Flashback em

Brennan caminhava pelas ruas de Ambon no final de tarde. Ela gostava do fato de Ambon ser à beira mar. Gostava do fato de poder mirar, do outro lado das águas escuras, as terras da parte principal de Molucas se estendendo de leste a oeste. Gostava das colinas atrás da cidade, da grande quantidade de casinhas e prédios baixos. Não era uma cidade charmosa, ou bem planejada, ou livre de favelas. Mas ela gostava dali.

A cabana onde ela ficava era a mais de 50 km ao sul, quase à beira mar. E no tempo que ficara ali, ela também descobrira o quanto amava o suave rugir das ondas como ruído de fundo.

Ela se perguntou, não pela primeira vez, se Booth gostaria daquele lugar.

–Com licença. – ela parou de andar, se assustando com o homem logo ao seu lado. Ele falava inglês.

–A senhora parece ser estrangeira, fala inglês?

Ela concordou com um meneio.

–Sabe onde posso trocar moeda?

Brennan lhe passou as instruções de como chegar até a casa de câmbio.

–Muito obrigado. A propósito, meu nome é George, sou do Texas. De onde você é?

–Da Virgínia. – respondeu Brennan, propositalmente não dizendo seu nome.

–Sabia que era americana, reconheço um em qualquer lugar do mundo. Está de férias?

–Não. Mas não é da sua conta.

–Me desculpe minha falta de tato. Não quer tomar alguma coisa? Eu pago, assim que trocar meu dinheiro.

–O que lhe faz pensar que eu aceitaria?

–E por que não aceitaria?

–Posso muito bem ser comprometida.

–Que homem em sã consciência deixaria uma mulher tão linda andando sozinha? É óbvio que você não é comprometida.

Brennan sentiu raiva do estranho e seu sorriso brilhante, como se ele tivesse certeza que a conquistaria. Viu que ele desceu o olhar para a mão dela, talvez procurando um anel. Tudo que o cara queria era uma aventura rápida, uma noite quente. Ele era bonito ao seu jeito, magro e muito alto. Talvez em outros tempos ela tivesse aceitado aquela aventura. Mas não naquele dia.

–Pois eu sou comprometida, e me senti insultada com sua falta de tato.

A máscara de educação dele finalmente caiu.

–E onde está esse idiota então que não está aqui com você? Devia tomar mais cuidado ao andar por essas ruas, você não está em Washington ou Baltimore.

–Vou me lembrar da próxima vez que alguém como você me abordar. – disse Brennan se afastando, decidida.

Flashback off

A semana avançou e Brennan não falou com Booth. Disse a si mesma que era um assunto delicado para tratar por telefone, e esperaria ele aparecer ali. Mas até sexta-feira ele não apareceu.

–Ange, pode avisar a Cam que eu vou sair mais cedo para o almoço? – perguntou Brennan, passando com um bebê que não parecia ser tão pequeno, tamanha era a força do choro. – Vou levar ele para casa.

Ange concordou com um meneio e uma palavra de incentivo, e voltou a atenção para a foto que analisava na tela do computador. Não se passaram mais do que dez minutos quando ela levantou os olhos e viu o Agente do FBI, que andava sumido, entrando no laboratório.

Booth entrou pelas portas de vidro do Jeffersonian com uma sensação de dejá vu. O reencontro com Brennan no fim de semana havia acabado com ele. Tinha esperanças que ela ia voltar percebendo que estava apaixonada também, e poderiam começar daí. Várias vezes naquele ano ele havia acordado de sonhos envolvendo a noite que tiveram juntos, e sempre se perguntava quando a teria nos braços novamente. Quando, não se.

Mas depois que ela contou que tinha alguém, ele ficou com raiva. Ele passara o ano pensando em reencontrá-la, e ela andara se divertindo com outro cara? Na mesma noite ligou para a Comandante Adams marcando um encontro. E o encontro de terça à noite havia sido um fracasso. Depois de um ano, ele não estava pronto para começar um relacionamento com outra pessoa. E ele sentiu mais raiva por isso.

Booth decidiu que precisava falar com ela, precisava entender o que havia acontecido. Quão sério era o relacionamento, se ainda havia alguma ponta de esperança. E naquela sexta-feira ele tomou a coragem necessária.

–A Bren não está, Booth. – ele se virou, vendo Angela entrar no escritório. – E é tão bom rever você!

Ela o abraçou sem cerimônia.

–Estou vendo o que o tempo no exército fez aos seus músculos... – disse ela enquanto se afastava, rindo.

Ele preferiu ignorar o comentário.

–Onde ela foi?

–Saiu com o Nicholas.

–Esse é o nome dele, então? – perguntou ele, a irritação evidente em sua voz.

–Nome de quem? – perguntou Angela, estranhando.

–Ah, o cara com quem ela está saindo. Ela não contou muita coisa, mas deu pra adivinhar.

Angela ergueu as sobrancelhas, compreendendo.

–Vocês não se falaram depois de sábado? - perguntou ela.

–Não, eu fiquei um pouco irritado e não entendi por que ela ficou brava. Era pra tudo dar certo, e chega esse cara... como eu queria acabar com ele!

Angela achou que era melhor não se intrometer no assunto. Adoraria ver a cara de Booth quando descobrisse a verdade, mas se Brennan não contara, ela não iria contar. Não queria se meter em um campo que era estritamente pessoal entre eles.

–Acredite, Booth. Quando você o vir, a última coisa que vai querer vai ser acabar com ele.

Ela sorriu para a expressão confusa dele e saiu da sala.

Ele estava impaciente demais para voltar mais tarde. Depois de andar pra lá e pra cá no escritório dela, resolveu subir até a área de descanso. Queria ter uma boa visão assim que ela chegasse, caso ela voltasse com o tal do Nicholas.

Uma hora se passou, mas ele não desistiu de esperar. Quando o estômago já se revirava de fome, ele ouviu a voz de Angela.

–Bren, o Booth passou aqui atrás de você.

–Ótimo, saio um pouco e ele resolve aparecer. – ela suspirou. Pretendia passar pelo edifício Edgar Hoover naquele dia, mas mal tivera tempo de almoçar, quanto mais desviar seu caminho até lá - Terminou a reconstituição, Ange?

–Terminei, está na sua mesa.

Booth se levantou do sofá, mirando cuidadosamente o laboratório lá embaixo. Queria ver, mas não queria que o vissem. De onde estava não conseguia ter uma visão boa da entrada, por isso ficou parado, esperando elas avançarem mais. Talvez o tal do Nicholas já tivesse ido embora afinal.

–O Nicholas está melhor?

Ele apurou os ouvidos.

–Está. Levei ele para casa, acho que estava cansado. Depois que dormiu ficou mais calmo.

Ele estava tentando assimilar aquilo. O cara estava no apartamento dela?

–Ange, preciso terminar uma análise, você poderia...

–É claro!

Elas começaram a andar pelo laboratório, e Booth esticou o pescoço para vê-las. Qual não foi sua surpresa ao ver um bebê no colo de Angela. Seria dela?

–Já procurou por berçários?

–Passei o domingo olhando as várias opções, esse fim de semana vou terminar de analisar e me decidir por um. Meu pai se ofereceu para cuidar dele, mas mesmo o Nicholas sendo tranquilo não acho que seria bom deixá-lo...

–Um bebê!

Angela, Brennan e mais alguns funcionários que trabalhavam na plataforma se viraram para ver quem gritara daquela forma. Não demorou para localizarem Booth no mezanino.

–E você não me contou! – gritou ele, olhando para Brennan.

–Eu ia. – gritou ela de volta, recuperada do momentâneo choque – Mas você estava tão feliz com sua Comandante e assumiu tão rápido que eu estava com algu...

–Pessoal! – gritou Cam, mais alto – Vocês podem por favor gritar sobre seus problemas pessoais em um lugar que não esteja cheio de pessoas tentando trabalhar?

Os dois olharam para Cam e então se entreolharam. Brennan tirou a luva de látex, jogando-a com raiva no lixo, e caminhou até a escada do mezanino. Booth começou a descer, e os dois se encontraram no meio dela.

Continua...