Meu avô me esperava na sala de estar com uma caixa de doces. Meus preferidos.

Ele disse que eu estava linda, que tinha crescido, e toda aquela baboseira que nossos parentes falam quando ficam algum tempo sem nos ver. Meu avô não falava nada de português, então tive que me acostumar a só falar em norueguês, que já estava meio enferrujado. Ele me mostrou todos os cômodos do apartamento, que não era o mesmo que eles moravam na ultima vez em que os visitei.

Era muito grande, tinha três quartos enormes, um dos quais era um escritório. A sala de estar era imensa, com uma decoração muito moderna. Eu tinha até esquecido o quão ricos eram meus avós. Eu comecei a ficar com calor, então tirei dois dos casacos que estava usando( veja ) e fiquei usando apenas um suéter. Era incrível o fato de estar -5 graus lá fora e eu estar com calor, o aquecedor devia ser muito bom, porque lá em São Paulo quando fazia frio, o aquecedor não fazia diferença nenhuma.

Minha vó começou a dizer para ele que amanha nós iriamos fazer compras, pois minhas roupas não estavam nada hensiktsmessig (apropriadas, em norueguês) e iriamos aproveitar para eu conhecer a cidade melhor. Ele disse que eu era jovem e minhas roupas estavam ótimas, e os dois começaram a discutir. Eu simplesmente peguei uma das minhas malas e fui para o meu quarto.

Como não havia lugar onde guardar minhas coisas, eu simplesmente me deitei na cama(que era enorme) e fiquei escutando Where did Jesus Go? no meu ipod velho ( ouça a música ). Fiquei lá simplesmente entediada, pensando no que eu estaria fazendo se estivesse em São Paulo. Eu, de jeito nenhum estava com saudade daquela cidade. Nunca gostei de lá. Mas não deixava de ser minha cidade, não me fazia deixar de pensar no lugar como minha casa.

Fui despertada dos meus pensamentos quando minha avó me chamou para jantar. Fui até a cozinha correndo porque estava morrendo de fome. Me assustei com o que vi. Parecia uma ceia de natal, tinha até champanhe. Minha avó disse que minha chegada era razão para comemorar e que o champanhe não era para mim. E disse que tinha um presente para mim no balcão.

Dei um enorme sorriso e abracei os dois, perguntei o que era, mas ela simplesmente mandou eu abrir. A caixa era grande e cinza, tirei a tampa e encontrei um lindo vestido azul, um par de salto-altos pretos, e uma meia calça( veja ). Olhei para ela e agradeci mais uma vez. Ela disse que ela queria que eu usasse no jantar que teríamos no domingo, que seria na casa de campo deles.

Eu não lembro muita coisa sobre essa casa, só que era numa cidade pequena. Na última vez que fui lá, quase morri congelada. Olhei para a minha avó como se ela fosse louca. Perguntei para ela se ela queria que eu morresse congelada. Ela pareceu não entender, e depois disso disse que a meia calça era bem quente e que se precisasse era só eu colocar um casaco. Eu peguei o vestido e disse que iria experimentar depois da janta.

A comida da minha vó era deliciosa, e o frio me fez comer ainda mais. Eles disseram que eu iria adorar a escola, e que apesar da minha dislexia, eu iria entender o norueguês perfeitamente. Ela também disse que eu não precisaria arrumar nenhuma mala para domingo, pois iríamos voltar no mesmo dia.

Eu nem estava escutando o que ela dizia, estava morrendo de sono. Ela, percebendo isso, falou que era melhor eu ir para a cama, pois eu tinha tido um longo dia, e o de amanha seria maior ainda.