American Horror Story: Dark Circus escrita por Annabel Lee


Capítulo 7
Um abismo atrai o outro


Notas iniciais do capítulo

"Alguns dizem que o mundo acabará em fogo,
Outros dizem em gelo.
Fico com quem prefere o fogo.
Mas, se tivesse de perecer duas vezes,
Acho que conheço o bastante do ódio
Para saber que a ruína pelo gelo
Também seria ótima
E bastaria".

Robert Frost



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Atravessando uma rua enevoada que cheirava a gasolina, Red tirou o celular do bolso da calça jeans e discou. Olhou para trás, onde o prédio de seis andares que ela alugou fazia duas semanas se distanciava e desaparecia no cinza das nuvens. Sorriu para si. Era bom saber que continuava tão boa quanto antes.

– Alô! - uma voz surgiu do outro lado da linha.

O sorriso de Red automaticamente se alargou.

– Louis - saudou-o - que bom que, finalmente, atendeu o celular.

Embora não visse, Red sabia que ele revirava os olhos.

– Ah - ele soou desapontado - é você. Fez o que pedi?

– Sim - ela olhou com orgulho para o rolo de jornais em suas mãos - as duas coisas concluídas e bem realizadas - mordeu o lábio inferior - não vai me recompensar?

Uma risada; rouca e lenta. Céus, ele sabia jogar com ela muito bem!

– Acho que posso pensar sobre isso.

– Você sabe onde estarei - e desligou a ligação.

Enfiou os jornais por dentro da camisa e se direcionou para frente; onde tendas escarlates erguiam-se no meio da neblina. Pegou uma chave dourada, e sentiu-se bem por estar voltando para casa tão cedo.

_ _

Lucy gargalhou como se sua garganta fosse imortal. Estava sentada no gira-gira de um parquinho, embora não se lembrasse muito bem como chegou ali e isso era pouquíssimo importante no momento! Deu mais uma tragada no cigarro e prendeu a fumaça, deixando sua mente girar como um furacão colorido.

– E se... - ela riu mais uma vez, Tristan a acompanhou - porcos voassem?

Ele estava sentado no chão, com uma mão apoiada na grama e a outra segurando o cigarro. Sorria tanto que suas covinhas poderiam ser sorrisos espalhados pelas bochechas. Lucy quase começou a rir de si mesma por tê-lo achado uper sexy quando se encontraram na rodoviária.

– Então se chamariam porsáros! - Tristan concluiu, gargalhando.

– Porsáros? - ela repetiu entre risadas.

– Exato.

Eles pararam um momento, encarando um ao outro. Então aqueles olhos negros como carvão bruto brilharam e Tristan caiu na gargalhada outra vez. Lucy não se segurou e acabou caindo do brinquedo, a pele entrando em contato com a grama e a cabeça aterrissando nas pernas esticadas do irmão.

– Lembra daquela música que cantávamos quando éramos pequenos? - Tristan perguntou, deitando-se como ela. As pernas dele eram ótimos travesseiros e, com esse pensamento, Lucy riu.

– Qual delas? - ela perguntou, achando graça da própria voz.

Ele soltou um pigarro, rindo de si mesmo e começou com a voz de um anjo.

– YOU ARE SO GOOD TO BE TRUE. I CAN'T TAKE MY EYES OF YOU...

Algumas crianças e seus pais olharam para os dois (como se já não o estivessem achando estranhos) e franziram o cenho. Lucy sentiu os sussurros sobre adolescentes estranhos e achou graça.

– Tristan - falou, beliscando sua perna - está todo mundo olhando para nós.

– Que se fodam! - Tristan riu alto - I LOVE YOU, BABY! AND IF'S QUITE ALL RIGHT. I NEED YOU BABY, TO WARM MY LONELY NIGHTS. I LOVE BABY. TRUST IN ME WHEN I SAAAAAY...

Olhou para ela, olhos pretos brilhando em expectativa.

Lucy suspiro. Iria se arrepender disso mais tarde.

Ergueu a voz.

– OH PRETTY BABY, DON'T BRING DOWN I PRAY. OH PRETTY BABY, NOW THERE I FIND STAY AND LET ME LOVE YOU, BABY, LET ME LOVE YOU...

– CALE A BOCA! - alguém gritou.

Então tudo se transformou em gargalhadas.

Tristan esfregou os olhos que lacrimejavam.

– Tenho que arranjar mais dessa maconha com o Josh, mais tarde.

Lucy riu. Então saiu de cima da perna do irmão para se sentar de pernas cruzadas. Olhou para cima, para o céu, e viu uma grande camada branca cinzenta de nuvens frias. Tristan também se sentou, para ficar ao lado dela, e olhou para cima. Sua cabeça encostou-se no ombro de Lucy, seus cabelos loiro-prateados misturando-se com os dela.

– Está sempre frio por aqui - ele comentou, meio para si, meio para ela - gosto disso.

Ela deitou a cabeça sobre a dele.

– Também gosto - falou, com a voz saindo num sussurro.

Lucy olhou para a paisagem, das árvores pontiagudas e verdes até a neblina cinza. Olhou as crianças, olhou as pequenas casas e os prédios baixos. Sentiu a respiração de Tristan em harmonia com a sua, e encontrou paz.

Então algo tomou sua atenção. Algo vermelho como sangue, sob o branco das nuvens. Tendas onipotentes no horizonte, próximo ao verde das árvores. Um circo solitário e sombrio, como o da história que viu no jornal. Parecia mais uma fotografia do que parte da paisagem.

O vento ficou mais frio.

– Aquele circo - ela falou - é o mesmo do jornal, não é?

Silêncio.

– Eu sei que você sabe, Tristan - disse calmamente.

O irmão suspirou. Ele ergueu a cabeça para olhá-la nos olhos.

– Ele é macabro, é o que dizem - explicou - esteve aqui em 86 e fez uma apresentação digna do Inferno. Tia Cassie falou que a irmã dela, irmã da nossa mãe, foi morta na apresentação. O mais estranho é que aquela matéria daquele jornal que não existe falava sobre ela.

– Maryse?

Tristan assentiu.

– Maryse Wood... - Lucy olhou para as tendas - isso é horrível.

– É, sim - ele concordou - por isso eu vou incendiar o circo.

Lucy o encarou. A expressão era estranha de ler, mas não parecia a de alguém que brincava.

– O quê?

– As pessoas não gostam de mim por aqui - disse com calma, evitando olhar para ela - só tenho dois amigos e um deles está morto. Falo coisas estranhas para os vizinhos... Não vou a escola faz tempo. Um ato heróico pode abrir os olhos desse pessoal. Parar de olharem para mim como se eu fosse um monstro.

Lucy se aproximou dele, cobrindo seus dedos com as mãos, e procurou por seus olhos escuros. Ele olhou bem fundo para ela, os olhos parecendo águas escuras e calmas. Ela sentiu a proximidade dos dois no fundo do peito, como um raio ou um trovão ecoando pelos ouvidos.

– Você não é um monstro - falou a ele.

Tristan inclinou o rosto. Lucy quase pensou que iria beijá-la - e não sabia muito bem o que faria caso ocorresse - mas ele apenas tocou levemente os lábios na orelha dela e sussurrou:

– Abyssus abyssum invocat.

Ela sentiu um arrepio na base da espinha e jurou ter sentido um leve toque dos lábios de Tristan abaixo de sua orelha. Talvez fosse impressão e não havia como saber, pois ele recuou rápido demais para que qualquer coisa fosse deduzida.

Ao se afastar ele sorriu, travesso, e se levantou. Lucy achou melhor levantar-se também e segui-lo.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, o tempo presente da fanfic é em 2010. Acertarei este erro no capítulo 4 ;)

Quero reviews, hein!



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