Show me Forever escrita por danaandme


Capítulo 3
Um feitiço com olhos cor de avelã




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Show me Forever

Capítulo 03 – You put a spell on me.

Meu coração parecia querer rasgar meu peito e deixar para trás toda a dor que eu sentia, no instante em que ela me tomou em seus braços e me beijou. Seu abraço era apertado e quente, no sentido figurado, lógico. Mas não deixava de ser irônico o modo como eu me sentia segura, mais segura do já me senti em toda a minha vida. Quer dizer, esses braços não deveriam parecer tão familiares, e a presença dela não deveria ser tão irresistível.

Ela é tão linda. Provavelmente, a garota mais bonita que eu já conheci. Talvez esse seja o encanto de ser o que ela é. Lembro de ter lido em algum lugar que vampiros tendem a ser extremamente charmosos e encantadores, e apesar de nunca ter cogitado a possibilidade de beijar outra mulher, desde o momento que compreendi o que ela era, admito que não pude pensar em nenhuma outra maneira de me despedir desse mundo.

Com um beijo. Um beijo dela.

Estou começando a me sentir um pouco tonta.

Acho que ela está fazendo isso comigo. Será que está é minha última lembrança? Estar completamente entregue e indefesa nos braços de uma estranha? Sem ao menos saber seu nome?

"Diga-me o seu nome, por favor.", consigo sussurrar próximo aos seus lábios.

Sei que estou a um passo de perder a minha consciência, mas tudo que quero saber agora é o nome dela.

"Eu nasci recebendo a graça de Lucy Quinn Fabray, mas há muito tempo atendo simplesmente por Quinn.", ela sussurra de volta junto ao meu ouvido.

"Quinn..." , busco por seus olhos cor avelã pela última vez, antes de enterrar minhas mãos em seus cabelos loiros e puxa-la para mim. Essa é a última lembrança que escolho. A última memória que quero levar desta vida. Os lábios suaves de Quinn se movimentando perfeitamente junto aos meus.

Meu último suspiro parece mais um leve gemido, antes da escuridão tomar conta de meus sentidos.

.x.x.x.

'Oh, Deus. Dessa vez, o Senhor realmente conseguiu provar que ainda consegue me torturar.'

Rachel está desacordada em meus braços, seu pequeno e frágil corpo aconchegado junto ao meu, e a única explicação plausível para que eu esteja parada no meio da minha sala de estar com essa pequena morena em meus braços é de que Deus realmente não tem nada mais o que fazer a não ser me torturar.

'Fabray, você está perdida.'

Humft. Por que ela tinha que desmaiar depois de praticamente me tirar o fôlego com um beijo daqueles? Isso é inacreditavel! Inconcebível! Quinn Fabray, uma criatura sem alma e desumana, refém das vontades de uma misera mortal?

'Rachel...', deito seu corpo com o máximo de cuidado sobre minha cama, e aquela sensação estranha me consome de novo. É estranho e confuso... é quase como sentir novamente. É parecido com aquele sentimento sútil e agradável que minha mãe tentou descrever certa vez. O mesmo sentimento que me transformou em uma abominação perante os olhos de meu pai... perante os olhos de Deus.

'Depois de séculos... por quê?'

A primeira vez que vislumbrei esse sentimento, eu ainda era Lucy Quinn Fabray, ou Lucille Fabray, a filha do tão respeitado comerciante Russel Fabray. Um homem que na verdade não passava de um golpista charmoso, de inigualável talento, que abandonou a Inglaterra, jurando lealdade a mãe França após pedir a mão de minha mãe em casamento. Um golpe que lhe rendeu excelentes perspectivas para um novo recomeço, usando toda fortuna que sua noiva havia herdado, para abrir alguns estabelecimentos comerciais, se instalando com toda pompa em Avignon, que na época mal passava de um reles vilarejo numa das estrada que levava à cidades maiores como Marseille.

Foi praticamente como se ele tivesse comprado toda a cidade...

Para todo o vilarejo, Russel Fabray era um homem leal aos bons costumes, um cidadão responsável temente a Deus e ao Rei, um excelente comerciante, um marido e um pai de família exemplar. O povo o admirava e idolatrava o chão por onde ele passava, e nem mesmo a eterna rixa entre ingleses e franceses era capaz de denegrir sua imagem, porque para todos, Russel Fabray tinha alma francesa. Afinal de contas, sua bela esposa e suas duas filhas refletiam seu amor pela França, pelo Rei e por Deus.

Uma grande piada.

Para todo o mundo eu era Lucille Fabray a adorável e perfeita filha caçula, enquanto entre as quatro paredes daquela maldita casa, onde só era permitido se falar em inglês, eu atendia por Lucy Quinn e não era poupada das punições que prometiam salvar minha alma do inferno o qual eu estava condenada.

Se hoje ainda carrego o sobrenome dele, é para lembrar de que o mal sempre correu em minhas veias, e de que foi a crueldade daquele homem que causou o estopim que me transformou no que sou.

'Pobre Lucille Quinn Fabray, caiu em desgraça quando permitiu que o demônio a dominasse, se deixando levar pelo pecado e confessando sua atração pela irmã de seu prometido.'

Aquela foi a primeira vez. Foi quando tudo mudou. Quando descobri que era diferente. Mas, naquela vez, esse sentimento não foi assim tão forte. E depois de tantos anos, depois de tantas experiências... nenhuma garota foi tão intensa. Nenhuma despertou nada mais que desejo e luxúria.

Observo a morena envolta em meus lençóis com atenção, quase como se essa simples ação pudesse responder a todas as perguntas que ficam povoando minha mente. Seu semblante é tranquilo, belo, perfeito... e aquele sentimento aquece novamente meu peito, quase me fazendo lembrar dos dias que um coração humano pulsava forte e quente dentro de mim. E essa lembrança acabou trazendo a tona outro tipo de pensamentos, e esses pareciam se instalar em minha mente tal qual um vírus que se apodera de um organismo qualquer. O que só piorou a situação, porque esses pensamentos não eram nada puros ou castos.

Levanto de uma vez da cama, passando as mãos pelos cabelos tentando me acalmar. Caminho pelo quarto lançando olhares furtivos a garota adormecida sobre as cobertas, as minhas cobertas, e um sentimento de orgulho e posse retumbou dentro de mim.

No horizonte os primeiros raios de sol já tingiam o céu de Nova York em vários tons de rosa e amarelo-claro, e o pouco da luz que invadiu o quarto pareceu banhar a pele bronzeada de Rachel, destacando ainda mais seus belos traços.

Quando percebi, estava sentada ao seu lado tocando seu rosto com meus dedos frios e pálidos, sentindo o calor que desprendia de sua pele suave e quente. 'Deus... como o Senhor pode colocar um anjo nos braços de um demônio como eu? E se a tivesse matado? Por que o Senhor confiou a mim esse ser tão precioso?'

Sim, Rachel é única e preciosa. Atrevo-me a dizer que ela será mais preciosa para mim do que minha própria existência.

'Quinn, você está completamente perdida.'

.x.x.x.

'Ah, a morte é tão aconchegante.Tão quentinha e agradável.' Será que é porque morri nos braços...quer dizer, pelas presas dela?

'Mas...porque a morte é tão semelhante a dormir de conchinha num colchão extra macio, ouvindo alguém ressonar suavemente ao seu ouvido?'

Espere um minuto.

Eu me remexi sobre a superfície macia, o que deveria ser impossível já que mortos não se mexem. Só que o mais esquisito nisso tudo, era que eu realmente sentia um corpo junto ao meu, me abraçando firmemente pela cintura, enquanto a respiração leve de alguém fazia os pelinhos do meu pescoço arquearem.

E isso era realmente alarmante. Por que que mortos não sentem os pelinhos do seu pescoço arquearem, e muito menos sentem seu coração bater mais forte, ou seu corpo ficar todo animadinho por conta disso.

'O quê que é isso? Um morto não fica com o corpo todo animadinho por causa de um cheiro no pescoço, gente! Isso seria bizarro demais!'

Abri os olhos de uma vez, e adivinhem só! Não estou deitada em meu caixão, nem numa nuvem fofinha no paraíso. Estou numa cama. E a julgar pela vampira arrasa quarteirão agarrada a minha cintura, ressonando tranquila com esse narizinho ousado enfiado em meu cangote, eu posso concluir com toda certeza, que estou na cama de Quinn.

"Oh, meu Deus.", berrei. "Eu não posso acreditar!" Ela não me matou. Ela me traiu. E eu estou furiosa!

Meu pequeno ataque de fúria fez com que a estonteante criatura ao meu lado saltasse para fora da cama quase que imediatamente.

"O quê foi? Rachel? O que houve?"

Deus.

Como posso ficar furiosa quando ela consegue ser tão adorável toda desorientada e descabelada olhando para mim desse jeito?

"Você me traiu! Você não me matou! Por quê?"

O que foi isso? Por um momento, pude ver uma tristeza enorme em seus olhos cor de avelã. 'Foco, Rachel!' Se concentre no que importa; sua morte!

Braços cruzados sobre o peito, queixo erguido e pé batendo no chão.

"Você me traiu!" Acusei a vampira na minha frente apontando o dedo indicador na direção dela. "Você deveria 'beber todo meu sangue, até eu secar', não é mesmo?"

Quinn piscava continuamente, sua cabeça inclinando para o lado e o olhar confuso. 'Maldita vampira. Como ela pode ser tão encantadora?'

"O quê? E-Eu não concordei com nada disso.", ela teve a audácia de me responder com aquela voz doce e rouca.

"Eu não acredito que você foi capaz de fazer isso comigo!"

Meus passos ecoavam pelo quarto, um quarto extremamente luxuoso por sinal. Como é que raios uma vampira pode viver num lugar como esse? 'Peraí, aquele Renoir é original?'

"Você se aproveitou da minha tristeza, do meu pesar..."

Espere um instante.

Onde está o meu pesar? Quer dizer, meus pais morreram e eu lamento isso, mas a dor excruciante que tornava impossível respirar e continuar vivendo, se foi. Su-mi-u tudo.

"O que você fez com meu pesar?" Franzi o cenho, encarando a loira na minha frente, tentando transparecer toda minha raiva.

Isso mesmo! Eu devia estar triste, depressiva, me acabando em lágrimas e totalmente sem esperança! E isso é inadmissível! 'Por Deus, quem decorou esse quarto? Parece que estou numa daquelas revistas ultra chiques de design de interiores... É sério? Ela também tem um Monet?'

"Eu o retirei." , pelo menos ela teve a decência de parecer culpada.

"Você, fez o quê?", por mais que eu tenha me esforçado, não consegui esconder meu choque. Okay, eu a acusei de ter feito alguma 'mandinga vampiresca' com o meu pesar, mas para ser sincera, não pensei que algo assim fosse possível.

"Sim.", ela confirmou mais uma vez.

A sinceridade dela é impressionante. Sentei de uma vez na cama, aquela cama king size inacreditavelmente magnifica de dossel, coberta por lençóis de seda caríssimos e travesseiros feitos de algum tipo de pluma, que eu sinceramente espero que sejam artificiais. 'Como raios uma vampira pode ter tanto dinheiro? Porque eu tenho a impressão que esse vestidinho floral aparentemente básico que ela está vestindo, é um legítimo Oscar de La Renta.'

"Oh, meu Deus. Você?! Você, colocou um feitiço em mim!" , levando em conta a situação atual, foi a conclusão mais obvia.

Então ela começou a rir.

"Oh, eu devia ter imaginado que você é uma rainha do drama. Com todas aquelas memórias sobre Broadway..."

Estreitei meus olhos. O que ela disse?

"Minhas memórias? O que você sabe sobre as minhas memórias?"

Agora ela parece verdadeiramente preocupada. E deveria estar porque eu estou verdadeiramente furiosa, e é bom que ela saiba que nem esses olhos incrivelmente estonteantes irão conter a ira de Rachel Barbra Berry, se ela não se explicar rapidinho!

"Eu realmente não tive muita escolha, Rach. Para tirar a sua dor, eu precisei criar uma conexão com você." , ela disse se sentando ao meu lado na cama.

'Ela? Ela...me chamou de Rach?' Alguém pode me explicar porque meu coração pareceu acelerar? Ou melhor, alguém pode me explicar que espécie de voodoo-de-vampiro ela lançou em mim? É... porque não existe outra explicação para que eu não consiga ter raiva dessa mulher! 'Talvez seja só o efeito desse belíssimo vestido de grife, que foi conjurado das profundezas do inferno para realçar todas as curvas do corpo perfeito dela, com a única intenção de me confundir.'

Enquanto eu enlouquecia meus neurônios, tentando desvendar as técnicas obscuras de sedução por hipnose, certamente utilizadas por vampiras deslumbrantes, Quinn continuava ao meu lado, falando baixinho.

"Eu não posso matar você.", ela suspirou, seu rosto se contorcendo brevemente com uma expressão de dor. Era como se só a ideia de minha morte fosse algo doloroso para ela.

"Eu simplesmente não posso, Rachel."

"Então, você sentiu pena de mim.", Fazia sentido não é mesmo? Meu total fracasso acabou despertando a pena dessa criatura quase divina. Ela nem ao menos me acha digna como refeição. Você é realmente patética, Rachel.

Imediatamente, ela tomou minhas mãos entre as dela, seu olhar procurou pelo meu.

"Não! Rachel, olha para mim, por favor."

Eu queria, mas não consigo resistir a ela. Quinn definitivamente colocou um feitiço em mim. 'Maldita macumba-vampiresca, aposto que tem um ebó com meu nome na 51th St. com 8th Av., na Broadway.'

"Eu tenho uma oferta para você." O jeito como ela disse isso fez com que meu coração pulasse uma batida.

"Você não vai ficar mais sozinha. Eu vou cuidar de você. Se você ficar... Se você se juntar a mim.

"E-Eu não entendo...", perguntei abismada. O que raios ela queria dizer com isso?

Quinn mordeu o lábio, parecendo um pouco nervosa.

"Eu quero que você fique comigo, Rachel. Eu quero que você fique comigo para todo o sempre."

'Não é normal que meu corpo todo vibre toda vez que ela diz meu nome...Hã? O quê? O que ela disse? Como assim todo sempre?' Minha mente não conseguiu processar uma resposta, enquanto assimilava o real significado daquelas palavras.

"Oh. Meu. Deus." Foi tudo que consegui dizer.


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