Show me Forever escrita por danaandme


Capítulo 7
Intermission




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CAPITULO 07 - INTERMISSION

O relógio pendurado na parede do velho camarim marcava 9:45 AM, meus pés balançavam bem acima do chão, demonstrando a minha impaciência. Foi então que notei que ela estava me observando da poltrona no canto do quarto. Era como encarar um maldito espelho! Mas, bem que seria preferível que ela fosse um mero reflexo, porque uma simples imagem refletida da minha pessoa não iria me irritar tanto.

“Você realmente não sabe o significado de ‘privacidade’, hein?”, murmurei entredentes para minha tão enxerida cópia imaginária.

A outra Rachel sentada na poltrona começou a cantarolar ‘tic-tac, tic-tac, tic-tac’" balançando o dedo indicador ao passo da melodia.

Cruzei os braços sobre o peito. Se eu atirar meu sapato nela, ele vai passaria através de sua figura como se ela fosse um fantasma, ou será que ele a acertaria em cheio no nariz deixando um belo hematoma?

Nhan! Nunca fui boa de mira, provavelmente eu acertaria um dos posters na parede.

“Você sabe ser uma verdadeira nojenta às vezes.”, rosnei para a versão imaginária de mim mesma.

“Oh, estou me sentindo ofendida.”, meu clone barato disse, fingindo ter sido verdadeiramente insultada, mas ao me ver erguer uma sobrancelha em descrença, a máscara caiu e ela sorriu ironicamente. “Só que não.”

Ah, tão falsa como a própria existência! Nem mesmo fingir apropriadamente ela consegue.

“Ah, me poupe. Você é um poço de chatice sabia? E é melhor que fique registrado que eu sou uma atriz bem melhor que você.”

“Pare de ler meus pensamentos, seu clone psicótico!”, berrei.

“Eles também são meus, imbecil!”, ela berrou de volta.

Arrr. Isso já estava dando nos nervos. Já faz um mês que tenho que me sujeitar a companhia dessa cópia inconveniente do meu próprio ego, que resolveu sair da minha cabeça e caminhar por aí feito uma alucinação barata e irritante.

Estou parecendo uma esquizofrénica! E esse camarim fede a mofo. Sério, alguém podia pelo menos borrifar um bom ar aqui dentro de vez em quando.

Pude vê-la revirando os olhos.

‘Você não é nada mais que uma aspirante. Uma candidata a um papel no coro... Pare de querer um tratamento VIP.’, a outra Rachel comentou mais uma vez meus pensamentos, se esticando na grande poltrona com tecido de imitação de couro...

Tão falso quanto as tentativas dela de parecer um ser humano real.

A princípio eu só a via de relance em sonhos, mas com o tempo esses sonhos acabaram ficando cada vem mais frequentes, até que numa bela tarde, enquanto eu estava cantarolando uma das minhas trilhas sonoras favoritas, ela finalmente se materializou sentada no sofá do outro lado da sala, como se fosse uma irmã gêmea que somente eu podia ouvir e ver.

Depois desse dia ela me assombra sempre que lhe convém. Mas, apesar de ser um infortúnio, eu mantinha a presença dela em segredo. Meu último desejo era que Quinn descobrisse que ela havia aprendido a se manifestar dessa maneira.

Principalmente porque acho que o simples fato de minha provável loucura, não iria fazer com que Quinn voltasse a se aproximar de mim...

Isso mesmo. Desde o dia que salvou minha vida, Quinn está diferente. Distante. Ela mal para em casa, não fala comigo... Exceto quando há alguns dias eu ameacei ir embora. Aquela foi a única vez que a vi reagir a minha presença. Seu olhar tinha aquele mesmo brilho, aquela mesma vida, igual ao dia que nos conhecemos. Mas, passados alguns minutos, ela voltou a ficar distante e saiu do quarto tão rápido que mal pude acompanha-la com o olhar.

Não a vi durante o resto do dia.

Isso aconteceu um pouco depois que me recuperei completamente. Eu havia passado mais de uma semana para começar a dar sinais de melhoras. Quinn permaneceu ao meu lado durante todo o tempo, e quando tive forças suficientes para voltar a caminhar sem assistência, ela informou que havia trazido a maioria de meus pertences pessoais de meu apartamento no Brooklyn, e que tudo já estava arrumado no quarto de hospedes. Ou meu quarto, como ela passou a chamar.

Secretamente, desejei por isso. Algo dentro de mim temia ter que ir embora e não vê-la mais. Mas, nada acabou acontecendo do jeito que eu esperava. Se é que eu podia admitir que esperava algo de uma vampira que havia me proposto a vida eterna ao seu lado. O que só me confundia, porque depois que firmamos esse acordo silencioso de vivermos juntas, ela nunca mais tocou no assunto.

Na verdade ela quase não me dirigia mais a palavra.

A rotina de Quinn era algo surpreendente para alguém que supostamente está morta. Nunca imaginei que um vampiro tivesse tantos compromissos e negócios a tratar.

Quer dizer, eram muitos negócios. Até então só tenho a certeza que ela possui uma rede de antiquários bastante renomada, o que acaba exigindo viagens regulares por várias partes do mundo. Cheguei a passar três dias sozinha, após minha recuperação, porque ela precisou cuidar de alguns negócios urgentes em New Orleans.

O que notei, com o tempo, que apesar dessas viagens não serem tão frequentes, não mudavam o fato de que Quinn parecia estar arrumando cada vez mais motivos para não estar presente.

Sendo assim, eu passava a maior parte de meus dias sozinha naquele mega apartamento, desfrutando de todo luxo e regalias que a vasta fortuna acumulada por Quinn podia oferecer. Ela reabriu minha matricula na universidade, as minhas inscrições em meus antigos cursos de dança e canto, e praticamente todas as noites, eu encontrava tickets para peças da Broadway, festas VIPs, shows e exposições de arte no criado mudo, ao lado da minha cama. E posso garantir que mesmo que tudo isso parecesse um sonho, comecei a desejar que todos esses mimos incluíssem a companhia dela.

Exatamente... Quinn nunca me acompanhava. E apesar de vários desses eventos fossem disputados a tapa por qualquer ser humano com um pingo de juízo, cheguei a deixar de ir a vários deles, ou de presentear colegas e professores com os convites e entradas VIPs que eu deveria usar. Fato que alavancou um bocado minha popularidade... só que eu não podia me importar menos com isso.

Eu só desejava a companhia de Quinn.

Só que de repente comecei a pensar que tinha que lidar com o fato de que talvez ela não desejasse mais a minha.

Então, resolvi retomar uma parte de minha vida. Comecei a procurar por testes e audições. Não foi muito difícil conseguir alguns chamados, e até mesmo convites. Creio que devo isso a minha distribuição dos tickets VIP, de certa maneira, eles definitivamente me ajudaram a fazer um nome na universidade.

10:30

Mordi o lábio, lançando um olhar preocupado para meu celular.

"Ela não vem. Supere isso.", pude ouvir a outra Rachel murmurar lixando as unhas, ainda sentada na cadeira do outro lado do camarim.

“Cala a boca, Megera.”, resmunguei.

Pelo canto dos olhos, eu a vi erguer uma sobrancelha.

“Eu até que gostei. Megera faz jus ao meu estilo.”, e ela abriu aquele sorrisinho irritante que eu desprezo.

Não posso acreditar que ela realmente tenha gostado disso.

“Sabe, se eu existisse na época do Ensino Médio, as coisas teriam sido bem diferentes. Se você fosse sincera, admitiria que se eu tivesse o controle... nós estaríamos numa situação melhor.”

E como uma brisa suave, eu sinto a presença dela... e pelo jeito que minha cópia ficou pálida, ela também sentiu que meu anjo vingador havia chegado. O pedaço de papel com o texto que eu deveria estar decorando, já está completamente amassado entre minhas palmas suadas, enquanto aguardo ansiosa para vê-la.

Não espero muito. No minuto seguinte, a imagem etérea da minha versão imaginária de Quinn se materializa ao lado do meu clone.

“Você provocou. . Não me culpe.”, não consegui esconder o sorriso.

Eu tinha total consciência de que a loira parada na minha frente não era a minha loira, e sim uma cópia dela que vivia na minha mente para me proteger do meu clone imaginário. Mas não posso negar que cada vez que a vejo, meu coração se enche de alegria, e que mesmo que a ilusão de tê-la ao meu lado dure somente alguns minutos, ultimamente, esses tem sido os minutos mais preciosos dos meus dias.

“Você não aprende, não é mesmo? Pare de chamá-la e resolva seus próprios problemas, sua inútil!”, meu clone irritante se levanta da poltrona, apontando o dedo na minha direção, me acusando.

Só recentemente descobri que podia canalizar minhas emoções, nos momentos das minhas interações com meu clone, para invocar a cópia de minha Quinn. Se não fosse por isso, eu jamais a veria materializada na minha frente.

“Ela vai embora quando eu for, idiota! E mais uma vez, os seus esforços não vão adiantar nada e você estará sozinha de novo.”, meu clone deu voz aos meus medos, como sempre.

A loira imaginária agarra meu clone pelo braço, rosnando baixinho. Eu as vejo começar a oscilar, e sei que em breve as duas vão desaparecer.

“Você não deve continuar a fazer isso, Rachel.”, minha loira guardiã murmura me olhando com preocupação.

“Eu sei.”, respondi. “Mas sinto tanta falta do seu rosto.”

Uma batida na porta fez com que eu retornasse a realidade. “Berry, você é a próxima!”

“Sinto muito, Rachel.”, meu anjo loiro guardião sussurra antes de desaparecer, deixando um vazio enorme no meu peito. Algo que só pareceu aumentar quando o celular na mesinha ao meu lado vibrou, e pude ver a a mensagem da minha Quinn, a minha verdadeira Quinn.

‘Desculpe. Eu não vou poder ir.’

Ela tinha me prometido que viria...

Acho que ela cansou de ter um bichinho de estimação humano. Talvez, se eu tivesse aceitado sua proposta. Não. Não teria feito muita diferença. Com certeza Quinn, assim como todos antes dela, haviam enjoado de mim. Afinal de contas, todos sempre deixaram bem claro o quanto minha presença era malquista.

Quinn só estaria fazendo aquilo que todo mundo já fez.

Se livrando sutilmente da inconveniente Rachel Berry.

...

“Que diabos você pensa que está fazendo, Fabray?”, a voz irritante chegou aos meus ouvidos subitamente, interrompendo minha tranquilidade mórbida. Girei na poltrona de encosto alto, ficando defronte minha escrivaninha de mogno e consequentemente da mulher de feições latinas, visivelmente irritada que invadira meu apartamento, e praticamente chutado a porta de meu Home Office, invadiu minha clausura.

“Você é uma maldita covarde! Cansei de ficar assistindo você estragar tudo ao seu redor.”, os olhos castanhos escuros me encaravam com aquele brilho ameaçador, que ela só direcionava a minha pessoa quando discutíamos. Ou, mais recentemente, quando lhe confessei minha situação com Rachel.

“Eu não posso ir, Santana.”, minha voz falhou, e eu sei que isso vai dar mais forças aos próximos argumentos que a mente irritavelmente sagaz de minha antiga protegida é capaz de produzir. “Não posso ficar perto dela, isso só deixaria a situação pior e você sabe disso.”

Sinceramente? Nem sei porque insisto. Ela revira os olhos e cruza os braços e sei que Santana Lopez não se deixou convencer.

Ela sempre foi teimosa. Mesmo a beira da morte, jogada as margens da praia entre rochas e sangue, essa mulher conseguiu me ameaçar estapeando meu rosto. Eu dei-lhe a imortalidade porque jamais ninguém havia tido tanta ousadia. E durante alguns anos isso até que me fascinou... mas, nunca passou de uma distração para nós duas, e no momento que ela viu Brittany, eu soube que essa fase da nossa relação estava acabada.

Deixa-la ir, não foi nem um pouco difícil.

“Por tudo que você me confidenciou, não acho que Rachel não deseje que você a transforme, Q.”

“Santana. Eu já repeti um milhão de vezes. Não é assim tão simples. O simples toque da escuridão que agora habita o corpo dela, está consumindo sua alma lentamente... Ela não está em condições de decidir algo dessa magnitude...”

“Ah, por favor. Poupe-me de suas desculpas, Fabray. Você sentiu a conexão com a garota desde o primeiro momento! Você pode sentir o quanto ela deseja estar ao seu lado, e com certeza sabe que basta um estalo e ela se jogaria em seus braços. Pare de se esconder atrás dessa sua mania depressiva de enxergar sua vida eterna, e tome uma atitude! Antes que seja tarde!”

É mesmo discurso de sempre e isso me irrita.

Apoiando minhas mãos sobre a mesa, ergo meu corpo cansado devagar, caminhando em direção a janela. O pôr do sol em breve irá transformar o dia em noite, anunciando a chegada de Rachel.

‘Hoje é terça-feira, e as terças ela tem aulas de balé clássico até as 18:20.’

“Ela vai mudar, Q.” Santana continua baixinho depois de alguns instantes. “Se você continuar com essa loucura, Rachel vai ser consumida pelo desejo de estar ao seu lado e vai acabar deixando a escuridão tomar conta dela. Ela vai desejar sangue, vai começar a ouvir as vozes de suas vítimas, vai ter lembranças que não são dela. Sem falar que o corpo dela não irá aguentar a força e os outros dons de nossa espécie... Ela vai enlouquecer, Q.”

“Eu sei...”, e eu sabia. E isso estava me destruindo.

Sem querer, na tentativa de salvar sua vida mortal, eu a condenei a morte.

Não demorou muito para que eu sentisse os braços de Santana ao redor do meu corpo, e a envolvi num abraço, escondendo meu rosto e medos junto ao ombro dela.

“Eu amo você, Quinn. Você sabe disso, não sabe?"

Sim, eu sabia. Ela era minha amiga antes de tudo.

“Eu sei. Também te amo, San.”

Infelizmente, só senti a presença de Rachel no apartamento tarde demais.

“Eu deveria saber que nunca passei de um brinquedo.”, ouvi a voz tremula daquela que era a soberana em meu coração, antes de conseguir focar em seus olhos desolados. Ela estava parada, no vão da porta, com lágrimas escorrendo por seu rosto. Pude sentir sua dor em meu peito. Mas, antes que pudesse me mexer, ela correu.

Tentei alcança-la, mas uma súbita pontada atravessou meu inerte coração e cai de joelhos sobre o tapete.

Santana praguejou algo em sua língua nativa, mas não consegui me concentrar no significado das palavras. A dor que me consumia parecia ter transformado meu corpo em uma grande pilha de carne desforme e inútil.

“Eu sabia! A conexão está muito além do que imaginávamos. Fique aqui, vou atrás dela.”

Ainda pude ouvir Santana falando ao celular, com certeza com Brittany, antes de apagar.

Na escuridão, pude ouvir Rachel chamando meu nome.


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