American Horror Story: Dark Circus escrita por Annabel Lee


Capítulo 8
Réves


Notas iniciais do capítulo

"Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Más há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isso não tem importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado."

William Shakespeare



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Paris - 18 de Agosto, 1879.

Vermelho. Primeiramente Lucy só via isso; aquela cor de sangue fresco perseguindo-a sempre. Quando abriu os olhos, sem total noção de nada, viu o vermelho e ficou olhando para ele. Então viu mais do que só a cor e seu raciocínio percebeu que encarava uma cortina.

Esticou a mão com cuidado e afastou um lado da cortina, esticando o rosto para olhar o que ela não sabia ao certo o que encontraria.

Viu pessoas, todas envoltas pelo véu escuro de uma noite estrelada, fazendo uma fila para comprar ingressos para algum tipo de espetáculo. Percebeu, ali, que estava sonhando; pois todas as pessoas usavam roupas características do século XIX - desde os homens elegantes com cartolas negras sobre as cabeças até as mulheres com belos vestidos de veludo.

A própria Lucie vestia algo diferente; trajava um vestido de cetim vermelho como as cortinas, apertado na cintura e rodado nas pernas. Teve a leve noção de que seus cabelos estavam maiores e os lábios pintados da cor de sangue.

Primeiramente, ela ficou confusa. Observou com o cenho franzido toda aquela atmosfera reluzente e assimilou alguns detalhes, como se seu Eu Consciente do sonho estivesse despertando dentro da fantasia. Ela estava em Paris, eram quase onze horas da noite. As luzes amareladas lá fora mostravam que a cidade despertava em plena noite e isso era triste...

Lucy queria estar no meio das luzes, da cidade. E não em um local totalmente afastado, onde poucos veriam o show do circo mais misterioso de toda a Europa. Ela suspirou e lamentou-se, mas algo a fez repreender todos os pensamentos que a mantinham fora do dever.

– Lucinda - uma voz disse atrás dela; fazendo-a se virar bruscamente - espiando o público, percebo.

Seu "Eu Acordado" imediatamente reconheceu Tristan. Usava um paletó vermelho e de época, mas os cabelos loiros eram os mesmos assim como seus olhos pretos como uma madrugada sem estrelas. Ele a encarava com um meio sorriso travesso, quase malicioso.

– Terrence - ela sorriu, fechando a cortina - me espionando, percebo.

Algo brilho nos olhos dele, como um faixe de luz na escuridão.

Ela pôde ver o resto do recinto, embora tudo parecesse enevoado. Estava em uma espécie de camarim pessoal; viu um grande espelho, alguns vestidos pendurados, fantasias espalhadas e uma poltrona de veludo. Mas também notou coisas estranhas que ignorou com facilidade; um pentagrama desenhado na parede com giz e um caldeirão de ferro no canto da sala.

– Pronta para ser perfeita? - ele perguntou, passando os dedos por uma vela apagada que se acendeu imediatamente após seu leve movimento. Lucie não ficou surpresa, embora a parte desperta dela achasse tudo confuso.

– Eu? Perfeita? - ela emitiu uma leve risada - não quero soar ressentida, meu irmão, mas você sempre foi o mais talentoso de nós e sabe disso.

Tristan (ou Terrence) estalou os dedos e todas as velas acesas pela mesa do camarim se apagaram com sua vontade. E apenas uma permaneceu com sua chama amarela inabalável, deixando o lugar escuro ter um pouco de dourado para que ela enxergasse os olhos dele brilharem.

– Não falo de talentos ou dons mágicos, Lucy - ele sussurrou, aproximando-se dela com lentos passos - falo... de você.

Ela deixou que ele viesse, como o vento frio nas trevas. Olhou-o nos olhos profundos, à medida que conseguia ouvir seus batimentos cardíacos de tão perto que ficava. Todo o corpo dela parecia carregado de energia - qualquer que fosse - e tremia com os passos dele, como se o reconhecesse.

– Terrence - ela sussurrou, sentindo o gosto do nome dele nos lábios.

Quando ele estava tão próximo que chegava a praticamente tocá-la; enlaçou-a pela cintura e a puxou para si, finalmente colando seus corpos que pareciam gritar pelo contato físico. As mãos dele pressionadas contra as costas dela pareciam querer fundir os dois.

Ele inclinou o rosto para mais perto do dela e seus lábios chegaram a quase tocar sua orelha.

– Lucinda - ele sussurrou, causando arrepios nela.

As mãos de Lucy alcançaram os pescoço dele, fazendo os cachos de seus cabelos dourado-prateados enrolarem nos dedos dela, e inclinou o rosto para o dele. Os lábios dela encontraram os de Tristan, desesperados como jamais estiveram, a língua dançando com chamas dentro da boca dele.

Tristan pressionou-a mais contra ele. Sua mão levantando o vestido dela com delicadeza e sentindo suas coxas febris, enquanto a outra se perdera na raiz dos cabelos dela. Todos os toques dele, seus beijos que caminhavam pelo pescoço dela com selvageria, seus leves apertos na perna dela, tudo parecia um estímulo infernal - ou celestial - que queimava de dentro para fora.

Lucy sorriu nos lábios dele.

– Você adora cavar sua própria tumba, não é? - perguntou.

A mão de Tristan desceu devagar, dos cabelos dela e deslizando pelas costas. Lucy prendeu a respiração um instante e ele sorriu, deliciando-se com as reações que causava nela.

– Ninguém aqui pode nos julgar, esqueceu? - ele disse, sorrindo como um diabinho.

– Verdade - olhou nos olhos nele, cheios de treva e brilho - um abismo atrai o outro. Não é?

Abyssus abyssum invocat. O lema do lar deles. O lema da família.

E do Cirque des Tenébres.

– Sempre - Tristan lhe respondeu.

Lucy riu com prazer e estalou seu próprio dedo.

A última vela se apagou.

_

Heaven City - 17 de fevereiro, 2010.

Lucy acordou com falta de ar, com a sensação de estar caindo de um prédio.

Olhou ao redor. Nada de circos, nada de roupas do século XIX e, principalmente, nada de casos e relações sexuais incestuosas com seu próprio irmão.

A respiração dela voltou ao normal. Só havia seu novo quarto. A luz da lua vindo da janela, seu computador em cima da mesa, seu celular ruim (mas bem contemporâneo) estava carregando ao lado da cama e um pôster do Nirvana preso na parede.

Suspirou. Estava tudo bem.

Acendeu a luz do abajur na mesinha ao lado da cama e ficou sentada. Tentou formular seus pensamentos.

Sonhos eróticos com o irmão mais velho certamente deveria ser natural... Essas coisas são naturais não são?

Seriam?

Olhou para sua mochila, perto do guarda-roupa.

Talvez se tomasse os remédios...

Não. Prometeu que não tomaria por um tempo, veria como iria se sentir!

Deitou novamente.

Talvez cantar baixinho venha a ajudar para que o sono viesse mais calmo.

Fechou os olhos.

– I love you, baby, and if's quite all right. I need you, baby...

_

Paris - 18 de Agosto, 1879.

A multidão está ansiosa. Murmurinhos vêm de todos os lugares; questionadores, encantados, ansiosos. Eles invadem a noite iluminada pela lua e pelas estrelas, atraindo a atenção das pessoas para a bela e grande tenda escarlate que se destacava.

Há um pássaro, negro como a madrugada, sobrevoando a atmosfera parisiense ansiosa.

Crianças correm, apontando os dedos para o circo vermelho que se erguia. As pessoas atravessavam os grossos portões de ferro negro com o olhar fixo em palavras escritas em prateado, no belo e puro francês. As palavras identificavam um circo que parecia bem mais do que entretenimento aristocrata:

Le Cirque Dés Tenébres.

Isso não os afastava. Pelo o contrário.

Foram todos empurrando uns aos outros, pisando em barras de vestidos com seus sapatos finos, ansiando para entrar na grande tenda. Lá dentro, o escuro reinava. Não havia uma única luz; mas todos encontraram seus respectivos lugares.

Então uma voz.

– Senhoras e senhores - ninguém sabia de onde vinha, mas todos a escutavam - Le Cirque dés Tenébres agradece sua honrada presença. Agora, que se abram as cortinas!

Nenhuma cortina foi aberta. Mas as luzes surgiram.

O ambiente era iluminado por uma espécie de dourado e vermelho, e anunciara a presença de uma bela moça vestida da cor de sangue com um vestido de cetim. Os cabelos dela caíam em cachos dourados pelas costas e os olhos eram vermelhos como rubis.

Sorriu.

– Quem aqui gosta de um pouco de magia? - perguntou para a multidão.

Um estrondo de gritos ansiosos.

Lucinda Blackwood sorriu para os espectadores.

Ela girou, fazendo a barra do vestido parecer com ondas do Mar Vermelho. Girou até que virasse apenas um borrão escarlate e dourado e, quando parou, o tecido de seu vestido caiu no chão do picadeiro. Sua dona desaparecera.

Um silêncio mortal e curioso.

Então, um corvo envolto por labaretas amarelas entrou como um anunciante de incêndio no palco. Pousou com elegância no tecido vermelho, ardendo em chamas junto com o vestido, até transformar aquilo em uma fogueira rubra. De dentro das chamas, a feiticeira surgiu, vestindo o que vestia e sorriu para o público.

As chamas apagaram ao mesmo tempo que estrondosos aplausos surgiram.

Lucinda abriu um sorriso demoníaco e curvou-se em agradecimento.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, pequeno erro no elenco! Enquanto eu escrevia, eu na verdade imaginava a Lucy como a Taissa Farmiga e May (RIP) como a Emma Roberts.. mas acabei confundindo os nomes.

Se vocês preferirem, podem imaginá-las assim ;)