessa linda união, nasce um belo fruto, que preencherá o vazio que existe naquele lar sagrado.

— Se o senhor sabe sobre isso, por que não fazem o mesmo?

— Você é tão inteligente, porém tão bobinho também! — Riu ele.

— Bobinho! Por quê?

— Nós somos imortais! Vivemos num lugar, que pode ser considerado o paraíso! Onde não há dor, guerras, lágrimas e nem pecados! Porém: se continuasse a nascer crianças, certamente não caberia mais em nosso mundo.

— Quer dizer que não nasce mais? Mesmo que as pessoas queiram?

— Isso mesmo!

— Mesmo que um homem faça... bes...teira... com uma mulher?

— Um homem e uma mulher não faz bes...teira, Regis! Eles, principalmente sendo casados, tem uma união íntima sagrada, em que se entregam em linda prova de amor.

— Tá! — Franzi a boca. — Aqui os homens não ama as mulheres?

— Aqui os homens e as mulheres são estéreis! Não geram mais vidas!

— O que é es...téreis?

— O que eu disse: aquilo que não é capaz de gerar mais vidas!

— Sinto muito! — Disse-lhe triste. — Por que são es...téreis?

— Você gosta de perguntar! Não? — Riu ele.

Balancei os ombros.

— Há aproximadamente cinco mil anos, nosso plane-ta foi atingido por uma radiação, causada por uma explosão estelar no espaço, a bilhões de quilômetros daqui. Depois, com mais tempo falo sobre isso!

— Tenho tempo agora, senhor Frene! — Disse-lhe triste. — Não tenho mais o que fazer!

— Você sabe que estrelas explodem. Não?

— Sei! O senhor Tony já contou.

— Muito bem: Elas tem um certo período de vida, depois disso elas incham, engolem tudo o que está em sua órbita, acabam provocando uma linda explosão mortal...

Ri, ao imaginar uma estrela, como se fosse um grande monstro guloso, que nunca para de comer, ficando cada vez mais gordo, até, por falta de espaço dentro de seu próprio corpo, acabar se explodindo.

— ...e geralmente se transformam em outras, as quais os terráqueos batizaram por supernovas.

— Viram outras estrelas? — Imaginei que o tal monstro estrela, ao explodir, joga no espaço, centenas de estrelas filhotinhas.

—Viram do verbo virar, ou do verbo ver? — Riu o homem.

Sem entender patavina do que ele quis insinuar, forcei os ombros.

— Mas é isso mesmo! Transformam-se em outras. Dois tipos delas! É muito complexo! Quer ouvir sobre isso?

Os ombros tornaram a falar por mim, como a dizer: “Tanto faz”, “Não tenho mesmo o que fazer”.

— Quando uma supernova explode, ela pode liberar muito hidrogênio e criar outra estrela normal, chamada de Anã Branca, por exemplo. Como seu Sol. Mas também ela pode não liberar nada de hidrogênio, com isto será criada uma nova estrela conhecida como estrela de nêutron. A massa de uma estrela assim é tão densa, que se você pegasse o edifício Itália, que é o maior edifício de São Paulo e o comprimisse até o tamanho de uma caixa de fósforos, seu peso na Terra, ainda seria de um milhão de toneladas.

— Acha que alguém vai acreditar nisso? — Duvidei.

— Você vai! E eu não disse um milhão de quilos...

— Sei! Um milhão de toneladas!

— Sabe o que é isso?

— Não! — Neguei junto com os ombros. — E o que isso tem a ver com seu povo não ter filhos?

— Tudo a ver! Quando uma dessas supernovas explodiu a pouco mais de cinco mil anos no passado, ela lançou poderosos e radioativos raios cósmicos em nossa direção. Esses raios tem a característica própria de alterar os de-ene-a dos seres vivos, causando-lhes mutações ou dizimando-os. Foi o que aconteceu conosco: Todos os seres vivos de nosso mundo, com exceção de nós, seres humanos, foram morrendo aos poucos, sem capacidade de procriação.

— Não morreram de uma vez?

— Não! Assim como nós, eles se tornaram estéreis e não mais procriaram. Como tinham a vida muito curta, não tiveram tempo de se adaptarem e acabaram extintos.

— Vida curta?! — Insinuei admirado.

— Sim! — Confirmou ele. — Quanto tempo vive uma mosca?

— Quanto tempo vive uma baleia, ou uma tartaruga? — Retruquei, exibindo minha inteligência. — Na Terra vivem mais de duzentos anos.

— Mas eram seres à beira da extinção!

— Não sobrou nadinha!

— Nada! Micróbios, peixes, anfíbios, répteis, animais grandes ou pequenos... Todos acabaram dizimados.

— Até as baratas?

— Até as baratas! — Riu ele. — Por quê?

— É que na Terra, uma vez ouvi falar, que se houver uma guerra nuclear, toda a vida será dizi... destruída por radiação. Menos as baratas!

— Sim! Têm lógicas! Como insetos desse tipo, tem poder de readaptação, acaba sendo imune a radioatividade. Mas não foi a radiação que matou minhas baratas! Foi a falta de procriação.

Passei a mão na cabeça e fiz gestos com a boca, de assunto complicado.

— Chega desse assunto difícil! Depois falamos mais. Tudo bem?

— O senhor disse que aqui não há pecados! Acha que ir à Terra e me roubar de meus familiares, não é pecado?

Ele se levantou e voltou a se sentar em sua poltrona. Também me levantei e fui até à escrivaninha; ele me olhou firme, dizendo:

— Não roubamos você! Simplesmente o trouxemos pra cá! Aqui será bem melhor pra você.

— Como o senhor sabe o que será melhor pra mim?

— Eu sei tudo de sua vida, garoto! Desde a hora em que você nasceu!

— Não sei se é verdade! Mas mesmo que seja: Meus sentimentos o senhor não pode saber! Por acaso sabe que faz mais de setenta dias que meu coração está doendo?

— Aqui Regis, você será eterno: Não pecará, não morrerá! Sempre será um garoto bonito e saudável! Nunca irá envelhecer e ficar com a pele enrugada e feia!

— Sempre serei um menino?

— Sempre! Eu e todas as pessoas que vivem aqui te amamos muito!

— Senhor Frene: eu entendo o senhor. Mas já que foram até a Terra pra me buscar, por que não me deixaram em paz e trouxeram em meu lugar, um menino abandona-do? Um que não tivesse família? Tenho certeza que ele iria ficar muito feliz!

Ele se levantou, caminhou até a porta de saída e me chamou:

— Venha conhecer seu aposento, depois a gente conversa mais.

[1] Na Terra.


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