O bracelete mortal escrita por queen


Capítulo 4
Casa desconhecida




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Fazia um certo frio, mas os lençóis ajudavam a me manter protegida e confortável. Não era como a minha cama, mas algo nela a deixava mais confortável ainda. Estava tudo escuro e eu não podia identificar ao certo o lugar onde me encontrava, pois apenas a luz do luar iluminava o quarto, criando assim trêmulos vultos e sombras, que não me assustavam, porque a ideia de desconhecer o lugar ao meu redor era mais assustadora.

As pontadas não sessara totalmente, mas tornaram-se suportáveis. O meu corpo também estava dolorido, e quando passei a mão pela minha cabeça entendi o porquê dela ainda latejar. Até mesmo pelo tato era possível perceber o galo que se formara em meu crânio e não era de se admirar caso eu permanecesse com dor de cabeça pelo resto da vida.

Como não havia mais nada a ser feito eu simplesmente dormi, e por um breve instante desejei que nada daquilo tivesse acontecido, e que tudo não passasse de um sonho muito louco.

Era como se eu desejasse voltar a minha rotina habitual pelo simples fato ser mais fácil. Por mais confuso e falso que pudesse ser, sem sombra de dúvidas era mais fácil também.

Nas últimas vinte e quatro horas que saí do castelo, aconteceu mais coisas comigo que durante minha vida inteira. E isso algumas vezes chegava a ser aterrorizante. A lembrança do homem quase morto ainda amedrontava minha mente. Eu podia sentir o cheiro daquele labirinto escuro e úmido onde passei boa parte da noite anterior – eu supunha que se tratava da noite passada, e realmente esperava que fosse. Dezenas de pessoas com rostos estranhos e macabros que me perseguiram e me fizeram correr à toda, provavelmente assombrariam meus sonhos por um tempo. E por fim um animal que jamais vira antes e que me lançara metros a dentro da mata e causara essa dor infernal de cabeça.

De fato passar por tudo isso e não desejar voltar a vida normal seria quase impossível. Com tudo, no momento eu só precisava de um tranquila e longa noite de sono. E era isso que pretendia fazer naquele instante.

A claridade que afetava meus olhos seria capaz de cegar. Não me lembrava daquela janela na noite passada, e muito menos dela estar aberta. Talvez porque a luz do dia iluminava o quarto e agora revelava tudo a minha volta.

Era simples, uma cama de madeira escura, na qual estava deitada, um pequeno criado mudo da mesma cor da cama, uma cadeira ao lado da porta e uma janela por onde passava uma luz irritantemente forte que se direcionava ao meu olho.

Mas uma coisa me agradara muito ao acordar. Enfim a dor de cabeça havia passado, e em seu lugar voltou a apreensão por não saber onde estava. No entanto de repente a porta se abriu. Pensei fingir estar dormindo, porém até quando isso iria durar? E por mais terrível que pudesse ser preferia passar por tudo logo.

“Olha quem acordou” Falou uma menina que percebi ter mais ou menos a minha idade. Ela tinha cabelos castanhos, magra e de pele clara. Era bonita e possuía uma certa leveza em suas feições, o que a deixava com um aspecto gentil e bondoso. Antes dela a única pessoa que vi ter essas características fora Amabel, e tinha boas lembranças dela, afinal foi quem me ajudou bastante na fuga.

– Pode ficar calma, não vou te morder – continuou falando com um sorrisinho meio singelo ou até mesmo forçado.

Acho que ela disse isso por causa da cara que eu deveria estar fazendo. Não sabia o que dizer, o que fazer, e sim, eu estava assustada. Quem ia me garantir que ela realmente não me morderia.

– Qual seu nome? – ela insistia numa conversa, tentava fazer com que me sentisse mais calma e menos acuada.

– A...Anne – as palavras quase não saíram da minha boca, mesmo depois do esforço que fiz para formular a resposta.

Sim, eu estava parecendo um bichinho encurralado, com medo, de certa forma desesperada, insegura e contraída. E isso era muito estranho e novo para mim, porque em geral, sempre fui desaforada, corajosa e até mesmo arrogante quando precisava. Só que além disso, algo muito estranho e novo, era tudo ao meu redor.

Nunca saíra do castelo antes, não tinha o costume de falar com desconhecidos, e tudo que acontecera horas atrás me deixou confusa e intimidada. Porém, pensar em tudo isso me fez surgir perguntas e isso me deixou um pouco menos tímida, afinal aquela menina não era nada apavorante e não havia motivos aparentes para estar assim.

– Como eu vim parar aqui? Que lugar é esse? Quem é você? Há quantos dias estive desmaiada ou dormindo? – falei tão rápida e repentinamente que ela pareceu se assustar.

– Calma, são muitas perguntas e você acabou de acordar, acho melhor descansar um pouco mais – ela falou tão brevemente que parecia estar esperando por aquela pergunta, e com isso já possuía uma resposta previamente planejada.

– Eu não quero descansar mais – disse rispidamente. – Quero saber, onde estou e quem é você, como vim parar aqui...

– Eu sei que isso deve ser estranho, acordar sem saber onde está, mas não vou te fazer nenhum mal – o seu olhar era de quem tinha acabado de sofrer uma grande injustiça e agora lutava para se defender.

Não estava nervosa, nem com medo, – dela ou de qualquer outra coisa – pois por algum motivo ela me passava tranquilidade. Mas tentei me manter na defensiva o máximo possível, afinal não conhecia muitas pessoas para saber julga-las por aparência e nem mesmo depois de conhecê-las.

Os seres humanos são capazes de se reinventar na busca por aquilo que desejam, e com isso passam por cima de conceitos ou qualquer outro tipo de coisa que possa atrapalhá-los. Mesmo que essas “coisas” sejam pessoas.

– Você pode pelo menos me dizer o seu nome? – falei revirando meus olhos, depois de perceber que ela relutaria para não me falar muita coisa.

–Charlotte Eagle, e por hora, isso é o suficiente

– Ah, muito prazer Charlotte. – falei rispidamente, no tom mais irônico que consegui.

Ela me olhou mais uma vez e fez uma cara de, tanto faz, e se virou. Começou a andar em direção a porta sem dizer uma palavra. E quando já estava perto de sair do quarto se virou, parou, e fez parecer que ia falar alguma coisa.

– Você não vem? – perguntou por fim.

Fiz uma cara de, “como assim???” E ela me olhou como se tivesse dito algo obvio demais. De fato aquela menina era meio sem noção e um pouco grossa para ser sincera. E quando ela percebeu que continuei sem entender, resolveu explicar.

– Você não tá com fome? - tinha um jeito meio impaciente em seus gestos e fala – Bom, se quiser continuar aí como uma animal acuado pode ficar. Quando de fato sentir fome, me avise. Ou você está esperando um convite cordial digno de uma princesa. – Ela deu um leve sorrisinho ao falar isso.

Ao dizer aquilo, eu realmente comecei a me sentir um animal acuado. Pois até então havia esquecido tudo que acontecera. E isso me fez achar que ela poderia ser uma daquelas pessoas a minha procura, na noite passada. Porém resolvi mostrar que não tinha medo dela e de nenhuma outra coisa. Mesmo que isso não fosse verdade.

– Se você deixasse de ser um pouco grossa, talvez te desse o prazer da minha presença no café da manhã. – tentei imitar o tom usado pela Charlotte anteriormente.

– Realmente, me desculpe – ela pareceu arrependida de fato, e isso me sentir mal, pois não gostava de magoar as pessoas, seja quem fosse. Ou até mesmo de deixa-las com raiva de mim.

Então ela fez sinal como quem queria que a acompanhasse e começou a andar em direção da porta. Parecia que eu havia dormido por séculos e todo o meu corpo estava dormente por conta disso. E a dor de cabeça que passara, de repente voltou à tona e fez a minha cabeça latejar mais uma vez. Eu não poderia aguentar mais aquilo, não suportava mais sentir dor de cabeça. Com tudo essa pontada foi só uma ameaça e logo passou. O que foi bom, porque já estava cogitando a ideia de retornar a cama e nunca mais sair de lá.

Eu andei atrás dela e logo chegamos em algo que acreditei ser a cozinha. A casa em si era bem pequena, principalmente se comparada ao meu castelo, mas de algum forma era muito mais aconchegante que ele também.

Havia um corredor por onde caminhamos brevemente, e do lado esquerdo duas portas. E eu estava na primeira dessa portas. Atrás de mim, algo que identifiquei como sendo uma sala e na outra ponta a cozinha, de onde vinha um cheiro maravilhoso. Eu não sabia ao certo o que era, mas tinha um cheiro bom, e o melhor de tudo, era comida.

Nossa! Parecia que eu não comia a muito tempo, e ao sentir aquele cheiro, a sensação aumentou mais ainda e cheguei a ouvir um barulho vindo da minha barriga. Ao chegarmos de fato lá percebi que não estávamos a sós naquela casa.

Sentado à mesa havia um senhor. Ele era magro, um pouco alto e corcunda. O tempo pareceu ter o maltratado muito, pois tinha um aspecto cansado e pesado. Já um pouco mais afastada e em pé, próxima a uma espécie de forno, estava uma mulher. Mais gorda que o homem e mais baixa também. Com tudo, tinha o mesmo aspecto cansado e pesado que o outro.

Porém ao virarem-se em minha direção, percebi a diferença marcante entre eles. O senhor apesar de toda a feição de cansaço possuía um olhar caridoso, gentil e aconchegante, já a mulher da lareira, tinha uma expressão mais severa, amargurada, e podia notar até mesmo medo e incomodo em seus olhos – ela possuía características muito amostra, de forma que não conseguiria disfarçar nem mesmo se quisesse.

Quando percebi Charlotte já estava sentada a mesa e me olhando. Com se eu fosse uma idiota parada no meio do cômodo olhando fixamente para as outras duas pessoas que acabara de “conhecer”. E na verdade era isso mesmo que eu era, no entanto saí do meu transe e comecei a deslocar-me em direção a pequena mesa, a qual o senhor estava sentado. E então Charlotte enfim falou:

– Anne, esse é o meu tio George

E foi aí que eu notei a semelhança. Eles eram muito parecidos. Não sei se a maior semelhança eram os olhos castanho claros, quase mel, a boca pequena e grossa ou o semblante gentil e caridoso que os dois possuíam.

– Prazer! E...muito obrigado por me abrigar – não sabia ao certo o que agradecer, afinal eu não tinha ideia de quem realmente eram aquelas pessoas e de como eu chegara ali, mas me pareceu a melhor coisa a ser dita naquele momento, pois como Charlotte, ele não me passava medo, muito pelo contrário.

Quase no mesmo instante que terminei de falar, a senhora de feições frias e evidentes sentou à mesa e tive que me deparar com o jeito insinuativo e ameaçador que olhava pra mim.

– Anne, muito prazer sou Meredith! E se não for muito incomodo, é Anne de quê? – Perguntou assim que sentou.

– Anne Bottwo, senhora – Eu olhava para baixo, como se ela tivesse acabado de me dá ordens.

E o que aconteceu no instante seguinte foi muito estranho. O tio e a tia da Charlotte se entreolharam com um jeito esquisito e logo depois para mim e a sobrinha. Parecia que compartilhavam de um código secreto entre eles e o clima da situação, que já não estava boa, ficou ainda pior. Charlotte pareceu entender parte do que acontecia, mas tive certeza que ela também estava confusa.

O café foi bem curto e silencioso. Não sei se porque era sempre assim, ou se por conta do que tinha acontecido. Parecia que tinham acabado de me diagnosticar com lepra e todos a minha volta não viam a hora de sair dali.

Quando todos acabaram, Charlotte deu mais uma olhada para seu tio e perguntou para mim se eu não gostaria de descansar novamente. Percebi que se tratava de um “você poderia sair um pouquinho?”, e por isso disse que sim.

Fui para o quarto me deitei e olhei para o teto, desejando mais uma vez que tudo aquilo não passasse de imaginação. Embora por um lado eu desejasse isso, por outro eu não queria voltar pra casa. Eu não me sentia bem lá, mas sabia que não poderia ficar fugindo a vida toda.

E pouco tempo depois ela estava de volta, porém eu preferia que não tivesse voltado. A cara que fez ao olhar para mim me fez ter certeza de que o que vinha por aí não era nada bom. E eu estava certa.

– Eu preciso esclarecer algumas coisas pra você. – eu fiz que sim com a cabeça e ela continuou – É que...você não vai poder continuar aqui.

– Mas o que foi que eu fiz?

– Olha, foi um erro ter trazido você pra cá, mas é melhor para todos nós que você saia.

– É por causa das pessoas que estavam me perseguindo?

– Não, não é.

– Então é sobre o que?

– Eu não faço a mínima ideia de quem são as pessoas que estão te perseguindo, mas provavelmente boa coisa não é, o que piora a sua situação. Só que o fato é que você tá mentindo pra gente e você não pode ficar aqui.

– Mentindo, mentindo sobre o que?

– Faça-me o favor, não se finja de desentendida.

Eu não fazia a mínima ideia do que ela estava, e por isso permaneci calada. E por um certo tempo a Charlotte continuou me olhando, esperando que eu confessasse algo que eu não tinha noção do que pudesse ser. E quando ela percebeu que eu não falaria, continuou.

– O seu nome. Você não é quem diz ser. Está mentindo, mas a culpa é minha, afinal o que eu poderia esperar de uma pessoa que encontrei caída no meio da mata.

– Ah, então era a sua voz que eu estava escutando pouco antes de desmaiar

– Eu não sei se era eu. Mas você não poderá ficar aqui. São tempos difíceis e não devemos abrigar estranhos mentirosos.

– Do que é você tá falando, eu não menti em relação a nada. E eu também não sei se devo confiar em você, porém é minha única opção. Eu não tenho para onde ir e não sei o que fazer.

– Por que você continua insistindo? A gente sabe que seu nome não é Anne Bottwo, na verdade você poderia ter sido um pouco mais inteligente e escolhido dizer que era outra pessoa.

– Mas você é louca mesmo, é claro que eu sou Anne Bottwo, e me admira você não saber quem eu sou, afinal eu sou sua princesa.

De fato aquilo tinha soando muito egocêntrico, porém só percebi isso após ter dito. No entanto a risada que Charlotte deu quando terminei a frase, foi tão debochada, que me fez esquecer o egocentrismo e começar a me sentir uma completa idiota. Como se tivesse falado a coisa mais sem noção que podia.

– É exatamente esse o problema querida, nós conhecemos a nossa princesa e por isso sabemos que ela não é você.

– Como assim?

– Todos sabem que depois que os pais dela morreram, ela permaneceu trancada no castelo e sendo cuidada pelos tios, apesar de que muitos acham que ela já está morta. E por isso sabemos que não é você, eu só não percebi a princípio porque não me recordava do nome dela, mas os meus tios perceberam e por isso você tem que ir.

Eu estava muito confusa com tudo aquilo. Ela só podia estar brincando comigo, em um tipo de brincadeira muito cruel. Só que a forma como falou e como ainda olhava, pareciam bem certas do que acabara de me dizer.

Com tudo eu não sabia o que fazer, estava em estado de choque. Mas continuava com a certeza que de fato era uma princesa, pois tinha vivido toda minha vida naquele castelo com aquele título. Só que agora os meus pais não eram aqueles quem eu acreditava ser. Só não entendia o porquê disso.

– Você tem que acreditar em mim, eu estou falando a verdade, mas pelo visto algumas coisas foram omitidas a mim por todo esse tempo.

–Sinto muito, mas eu não posso fazer nada por você.

–Eu não tenho para onde ir, eu vi coisas estranhas acontecendo por lá, as pessoas não eram sinceras comigo, e depois de ouvir isso tenho mais certeza ainda que aquele não é o meu lugar.

– Como eu disse, não posso fazer nada por você. Já tivemos muitos problemas e por isso que moramos aqui, pois até agora estivemos a salvo.

– A salvo de quê?

– Não importa, embora eu ache que saiba muito bem. Deve partir e encontrar outro lugar para se esconder. Ah, mas troque de roupa antes, não pode sair assim. Tem uma roupa dentro do criado mudo.

Eu ainda estava com roupa de dormi. Vesti ela quando saí do castelo na noite anterior. E por cima estava o meu robe, que coloquei por causa do frio que fazia naquela noite.

Percebi que não importava o que eu falasse, Charlotte não mudaria de ideia. E por isso me direcionei até o móvel onde estava a roupa e comecei a olhar lá dentro. Ela saiu do quarto assim que me virei, sem dizer mais nada.

Era uma roupa simples, mas com certeza bem mais decente para sair por aí. Possuía uma cor verde meio fosca, e de mangas curtas. Me troquei rapidamente e arrumei o meu cabelo, fazendo uma trança nele, e saí. Não tinha ninguém ali por perto, por isso imaginei que estivessem na cozinha, e então fui até lá para me despedir, ou só avisar que já estava os deixando livres.

– Eu já estou indo, podem ficar calmos agora, com tudo muito obrigada pelo que fizeram por mim, vocês devem ter motivos para não me querer aqui.

– Sim, nós temos...

Nesse momento Meredith virou-se pra mim e quando estava prestes a terminar a frase, ficou imóvel e começou a encarar o meu bracelete, e ao notar isso Charlotte e seu tio fizeram o mesmo. Daí notei que até então eles não haviam notado a minha pulseira por causa do roupão que estava vestindo. E foi aí que eu percebi. Eles poderiam finalmente ter notado que eu havia falado a verdade. O meu pai/tio tinha dito uma vez que aquela era uma joia de família. Poderia ser que eles houvessem a reconhecido e agora saberiam que eu estava falando a verdade. E eu estava prestes a falar, quando a tia de Charlotte foi mais rápida e falou primeiro.

– Onde é que você conseguiu isso?

Eu não sei se eu estava esperando um sorriso vindo daquela mulher, porém a cara que ela fez ao falar aquilo, e apontar para ele, foi bem estranha, se é que essa é a palavra certa para descrever sua expressão.

– E...Essa é uma joia de família. Agora vocês já sabem que eu não estava mentindo, que eu realmente sou da realeza.

– É melhor você sair daqui o quanto antes, eu não sei como você conseguiu isso, muito menos como está viva até agora, mas é melhor você sair. – Meredith disse apavorada, quase gritando.

– Já tivemos desgraça demais em nossa família, por favor vá. – continuou o tio de Charlotte.

A cada vez que essas pessoas abriam a boca eu ficava mais confusa. Primeiro a história sobre meus pais/tios que até agora estou se entender, e depois isso? Quem estava achando melhor ir embora neste momento, era eu.

Me virei e comecei a andar, e então a Charlotte me acompanhou sem dizer nada. Quando atravessamos a casa e chegamos a porta, ela levou uma chave a fechadura e a abriu.

Na frente da casa haviam algumas árvores, e um estreito caminho entre elas, que levava a uma estrada de terra a vários metros dali. E só nesse momento foi que percebi quão afastada era aquela casa. Não havia nenhum sinal de vida por perto, a não ser a de animais. Nada de casas, nada de pessoas, nada de comunidades ou qualquer coisa do tipo. E mesmo a estrada estava a uma certa distância da casa.

Depois de certo tempo parada olhando ao redor, finalmente Charlotte resolveu se pronunciar. “Aqui é um pouco afastado das cidades, ou qualquer aglomeração do tipo,” é eu tinha percebido isso, “mas se você for um pouco rápida chegará em um pequeno vilarejo antes do anoitecer, indo naquele direção”, nesse momento ela apontou para esquerda.

O café da manhã que eu tomara tinha sido um pouco mais tarde. Percebi isso ao notar q estava próximo de meio-dia, e calculei com base no que ela falou que seria uma grande caminhada, e por isso deveria começar o quanto antes. Pra minha sorte, o céu estava com algumas nuvens e o tempo começava a ficar nublado, fazendo assim com que eu não morresse desidratada devido ao sol do meio-dia.

No entanto a minha partida foi interrompida quando notei que um grupo de pessoas em cima de cavalos se aproximava da casa, pois nesse instante Charlotte me puxou pra dentro e deixou a porta entreaberta.

– O que é que você tá fazendo?

– Eles são da corte, nunca apareceram aqui antes, o que será que eles querem?! – Falou mais para si do que pra mim.

– Como é que você consegue identificá-los a essa distância.

– Suas roupas e o brasão real.

Eles vestiam todos a mesma roupa, com o equilíbrio das cores preto, azul escuro, vermelho sangue e roxo, principalmente. E o brasão possuía algo parecido com asas, uma espada e um coração literal, pelo menos foi isso que consegui enxergar àquela lonjura. E pouco tempo depois o tio da Charlotte se aproximou de nós e perguntou o que havia acontecido.

– Alguns cavaleiros da corte estão vindo para cá.

Enquanto ela e o tio conversavam eu continuei olhando entre a brecha da porta, e foi aí que identifiquei um desse cavaleiros. Não conseguia ver o rosto claramente, mas aquele andar sem dúvida nenhuma era de Pedro. E ao perceber isso, falei seu nome alto, como um pensamento aleatório. Com tudo, o tio da menina pareceu se assustar, e me fez sair dali, colocando-se onde eu estava anteriormente.

– Eles devem estar atrás de mim. Pedro não pode me encontrar, não quero voltar, pois além de tudo serei castigada – me assustara totalmente com aquela possibilidade, e agora estava prestes a ter um ataque de pânico.

– Por que você ainda insiste nessa história, não percebeu que ninguém vai acreditar em você?

Estava a ponto de respondê-la da forma mais cruel que eu podia, quando seu tio se virou para mim, e começou a me encarar de forma estranha. E pouco tempo depois falou:

– Ela está falando a verdade, ainda estou um pouco confuso, mas sinto que é verdade. Vocês precisam sair daqui o mais rápido possível, as duas. É muito perigoso e tenho a sensação de que eles já sabem que você está aqui. Por isso saiam, agora. Vou tentar atrasá-los.


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