Regis um menino no espaço escrita por Celso Innocente


Capítulo 4
A nova morada




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/502111/chapter/4

O acompanhei: saímos daquela sala e seguimos por outro corredor, até seu centro, onde, outra porta à direita se abriu e nós entramos. Era um grande dormitório, semelhante aos da Terra, com cama e armário em acrílico, poltrona dourada e roupas em seda e lã, alem de um banheiro com seus materiais no mesmo estilo: vaso sanitário, chuveiro, banheira com hidromassagem, separada dos demais, por um boxe em acrílico transparente. Todos, com exceção do boxe, em lindas cores azul e verde claro.

— É aqui que você ficará! — Me disse o senhor Frene. — E já vou alertá-lo de que não haverá guardas, nem tranca nas portas. Ou seja, elas se abrirão, quando você quiser sair, ou alguém quiser entrar.

— O senhor não teme que eu fuja?

— Fugir pra onde? Seu planeta está invisível pra você. Aqui não tem pra onde você ir! Aqui será sua casa agora! Portanto poderá sair e chegar quando você quiser!

— Não há outros perigos?

— Nem um! Ninguém vai querer roubá-lo! Agora descanse. Depois a gente conversa mais.

Ele já ia se retirando, quando ainda resolveu falar:

— Meu planeta tem uma temperatura mais quente do que o seu. Aqui onde estamos à temperatura fica entre trinta e cinco e quarenta graus. Você é uma criança. Se preferir ficar só de cuecas, ninguém irá reparar.

— Por que o senhor quer que eu fique pelado?

— Imagine! — Riu ele. — Eu só quero o seu bem! Pode ficar de short, cueca, ou até de roupa, se assim você preferir.

— Prefiro ficar muito bem vestido!

A porta se abriu e ele já ia se retirando, então insisti:

— Senhor Frene...

Ele me olhou, então lhe perguntei:

— Como o senhor sabia que na Terra existia vida humana?

Ele tornou a entrar, segurou em meus braços e perguntou:

— Você não está cansado?

— Nem um pouco!

— Está bem! Vou falar mais um pouco com você. Sente-se aqui nesta poltrona.

Sentei-me. Ele sentou-se na cama e então me perguntou:

— O que você quer mesmo saber?

— Como o senhor sabia que na Terra existia vida humana?

— Eu e todo o meu povo somos humanos, iguais a você; só que de uma civilização mais antiga, porém, bem mais avançada em respeito a conhecimentos e tudo o mais.

— Mais avançado?

— Sim! Por acaso você conhece ou já viu falar, por exemplo: nas pirâmides do Egito?

— E como já! — Exclamei eufórico.

— Pois bem: Como acha que elas foram construídas?

— Pela mão do homem!

— Seria impossível, homens com força comum, levantar aquelas pedras gigantes, naquelas alturas e as colocar com tal precisão, segurança e beleza.

— Naqueles tempos, existiam muitos escravos e eles ajudaram a construir as pirâmides.

— Quem lhe disse isto?

— Vi em filmes! Nos livros também!

— Tanto você quanto seus filmes... e livros, estão enganados! Você sabia que a precisão da colocação das pedras é tão perfeitas, que entre os vãos delas, não se é possível colocar uma agulha?

Nada disse e ele continuou:

— Quem construiu as pirâmides e muitas outras coisas da Terra, fomos nós.

— Isso é verdade?

— Por que eu iria mentir?

— E como nós, os terráqueos não sabemos desta história?

— Nós preferimos não deixar muitas provas!

— Na Terra, sempre tem gente dizendo ter visto disco voador, mas sempre acaba tudo esquecido.

— Nós sabemos!

— Por acaso, algum disco daqui, já foi visto na Terra?

— Só há muitos séculos passados!

— E quando foram me buscar, o disco não foi visto na Terra?

— Não! Só você o viu chegar!

— Mas era quase meio dia!

— Sei disso! Só que estava invisível à todos, exceto pra você!

— Caso eu volte pra lá agora e fale que viajei em um disco voador e fui a um planeta da Via Láctea, chamado Suster, a oitenta e sete anos-luz de distância, certamente diriam que estou louco e me internariam em um hospício.

— Certamente! — Riu o homem.

— O senhor disse que construiu as pirâmides do Egito. Pra quê?

— São belas!

— Pra que o senhor faria uma viagem tão longa e cara pra construir uma pirâmide em um planeta que não é o seu? Qual a vantagem disso?

— Quando meu pai e sua tripulação chegou na Terra e se viu perdido em um mundo semelhante ao nosso, resolveu criar um lugar perfeito pra viver sua vida e com isto retribuir também por sua acolhida.

— Seu pai esteve na Terra? — Me espantei.

— Ainda não contei esta passagem. Fico feliz, em saber, que ouvir falar sobre meu planeta, lhe agrada!

Nada respondi, apenas dei um leve sorriso triste.

— Vou contar o porquê de meu pai ter chegado à Terra. — Continuou ele. — Mas aos poucos.

— Por quê?

— Chegarei lá: — Continuou ele. — Meu planeta, como seu povo chama, é cinco vezes maior do que o seu. Nosso dia tem trinta e duas horas...

— Trinta e duas horas!?

— Isso mesmo!

— A Terra tem apenas vinte e quatro!

— Aqui tem trinta e duas! É iluminado por duas estrelas gigantes...

— Dois sóis?

— Duas estrelas: Uma durante dezesseis horas, que é a estrela Kristall. Uma estrela branca a seiscentos milhões de quilômetros e cinco vezes maior do que o seu Sol.

— Cinco vezes maior?

— E mais longe também! A outra estrela ilumina as outras dezesseis horas. Chama-se Brina. É azul-clara, fica do lado oposto da Kristall e a oitocentos e oitenta milhões de quilômetros daqui.

— E é maior que o Sol?

— Muitas vezes! Ela é três vezes maior do que a Kristall. Cerca de quinze vezes maior do que o seu Sol!

— Como que ela não torra este planeta?

— Você é bobinho! — Riu ele. — Por causa de sua distância!

— Mas a distância é pouca!

— Pouca! Oitocentos e oitenta milhões de quilômetros é pouco?

— É! O Sol está a cento e... cinquenta... — Tive dúvidas.

— Cento e quarenta e nove milhões de quilômetros da Terra. — Corrigiu ele.

— Quer dizer: sua estrela, sendo quinze vezes maior do que ele, deveria estar quinze vezes mais longe também, pra que a temperatura fosse a mesma. Só que não está a mais de cinco ou seis vezes mais longe.

— Eu te entendo. — Riu ele. — Você é um garoto muito esperto! Mas mesmo assim, ainda precisa aprender muito! Nossas estrelas são muito mais frias do que o seu Sol, por isso a temperatura é quase a mesma!

— Mais fria? — Fiz careta. — Quanto?

— Você vai ser cientista? Cosmólogo?

— O que é cosmólogo?

— Aquele que estuda o universo. A temperatura de seu Sol é de pouco mais de dez mil graus fahrenheit.

— Fah... O quê? — Franzi toda a cara.

— Quase seis mil graus Celsius. — Riu ele.

— Celsius! — Ri. — Conheço um Celso!

— Não liga não! — Riu o senhor Frene. — São nomes dados ao sistema de medidas de temperatura. Fahrenheit, Celsius, são os nomes dos cientistas que descobriram e criaram tais sistemas.

— E suas estrelas?

— É complicado falar sobre minhas estrelas. São duas!

— O senhor sabe tudo sobre meu Sol e nada sobre suas estrelas!

— Estudei muito sobre o sistema solar! Mas eu sei sobre minhas estrelas. Elas ficam naquilo que os terráqueos chamam de constelação da Ursa Maior. A Kristall surgiu a cerca de dois bilhões de anos e deverá viver mais uns três. Sua temperatura é de cinco mil graus Celsius. A Brina surgiu a quase dois bilhões de anos e vai viver mais um. Sua temperatura é de três mil graus. Você sabe qual é a idade de seu Sol?

— O senhor sabe quantos anos eu tenho?

— Com certeza! — Riu ele. — E você vai se espantar quando souber!

— Ãh?

— Seu Sol já viveu cerca de seis bilhões de anos. Quando ele morrer, ou explodir, destruindo a Terra, vai virar uma nova estrela chamada por vocês de Super Nova.

— O Sol vai... morrer? — Me preocupei. — Vai destruir a Terra?

— Com certeza vai! Todas as estrelas irão! Mas não se preocupe. Nem minha longa vida verá esta magnífica explosão.

— Como assim?

— O Sol ainda viverá pelo menos outros cinco bilhões de anos. A terra morrerá um pouco antes.

— Se duas estrelas iluminam seu planeta, em períodos... Diferentes... Isto indica que aqui não há noite! Só dia!

— Realmente! Você é um geninho! Em Suster e todo nosso sistema Estelar, não há noites. Não há trevas!

— E como vivem as plantas?

— Normalmente! Assim como nós, humanos, as plantas são habituadas ao nosso clima!

— Mas... Se seu planeta foi atingido por radioa... Radiação... Deixando todos estéreis, não podendo gerar filhos, como as plantas se procriam?

— Você gosta de perguntar? — Riu o senhor Frene. — Por acaso memoriza tudo o que eu falo?

— Não! — Neguei, franzindo o nariz.

— E por que gosta de perguntar?

Os ombros falaram por mim.

— O que você quis saber sobre as plantas?

— Como as plantas de seu planeta se procriam?

— Como assim?

— Ora! As plantas fazem como nós... Quer dizer... Os adultos, à sua maneira, através do pólen... Através dos pássaros... Sei lá!

— Elas se acasalam! Você quer dizer!

— Pode ser!

— Elas continuam sua reprodução normalmente! Porem, como aqui não há insetos ou pássaros, para polinizá-las, o próprio vento se responsabiliza por isso!

— Mas como elas não ficaram estéé...reis como os homens?

— Seu ciclo de vida é diferente de nós. Por exemplo: elas não absorvem oxigênio! Podem ser imunes à famosa radiação!

— Aqui não há insetos e pássaros! O senhor disse!...

— A única vida animal em nosso planeta, somos nós, os humanos! Já falamos sobre isso!

— Não há peixes nos rios?

— Nada!

— Como as plantas das águas sobrevivem?

— Quem lhe disse que existem plantas dentro da água?

— Ninguém! Mas na Terra, as plantas das águas...

— Aquáticas! — O interrompeu. — Algas marinhas e outras mais!

— Então! Minha professora disse que elas são as que mais produzem oxigênio!

— Aqui também! Mas nós aprendemos a preservar a natureza, como sendo a principal fonte de nossa vida quase eterna!

— É difícil aceitar que não existem animais ou peixes dentro da água e mesmo assim, as... Algas se procr...

— Procriarem! — Ajudou-me ele. — Com o passar do tempo conosco, vamos lhe ensinar muito sobre nosso mundo. Podes crer!

— Vocês não comem carne?

— Não existe carne animal pra se comer!

— Pelo menos não há pernilongos! — Concluí rindo.

— É! — Riu ele. — Mas também não há cachor-rinhos!

— Acho que basta! — Passei a mão sobre a testa. — Senão aí é que acabo não entendendo nada!

O senhor Frene riu, se levantou e na saída da porta que se abriu, me disse:

— Muito bem! Pode descansar agora. Em outra oportunidade, conversaremos mais.

— Tá! Mas chega de tantos números!

— Como assim? — Riu o homem.

— Cinco bilhões de anos... Oitenta e sete anos luz... Ufa! Meu cérebro já lotou!

— Engano seu! Essa maquininha dentro de sua cabeça tem mais neurônios do que nossa galáxia tem de estrelas!

E se retirou. Levantei-me, me despi, ficando apenas de cueca e me deitei para descansar um pouco.

Estando sozinho, comecei a pensar em meus pais e escola, com isto, a tristeza voltou a dominar meu coração saudoso e as lágrimas voltaram a brotar aos poucos no canto dos olhos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Acessam e curtam a página do livro no facebook.
https://www.facebook.com/um.menino.no.espaco?ref=hl



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Regis um menino no espaço" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.