Innocence NejixTenten escrita por Mile Mieko Chan


Capítulo 8
A Sétima Noite (Parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal. Eu sei que devo trilhões de explicações a vocês por ter passado mais de um ano sem postar novos capítulos - na verdade, não parei de pensar em como organizar esta história desde então. Pois bem, trataremos disso no tempo certo. Por hora estou apenas revisando a história em busca de erros que deixei passar e procurando a melhor maneira possível de termina-la, apesar de saber que, a essa altura do campeonato, muitos de vocês que continuam acompanhando mal devem ter interesse em saber o que vai ou não acontecer. Eu entendo plenamente e não tiro a razão de vocês. No entanto, e servindo esta seção apenas como aviso (postando em 2016), venho com o intuito de dizer que o capítulo 7 (A Sétima Noite) está, a partir de agora, dividido em duas partes, uma vez que o tamanho original não se encaixava na formação ideal para postagem, dificultando, inclusive por disponibilidade de tempo, o acesso dos leitores ao conteúdo completo. Peço desculpas novamente. No mais, não se aborreçam. Eu voltarei! ~~ Mieko



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O tempo passou e com ele a hora do almoço. Já eram mais de três da tarde quando Ino e Hinata chegaram. Kiba recebera carinhosamente o embrulho trazido por sua colega de equipe de forma que conversaram por algum tempo, até algo chamar a atenção do ninja de yukata verde escuro e cabelos em tigela, precisamente no instante em que um nome fora pronunciado.

— E a Sakura? Ela disse que estaria com você... – perguntou Kiba estranhando a acompanhante de Ino.

— Ah... Infelizmente ela não vai aparecer hoje, Kiba... – disse a Yamanaka com um semblante preocupado e incerto ao mesmo tempo.

— E por que não?

— Aconteceu alguma coisa com a Sakura-chan?! – questionou Lee já incomodado.

— A Sakura está bem, é que... Um garotinho no hospital teve uma hemorragia um pouco grave durante um procedimento. Estabilizaram, mas ele entrou em coma – concluiu Ino, sentindo dores pela amiga de cabelos róseos.

— Rapaz... O negócio é sério. Tem alguma coisa que a gente possa fazer? – acariciava o pelo espetado de Akamaru, perdendo um pouco do ânimo com a notícia.

— Esperar, talvez. Estávamos vindo pra cá quando um homem da equipe médica veio dar a notícia. Aconteceu nesta madrugada numa cirurgia emergencial. Sakura não estava lá, não tinha como saber... Deve estar arrasada... – lamentou Ino.

— Ela não pensou duas vezes antes de... Correr para ver o que aconteceu com o Koi-chan. Ele é muito especial para ela.

— Você o conhece, Hina?

— Não, mas... Quando estamos sozinhas Sakura-chan fala dele o tempo todo. É um garoto determinado a ser um excelente ninja. – sorriu com a visão que tinha de sua personalidade.

— Bem, já que lamentações não vão ajudar... E se a gente fizer uns pedidos por ele? – sugeriu Kiba tirando um pouco da tensão da conversa.

— É perfeito! – animou-se Ino. – Vamos falar com os outros também!

— As primas da Kurenai-sensei me disseram que ela aparecerá por aqui em breve – lembrou-se de dar a boa notícia a Kiba. – Não se esqueça do professor Asuma, Ino-chan.

— Eu não esqueci! – protestou. – Vamos das os parabéns pra ele e depois falar sobre o Koi-kun. Foi realmente uma ótima ideia! – deixou Kiba sem jeito pelas poucas palavras.

Lee permaneceu pensativo quando soube do ocorrido. Estava saindo do local quando alguém o segurou pelo ombro.

— Gai-sensei?! Eu... Eu preciso ver como ela está! – quase implorou visando o olhar de reprovação.

— Eu sei o quanto ela é importante para você Lee – dizia seriamente. – Mas têm momentos em que, tentando ajudar, só deixamos a situação mais complicada.

O jovem desmoronou. Por mais que aquilo, por mais que ela significasse tanto para ele, seu mestre tinha razão. Não poderia fazer nada a vendo chorar por um problema sem solução imediata, no qual o consolo de um amigo, por vezes, não se faz suficiente.

— Eu sinto muito por eles também, mas não é o fim! O garoto ainda tem chance! Assim como você, não se lembra?

— É... Acho que está certo... – concordou sem vontade, tentando sorrir com alguma boa lembrança.

— Não deixe sua chama apagar, Lee! – encorajou. – Venha, vamos escrever algumas preces para o jovem doente. Vou pedir que deixem que você as leve até lá mais tarde! – animou o aluno.

— Yoshi! – apressou-se para procurar papéis e tinta, permitindo-se tocar por uma aura de esperança.

*~*~*~*

Todos os sons naquele local eram mais que agradáveis. Algumas aves se aproximavam à medida que a tarde caía; o céu roubava olhares em seus tons de azul e laranja; as músicas perfeitamente melodiosas e as diversas vozes dos desconhecidos não alcançavam aquele lugar. Era apenas o vento, balançando de leve a grama de porte médio, e a pureza das flores, fazendo suas delicadas mãos estenderem-se para tocá-las.

No entanto, mais um passo a partir dali seria um erro, visto os tipos que se aproximavam. Eram os mesmos garotos que vira mais cedo, com as mangas erguidas até os ombros ou cotovelos, deixando tatuagens à mostra. Cinco ou seis rapazes, tumultuados de forma que deveria ser intimidadora para uma jovem sozinha num campo praticamente deserto. Deveria, se fosse uma jovem qualquer.

— Você é um anjo ou uma princesa, hein, vadia? – perguntou um deles, num dos tons debochados mais desprezíveis que já ouvira.

— Tanto para fazer lá no festival... – surgiu o que parecia ser o líder do meio da roda que se formava. – E você aqui... Sozinha? – mostrou-lhe um sorriso nauseante e repleto de malícia.

Sentiu a pior das sensações quando o bando mais que nojento fechara-se ao redor de si. Seu olhar era blindado, implacável aos orbes miseráveis que a encaravam. Perante o silêncio prolongado, um deles teve a ousadia de voltar a indagar-lhe.

— E então? De que a garotinha gosta de brincar? – disse tentando, de forma atrevida, tocar as proximidades de seu ventre, sendo impedido pelas unhas que por muito pouco não rasgavam as veias evidentes em seu punho.

— Ciranda! – sorriu, puxando-o para cravar-lhe três agulhas no pescoço, que o derrubaram pela dor logo em seguida.

Os outros cinco iniciaram uma série de ataque e defesa de forma conjunta. Golpes depois, um único chute bem calculado derrubara os três que formavam um semicírculo em sua frente, restando-lhes apenas o líder e um comparsa ainda perdido depois do soco que recebera. O metido a “poderoso chefão” partiu para uma luta mais ousada; tentou acertar-lhe a jugular, em vão, sendo jogado de cara contra a cerca de arame farpado e, portanto, carimbado por ela.

A peça de porcelana intacta aproximou-se e trouxe o rosto ferido ao seu encontro, tocando de leve o semblante horrorizado.

— E então? – sorriu maquiavélica, imitando-o. – Você prefere ter essas cicatrizes aumentadas ou vai dar o fora de vez?

Vira sua expressão mudar e ficou confusa por um instante. O desgraçado estava rindo... E com razão. Havia se esquecido do “número cinco”, apenas ouvindo, após se dar conta, o grito do infeliz tendo a carne amaciada pela lâmina da Jinkaku que, removida, largara o peso quase morto no chão, aos berros. Não fosse o apoio sutil, estaria morta com uma fina adaga atravessando-lhe as proximidades do cérebro.

— Vamos sair daqui – estendeu a espada lateralmente tingindo a grama de vermelho antes de embainhá-la.

*~*~*~*

— Sem lâmina de corte... Até parece! – cortou o gelo de modo sutil.

— E por que não teria com esse tipo de animal andando por aí?

— Então como não o matou? – perguntou quando pararam de andar. O cabeça-de-fogo lá do kendo?

O tilintar num frasco de vidro minúsculo preso a sua bainha e preenchido com um pequeno volume de cera líquida foi o que teve como resposta. À distância conseguiam ver uma equipe policial em torno dos “acidentados”. Estavam sendo procurados por estupro, roubo e assassinato e infelizmente para eles, a pouca sorte mudara de lado.

— Só espero que não venham bater na minha porta depois... – voltou a caminhar, soltando a presilha organizadora dos fios que a brisa quase noturna lançava, aleatoriamente, contra os vaga-lumes que passavam.

*~*~*~*

De volta ao bar, conversas paralelas evidenciavam o ocorrido, percebido há poucos minutos pelos presentes.

— Mas ninguém viu quem foi? – Naruto parecia curioso, apoiando-se na beirada do banco alto onde se sentava.

— Que diferença faz? Eram bandidos mesmo... – Kiba tratava o assunto com desdém enquanto organizava alguns pratos sujos e os recolhia da mesa.

— Não há por que punir o responsável se era o que deveria ser feito – Asuma tragava levemente sem que a conversa lhe roubasse o raciocínio perante o tabuleiro a sua frente.

— Soube do que aconteceu, Tenten-chan? – perguntou Lee ainda sem acreditar em como nenhum dos shinobis atentou a tão dramático episódio.

— Eu estava lá... – disse pegando uma bebida qualquer de uma bandeja, acomodando-se e tratando o tal fato com indiferença.

— E quem foi?! – disse ele chamando mais atenção do que deveria. Todos se voltaram para a ninja quase tocando o copo rubro nos lábios. Estava sem saída.

— Eles me atacaram! O que esperavam que eu fizesse?!

— Não precisava pegar tão pesado, Tenten! Têm crianças no festival! – reclamou Ino.

— Ela tem razão, não precisava tentar arrancar o ombro daquele cara fora com uma espada!

— Eu não queria me meter, mas não foi você mesmo que disse que não fazia diferença? – Shikamaru observou rapidamente antes de esquivar-se de uma jogada quase fatal.

— E por falar em espada... – Tenten comentou ao ver Neji entrar.

— Mas não tem lâmina de corte, ele mesmo disse que...

— Eu encerei a espada – disse o Hyuuga jogando-se no fogo, interrompendo a fala de Gai e lançando um silêncio agonizante. – Eu vi aqueles caras mais cedo. Conhecia o histórico e sei, tão bem quanto a Tenten, que bandidos não vêm a um festival para se divertir. Mas não era por isso que ia arriscar a vida de um oponente de kendo que no máximo te lança uma cara feia – aproximou-se e colocou o frasco vítreo sobre a mesa. – Este tipo de material não permite troca de calor. A cera permanece quente até tocar a lâmina e quando seca, retira a propriedade de corte.

— Explica muita coisa, mas como você teve acesso a um equipamento utilizado pelas tropas ANBU?

— Não há razão para se preocupar com isso, Shikamaru, uma vez que fui eu quem lhe encarregou da tarefa – disse o Hatake ao surgir de chofre, de um canto qualquer.

— Professor Kakashi, como pôde? Eu tomaria uma providência se tivesse me avisado!

— Mas você não tem uma espada, certo? – Neji lembrou-a do detalhe, vitorioso.

— Mas as regras são claras! – disse ela com certa ignorância. – Não devemos confiar nenhum produto de pesquisa ou utensílio àqueles que não são dos nossos!

— Não grite, eu conheço as regras – continuava calmo. – E mesmo não sendo “dos nossos”, como diz, ele salvou a sua vida. Poderia ao menos ser grata por isso já que ele deixou a parte mais divertida para a senhorita, sim? – sorriu alheio à fúria dos olhos castanhos.

— Que se dane! – saiu às pressas do local, deixando o clima perplexo para trás.

— Não a perca de vista. Se lhe faltar razão, as coisas podem ficar piores... – sussurrou a Neji, que aguardou um momento para sair discretamente.

— Vai ficar tudo bem, Kakashi-sensei? – questionou Naruto analisando a estranheza do dia.

— Já está tudo sobre controle – mentiu. – Não vamos deixar um quase assassinato acabar com a festa de nossos companheiros, vamos? – sorria, ocultando a preocupação e a incerteza por trás de sua máscara.

*~*~*~*

— Você não tinha de se meter! – reclamou ao ouvir os passos que a seguiam no corredor de madeira e pedra.

— Fugir não muda o passado, senhorita – rebateu, fazendo-a sentir falta de seus momentos de silêncio.

— Me seguir também não! – virou à esquerda tentando escapar.

Permaneceu caminhando até ficarem lado a lado. Puxou-a pelo punho, de forma a encará-la, não a olhando por cima, mas diretamente em seus olhos.

— Onde está o trabalho em conjunto que nossa equipe tanto prezava? – desconcertou-a com a importância dada à pergunta.

— Esvaiu-se desde que você partiu! – tentou inutilmente se soltar.

— Mas estou aqui agora... – seu olhar tornou-se mais sério. – E você, o que faz?

            Não teve tempo de formular uma resposta. Precisara desviar de algum instrumento cortante, lançado quase rente ao chão. Ele também percebeu.

Voltaram-se para uma criatura macabra e envolta por sombras, que pareciam continuidade de suas vestes negras. A figura estava acompanhada por seres clonais, que mais pareciam feitos de borracha, aberrantemente pálidos e sem expressão – exceto por um conjunto de dentes navalhantes como adorno da boca que constantemente pendia para frente. Algumas faixas de tecido velho e sujo, amarradas de maneira exageradamente forte, formavam hematomas escuros na região da cabeça, não sendo possível ver como eram seus olhos.

A dona de tais seres não apresentava nenhuma parte do corpo à mostra. Uma touca encobria seus cabelos volumosos como continuidade da aderência tecidual, juntamente a uma máscara comum, sem desenhos ou fendas e inteiramente branca.

Tantos detalhes puderam ser percebidos facilmente com uma análise breve, interrompida pela defesa necessária para conter os tenebrosos oponentes que avançavam, um sobre cada shinobi. Num golpe rápido Neji desintegrou parte da cabeça de um deles com sua espada, não impedindo, porém, que este continuasse tentando arrancar-lhe uma porção de carne ou sangue. Eram seres determinados, paralisantes; a não ser pela transformação sutil de suas partes mutiladas em algo tão simples como serragem.

Já passados vários cansativos e quase inacabáveis minutos, os explosivos que carregava consigo pareciam ser a única coisa viável da qual dispunham, visto que seus golpes cortantes não surtiam efeito e que Tenten estava prestes a ser engolida por um ser asqueroso, que se separava dela somente pela kunai encravada entre seus dentes. Conseguiu algum tempo para aderir um selo à criatura, repetindo o ato com o outro oponente, e afastando a garota do perigo antes que se ferisse também.

Os corpos cinzentos flutuaram pelo o ar na forma de grandes flocos de madeira, misturados com poeira e umas poucas fagulhas. Preocuparam-se rapidamente com a curta distância de um quase abraço, afastando-se depressa, e imediatamente após tal ato, ele caiu imerso em um gemido de dor. Ela não compreendera a princípio, mas viu que seu peito sangrava pela mancha escura e úmida que se alastrava pelo nobre tecido que vestia.

A serragem, uma vez espessa, deixava o local de forma lenta e impedira que ambos percebessem o movimento cruel daquela adaga. Agachou-se a fim de acudi-lo enquanto ainda encaravam a outra figura presente, sem saberem de que mais era capaz e qual seria o motivo de sua súbita aparição.

— Isto deve ser o suficiente... – disse a voz abafada pela máscara antes de difundir-se nas sombras.

Num ímpeto, Tenten virou-se para ele.

— Precisamos remover isso de algum jeito! – tentou controlar-se, desistindo quando o viu arrancar de vez a lâmina, fazendo resquícios encarnados espalharem-se pelo chão.

— E agora? – gemeu ofegante.

— Não desse jeito, idiota! – repreendeu, ferindo a soberba presente. – Mas que droga! – resmungou tentando apoiá-lo em seu ombro, sendo detida por ágeis e ensanguentadas mãos.

— Eu consigo andar sozinho, não precisa...

— Como você é estúpido! Está perdendo sangue! Não consegue dar um único passo sem...

— Eu já disse que estou bem! – jogou-lhe um grito, entendido da pior forma possível. Segundos de silêncio e indignação acertaram seu rosto. Ela estava tão desesperada quanto ele.

— Você... Você é mesmo um imbecil, sabia? – dizia com dificuldade, contendo soluços baixos e sem forças para discutir o tanto que gostaria. – Sempre foi...

Permaneceu com os joelhos no chão, tentando assimilar aquelas feridas. Não sentia o sangue manchando sua pele, nem os calafrios que aquela sensação ruim causava; somente o ressentimento de anos, guardados, colocados aos poucos para fora, até explodirem. Ele sabia que ela gostaria de ter dito mais, muito mais. Tudo o que merecia ouvir por tudo que havia feito. Porém calou-se. Calou-se pela própria alma, que já não queria lutar mais. Podia ver como era insistente a possuidora daquelas lágrimas, levantando-o, forçando-o a cambalear pelos corredores com dificuldade. Olhava-a de soslaio. Sentia sua respiração descompassada, algo frio lhe escorrer pelo pescoço e um medo nunca visto antes, nunca tão profundo em seus orbes castanhos.

Adentraram uma sala que deveria ser a enfermaria do local. Escura, porém nítidas todas as coisas presentes; o luar forte através das janelas de vidro. Deitou-o na única cama do cômodo, alta, para facilitar o trabalho das equipes de Shizune. Não conseguia conter a hemorragia; sua respiração estava fraca e ofegante, mas permanecia lúcido, fitando-a com dificuldade, quase fechando os olhos, e sentindo a pressão de suas mãos e de um tecido mais grosso sobre o ferimento. Era orgulhoso para dizer-lhe, mas sentia medo. Ele sabia o que ela tanto queria ouvir.

— Estou quase lá! Tente ficar acordado, por favor – pressionava com toda a força e cuidado dos quais dispunha, procurando evitar deslizes.

— Pare... – aliviou a tensão de seu braço, empurrando-o gentilmente.

— Eu não posso! Ainda não é o suficiente! – encarava-o nervosa, concentrando-se no corte profundo e não pensando demais, numa clara tentativa de se acalmar.

Ergueu um pouco a coluna quase tocando o rosto da moça, que tentou leva-lo de volta a seu lugar. Este, por sua vez, simplesmente lacrou seus lábios nos dela, deixando-a inerte por alguns segundos, tempo suficiente para aliviar sua expressão temerosa e repleta de dúvidas.

— Perdoe-me... – expirou antes de ter sua cabeça amparada por uma das mãos vermelhas e aquecidas pelo tecido rubro.

Sua mente negou tal ato, sem saber se deveria sorrir, sem saber um motivo ou significado qualquer. Afastou tudo que havia acabado de presenciar, sacolejando a cabeça e apenas pensando em não deixa-lo morrer. Demorados minutos mais tarde, a ferida coagulara com sucesso. Permaneceu atenta enquanto o esperava acordar. “Aquela mulher pode voltar a qualquer momento”, pensava, apesar de saber que ela não deveria se arriscar muito, visto que Kakashi já estava avisado. “Mesmo assim... É melhor parar de confiar na própria sorte”.

*~*~*~*

Acordara sentindo-se cansado. “Deve ter sido o sangue”, lembrou-se rapidamente do ocorrido de horas atrás. Levantou devagar se apoiando nos cotovelos e avistou a jovem próxima à janela, a insignificantes metros, que não conseguiu trilhar sem ir de encontro ao chão.

— O que pensa que está fazendo?! – correu até ele, segurando seus ombros para não desmaiar novamente. – Ainda preciso enfaixar isso, não pode sair andando como se... – alertou à nova mancha vermelha em seus dedos. – Droga... Venha, parece que vou ter que estancar de novo – falou derrotada, depois de tanto trabalho.   

— Não, espere... – impediu que se levantassem. – Cauterize.

— Está louco?! – quase gritou, incrédula. – Você vai morrer de dor, vai ser mil vezes pior para nós dois!

— E o que há de ruim nisso relacionando-se a você? – pegou-a desprevenida. Não queria fazer com que ele assumisse o comando da situação por meras palavras.

— Bem, é que eu... – fitou suas mãos, envergonhada, percebendo que o sangramento não fora tão grave quanto o anterior. Somava a agonia repentina do órgão entre seus pulmões com a situação mais que constrangedora de estar frente a frente com o ser sem camisa mais cobiçado da região. Não que fizesse sentido pensar sobre aquilo naquele instante, mas diante de sua mente vazia a respostas, foi a primeira coisa que lhe ocorreu. O que não deixava de ser algo bom. “Parece que voltei a pensar com lucidez”.

— “Eu...” o quê? – insistiu.

— Eu... – retornava à realidade embaraçosa. – É... Só que não quero feri-lo... Mais do que já está – deixou transparecer o rubor de sua face.

— Você sabe que isso não é nada. Passa-se por eventos piores na vida – impôs sua superioridade rotineira, irritando-a novamente.

Próximo às prateleiras repletas de frascos de medicamentos, tentou relaxar, recostando-se no sofá razoavelmente novo enquanto ela recolhia algumas bandagens sobre uma mesa. Logo começou seu trabalho, ágil e cautelosa, tentando evitar diálogos a mais que os pedidos de desculpas quando o magoava acidentalmente. E ele ainda quis se pronunciar.

— Preferia que tivesse cauterizado...

— Pare de reclamar! Já não basta o tempo que isso me tomou e aquela louca atacando você! Ou melhor, nós! – possuía um tom de revolta. – Parece que você perdeu sangue demais, não está pensando com coerência.

— Beijar-lhe me pareceu bem coerente.

A reação que se sucedeu deveria fazer qualquer tomate ou fruto vermelho dos campos de Konoha invejá-la. Uma cor facial tão intensa que apenas a escuridão do local era capaz de encobrir. O Hyuuga estava mesmo irreconhecível ou ela estava ouvindo coisas? Sabia que atrevimento e conversas abertas não traçavam seu perfil e ao mesmo tempo sentia raiva; não queria tê-lo deixado a beijar tão facilmente, ainda que não tivesse correspondido.

— Eu sei que não está entendendo, mas... – uma entoação orgulhosa tentava uma dominação. – Temi que não tivesse outra chance de...

— O chá estava ótimo!

— M-Mas o quê?

— De verdade, eu não estava brincando – abstinha-se ao máximo de um contato visual profundo enquanto finalizava as amarras que fazia.

— E o que isso tem a ver com o que estávamos falando? – enrubesceu levemente.

— Você – enfatizou. – Estava falando – intimidou-o. Não era nada agradável ver Neji Hyuuga tentando explicar seus sentimentos. “Talvez por nunca sentir nenhum”, na sua feminina e humilde opinião, ou por nunca ter se importado em demonstrar. Era mais que óbvio que estava brincando com ela, por mais estranho que isso soasse. “Todo homem faz isso, não é?”, pensava, “E o que acontece quando eles te deixam?”. Detestava a ideia de depender de alguém.

Não tinham mais o que falar. De fato, não queriam falar, somente. Um clima tenso se formou e quebra-lo levou algumas longas horas, um ao lado do outro, aguardando o fim da celebração.

— Já é quase meia-noite – rompeu com o silêncio. – Não fiz pedido algum ainda...  – lembrou-se de algo que Hinata havia dito sobre isso. – Não que isso importe – desistiu.

— Foi um convite? – questionou, ainda condenando-o mentalmente pelos acontecimentos anteriores. – Você sabe, é que... Por acaso separei parte do seu sangue para que Shizune analise as toxinas que o fizeram ficar desse jeito – utilizou-se de ironia.

— Hunf! Claro que não foi. As paredes prometeram que me acompanhariam até lá.

— Tudo bem, então – levantou-se. – Tchauzinho!

— Não está falando sério... – espiou pelo canto dos olhos.

— Estou – caminhou em direção à porta. – Especialmente tratando-se de uma companhia tão sólida como esta! – tapeou levemente o concreto.

Esperou que ele respondesse, porém nada foi dito. Virou-se e avistou-o caminhando com dificuldade até que conseguisse alcança-la. Ofereceu, então, seu ombro como apoio, sendo puxada para um abraço repentino do qual não pretendia participar.

— N-Neji... – não cedeu novamente, empurrando-o para longe de maneira ineficaz. – Olha... – respirou. – Não espere que eu o perdoe por esse comportamento estranho e infantil! – segurava com palavras um sentimento que corria em algum lugar profundo de dentro dela. Percebeu uma extrema necessidade dele de continuar ali; gostaria de acreditar que estava tentando conter aquelas que não seriam as primeiras lágrimas de sua vida. E estava.

Após tantas conversas nada sutis, decidiu por entregar-se, nem que fosse para implorar por respostas depois. Acolheu-o com um suspiro, deixando cair todo o peso que carregava, pela ignorância, pelo esquecimento, pela vontade de estar ao lado de alguém inacessível. A figura masculina descontava o que não era expresso em seus olhos na força com a qual a aproximava dele, realizando um pedido tão reluzente quanto as estrelas da sétima noite: perdoar.


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