American Horror Story: Dark Circus escrita por Annabel Lee


Capítulo 6
Red


Notas iniciais do capítulo

"O amor é um conhecido, o amor é um demônio. Não há anjo malvado, senão o amor".

William Shakespeare



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/501457/chapter/6

– Tristan...? - Lucy entoou pela quarta ou quinta vez - onde estamos indo?

A rua era escura, suja e o céu cinzento e denso acima de Heaven City não ajudava para deixá-la mais agradável. Os paralelepípedos mais altos sob os tênis de Lucy pareciam uma boa opção para evitar poças de água marrom, mas nada evitava aquele cheiro de esgoto.

Tristan não parecia se empenhar para ela gostar da nova casa.

E, mais uma vez, ele não respondeu a pergunta.

Caminharam até o fim da rua estreita; não havia saída, apenas uma extensa parede de tijolos vermelhos. Lucy olhou para o irmão, confusa. Ele estava de costas, ainda. Os cabelos loiros balançando com o vento, a camisa vermelha parecendo sangue.

Mas, espere... Ele não estava vestindo preto?

– Lucy, algo estranho aconteceu com você? Por todos esse anos, quero dizer... - ele perguntou, ainda de costas.

Lucia franziu o cenho, fechando mais o casaco de lã vermelha contra si para se esquentar do vento gélido.

– Estranho? - ela pensou em mil coisas que poderia responder, mas só uma pareceu certa - bom eu tenho alucinações ás vezes. Tomo remédio controlado desde os cinco anos.

– Cinco anos?

Ela engoliu em seco.

– Sim, Tristan, cinco anos. Por favor, vá direto ao ponto porque estou assustada!

Ele ficou quieto.

– Posso te pedir uma coisa, Lucie? Uma coisa muito importante!

A respiração dela estava acelerada. Acelerada demais. Queria acabar logo com aquilo - o que quer que fosse - e seguir com sua vida de adaptação na cidade nova. Não precisava que as coisas ficassem mais estranhas.

– Pode, Tristan!

– Não tome mais o remédio.

Quê? - sua voz soou mais fina e aguda do que queria.

– Era a mamãe que medicava você?

Lucy olhou para os próprios pés. Era a primeira vez que ele mencionava a mãe dos dois; que qualquer um mencionava a mãe para ela.

– Era - confirmou a garota.

– Não é bom tomar o que ela pedia para você tomar - ele suspirou - entenda, ela também me dava remédios. Me deixavam... Confuso. A tia Cassie viu o que ela fazia quando nos visitou e combinou comigo para que eu fosse morar com ela. Não pensamos que fosse medicar você com a mesma coisa. Acho melhor você me escutar.

O queixo de Lucy ainda estava caído, suas mãos tremiam e o vento parecia congelar seus órgãos. Tristan era medicado? Pelo mesmo motivo que ela ou por outro? Ela nunca se sentiu confusa... ou sentiu? Certamente gostar de escrever sobre mortes no próprio diário não era algo comum. Deveria se preocupar?

Buscou algo nos bolsos da calça jeans e do casaco. Ela acabou encontrando uma cartela de comprimidos azuis que sempre andavam com ela caso algo estranho ocorresse. Ela os encarou. Parecia a coisa mais estúpida do mundo, jogar fora o remédio que você tomava desde os cinco anos só porque seu irmão contou uma historinha triste, mas ela viu a si mesma jogando a cartela em uma poça no chão. Como se fosse o certo a fazer.

Tristan se virou. Encarou-a com aqueles olhos pretos. E sorriu.

– Vai se sentir bem melhor ao longo da semana - garantiu, então buscou algo nos bolsos; dois rolos de cigarros que não pareciam ser cigarros normais - quer uns tapas?

Ela ergueu uma sobrancelha.

– Isso aí é maconha?

– É!

O canto dos lábios de Lucy curvaram-se para cima. Ela nunca soube porque, nem se era uma coisa normal, mas ela se sentia atraída por aquele submundo da vida. Aquelas trevas que te atraem ao ápice de um sentimento bom e desconhecido.

Olhou para o irmão. Seus olhos sorriam para ela, brilhantes como estrelas negras.

– Vai ou não vai? - ele perguntou.

Lucy deu um passo em sua direção, e depois outro. Esticou a mão e tirou um cigarro do meio de seus dedos. Colocou-o entre os lábios rosados e sorriu com o leve gosto de erva na boca.

– Tem isqueiro?

Tristan sorriu. Mostrando covinhas inocentes e maliciosas. Tirou um objeto do bolso. E uma chama amarela surgiu do prateado do ferro. Acenderam seus cigarros.

_ _

James entrou no seu novo apartamento alugado, bem perto da delegacia local de Heaven City para estar o mais próximo do trabalho o possível. Estava lendo alguns jornais raros sobre o Caso Tenébres e tomando uma grande caneca de café, quando bateram em sua porta.

Ele largou o jornal em cima de uma das caixas de mudança. Sua casa nova era muito pequena e ainda estava muito pouco organizada para receber visitas, mas abriu a porta decidido a receber quem quer que fosse com educação.

Esperava que ninguém se importasse em vê-lo vestindo apenas uma bermuda azul havaiana.

– Bom dia - ele disse com um sorriso para seu visitante.

Então olhou seu visitante.

Era uma jovem incomum. Tinha cabelos escarlates, da cor de fogo ou sangue, que caíam por suas costas como cachoeiras. Seus olhos também eram vermelhos, e não pareciam lentes de contato. Deveria estar pelos seus 19 anos e vestia uma blusa preta sobre a calça jeans também vermelha.

Ela sorriu para ele, fazendo seu jovem coração inocente e ambicioso bater rápido demais.

– Bom dia, vizinho - ela exclamou, estendendo a mão - sou a Red.

Red.

Vermelho, no inglês.

Soava como uma piada. Ou uma ironia.

Ou talvez os dois.

– Prazer - James disse, apertando a mão estendida - James O'Brian.

Red colocou a mãos de volta nos bolsos.

– Hmm... Ouvi falarem de você por aí. Detetive, hein? O que veio investigar?

James achou graça da curiosidade dela.

– É confidencial.

Red riu.

– Imaginei que fosse - olhou para dentro do apartamento bagunçado e pequeno dele - oh, desculpe! Vou deixa-lo arrumar suas coisas... Se precisar de ajuda, sir James O'Brian, eu moro no 212 - uma piscadela vermelha - nos vemos depois.

Ele sorriu.

– Obrigado. E, sim, nos vemos depois.

Ela virou-se e foi balançando os cabelos de sangue para longe da porta. James girou a maçaneta e a fechou num baque surdo. Pegou de volta seu café em cima da mesinha e ligou a TV, deixada em um cantinho da sala onde a tomada era muito boa.

Por uns minutos, esqueceu o que fazia antes de Red bater na porta com seu sorriso encantador.

Depois, não conseguiu achar seu jornal sobre o Tenébres em nenhum lugar do apartamento.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "American Horror Story: Dark Circus" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.