O bracelete mortal escrita por queen


Capítulo 2
Luz no fim do túnel




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Os gritos eram muito fortes era quase impossível ninguém notá-los. Aquela ave não parava. Os barulhos estavam mais altos do que eu estava acostumada, seriam capaz de ensurdecer alguém. Por isso eu me levantei rapidamente na tentativa de controlar aquela criatura, mas foi em vão. Eu nunca a tinha visto daquela forma, voando desesperadamente para todos os lados sem parar de produzir sons um minuto se quer. Estava acontecendo alguma coisa. Ela estava desesperada demais. Foi ai que eu decidi fazer algo. Se ela não conseguia vir até mim eu iria até ela. Então comecei a subir na janela, tentando o máximo possível me equilibrar sem cair de lá de cima. Segurei com uma das mãos em um lado da parede e com a outra eu me estiquei de todas as formas possíveis na tentativa de tocar o pássaro, eu estava quase conseguindo, quase lá, quando o meu bracelete que ficava na mão esticada para fora começou a apertar e apertar cada vez mais. Era quase impossível continuar ali, aquilo doía muito e se enroscava cada vez mais em meu braço. Ai de repente foi como se eu tivesse sido lançada para o outro lado, dentro do meu quarto, e finalmente caído chão. E nesse momento a minha pulseira folgou, o pássaro desapareceu e eu acordei.

Geralmente eu conseguia mudar os meus sonhos quando percebia que estava sonhando, mas não foi exatamente isso que aconteceu dessa vez. Por mais que eu nunca tenha tentado tocar no pássaro, não era só isso que eu queria mudar, eu tinha que ter conseguido tocar, porém de repente eu já não conseguia mais controlar os meus pensamentos e tudo começou a sair do meu controle. Foi como se aquela pulseira tivesse apertando o meu braço de verdade. Foi como se tivesse sido lançada ao chão de verdade. Eu senti meu braço doer quando eu despertei, e mais uma vez me senti confusa e como sempre não por causa do sonho em si, mas pelo fato de que existia algo dentro de mim que estava me mandando fazer alguma coisa, embora eu não soubesse o que.

Eu nunca tinha notado, no entanto desde sempre eu usei aquela pulseira, e era impossível tira-la, eu já tinha perguntado ao meu pai sobre isso, só que ele simplesmente disse que era uma jóia real, - essa foi feita de algum metal extremamente forte e ficava colada a minha pele como uma cicatriz. Possuía uma espécie de rachaduras por todas as partes. Nada muito estranho se não for levar em conta o fato de ela ter algo escrito em uma língua que não sei decifrar, mas que acho já ter visto em algum lugar - porém quando eu disse para ele que não fora aquilo que eu queria saber e sim o porquê de eu não conseguir retira-la, ele mais uma vez virou a cara e praticamente me expulsou do lugar, e como sempre, resolvi deixar para lá.

Mas naquela noite era diferente existia algo dentro de mim que não queria deixar para lá, algo dentro de mim, me mandando tomar uma atitude e descobrir o que realmente acontecia por trás de tudo, pois por mais que eu aceitasse as coisas calada isso nunca foi motivo pra que eu acreditasse nelas, e naquele momento a única coisa que eu precisar fazer era sair dali. Não sei por que, nem por quais motivos só sei que eu precisava sair dali. Eu não entendia exatamente o que tava acontece, mas não ousei me perguntar ou tentar entender, só sai.

Naquela noite eu não estava sendo vigiada e isso facilitou a minha saída do quarto. Eu não fazia ideia de pra onde eu estava andado, mas continuei. O castelo era mais estranho do que parecia, principalmente a noite, as paredes úmidas, um silêncio ensurdecedor e o que eu nunca havia reparado, não existia nenhum tipo de quadro nas paredes ou qualquer tipo de decoração, isso pode parecer uma observação tola, porém vista daquela forma fazia com que tudo se tornasse cada vez mais assustador. As janelas de todo o castelo eram mantidas sempre fechadas, principalmente as de lá de baixo, deixando assim aquele lugar com um cheiro de mofo terrível, agravando ainda mais a situação desse lugar. E então de repente eu parei.

Quando sai do meu quarto, caminhei por alguns corredores e desci uma escada do lado direito da torre, cheguei a escadaria principal e já estava preste a subir em direção ao outro lado e parei. Por quê? Porque eu era proibida de ir até o lado esquerdo de toda a construção. E por eu ser proibida de ir até lá que não havia nenhuma ligação entre esses dois espaços a não ser pela escadaria principal, que sempre estava sendo vigiada. Não que eu já tivesse tentado dá uma passadinha por lá, mas era inevitável não notar aquilo. Com tudo eu percebi que o que eu acabará de pensar era uma mentira, ali não era sempre vigiado, mas sim quase sempre, visto que ninguém estava ali naquele momento.

Por algum motivo inexplicável, eu estava tomada de uma coragem desconhecida e isso me fez subir as escadas sem nem pensar duas. Eu não queria bancar o papel de menina revoltada, que queria quebrar regras. Eu só queria saber a verdade, mesmo não sabendo o porquê de aquele instante ser à hora certa para isso. Eu só sabia que essa era a hora, mais nada.

Eu não via nada além daquilo que eu já tinha visto do outro lado do castelo. Se quer havia motivos para proibir a minha entrada naquele lugar. As paredes continuavam sendo as mesmas - úmidas e sem o menor vestígio de qualquer objeto ou quadro diferente – o silencio também. A única coisa que eu imaginava por não me deixarem freqüentar aquele espaço era porque o meu pai ficava por ali. Seu quarto na verdade. Mas eu estava enganada. Os outros quartos da parte em que ficava o meu, eram todos fechados, pois não havia mais ninguém para ocupar os cômodos do castelo a não ser eu e meu pai, já que a maioria dos empregados dormia em um lugar que eu não faço a mínima idéia de onde seja, já que eu nunca tive contato com eles – a não ser Pedro, porém ele é indócil. Mas desse lado a coisa era diferente já era o terceiro quarto que passei entreaberto, dando-se para observar que estava ocupado, não porque tinha alguém lá dentro e sim porque tinha objetos que sem sombra de duvidas não faziam parte da decoração desse lugar. Quanto mais eu andava, mais eu notava coisas estranhas e tive que começar a ser um pouco mais cautelosa, se não quisesse ser pega.

Foi depois de alguns segundos que eu escutei. Havia vozes, muitas delas para ser sincera, pareciam falar em coro, como se dissessem algo decorado ou algo tão repetido diversas vezes que vinha a mente de forma repentina, que nem mesmo a pessoa conseguia se dar conta do que estava falando, como se fosse um ato involuntário.

Continuei andando, a fim de encontrar a origem daqueles sons. Foi quando avistei algumas pessoas logo à frente, a tempo de me esconder atrás de uma coluna sem que pudesse ser vista. A cena era terrível. Dois homens de estatura mediana e corpo magro arrastavam uma pessoa pelos braços. Esse se encontrava de forma deplorável, com roupas que já tinham passado do estado de péssimas, mas isso não era o pior. Havia cortes por todo o corpo, que era possível ser notado porque sua roupa estava toda ensangüentada. Ele balbuciava algumas coisas, que percebi que era um pedido ou na verdade uma imploração. O homem ensangüentado implorava pela morte ao mesmo tempo em que chorava e de certa forma tentava se livrar dos outros dois caras, com tudo isso já se tornara impossível, pois no estado em que ele estava os seus movimentos se tornavam cada vez mais imperceptíveis, já que ele não tinha mais força para tentar se defender. Até o momento em que o percebi desmaiar. E então ele foi levado para um lugar onde eu não faço a mínima idéia de onde.

Aquilo me deixou totalmente sem reação, mas tive que fazer alguma coisa quando percebi que uma quantidade maior de pessoas sai da sala, incluindo o meu pai. Fiquei completamente chocada, mas aquele não era o momento certo para isso, pois eu ainda estava ali e precisava dar um jeito de sair sem que me notassem. Fiz de tudo para não ser percebida enquanto tentava voltar escondida até o quarto. Fui me estreitando pela parede e me escondendo atrás de colunas, quando essas existiam. Foi um pouco complicado, mas de certa forma tive alguma sorte já que eles estavam mais preocupados em tirar o homem caído dali do que procurar uma menina fujona. E quando percebi já estar longe o bastante sem que pudesse ser notada comecei a correr desesperadamente, como se minha vida dependesse daquilo, o que era tecnicamente verdade.

No momento em que eu já estava preste a descer as escadas do lado esquerdo do castelo eu fui tomada por um medo assustador, me fazendo até mesmo ficar arrepiada. Isso me fez pensar se eu queria realmente ficar ali com todas aquelas coisas acontecendo e eu sabendo de tudo e tendo que fingir que não sabia de nada para o meu próprio bem. Acima de tudo, aquilo me fez pensar se as coisas que me falavam eram verdade principalmente as que não faziam sentido. E quase como um gesto involuntário eu desci as escadas e ao invés de ir na direção do meu quarto eu fui até o salão. Eu tinha que sair daqui só precisava descobrir como, já que todas as janelas e portas estavam fechadas e o único fato de não estarem sendo vigiadas era porque todas estão naquela espécie de reunião demoníaca.

Eu corria para todos os lados, mas não havia nenhuma saída. Já estava começando a me desesperar cada vez mais com medo de ser descoberta se não encontrasse uma saída o quando antes. Quando vi uma pessoa escondida me observando próximo a um corredor. Aquilo me fez gelar e acho que a cara que fiz não foi das melhores porque no instante seguinte ela veio na minha direção pedindo para eu ficar calma, mexendo as mãos dando a entender que eu podia ficar tranquila e que nada me aconteceria. A cada passo que ela dava se preocupava em me manter calma e não ser vista.

Era uma mulher baixinha, já maltratada pela vida e pelo tempo, vestindo roupas que a caracterizaram como sendo alguma empregada ou coisa assim, com tudo ela tinha um jeito acolhedor que jamais tinha visto. Um jeito que me fazia querer abraçá-la ou na verdade querer que ela me abraçasse. Os seus olhos escuros transmitiam de certa forma dor ou sofrimento, porém quando ela olhava pra mim eles se enchiam de uma paz transformadora que seria capaz de acabar com medo de quem quer olhasse para eles. No entanto a gente não tinha muito tempo para apresentações, pois a qualquer hora Pedro iria até meu quarto e perceberia que eu não estava mais lá.

Depois de certo tempo sendo observada e percebendo que não eram todos os dias que isso acontecia, eu já tinha conseguido descobrir quais eram as noites que ele estava lá e as que ele não estava. E essa seria uma das noites que ele estaria. Apesar de ser depois do encontro macabro que eu acabara de presenciar.

E então a mulher me puxou pelo braço e me guiou por um corredor até um lugar que identifiquei como sendo a cozinha. A parti daí ela começou a tatear uma das paredes e de repente uma parte dela se abriu, revelando um vão estreito. E no instante seguinte a doce senhora olhou para mim e falou:

– Essa passagem vai te levar para fora do castelo – disse um tanto apressada – não fique com medo apenas fuja depois de passar por ela Anne. Porque eles provavelmente já estarão a sua procura.

– Você sabe o meu nome? – perguntei de certa forma confusa.

– A senhorita é a princesa não é mesmo. – respondeu, mas ainda havia uma pressa em sua fala.

– Mas é que quase nunca se fala o meu nome aqui, só me chamam de senhorita ou qualquer outra coisa, eu chego até esquecer que tenho um às vezes. – retruquei rapidamente – Eu também não entendendo por que... – nesse momento eu fui interrompida por ela.

– Anne vá, vá. Essa não é hora de conversar, eles já estão chegando. – ela falou me empurrando para dentro da passagem.

De fato eu havia começado a escutar barulhos, vozes de pessoas. A confusão tinha começado a acontecer. Eles já tinham percebido que eu não estava lá e várias daquelas pessoas que freqüentaram a reunião pavorosa começavam a me procurar.

Mesmo assim durante o momento em que eu estava tentando atravessar a abertura eu fiz uma pergunta a senhora que me ajudara:

– Posso pelo menos saber o seu nome? E dessa vez eu quem estava com pressa.

– Amabel, Amabel Wisland – respondeu calma e docemente.

O vão daquela passagem era muito estreito e eu tive que me virar de lado para poder atravessá-lo. No entanto foram necessários só alguns passos para passar por ele. Instantes depois eu já estavam em lugar mais amplo, pois já não estava mais em contato com as paredes e percebi que agora começaria a andar para frente. O único feixe de luz que me possibilitava tentar enxergar alguma coisa era o da passagem, que acabara de ser fechada, por tanto já não havia mais nada além de mim e escuridão.

Depois de ter passado pela primeira abertura agora havia um corredor escuro e úmido. Que possuía certos bichinhos indesejáveis. Um pouco estreito também, mas que me permitia andar normalmente sem precisar encostar em qualquer parede ou até mesmo andar de lado. Depois de alguns poucos metros percebi que logo a frente se notava um tipo de tocha acesa - apesar de fraco o seu fogo - que seria bastante eficiente naquele momento. Por isso comecei a andar um pouco mais rápido para poder pegá-la o quanto antes.

Àquela altura eu já tinha percebido que não gostava de lugares fechados e pequenos demais, e isso começou a me desesperar. Não só pelo fato do lugar, mas sim porque já fazia minutos que eu estava caminhando e aquele corredor não chegava ao fim. Comecei a achar que aquilo tinha sido de propósito, como um castigo por eu ter desobedecido. E pensar em tudo isso me fez começar a correr, em uma tentativa desesperada de encontrar uma saída. Eu corria enfurecidamente, porém tava demorando demais. Aquilo parecia não ter fim. E foi quando minhas esperanças se esgotaram completamente, que aquele túnel finalmente acabou.

No entanto só havia um porém. Não tinha saída. Olhei para todos os lados e nada, eu realmente tinha sido enganada e era capaz de daqui por diante eu continuar presa ali dentro, mofando e acabar sendo morta pelo tempo. Cheguei até a pensar em voltar, em uma tentativa de implorar pela vida, mas seria loucura eu só morreria mais rápido. Então eu simplesmente me sentei e esperei que meu destino fosse concretizado.

Durante algumas horas em que fiquei ali parada, sentada Fiquei refletindo sobre toda minha vida e como ela sempre fora uma farsa, onde nunca pude imaginar que pessoas que conheci poderiam ser capazes de fazer aquilo com outras. Ficar ali também me fez acreditar cada vez mais que a maioria das coisas que eram faladas para mim foi tudo mentira ou pelo menos quase todas. Pois eu quis acreditar que somente as coisas explicadas pela metade ou totalmente não explicadas seriam mentiras.

A chama da tocha que eu pegara lá atrás ainda estava acesa quando percebi que uma aranha enorme estava preste a subir na minha perna, me fazendo rastejar para trás e levantar em reflexo – na verdade foi um mini pulo. Só que o resultado disso foi uma colisão - forte o suficiente para fazer minha cabeça doer - com o teto daquela passagem ridícula para lugar nenhum. Com tudo essa batida fez uma quantidade considerável de areia cair em cima de mim, me fazendo olhar para cima. E foi ai que eu me toquei.

Aquele lugar não tinha sido usado por um bom tempo, o que tinha feito com que se criasse uma camada de terra embaixo de uma espécie de alçapão, o fazendo ficar camuflado. Porém não foi tempo suficiente pra que tivesse ficado totalmente encorpado pela terra.

Coloquei o candelabro com fogo no chão enquanto retirava o excesso de areia que ainda existia. E então puxei uma argola de ferro enferrujada que estava presa a portinha. Eu tive que fazer bastante esforço e cheguei a pensar em não ter força o suficiente para abri-la, mas a minha vontade era maior que isso. Então puxei, e puxei cada vez mais até ela enfim se abrir e de lá de cima cair a areia da praia.


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