Eu ainda não me acostumei com o clima daqui. Desde que cheguei só vejo neve por todos os lados. Meus pés estão congelando. E meu rosto está da cor da neve.

Meu nome é Taylor Grace, tenho 16 anos, e minha mãe morreu faz sete meses. Eu nunca conheci meu pai. Mas minha mãe sempre falou dele com muito brilho nos olhos, imagino que fosse uma boa pessoa.

Minha família inteira é norueguesa, inclusive eu, mas minha mãe se mudou para São Paulo quando eu era um bebê, onde eu morava, até ontem.

Quando minha mãe morreu, minha vó insistiu que eu fosse morar com ela em Oslo, capital da Noruega. Mas eu preferi ficar morando com uma amiga até o ano escolar acabar. Quando acabou, eu estava no primeiro voo para Oslo.

No aeroporto, não pude deixar de lembrar da ultima vez que estive lá. Eu tinha 13 anos e estava com a minha mãe, era a quarta vez que eu tinha pisado naquele aeroporto, e continuava impressionada com a beleza do lugar.

Avistei minha vó de longe, corri até ela e a abracei. Ela disse que ei tinha crescido(agora eu tinha 1,75)e que estava linda ( veja como eu sou ) , igualzinha a minha mãe. Ela percebeu a tristeza nos meus olhos quando disse isso e corrigiu me convidando para tomar um chocolate quente.

Ela disse que meu norueguês estava ótimo, e assim , começamos a conversar na língua.

Quando estávamos no carro a caminho do apartamento dela, me veio um pensamento. Eu nunca mais veria São Paulo. De jeito nenhum minha vó iria ao Brasil. Ela foi contra a mudança desde que minha mãe anunciou. E tinha sido só agora que tinha caído a ficha. Será que eu sentiria falta dos shoppings lotados ou das tardes na piscina do condomínio com a minha melhor amiga?

Eu sabia que tinha que esquecer o Brasil. Que teria escola na semana que vem. E que jamais falaria português. E que teria que usar roupas mais ''adequadas á minha idade''(de acordo com a minha vó, a roupa que eu estava usando não era nada delicada). Também sabia que enfrentaria os mesmos problemas na escola.

Eu sou, na definição da psicóloga da escola,''especial''. Isso porque eu já fui expulsa de três colégios nos últimos cinco anos. E em todos sofro por ser ruiva. Me chamam de albina, maluca, gringa, viking. Tudo isso sendo que eu sou brasileira. Moro aqui desde que me conheço. Por isso, passo os intervalos no corredor, sozinha, só olhando os outros se divertirem. Até conhecer a minha amiga Lia.

Ela era como eu, diferente e solitária. Gostava da andar rindo alto na rua, de simplesmente dizer o que pensa. A gente se completava, eu era muito mais quieta e fechada, gostava de ficar sozinha escutando musica ou de desenhar, e ela amava dizer o que pensava, amava arte, e sempre defendia alguma causa. Eu não sei se encontraria alguém como Lia de novo.

Quando eu disse que me mudaria para a Noruega, ela deu pulos de alegria, feliz por mim. Ela sabia que eu amava o lugar e que morar aqui era meu sonho. Mesmo sabendo que quando eu fosse embora ela ficaria sozinha.

Quando minha vó parou o carro, voltei a realidade. Antes de abrir a porta, pequei meu enorme casaco preto que jamais usaria no Brasil, nem no inverno mais frio de São Paulo. Eu estava começando a gostar daquele clima.

Minha avó morava no prédio mais fofo que eu já tinha visto na vida. Parecia que eu estava em um filme antigo. Quando chegamos no apartamento, que era enorme , encontrei o quarto de hospedes vazio, com uma cama nova. Minha avó disse que amanha iriamos fazer compras para o meu novo quarto. E que compraríamos meu uniforme também, já que a escola começaria em dois dias.