Andrômeda escrita por Carol


Capítulo 5
Perguntas


Notas iniciais do capítulo

Mais um flashback. Esse explica o nome da história.



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29 de maio de 2003

Paul me alcance as batatas, por favor” As mãos gordinhas do menino de 5 anos passaram o pote para a sua mãe.

Paul sempre se considerava muito sortudo por ter a família que tinha. Cresceu nos subúrbios dos Estados Unidos, vivendo o american way of life. Sabe, churrascos no grill ao sábados, ônibus amarelos escolares, sanduíches de geleia e manteiga de amendoim. Ele adorava manteiga de amendoim desde pequeno, mas teve que cortar a sua adoração quando percebeu que era alérgico. Mas ela era ainda o seu ponto fraco nos momentos difíceis. Sempre que Paul aparecia com pequenas manchinhas vermelhas pelo rosto sua mãe sabia que ele estava triste por algum motivo. Sua mãe era médica, por isso sempre reprendia o filho por testar os limites de sua alergia. Já seu pai era meio desligado, e sempre se esquecia da condição do filho. Vivia fazendo sanduíches com amendoim para ele em seus passeios noturnos para observar o céu. Seu pai era astrônomo. Suponho que isso pode ter influenciado a profissão do filho anos mais tarde. Mas seu pai sempre dizia “Nunca deixe alguém influenciar em suas decisões. Sim, não tem nada errado em ouvir conselhos ou opiniões diferentes mas ninguém pode realmente te compreender, por isso não deixe eles fazerem decisões que são inclusivamente suas.”

Claro, Paul com cinco anos de idade não compreendia totalmente o que aquilo queria dizer ainda, mas seu pai não parecia dar muito importância a esse fato. Sempre o tratara de igual para igual. Nunca subestimava a sua inteligência ou capacidade de compreensão. Paul gostava disso, pois o incentivava a aumentar sua inteligência em pró de impressionar o pai.

Mas Paul apesar de sempre ser um menino muito curioso ele era muito tímido, o que o deixava sempre extremamente frustrado. Suas mãos suavam, seu coração acelerava e as palavras pareciam virar mingau em sua boca. Tomo seu corpo entrava em pânico. O que adianta ter as perguntas se não tem a coragem para pergunta-las? Por isso sempre ficava com as perguntas na ponta da língua, presas na garganta. Pequeno Paul não gostava do gosto das perguntas. Acabava por na maioria das vezes engoli-las e esquecê-las, sem a oportunidade de uma resposta. Mas tinha uma perguntinha no canto da sua mente que ele apenas estava morrendo para saber a resposta.

“Mãe, existem alienígenas?” o menininho de cabelos cacheados perguntou por fim ajustando o telescópio de seu pai em direção ao céu estrelado.

“Claro que existem Paul. Não seja idiota. Você nunca viu Star Wars?” Ellie respondeu tirando os olhos de seu livro.

“Ellie Tyler não fale grosso com a sua irmão.” Ellie apenas revirou os olhos e voltou a sua leitura. “Essa é uma das coisas que eu não sei te dar a resposta, Paul. Só Deus sabe.”

“Porque ninguém sabe?”

“Porque ninguém nunca viajou por todas as estrelas.” Ellie mais uma vez respondeu a seu irmão. “Seria impossível conhecer todos os planetas do universo. E se você não conhece alguma coisa totalmente, você nunca vai poder ter certeza.”

“Porque ninguém nunca conheceu todos os planetas? Eles estão tão perto.” Ele parou de olhar pelo telescópio e começou a pular tentando agarrar aqueles pontinhos brilhantes no céu.

“Eles não estão perto, filho” dessa vez seu pai respondeu, virando a carne na churrasqueira.

Mas eu consigo vê-los daqui” ele agora desistira de pular e olhava para cima frustrado.

“Eles só parecem estar perto, mas na verdade eles estão muito muito longe,” o pai se agachou perto do filho. “e eles são na verdade são muito muito grandes.”

“Não parece.” Ele cruzou os braços.

“Bem, as coisas nem sempre são o que parecem” ele sorriu. “ Está vendo aquelas estrelas ali? Elas formam a constelação Andrômeda. Era o meu conto grego favorito quando era criança. Ela foi sacrificada para um monstro marinho, acorrentada em um rochedo. Perseu a salvou e tomou a como esposa e ela viveu uma vida longa e feliz, sendo mãe de vários filhos incluindo Hércules e Helena de Tróia.”

“O que isso significa?”

“Precisa significar alguma coisa?”

“Mas é claro que precisa. Porque eles fariam um conto se não tivesse significado?” A mãe sorriu da resposta do filho enquanto cortava as batatas.

“Talvez eles tenham tentado nos falar que, às vezes, a vida vai te usar como sacrifício. As vezes vamos passar por situações difíceis mas não importa quanto sacrifícios você terá que fazer, sempre terá aquele que vai te salvar.” Ela respondeu e olhou para ele. Ele expressava confusão em seus rostinho de criança.

“Mas isso é estúpido. Porque alguém tem que te salvar? Porque você não pode salvar a si mesmo?” ele perguntou.

O pai suspirou.

“Por mais que tentamos, filho, às vezes simplesmente não conseguimos.”

Ele deu uma pausa. Ele percebeu que nem sempre conseguia salvar a si mesmo. Teria alguém que o pudesse lhe salvar de seus frequentes ataques de pânico? A mãe pressentiu do seu silêncio que uma perguntava formulava na mente do filho.

“Não tenho medo de perguntar, meu filho. São as perguntas que movem o mundo”

Paul tentou absorver aquelas palavras por um instante. Mas perguntas significam ansiedade, e Paul odiava ficar nervoso. Odiava o jeito que perdia o controle de suas emoções e deixava a ansiedade dominar. O medo parecia invadir os seus sentidos e o congelava. Ele odiava, odiava, odiava.

Percebendo que o contínuo silêncio do filho provavelmente significava pensamentos de mais, a mãe soltou as batatas e se ajoelhou ao lado de Paul.

“Filho, de novo aquele nervosismo?”

“Não posso evitar mãe.” Ele disse depois de alguns segundos com cara de choro.

“Eu sei que não. Mas sabe o que você pode fazer? Você pode lutar contra. Ansiedade não é nada mais que estar assustado daquilo que não sabemos, que não está no nosso controle. E é ok ter medo. Você não pode tentar vencê-lo, Paul. Só não deixe ele te dominar. Não faça dele seu inimigo, mas sim seu aliado. Diga para si mesmo: Sim, eu tenho medo. Mas isso não é uma coisa ruim. Medo é psicológico. É uma reposta involuntária da nossa mente para nos proteger de situações potencialmente perigosas. Mas não tenha nada de perigoso em fazer uma pergunta, ou qualquer outra situação em que você se sinta ansioso, ok? Não tenha medo das pessoas. Elas não mordem.”

Paul ficou repetindo as palavras de sua mãe em sua mente, até que fez um sinal de entendimento com a cabeça e olhou para o céu. Uma estrela cadente passava e ele pensou imediatamente em um pedido.

Não deixe o medo me dominar.


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Notas finais do capítulo

Gente obrigada por vocês que estão acompanhando a história. Queria dar um abraço em cada um mas a vida não deixa. Então sintam-se abraçados.



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