Opostos escrita por Mari


Capítulo 23
23. Fraqueza




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Abro os olhos com minha mãe nos chamando. Eu e meu pai havíamos dormido na sala. Me espreguiço, desviando de seus braços e me levantando do sofá desconfortável. Sinto minhas costas doerem. Algumas lembranças do que ocorreu noite passada entram em minha mente e eu sorrio de imediato. Encaro meu pai que se espreguiçava confuso encarando para minha mãe assustado.

— Está na hora do culto. – Sussurra ela encarando-o docemente.

— Eu me arrumo em alguns minutos. – Murmuro correndo até a escada e vendo-os espantados. Fazia um bom tempo que eu não ia ao culto.

Pelo que soube, houve reformas na igreja e só tive certeza disso quando chegamos ao local. Camille não parava de me encarar com cara de pena, implorando em silêncio que eu a perdoasse, mas ela merecia e mesmo que eu estivesse louca para voltar a conversar com ela para acabar resultando em uma briga costumeira, eu continuava a ignorá-la. Minha mãe como sempre fica do lado de fora da igreja, cumprimentando todos os fiéis quando observo Harry se aproximar. Ele sorri gentil entrando na igreja e eu encaro minha mãe.

— Não vai cumprimentá-lo? – Pergunto em uma suplica silenciosa. Ela finge não me ouvir e eu bufo entrando na igreja e indo até Harry que se sentava ao fundo do local.

— Olá Sophie... –Ele sorri gentil.

— Eu queria muito perguntar sobre o problema que minha família tem com a sua, mas algo me diz que não é algo que eu vá gostar. – Falo baixinho para não atrapalhar ninguém e seu sorriso desaparece.

— Eu considero essa história um verdadeiro conto antigo da sua história com Ethan. Só que um pouco mais complicado do que é agora. Realmente não ficaria feliz em saber... Se ficasse, seus pais teriam te contado. – Responde indiferente e eu penso um pouco sobre o assunto.

— Como assim conto antigo da minha história com Ethan? – Questiono atiçada pela curiosidade.

— A história de amor que ‘une’ nossas famílias esta praticamente se repetindo. Chega a ser engraçado. – Ele dá uma risada fazendo aspas no ar. Ia fazer mais e mais perguntas quando meu pai aparece dando início ao culto. Minha mãe entra e fica me encarando pedindo em silêncio que eu me sentasse ao lado dela, mas acabo ficando ao lado de Harry.

— Por que exatamente todos te encaram tanto? – Pergunto ao perceber tal fato. Harry bufa baixinho.

— Acham que foi Ethan que sequestrou Heather... Esse boato está se espalhando em todos os cantos da cidade. E eu sou o tio dele então...

— Harry... Acha mesmo que Ethan a sequestrou?

— O que ele disse a você? – Rebate a pergunta.

— Que não foi ele. Mas é que...

— Mais nada. Conheço Ethan bem o suficiente para saber que ele jamais mentiria para você. – Sussurra próximo ao meu ouvido, voltando depois a prestar atenção no culto.

Me despeço de Harry ao fim do culto e saio da igreja com Camille já que meu pai iria demorar um pouquinho mais lá e minha mãe decidiu ajudá-lo. Caminho quase que contando os passos sempre olhando em volta. Andar ao lado de Camille não era mais a mesma coisa.

— Sophie, eu sinto muito. – Ela me encara e eu observo à calçada. – Por favor, eu não aguento mais ficar sem falar com você. Eu sei que foi infantil e eu já aprendi minha lição...

— Acha mesmo que eu estou te dando uma espécie de lição de moral? – Paro de andar a encarando. Seus olhos estavam esbugalhados porque eu mal falava com ela há um bom tempo. – Você passou toda a sua vida dizendo o quanto eu era uma péssima irmã e o quanto adorava me irritar... Eu era filha única Camille, sabe o que eu senti quando soube que teria uma irmã? A raiva que senti em saber que teria que dividir a atenção dos meus pais, o amor deles e as coisas que eu possuía com uma garotinha? Mas quando você nasceu eu olhei nos seus olhos e jurei proteger você acima de tudo porque você era minha irmã. Você era uma parte da nossa mãe assim como eu também era. Tem ideia da dor que senti em ligar as coisas e perceber que a garota que eu tanto protegia, defendia e amava estava tentando me matar? Isso não tem haver com lição de moral. Tem haver com dor. Uma dor que eu queria nunca sentir.

Desvio o olhar correndo até minha casa e entrando no quarto, trancando a porta, pois eu não queria em hipótese alguma ver o rosto dela. Me lembrar do que aconteceu quando finalmente soube que teria uma irmã. Eu era tão egoísta na época que fiquei com ódio de saber daquilo. Mas nossa mãe nunca me excluiu de nada, sempre demonstrando que queria minha opinião em tudo, nas roupas de bebê, nos móveis do quartinho dela. Então eu chorei, porque me lembrei da noite em que prometi em silêncio encarando minha irmã no berço, que a protegeria... Nem que precisasse dar a minha própria vida para isso, porque eu a amava.

Desço as escadas correndo desesperadamente ouvindo os gritos de minha mãe no andar de cima. Eu sentia a raiva subir em cada célula do meu corpo, meus nervos explodindo dentro de mim. Saio de casa até um velho parquinho que havia no final da rua. Eu sempre me encontrava com ele lá. Sento-me em um balanço ao seu lado e ele sorri abertamente.

“Eu vou ter um irmãozinho.” Comento deixando algumas lágrimas caírem e seu sorriso se aumenta.

“Isso não é bom?” Encaro-o descrente. “Sophie não seja egoísta. Você sempre quis que eu fosse seu irmão.”

“Mas é completamente diferente.”

“Não, não é... Você verá. Eu nunca tive um e não tem ideia do quanto eu queria ter.”

Dou de ombros, completamente indiferente com aquilo que ele acabara de dizer.

Ouço alguém batendo na porta e enxugo as lágrimas.

— Me deixa em paz Camille. – Grito brava me levantando e caminhando até a porta. Abro-a dando de cara com quem jamais imaginei que estivesse aqui. – Ethan?

— Arrume suas malas, precisamos sair daqui. – Ele murmura entrando no quarto.

— Como assim, do que você está falando? – Pergunto confusa fechando a porta atrás de mim.

— É a Sônia. Ela também foi sequestrada e todos estão achando que é você – Responde baixinho se sentando na cama.

Engulo em seco. Não estava acreditando no que estava acontecendo e imaginei se aquilo poderia piorar. Abro meu guarda-roupa pegando algumas roupas na correria.

— Ethan, você sabe que...

— É lógico que sei que não é você Sophie... Mas já tenho uma ideia de quem seja. – Ele encara o vazio.

— E...

— Meu pai tem muitos inimigos Sophie, e agora que está preso, estão todos virados contra mim.

— Mas seus pais estão presos há um bom tempo... Por que fazer algo contra você agora? – Questiono mais para mim mesma.

— Porque agora Sophie, eu tenho uma fraqueza. – Sussurra finalmente me encarando.

Heather

Sou jogada no chão com brutalidade. Não sei nem como ainda conseguia sentir dor. As luzes voltaram a ficar escuras e ouço o barulho de alguém entrando. Logan.

— Ethan foi hoje visitar os pais e eles devem ter dado o nome de algum amigo ou sei lá, alguém que pode ajudá-los porque ele e Sophie irão viajar. Mas não consegui saber onde era. – Diz ele e o homem sorri. Me arrepio até o último fio de cabelo.

— Heather. – O homem me encara e eu finalmente consigo ver seu rosto, pois ele liga a luz. – Está na hora de fazer algo por mim.


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