Show me Forever escrita por danaandme


Capítulo 4
Você deveria saber


Notas iniciais do capítulo

Nossa, eu gostaria realmente de agradecer a DoceBarbara pela primeira recomendação que recebo aqui no Nhay! Estou muito honrada. Sério mesmo.
Também fiquei muito feliz com a resposta de vocês a história. Quero que vocês saibam que em todas minhas histórias, eu sempre busco estar melhorando e diversificando os estilos de narrativa, de maneira que cada uma delas seja única e traga uma experiência diferente para quem resolver acompanhar as minhas postagens. Muito obrigada mais uma vez.
E agora, o capitulo.



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Show me Forever

Capítulo 04 – You should know.

Antes de qualquer maior mal entendido, permitam-me esclarecer alguns detalhes sobre os vampiros.

01- Nós só bebemos sangue humano.

Esqueça tudo o que você pode ter lido a respeito em alguns romances que andam circulando no mercado nos últimos anos. O sangue tem que ser humano. Lembram do que aconteceu a Lestat em ‘Entrevista com Vampiro’, enquanto ele se alimentava somente de bichinhos não tão fofinhos?

Ah pera lá, você realmente achou que eu iria usar ‘aquela saga’ como referência ao meu estilo de vida? Dai-me paciência. Em respeito a alma que eu já tive um dia, para qualquer observação sobre este tópico, leia Anne Rice.

02-Você não vai nos reconhecer facilmente na rua.

E lá vamos nós novamente aos romances de hoje em dia. Eu quero deixar bem claro que não brilho, ou faísco feito um diamante sob a luz do sol. A simples sugestão disso é um ultraje e eu me sinto extremamente ofendida em ser confundida com uma placa de neon ambulante. Posso caminhar tranquilamente a qualquer hora do dia e da noite, meus dons me garantem essa regalia.

O que nos leva ao próximo tópico.

03-Alguns de nós temos dons.

Olha lá você e seu pensamento indo mais uma vez na direção daquela saga. Não, não e não. Nós não fazemos a linha; vampiros com os poderes dos X-men!

Se você precisa de um guia para esse tópico, Bram Stroker foi quem chegou mais perto.

‘Sim, Stroker é o cara que escreveu Drácula. Sério. Você precisa urgentemente rever seus conceitos.’

A quantidade de poderes de um vampiro vai depender da frequência e qualidade do sangue com o qual ele se alimenta. Ah, e da idade do vampiro. E não, eu não me sinto a vontade de revelar minha idade e devo lembra-lo que é extremamente rude fazer uma pergunta desse tipo a uma dama!

Passemos para o item seguinte.

04-Minha aparência física ainda é a mesma de quando eu era humana.

Eu sou exatamente como você, quer dizer, não exatamente. Mas o que é importante aqui é que fique claro que o vampirismo não é a resolução para todos os problemas de origem estética que frustram a população atual.

Talvez você precise de um exemplo mais prático. Então, pense na criatura mais tenebrosa que você já viu um dia. Pois é, se essa pobre alma se tornar um vampiro, ela continuará sendo a mesma figura horrorosa, e toda essa feiura vai existir por toda eternidade.

Quer mais um exemplo? Digite Nosferatu no Google e clique em imagens. Urg!

Depois de assistir Béla Lugosi interpretar minha espécie, transfigurado naquela medonha criatura, tive que agradecer por meu Criador ao menos ter sido um indivíduo bem afeiçoado. Moral da história? Não existirá nenhuma beleza estonteante e imortal, caso não haja uma beleza natural antes, capisci?

E por último, mas não menos importante.

05-Vampiros são capazes de nutrir sentimentos por outros vampiros, e em raríssimas ocasiões isso também pode acontecer com seres humanos.

É uma maneira muito fria e objetiva de descrever algo tão profundo e complexo, mas esse nunca foi um tópico de meu interesse. É preciso que fique claro que a solidão é um estado de espírito, que em sua magnitude, se manifesta mesmo quando o indivíduo se encontra cercado por milhares de pessoas. E eu posso afirmar com propriedade, que experimentei todos os estágios da solidão.

Com o passar das décadas, a companhia de outro ser acaba se tornando algo supérfluo, mas por favor não confundam minha descrição de companhia, como algo semelhante e vil como uma distração temporária. Tive muitas distrações, e uma certa vez até mesmo vislumbrei a possibilidade de ter uma companhia, mas não houve afeição suficiente entre nós.

Vampiros são conhecidos por seu charme e sedução, e eu sei que sou um exemplo afortunado desses atributos. Mas, nunca havia experimentado aquilo que é surpreendentemente ainda mais característico de minha espécie. Algo que imaginei que um monstro, sem alma e sem coração seria impossibilitado de experimentar. A única sensação capaz de consolar nossa existência deprimente e solitária. Algo que arrebatou todos os meus sentidos em apenas alguns segundos, no exato instante que me vi consciente da presença dela naquele metrô.

Sim. Nós nos apaixonamos muito, muito rápido. E levando em consideração tudo aquilo que já ouvi sobre esse assunto, todas as vezes que isso acontece dura para sempre.

Por isso, posso afirmar sem sombra de dúvidas, que esse deve ser o motivo pelo qual estou sentadinha na minha cama há quase meia hora, abraçada ao travesseiro que Rachel usara, observando fascinada ela caminhar pelo quarto tagarelando sem parar, enquanto tudo o que consigo pensar, é de como seria adorável ouvi-la tagarelar por toda a eternidade.

Na verdade, nunca conheci alguém que pudesse falar tanto assim. Ela quase não faz pausas entre as palavras e apesar disso denotar uma admirável habilidade de controle respiratório, além de demonstrar um vasto vocabulário, estou começando a me preocupar. Quer dizer, ela vai precisar parar alguma hora, certo?

Rachel passou mais uma vez na frente da cama em direção a sacada, eu a acompanhei com os olhos, enfiando meu nariz na fronha do travesseiro.

“... E eu já mencionei quão insana é toda essa situação? Há algumas horas, eu mal podia esperar para morrer em seus braços e agora você me diz que quer que eu viva neles por toda a eternidade? Isso tudo é uma loucura! Principalmente porque eu tenho todas as razões para querer estar morta. Meus pais morreram, meus sonhos se acabaram e eu estou sozinha nesse mundo. Ninguém realmente gosta de mim...e fui traída pela única pessoa em que confiei a decisão mais importante da minha vida: a minha morte!!! E como se nada pudesse ficar pior, estou confusa porque essa vampira que supostamente deveria me matar, é provavelmente a garota mais bonita que já vi na vida, e está me fazendo ter esses pensamentos e sentimentos estranhos...”

Com certeza eu estava parecendo uma idiota, rindo feito uma boba, apertando o travesseiro ainda mais junto ao meu corpo. ‘Eu sou garota mais bonita que ela já viu’.

“E... eu sou Vegan! Beber sangue está definitivamente fora de questão!”, Rachel bateu o pé no chão e cruzou os braços.

Aproveitei a repentina pausa dramática que ela fez para dar outra fungadinha na fronha do travesseiro, inebriando-me junto ao tecido que havia capturado a fragrância de Rachel.

Eu estava um tanto orgulhosa demais comigo mesma. Se tudo aquilo que estava ouvindo era verdade, então era seguro afirmar que ela estava legitimamente atraída por mim. E esse era o motivo do meu orgulho, porque eu não usei nenhum dos meus dons em Rachel.

Esse pensamento fez com que um sentimento que nunca imaginei ser capaz de sentir, se espalhasse por todo meu corpo. Eu que nunca imaginei que seria capaz de sentir novamente, quiçá sentir algo como felicidade, tive a certeza que deveria estar parecendo um daqueles bufões estúpidos, por causa do sorriso enorme que se espalhou em meu rosto.

Rachel me encarou de repente, parando no meio do quarto com as mãos na cintura. Imediatamente levantei o rosto do travesseiro, tirando meu nariz do aconchego que eu criara junto ao cheiro dela.

Tentando não parecer uma maluca, contive o sorriso que parecia ter encontrado uma nova morada em minha face, mordiscando meu lábio. Eu queria demostrar que estava atenta a cada palavra dita por ela durante a última hora. ‘Nossa o tempo voa quando estamos juntas’.

Ela arregalou os olhos para mim, jogando os braços para cima parecendo frustrada e voltando a caminhar pelo quarto. Dei mais uma fungadinha no travesseiro e decidi que já era hora de interrompê-la.

“Rach?”, chamei-a o mais suavemente possível.

Rachel se virou para me encarar no mesmo instante. Seu semblante era de pura irritação, enquanto ela praticamente marchava na minha direção com seu dedo indicador rígido e apontado para mim.

“Não me chame de Rach! Eu não quero que você me chame de Rach! Pare de fazer isso! Não olhe para mim desse jeito! Você está me confundindo! ”

“Mas eu não estou fazendo nada”, eu disse docemente, piscando os olhos e fingindo inocência. “Só estou olhando para você”, mas eu sabia que estava exibindo um dos meus sorrisos irresistíveis.

“Exatamente! Não olhe para mim”, ela disse batendo o pé no chão mais uma vez. “Esses seus malditos olhos cor de avelã estão fazendo meu coração bater violentamente dentro do meu peito...”, Ops. Rachel cobriu a boca com a mão e agora estava corando profundamente.

Não consegui mais esconder meu sorriso.

“Sei que isso deve ser muito para absorver, Rach. Você não precisa responder agora, okay? Eu quero que você queria isso também”, digo calmamente, sem mais poder resistir a vontade de tocá-la.

Aproximei-me dela lentamente até ficarmos frente à frente. Estiquei a mão para acariciar seu rosto, sentindo a pele macia e delicada sobre os nós de meus dedos.

“Rachel... eu quero tanto”, observei extasiada seus olhos se fecharem e seu rosto se inclinar sobre minha palma, buscando pelo meu toque. Seu pequeno corpo tremeu um pouco, provavelmente por causa do contato com minha pele fria, mas eu sentia a pele do seu rosto arder contra minha mão, contradizendo a reação de seu corpo a temperatura gélida do meu.

É tão difícil resistir a ela.

Por séculos, pensei não ser digna desses sentimentos, mas Rachel derrubou todas as barreiras que eu havia construído ao meu redor. Estou rendida diante dela, e ela só precisou de um olhar para que eu caísse aos seus pés.

“Tão linda... Eu te quero tanto”, sussurrei antes de beija-la.

Senti seu coração batendo forte junto ao meu peito frio. Era quase como se Deus tivesse se apiedado de mim e devolvido a vida ao músculo inanimado, que ainda habitava meu tórax, numa eterna lembrança de sua atual inércia e inutilidade. Uma metáfora macabra de uma existência vazia e sem propósito.

Mas agora, o calor da presença dela me ilude. E eu beberei dessa fonte, com o mesmo fervor presente naqueles que almejam por serem ludibriados pelo simples contentamento de pertencerem a outro alguém.

Meu abraço é possessivo, pois o ímpeto de fazê-la minha se espalhava tal qual uma chama, queimando o sangue roubado das vítimas que outrora fiz, e que agora, percorriam minhas veias carregando essas labaredas de prazer e bem querer por todo meu ser. O fulgor desse fogo incendiava minha pele tal qual uma febre, mas a sensação de queimar por Rachel brindava minha existência com o júbilo quase que divino. Em seus lábios encontrei o perdão de Deus à minha alma, e minha única vontade era alcançar o céu ao seu lado.

Rachel não resistia ao meu desejo de tê-la em meus braços. Seria mais apropriado afirmar, que ela se entregava ainda com mais intensidade do que aquela primeira vez que nos beijamos.

Suas mãos se perdiam em meus cabelos, enquanto seus dedos aprisionavam minhas curtas madeixas em suas palmas. Nossos corpos se moldavam, cúmplices na ânsia de estarem finalmente juntos. Ela era meu paraíso, e eu sabia que seria o dela.

Nossa ligação me permitia viajar por suas lembranças e constatar que, em toda sua vida humana, ela nunca sentira nada tão forte por alguém.

E eu queria continuar sendo a única a lhe despertar tais sentimentos.

Mesmo assim, a intensidade das emoções dela, ainda contrastava com todas aquelas lembranças dolorosas.

‘Bullying, solidão, desilusão, luto. Dor.’

Minha Rachel não merece tais lembranças. Ela nunca deveria ter se sentido tão inferior e desprotegida. Ah, minha vontade é caçar e torturar todos os responsáveis por sua dor. Eu sou capaz de extinguir a existência de qualquer ser que ouse trata-la sem o devido respeito.

Todavia, o motivo que me impele é o mesmo que me impede de tomar providências para lavar sua honra. A simples certeza de que isso não a faria feliz, é a corrente que me refreia.

Minha Rachel possui um coração puro e belo. Ela nunca seria um monstro como eu.

Ela será meu anjo imortal. A mais sublime criatura a existir na face da terra. A ela, eu darei o mais soberano dos dons e lhe devolverei aquilo que lhe foi usurpado de maneira tão sórdida.

“Eu posso trazê-la de volta, meu amor. Eu posso curá-la. Você vai cantar novamente, e eu vou ouvir sua bela voz por toda a eternidade”, sussurrei junto aos seus lábios.

No instante seguinte, ela se livrou de meu abraço me empurrando para longe.

“Pare com isso!”, ouvi sua doce voz se distorcer em meio a dor. Só então pude ver as lágrimas obscurecendo seu olhar.

“Não se atreva a trazer a esperança de volta. Não se atreva a brincar com os meus sonhos. Não me mostre o quão miserável minha vida é. Não me prometa algo, que sei que você não pode cumprir. ”

Eu mal conseguia me mexer. Na minha frente, Rachel era a exata imagem de alguém que havia sido brutalmente ferida. Seus olhos castanhos me encaravam como se eu fosse a responsável por reabrir a mais dolorosa das cicatrizes em seu peito.

E eu sabia que era.

Perder sua voz e seus sonhos, fora decerto a mais dolorosa das peças que a vida aplicara sobre ela. Esse foi um dos motivos dela ter se negado a retornar a Lima. Rachel não queria que ninguém naquela medíocre cidade lhe dissesse que seus esforços para ser alguém haviam sido em vão. E foi esse orgulho, que não deu alternativas para que seus pais continuassem a vê-la.

Por isso, eles concluíram que como ela se negava a ir à Lima, eles tinham que vir à New York...

“Eu não queria...”, as palavras escaparam de meus lábios sem que eu percebesse, mas eu sabia que elas não seriam suficientes para aplacar a dor que ela sentia.

Rachel se afastou ainda mais de mim, seu belo rosto contorcido pela magoa. Quando tentei me aproximar, ela gritou.

“NÃO! Deixe-me em paz! ”, e disparou pela porta do quarto.

Minutos depois, ouvi a porta da frente se fechar com um estrondo.

A dor de vê-la se afastar era quase física, e eu podia compará-la ao momento em que meu frágil coração humano parou de bater, durante aquela madrugada infeliz em que inocentemente, tentei salvar minha alma do inferno, me entregando a um estranho.

O sol já brilhava intensamente no céu, e eu não me alimentava direito há semanas. Não seria sensato gastar minhas energias para caminhar a procura dela agora.

Mas, não havia sensatez em mim.

A minha existência não mais importava, Rachel era tudo aquilo que movia minha realidade. E se ela estava lá fora, sob a luz do sol, aquele era exatamente o lugar aonde eu deveria estar.

“Rachel!”, gritei seu nome na saída do meu prédio, me misturando a multidão que caminhava pela calçada.


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