Overdose de Poesia escrita por Rodrigo Lemes


Capítulo 6
Verão.




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Pequenas luzes começam a surgir no céu,
O sol não se tarde a nascer,
Os passarinhos na gaiola tentam cantar,
O calor do momento torna-se impossível não acordar.

Abro os olhos e encaro o telhado,
Levanto tentando coçar os olhos embaçados,
No caminho até a cozinha encaro minha avó sentada,
Ela me aconselha tentar dormir novamente,
Mas estou surdo demais para ouvi-la com o som da torneira ligada.

Pego o café encima da cadeira da mesa,
Tento ler o calendário colado na geladeira,
A cada golada no café os olhos passavam por novos dias,
Até chegar na nobre estação denominada verão.

Oh, maldita estação, como diz minha mãe
Sol, calor e pessoas alegres demais
São combinações que não me satisfaz.
Já estávamos em Dezembro e para mim ainda era maio,
Bendito seja o mês do meu aniversário.

Sento no chão da sala e começo ouvir minhas músicas favoritas,
Uma, duas, três
Quantas vezes fosse possível para me viciar,
Como se fossem quilos de cocaína para cheirar.

O dia passa rápido e eu não faço nada,
Havia estado tudo lá: A inocência de minha avó e as confusões com meu irmão,
A ausência com ligações de meu pai e a intensidade de humor de minha mãe,
Os bons momentos com meus poucos amigos que viriam a se importar.

Estava tudo lá, e temos que dar valor, porque amanhã pode não estar.
Estava tudo lá, elas e eles, rotinas e normalidades, mas faltava algo a se concluir.
Não havia amor, paz, ou descontração,
Não existia apego, corpos colados ou paixão.

No fundo, não havia você.
Corro como um peixe na areia da praia,
Lhe procuro como um cego no meio de um labirinto,
Perdido por si mesmo, sem nenhum instinto.

Me sufoco em meio há tantas mudanças,
Bebo saudade como se fosse meu veneno predileto,
Peço tua volta como um mendigo pede esmola,
Tentando me esconder da chuva sem nem mesmo ter um telhado.

Procuro por sua luz em meio a escuridão,
Procuro por ti em todas as ruas vazias na madrugada,
Em todas as praias que você gostava,
Em todas as bebedeiras que você frequentava.

Em todos os bares que você comprava seus cigarros,
Em todos os caminhos que traçávamos,
Em todos os amigos que você andava,
Em todas as mentiradas que você contava.

Então finalmente te achei, numa rua escura e de pouca luz,
Mas, afinal, você havia mudado tanto.
Cabelo, jeito, roupas e modo de falar,
No fundo, não era mais você lá.

Então é melhor começar a finalmente lhe esquecer,
Nunca nenhum ser humano morreu de saudade,
Então eu não serei o primeiro a falecer.
Tentei enterrar a sua falta de amor num poema de Bukowsvi,
Numa música fodedora e melancólica de Lana del Rey,
Em uma frase clichê de tristeza e verão, de um compositor que se encontra em qualquer lixão.

Por favor, eu lhe peço,
Não diga que vá voltar se não for pra ficar,
Não venha me procurar se não conseguir achar,
Não fale que me ame se nunca foi de amar.

Procure me odiar e me desprezar,
Procure falar mal de seu ex quando for foder com outro alguém,
Procure tentar amar a um outro zé ninguém,
Procure tentar me matar com palavras e atitudes que me fizeram errar.

Então cresça, esqueça, apareça
Então mude, mate, julgue,
Então sonhe, ame, odeie
Trabalhe, conquiste, perca, foda
Fume, beba, drogue-se, viva.
Simplesmente faça algo além de existir.

Onde há deus haverá diabos,
Onde há esperança haverá dor,
Onde existir amor existirá ódio,
Onde existir noite haverá dia,
Onde existir garoa haverá tempestade,
Onde existir morte, existirá vida.

Onde existir eu e você, existirá nós.


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