Show me Forever escrita por danaandme


Capítulo 8
Despedaçada




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CAPÍTULO 08 – DESPEDAÇADA

O sangue se espalhava pelo chão, manchando o belo piso de pedras polidas. O zumbido em meus ouvidos só me deixava mais desorientada, e o rosto dele apesar de embaçado, ainda me mantinha cativa e completamente entregue.

Em meio a memorias turvas, seus olhos cor de avelã surgiram ferozes, tais quais duas bolas em chamas. Ela me chamava em meio ao caos de sensações entorpecentes em que eu me encontrava. E apesar de não reconhece-la, o nome dela escapou de meus lábios torpes fazendo minha mente estalar, libertando lembranças que pareciam enjauladas.

“Quinn...”, sussurrei desejando ver seus olhos amáveis uma última vez.

...

24 HORAS ANTES

Sinceramente, pouco me importaram os palavrões, gestos ofensivos e até empurrões que sofri durante minha fuga. Estar o mais longe dali era meu único objetivo. Eu não era tão idiota. A probabilidade de Quinn ou da amiguinha dela vir atrás de mim era grande, e com certeza se esconder de uma vampira não seria fácil, de duas então, seria praticamente impossível.

A dor que me corroía por dentro parecia queimar minhas entranhas, revirando meu estômago. Juro que tentei conter as lágrimas, mas infelizmente aquilo que seria uma de minhas dádivas naturais, também se transformou em minha maior vulnerabilidade. Aparentemente, Rachel Barbra Berry, seria sempre governada por suas emoções, e a sina de levá-las até o limite da sanidade, acabara de valer-me mais uma porta para a tragédia em minha simplória existência.

Uma senhora de meia idade esbarrou em meu ombro, me fazendo girar de uma vez, o que não é muito algo muito esperto para se fazer quando se está arrodeada por uma pequena multidão de transeuntes numa calçada em Manhattan.

Acertei três pessoas, antes de cair no chão atordoada. Seria um vexame, se eu estivesse me importando com vexames a esse ponto. Um rapaz se adiantou para ajudar-me a levantar, mas ignorei a gentileza. As pessoas ao nosso redor se afastavam como se eu tivesse, sei lá, algo contagioso. Acho que acabei empurrando a única pessoa capaz de um ato benevolente em meio a horda de individualismo tão característica dos cidadões nova-iorquinos.

“Desculpe.”, gritei por cima do ombro com a voz embargada, voltando a abrir passagem por entre os vultos de casacos escuros e olhares vazios desprovidos de emoção. Ah, como eu queria ser capaz de expurgar isso de dentro de mim. Se eu pudesse arrancar esse sentimento ridículo de meu peito, então seria fácil pegar o primeiro trem para o Brooklin e voltar a vida inútil de antes de conhecê-la.

Como fui estupida. Demorei para entender exatamente o que me levou até ela naquela noite... E como sempre, acabei me afundando em algo que não era reciproco. Tal qual acontecera há anos, durante um dueto idiota com aquele que pensei ser meu verdadeiro amor.

‘Rachel Berry, você é a única culpada por seu sofrimento’, repeti mentalmente.

Quinn...

Eu havia me apaixonado por ela mesmo antes de reencontrá-la.

Durante duas semanas, caminhei por aqueles túneis do metrô, procurando por ela. Desejando que seu olhar, e a presença cálida daquelas íris cor avelã, fossem capazes de resgatar meu coração partido. Busquei a morte em seus braços, porque entregar-me a ela era mais simples que aceitar a possibilidade de desapontar-me mais uma vez. E agora, quando finalmente estou consciente do quão vital ela se tornou, vejo que nada daquilo que enxerguei na minha frente era real.

Não existe destino.

Nada nos unia, ou conspirava para o nosso encontro.

Piedade, foi unicamente o que motivou as palavras que deixaram seus lábios naquele dia. Piedade. Consegui o feito de despertar piedade de uma vampira…

Você é realmente patética, Rachel.

“Eu não consigo senti-la, San.” Brittany murmurou ao meu lado, depois de caminharmos por mais de duas horas pelas calçadas abarrotadas do centro de Manhattan.

E com isso foram-se todas as minhas esperanças de encontrar essa pequena diva do drama, antes que a rainha do extremismo Quinn Fabray, resolvesse adicionar mais elementos drásticos a essa trama. Maldição. Se minha Brittany, que era a melhor rastreadora imortal que existe, não está conseguindo acha-la, é pouco provável que consigamos encontrar aquela humana inconsequente assim tão fácil.

“É melhor que essa garota não se meta em confusão, senão a Q não vai me perdoar.” Pude sentir o gosto amargo da minha confissão em todas as palavras deixaram meus lábios naquele instante, enquanto eu e Brittany continuávamos a varrer os arredores estreitando os nossos olhos, tentando enxergar a pequena morena entre a aglomeração de passantes nas calçadas.

A lua estava encoberta por nuvens escuras, mas isso não impedia que a Times Square brilhasse agitada entre a multidão que circulava iluminada pelos letreiros luminosos e painéis de sinalização nas marquises dos teatros, restaurantes e lojas amontoadas por toda extensão da Broadway Avenue.

Em outra ocasião, passar por ali seria motivo de alegria, mas agora nem mesmo os cartazes das minhas peças favoritas conseguem desviar a minha frustração. Meus pés estão latejando e a exaustão já consome todas as minhas forças. É inacreditável como consigo suar, mesmo quando o termômetro obviamente está marcando quase 1ºC. Mas mesmo sentindo minhas pernas pesarem, continuo a abrir caminho pelas calçadas.

A nevoa causada pelo vapor subterrâneo chega a obstruir a visão em alguns pontos, e talvez por isso, acabo demorando um pouco para discernir o vulto que se forma à distância. Um vulto que eu seria capaz de reconhecer sob qualquer situação. E a simples menção a forma dela, faz com que eu me jogue no primeiro beco à minha direita numa corrida desmiolada.

“Não pode ser. Não pode ser.” Era ela. Tenho certeza.

Quinn.

Quinn.

Quinn.

Parada há poucos metros à minha frente, me olhando com aquele olhar triste. Mas, não pode ser. Ela não pode ter me encontrado. Não é possível.

Olhando por cima do ombro, ainda correndo beco adentro, procuro sinais da loira imortal, mas ela não estava lá. Não havia nada que indicasse que estava sendo seguida, e antes que pudesse conter, senti a decepção inundar meu peito.

Lágrimas mais uma vez borravam minha visão, enquanto minhas pernas continuavam a aumentar a distância entre mim e a rua movimentada que havia ficado para trás. Eu não queria vê-la, e mesmo assim precisava saber que ela queria me ver. Eu queria que ela quisesse me ver.

Continuei a correr, lançando olhares por cima do meu ombro esquerdo. O que aconteceu a seguir, foi algo que estava extremamente obvio. Devo admitir que correr olhando para trás não foi uma das ideias mais geniais que tive, e portanto, voei por cima de um monte de sacos de lixo, que estavam amontoados num canto da viela, e acabei jogada sobre o chão úmido depois de bater a cabeça num dos canos de uma escada de incêndio, que pendia solta de um dos prédios que ladeava o beco estreito. Foi um castigo bem merecido para minha distração.

Não faço ideia de quanto tempo fiquei deitada congelando, ao mesmo tempo que, mirava as estrelas, que pareciam dançar, incrustadas tal qual diamantes reluzentes, no tecido noturno que se estendia sob a escuridão do céu da cidade que era quista como a Grande Maçã Americana.

Minha existência não chegou nem perto daquilo que planejei. Não haviam mais pais carinhosos para incentivar e aplaudir meu sucesso, e embora, minha voz tenha voltado, o desejo de brilhar havia se perdido junto a esperança usurpada de meu coração partido. Não havia mais esperança para mim... e certamente, não havia mais Quinn.

“Oh céus, o que faz uma joia como você deitada em meio a esse lixo?” O timbre dramático da voz dele fez com que eu me lembrasse uma das óperas preferidas de meu pai.

“Venha, minha preciosa. Algo tão tentador, não deveria estar largado num lugar tão vil.” As palavras emergiam de seus lábios como notas musicais, enquanto seus olhos verde-jade capturavam minha atenção completamente. Suas feições eram inocentes e delicadas; sua pele era pálida, imune ao leve rubor causado pela baixa temperatura da noite de New York; seus cabelos castanhos, levemente ondulados, balançavam ao sabor da brisa gélida que cortava o ar, que apesar de não afetá-lo em nada, praticamente me fazia mudar de cor de tanto frio.

Não consegui me mexer. Na verdade não consegui pensar em nada mais que não tivesse relação com o misterioso rapaz na minha frente. E apesar de minha evidente apatia, seu olhar não vacilou quando ele se curvou e ergueu meu corpo inerte do chão úmido, me tomando em seus braços fortes.

Ele olhou diretamente em meus olhos, e pude notar suas pupilas se dilatarem engolindo aquelas tão sedutoras íris de jade, que mesmo assim, tremeluziam suas fibras em tons esverdeados, oscilando tal qual o Oceano. Senti seus braços apertarem meu corpo junto ao seu peito, trazendo minha face para junto de seu rosto e estremeci involuntariamente.

“Eu sou Jesse St. James, minha pequena tentação.” Ele disse, exibindo um sorriso galante.

“Meu nome é Rachel Berry.” Respondi automaticamente. E então, algo pareceu espalhar um torpor quase que alcóolico em mim, e ouvi minha voz entorpecida acrescentar em seguida. “Meu senhor.”

Jesse pareceu satisfeito. Ele sorriu ainda mais, e com delicadeza, beijou a ponta de meu nariz.

“Muito bem, minha pequena prenda. Gosto de meus mascotes bem mansos, dispostos a atender todos os meus anseios, e desejosos a agradarem-me a qualquer hora.”

Pude perceber que nos aproximávamos do que parecia ser uma escadaria que levava a uma loja subterrânea, que mais parecia a entrada de uma taverna antiga.

“O que você me diz disso, meu bichinho? Você quer ser uma boa menina para o seu Mestre?” Jesse perguntou junto ao meu ouvido, enquanto descia as escadas me carregando em seus braços, numa bela imitação de um noivo que leva a noiva para uma suíte nupcial.

Senti meu coração acelerar com a analogia, e um euforismo surreal tomou conta de minha mente e corpo.

“Sim, meu senhor. Use-me para o seu bel-prazer.”

‘Não.’ Uma voz desesperada pareceu ecoar em minha mente, mas o olhar de cobiça que meu mestre direcionou aos meus lábios acabou afastando qualquer outro pensamento sem sentido.

“Deixe-me servi-lo agora, meu senhor.” E ofereci meu braço a meu mestre quando ele me colocou gentilmente sobre uma das mesas de madeira rústica, da taverna mal iluminada onde havíamos entrado.

As presas brancas surgiam por entre seus lábios perfeitos, fazendo meu corpo vibrar mais uma vez.

“Eu sabia que você seria minha presa preferida, meu pequeno deleite.” Meu mestre sussurrou antes de lamber lascivamente a pele de meu antebraço. “Eu soube desde o momento em que a vi naquele metrô abandonado.”

‘Rachel. Não faça isso, meu amor.’ A voz desconhecida implorou em meio a gritos de dor. Mas, quando senti os caninos afiados afundarem em minha pele, não encontrei forças para dar atenção as suas súplicas.

Continua...


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