Acordei com a gata da minha avó me lambendo.

– Sai Moonbla! – Exclamei tirando-a de cima de mim.

Levantei da cama e tomei um choque com o chão gelado. Coloquei um chinelo e fui ao banheiro trocar de roupa, resolvi usar a mesma roupa de ontem para não ter que abrir as malas.

A cozinha estava com cheiro de bacon, que era exatamente o que minha avó estava fazendo. Eu disse a ela que tudo estava com um cheiro incrível, e ela disse que mal podia esperar para me mostrar a cidade inteira, e que iria adorar tudo. Sentei-me na mesa e comecei a comer, perguntei a ela onde estava meu avô, ela disse que ele tinha saído para caminhar. Achei estranho, pois eram nove da manhã e lá fora estava congelando.

Depois de comer, esperei até minha vó acabar de se arrumar. Quando ela saiu do quarto, perguntou se eu estava pronta.

Fomos a uma loja de roupas, e minha vó me fez experimentar tudo. Também fomos comprar meu uniforme, que era uma saia de cintura alta cinza, uma camisa branca e uma gravata azul prateada. Eu ficava ridícula usando aquilo. E teria que usa-lo todos os dias.

Eu estava gostando do barulho que fazia quando pisava na neve, quando paramos em um café, para descansar.

– Vou buscar um brownie para você querida, coloque as compras na cadeira. – Disse minha avó, em norueguês.

Eu analisava os outros clientes da loja. Todos felizes, sorrindo. Gostaria de me sentir assim um dia. Cara, como Oslo era linda, a cidade era toda iluminada de noite, e com a neve, tornava tudo tão...mágico. Enquanto minha vó passou na Chanel para fazer ‘’comprinhas básicas’’ eu decidi passar numa livraria lá perto.

Como se deve esperar de uma livraria em um bairro nobre, era enorme. Possuía tantos títulos que me perdia em apenas uma estante. Peguei logo um livro e abri. Eu entendia o norueguês, mas com uma certa dificuldade. Decidi pegar um livro infantil. Que livro me faria aprender a língua mais rápido do que um feito para isso? Fui até a lanchonete e pedi um café. Sentei na mesa e comecei a folhear o livro. Isso era idiota! Um livro para crianças, o que eu estava pensando?

– Estou vendo que você aprecia os contos de Bibo&Bie.

Um menino tinha se sentado na minha mesa. Eu fiquei assustada. Primeiro porque ele tinha falado um português bem forçado, segundo porque ele era o cara mais lindo que eu já tinha visto. Seu cabelo, um castanho arruivado, parecia tão macio que eu só queria tocar nele. Sua pele era branca e seus olhos eram cinzas. Na verdade, ele poderia muito bem se passar por um cara normal aqui na Noruega, mas ao olhar seu rosto eu simplesmente me apaixonava.

– O que? Isso? Eu só tô tentando aprender a língua. Você fala português?

– Entendo... Norueguês é uma língua difícil. Eu aprendi português um ano antes de ir ao Brasil. Eu morei lá por 6 meses quando tinha 11 anos. Mas você deve se orgulhar! Português é uma língua bem difícil!

– Como sabia que eu falava português?

– Hm... você disse ‘’ mas que porra’’ e eu não podia perder a chance de praticar o meu português!

Perfeito. Eu tinha pensado alto. E agora eu percebi o quanto eu estava desarrumada! Eu só estava vestida de jeans e um moletom da gap cinza! E nem vou falar dos meus cabelos despenteados....

– Ah, que legal. Sorte a minha achar uma pessoa que fala português por aqui. Aliás, qual seu nome?

– Aaron. E se eu não me engano, fui eu que te encontrei.

Eu dei um sorriso tímido. Eu estava começado a gostar desse garoto.

– Sou a Taylor.

– Taylor me parece um nome americano...Você não é Brasileira?

– Sou sim. Mas minha mãe era norueguesa, e meu pai era americano. Eles brigaram pelo meu nome. Então meu nome completo ficou Taylor Aage Grace. Minha mãe decidiu não me dar o sobrenome dela.

– Nossa, então você é americana/norueguesa/brasileira hahaha!

– Na verdade eu nasci aqui em Oslo. Mas morava no Brasil até a minha mãe morrer e eu vir morar com a minha vó.

– Isso foi quando?

– Ontem.

Ele percebeu a tristeza nos meus olhos e me lançou uma expressão solidária.

– Ei... Tem um filme bem legal passando num cinema aqui perto. Quer ir comigo? Seilá sabe, só pra você já ir conhecendo melhor a cidade...Eu entendo se não quiser sabe, você acabou de me conhecer.

– Eu ia adorar – Ele deu um sorriso – Mas amanhã eu vou pra a casa de campo da minha vó.

– Bem, pode ser agora.

Eu pensei. Bem, um garoto super legal e lindo tinha me chamado para ir ao cinema. Por que diabos eu diria não? No outro lado, eu tinha acabado de conhece-lo...

– Claro, mas você tem que passar numa loja comigo antes, pra avisar minha vó que a gente vai.