O bracelete mortal escrita por queen


Capítulo 3
Uma ajuda inesperada




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Logo após ter saído daquele buraco olhei para todos os lados para me assegurar que não tinha ninguém a minha procura. De fato não havia ninguém. Acho que eu fiquei tempo demais presa lá embaixo e isso acabou não sendo de todo mal. Eles deviam estar bem longe dali, a minha procura de em algum outro lugar. Por estar sozinha, sem quem quer que fosse atrás de mim me senti um pouco mais aliviada e me dei o privilégio de admirar tudo a minha volta, já que era a primeira vez que eu saia do castelo.

Eu estava sem sapato, pois os tinha tirado pra não fazer barulho durante o momento em que espionava, e por isso pude sentir a areia da praia em meus pés. Fazia certo frio, contando com o fato de que estava próximo do amanhecer e aquele horário era o mais congelante de todos - e eu estar de camisola só piorou a situação. Com tudo tive uma querida sorte ao colocar um robe por cima da roupa em que estava no momento em que sai do meu quarto, horas e horas atrás.

Fiquei parada, só olhando. Em um daqueles instantes que a gente simplesmente se desliga de tudo, e não pensa em mais nada. Só aproveita o momento e esquece do mundo ao redor. E isso era tão bom que eu poderia ficar ali para todo sempre. Olhando para o infinito. Sentindo a brisa na minha pele. Ouvindo o barulho das ondas ao se chocarem e transformarem-se em uma sinfonia atormentante para o silêncio da noite. Vendo o céu começar a ser pintado pelo que ameaçaria ser os primeiros raios solares. Porém deveria ter imaginado que esses tipos de momentos não duram para sempre, ou melhor, não duram por muito tempo. Só não esperava que ele acabaria de uma forma aterrorizante e repentina.

Eu estava completamente errada ao achar, minutos atrás, que as pessoas a minha procura estavam longe dali. Na verdade elas estavam mais próximo do que eu pensava.

Ouvi ruídos, burburinhos, sussurros de seres um pouco afastado de mim, e então resolvi me virar para ver o que era. Eu não sei se tive a inocência de achar que àquela hora da madrugada e àquela distância do castelo, poderiam ser pessoas boazinhas tentando acolher e ajudar uma fugitiva desconhecida que olhava silenciosamente para o “nada” naquele horário. Mas, se eu, por mínimo tempo que tivesse sido, havia pensado nessa possibilidade, ela se extinguiu quando enfim olhei para quem vinha ao meu encontro – no entanto não era exatamente quem, no singular, porque a quantidade de pessoas que estava ali poderia ser considerada alta. As caras que fizeram quando me viram aterrorizaram-me tanto que involuntariamente comecei a correr.

Pareciam lobos famintos ao encontrar uma presa fácil. E eu não queria ser essa presa quando eles me pegassem, pois estava com medo do que iria acontecer. Afinal a minha captura era uma questão de tempo. Eles estavam em maior número e o fato de ter vivido trancada por anos naquele castelo não me garantiram um porte atlético.

Eu permanecia correndo com todas as minhas forças. Com uma esperança apoiada em não sei o que, e não sei porque. Não havia motivos para fugir daquelas pessoas, não havia motivos para fugir do castelo, não havia motivos para fugir do meu pai. Isso tudo estaria tecnicamente correto, porém as coisas de fato não são bem assim. Eu não me sentia nem um pouco feliz naquele lugar, as pessoas dali não gostavam de mim e por mais que eu tivesse tentado, era difícil aceitar a forma como vivia. Não suportava viver daquele jeito e me perguntava todos os dias, o porquê das coisas e das mentiras, pois era obvio que meu pai no mínimo, omitia várias fatos para mim. E ter visto o que vi mais cedo, só me fez criar coragem para fazer algo que tinha vontade a muito tempo. Pois as vezes é necessário um empurrãozinho para que tomemos iniciativa, mesmo que esses sejam cruéis ou radicais.

Eles estavam se aproximando. Corriam quase ao meu lado e não teria mais o que fazer. Estava ofegante, cansada, e já tinham esgotado além da minhas forças. Mas de repente à minha direita pensei ter visto um cavalo com asas que acabara de surgir, galopando ao meu lado, as margens da água do mar.

Por um momento eu achei que tinha corrido demais e o oxigênio do meu cérebro estava faltando e por isso comecei a alucinar, ou simplesmente tinha desmaiado e já não possuía consciência do que acontecia, ou até mesmo sonhado com tudo isso. No entanto a dor que sentia devido ao queimar das pernas e da aceleração do coração de tanto correr, me fizeram crer que eu estava completamente acordada. Mas aquilo não era possível. Um cavalo alado? Era isso mesmo?

O pior de tudo é que parecia que aquele animal estava ali por minha causa, – ou não – pois me olhava de forma a me incentivar a subir nele. Só que eu realmente achava aquilo estranho demais, como se fosse um simples pégaso que eu usava para passear toda manhã pela praia.

Com tudo as minhas opções não eram muito amplas e eu ainda permanecia correndo. Porém o cavalo voador tinha me distraído tempo suficiente para que eles chegassem cada vez mais perto – não que isso não fosse acontecer, mesmo que o animal não tivesse aparecido. No entanto isso só me fez ter que acelerar um pouco mais a minha decisão. E dessa vez não houve critérios ou analises sobre se aquilo era ou não possível, eu simplesmente pulei nas costas do animal e esperei que ele me levasse para longe e me protegesse daquelas pessoas estranhas e macabras.

Não sei se podia acreditar naquele animal surreal, porém era a única saída que eu possuía no momento. E afinal a primeira parte ele já estava cumprindo. Pois assim que me ajeitei em suas costas, começamos a voar e ele levou-me cada vez mais alto e mais distante do chão e das pessoas de lá de baixo. E quando olhei para os rostos dos seres sob mim foi que percebi realmente ter feito uma boa escolha ao optar em fugir com o cavalo alado.

Ao notarem que eu havia conseguido me livrar das garras deles olharam-me com tamanha raiva que fui capaz de sentir o ódio que transbordava pelos seus olhos, porém após a raiva percebi que olhavam um para outro e mais uma vez para mim como se tivesse acabado de descobrir que haviam deixado escapar algo muito preciso – não que eu fosse algo muito preciso, porém pela cara que fizeram eu parecia pelo menos ser algo importante – e por conta disso teriam graves consequências.

No entanto eu já me importava mais com nada, pois agora estava livre e salva – tecnicamente isso era verdade. E o mais impressionante de tudo é que tinha conseguido isso da forma mais inusitada possível. Eu estava voando! Como assim eu estava voando? Era algo tão maravilhoso e impressionante que chegava a ser inacreditável.

Durante dias e noites em que estive presa naquele castelo, sempre pensei em coisas que poderia fazer aqui fora, no que poderia ver, mas sempre soube dos limites de realidade que existiam, mesmo em meus sonhos. Apesar de querer acreditar em algumas coisas, involuntariamente eu descartava ideias, pensamentos e até mesmo sentimentos, por saber que nada daquilo iria acontecer, ou até mesmo ter chance de um dia ser se quer real. E um desses sonhos descartáveis era voar.

Eu sempre me perguntei se alguém alguma vez na vida não havia desejado voar. Pra mim esse seria um dos sonhos universais. Pois eu sabia que um dos anseios mais profundos e necessário dos seres humanos é ser livre, e não me vem na cabeça nada mais libertador que voar.

Sabia que não estava sendo tecnicamente eu que voava, afinal quem fazia isso por mim era o pegaso, porém a sensação deveria ser a mesma. E se não fosse não me importava, porque me sentia bem e só isso bastava.

Quando me senti realmente segura resolvi me libertar cada vez mais, sentir a adrenalina penetrar em meu corpo e me tomar por inteiro. Deixar me arrepiar e me sentir totalmente livre. Então eu me ajeitei nas costas do animal, para que pudesse estar o mais segura possível, e desgrudei as mão dele. Aquilo era tão bom e emocionante que servia basicamente como um tônico de vida. Sei lá, era como se de repente, mais do que nunca, eu tivesse com vontade de viver.

E eu permanecia com os braços abertos, sentido o vento apalpar todo o meu corpo e minha face. Já não sentia mais frio, pois afinal não havia mais espaço pra aquilo no momento. A energia que percorria dentro de mim era tão grande que senti uma necessidade de extravasar. Foi ai que resolvi – meio sem pensar – gritar.

Eu sei que não era algo nada normal e no mínimo coerente a se fazer, já que tecnicamente eu estava fugindo e que se tratava das horas iniciais da manhã – eu ainda estava em dúvida se ainda era madrugada ou se já havia amanhecido. Porém depois de poucos instantes eu percebi algo estranho lá embaixo.

Até o momento tudo que se podia ver eram árvores, afinal a gente sobrevoava uma “floresta”. Mas a alguma distância eu pude notar uma área descoberta. Só que não era apenas isso, tinha algo de estranho naquele lugar. E eu esperava somente me aproximar mais para identificar o que de estranho pressentira por lá.

E de fato essa minha sensação se concretizou. Esse espaço descoberto percebi se tratar de um pequeno vilarejo, – já tinha notado a presença de cabanas por ali, no entanto não sabia ao certo se de fato se tratava de uma pequena vila ou algo do tipo, e por isso precisei chegar mais perto para ter certeza – mas a questão não era tratar-se ou não de um vilarejo e sim o que tinha acontecido por lá.

Apesar de não estar enxergando muito bem, – porque mesmo amanhecendo ainda estava, de certa forma, escuro e as únicas luzes que ameaçavam despontar formavam sombras – notei que havia acontecido algum tipo de “guerra” naquele lugar. Coisas quebradas e jogadas ao chão, casas queimadas e eu jurei ter visto corpos caídos em algumas partes.

A visão de todas essas coisas me fez ter vontade de apagar tudo aquilo da minha mente, e convencer a mim mesma de que tudo não havia passado de pura imaginação. Porém isso foi um pouco impossível, diria até que não aconteceu, mas como resultado mínimo consegui pelo menos não pensar mais naquilo, depois de muito esforço para me concentrar em outras coisas. No entanto as coisas estranhas não tinham parado por aí.

Eu havia notado que nos voávamos a uma certa velocidade, porém achei algo normal, até porque nunca antes eu voara. Só que de uma hora para outra tive a impressão de termos aumentado mais ainda a velocidade. Até poderia ter passado despercebido, no entanto foi uma mudança tão brusca que era inevitável não notar. E por isso me preocupei em estar segura, agarrando-me um pouco mais forte ao animal. E tudo isso me fez voltar uma questão inicial. Eu não fazia ideia de para onde essa coisa estava me levando.

E de repente me peguei com uma leve dorzinha no coração, pois de uma hora para outra percebi quão inconsequente tinha sido o meu ato. E agora lá estava eu, em cima de um animal não muito convencional, – diga-se de passagem – voando em alta velocidade e para não sei onde. De fato era algo a se levar e consideração e ficar um tanto preocupada. Porém eu já estava ali e não havia mais nada a ser feito. Pelo menos foi isso que eu tentei dizer para mim mesma na tentativa de me convencer.

Mas a situação só piorava cada vez mais. Como se não bastasse estarmos voando aceleradamente, parecia que o animal começara a cambalear e a perder altitude mais e mais.

Foi uma questão de minutos para estarmos voando tão baixo que se tornou eminente a batida em uma das árvores. E em fração de segundos para estramos desviando o máximo possível delas, visto que planávamos entre árvores agora.

Eu não fazia ideia do que acontecia, simplesmente o pegaso por algum motivo perdera as forças e neste momento lutava para se manter em pé, tentado a todo custo não acabar se estatelando em alguma árvore. Mas infelizmente isso não demorou muito a acontecer. E quando percebi, já havia voado das costas do cavalo e parado a alguns metros de distância dele.

Eu devo ter batido a cabeça em alguma pedra ao cair, porque a dor que comecei a sentir enquanto jazia no chão era tão forte que me faziam ter vontade de chorar. E além disso comecei a perder os sentidos.

Percebi isso quando ouvi vozes, mas não consegui entendê-las. Eu tentei ver, mas ao abrir os olhos, as pontadas em minha cabeça aumentavam de uma forma que chegava a ser insuportável. Por isso resolvi manter os olhos fechados e procurar ouvir o máximo possível. No entanto, por mais que tentasse, já não entendia nada. A minha cabeça rodava, latejava, e alguma coisa gritava lá dentro. E as únicas coisas que pude perceber é que se tratava de uma voz feminina, e que ela se aproximava cada vez mais. Com tudo, não fez mais diferença o que aconteceu dali por diante, pois a dor tinha parado e eu já não ouvia mais nada, nem sentia também, pois havia desmaiado.


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