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Eu olhava dentro de seus olhos e podia ver confusão e ansiedade ao mesmo tempo, algo nos olhos azuis me fez mergulhar e procurar em mim algum motivo que me fizesse ir embora daquele apartamento correndo. Mas quando ela molhou os lábios com a língua, me desconectei do racional, falei sem pensar em mais nada.

– Eu deveria me desculpar com você, estar aqui te atrapalhando, mas só consigo pensar no quanto estou gostando disso.

– Eu também, não tenho tanta aventura assim, desde que parei nas mãos no Conde.

– Aquele foi um dia terrível pra você, não? - Estive semanas preocupado com ela, tenho certeza que jamais passara tanto terror.

– Mas você estava lá, sua mãe sendo julgada e você a deixou, a sua irmã. - Ela chegou perto de mim e segurou minhas mãos. - Você sequer pensou.

– Não havia escolha a fazer, e você sabe disso.

– Não que eu queira voltar ao assunto, mas sim, você poderia não ter ido. Você salvou a minha vida, mais de uma vez, chegou minha hora de fazer algo por você.

– Quer mesmo me ajudar? - Acariciei seu rosto porque era difícil demais evitar. - Não me deixe perder você. - Olhei em seus olhos da mesma forma como ela olhou para os meus, um pedido em silêncio por algo mais, quando por descuido olhei para seus lábios, senti qual era a mensagem. Olhei-a para ter certeza de sua permissão. - Eu quis fazer isto desde o dia em coloquei meus olhos em você. Eu não entendia, mas eu sabia que não deveria te deixar longe de mim.

– Então não me deixe nunca mais. - Ela fechou os olhos esperando algo que eu sempre esperei, lá no fundo, em segredo.

E eu me aproximei e os raios de sol que vinham da janela, refletiam em seus cabelos dourados, e eu senti paz. Uma paz que eu não conhecia mais, uma felicidade que eu não esperava ver de novo, e assim senti a esperança no perfume de flores que ela usava. Jamais deixaria aquele perfume ir embora.

Então a beijei, encostei meus lábios nos seus num beijo cálido e respeitador, ainda sim, era como ouvir o coro dos anjos por entre a Terra. Encostamos nossos narizes por um breve momento, nossas testas coladas e nossas respirações presas na garganta. Naquele momento, havia uma batalha dentro de mim, eu não podia seguir e sabia que se o fizesse jamais teria volta, jamais concertaria isso. Dei-me uma última chance de desistir, mas ela não.

– Oliver ... - Ela suplicava por mais. Sua voz já não era a mesma. Havia deixado de ver a minha amiga e visto a mulher que eu queria, e a pessoa que eu mais desejava.

Então a beijei de novo, mais forte, mais intensamente, como se naquele beijo depositasse todo o meu desejo, e esperasse que desta forma, todo aquele sentimento se fosse com ele, mas não foi, ficamos ali minutos que não pude contar. Quando nos separamos, vi que seu rosto estava lindamente corado e seus lábios inchados. Abracei-a, da maneira mais protetora possível, e foi como perceber, que eu passei por todas aquelas atrocidades para no fim, estar ali, com ela entre meus braços.

– Me desculpe … - Disse para que ela não se sentisse culpada.

– Eu quis Oliver, eu sempre quis. Não precisa dizer nada.

– Hey! - Eu a fiz virar-se e me olhar. - Mas eu vou. Foi maravilhoso, não me sentia bem assim com ninguém em muito tempo.

– Quem dirá eu. - Nós rimos. - Obrigada Oliver.

– Não há o que agradecer. - Eu a abracei mais forte. - Eu gostei muito. - Beijei sua testa.

– Nossa. - Ela suspira triste. - Preciso trabalhar. Alguém tem que enganar Isabel.

– Isso é possível?

– Se eu conseguir te superar. - Sorri.

Já se passara uma hora desde que Felicity saiu e não havia muitas coisas interessantes para se ver na TV. Resolvi não ficar mais ali. Quando fui levantar, a cabeça deu uma pontada forte. Sentei-me novamente, tentando me manter parado, e a dor só aumentava, até ouvir uma voz.

– Oliver, você precisa aguentar firme. Ok? Oliver, Oliver … - Era Diggle? Onde ele estava? De onde vinha a voz?

– Diggle? Diggle? Você tá aí? - Procurei em todos os cantos do apartamento. Será que ouvia coisas?

Quando finalmente minha cabeça parou de doer, resolvi que teria que passar o tempo de alguma forma, não podia sair e Felicity ainda demoraria a voltar. Comecei a pensar no que fazer, até ter a ideia de agradecê-la por ter estado comigo esses dias em sua casa. Talvez preparando um jantar ou algo assim, para que ela apreciasse uma boa conversa, um bom vinho, ou quem sabe uma dança. Fui procurar os CD's em sua estante. Havia muitos de rock clássico como, Metallica, Scorpions, Guns 'N Roses, só pra variar, porque as mulheres amam Axl Rose. Foi então, que achei um CD gravado com uma mensagem. “Esta é a sua música para seu grande dia, acredite no melhor a partir de agora. Com amor, Jessy.” Quem seria Jessy? Um namorado, um amigo, alguém que Felicity tinha em seu passado como uma pessoa indispensável? Não poderia dizer, porém resolvi usar aquilo para mais tarde lhe tirar esse segredo. Separei o CD para que pudesse colocá-lo numa hora mais apropriada.

Não me lembro de ter cuidado de tantas coisas, cozinhar, arrumar a mesa, prestar atenção nos talheres, nas taças, colocar o melhor vinho dela na geladeira e por último, as velas. Ela tinha pelos armários todos os tipos de vela, rosas, brancas, azuis. Principalmente no banheiro. As maiores, acabei colocando no castiçal que estava na mesa e as outras espalhei pela sala. Tudo pronto, até me lembrar de que não tinha o que vestir. Eu, que era conhecido pela boa aparência, e trajes impecáveis, sem nada para aquela ocasião. Não precisei pensar demais. A campainha tocou. Olhei para o olho mágico, e o porteiro apareceu, ele tinha roupas nas mãos, abri e ele me entregou todas em nome de Felicity. Ela era incrível.

Dentre todas estava um bom terno, deveria servir para essa noite. Fui me preparar, pois em meia hora, ela estaria em casa.

Ouvi a chave girando na fechadura e a vi entrar, ela me encontrou de pé, ao lado da mesa, enquanto velas e abajures fazia seu trabalho. Eu a vi surpresa e confusa, e se eu a conhecesse, diria que ela estava pensando se entrou no apartamento certo.

– Oliver! – Ela olhava tudo a sua volta. – O que está acontecendo?

– Fiz um jantar, como forma de te agradecer por tudo o que tem feito. – Dei meu melhor sorriso, mas tenho a certeza de que foi o mais nervoso.

–Uau! Quer dizer ... – Ela não conseguia achar as palavras. Feio, terrível, piegas? Foram as que vieram em minha cabeça. – Isso é maravilhoso.

– Que bom que gostou. – Tentei manter a calma, estava tudo bem e ela havia gostado, mas droga, meu coração ia sair pela boca. – Sente-se, por favor, vou trazer o jantar. – Puxei a cadeira para ela.

– Oliver, será que eu poderia me preparar primeiro? – Ela estava tão linda, que me senti indelicado de não perceber seu cansaço. – Juro que vou colocar meu melhor vestido.

– Só se for aquele longo e rosa que usava na festa de minha mãe. – Alguém teria que mandar aquele troco ao Barry, e espero que ele possa sentir que ela também pode estar comigo naquele vestido, bem como dançando comigo dentro dele.

– Ok! Tudo o que quiser. Não demoro.

Esperei pacientemente pela volta dela, estava nervoso, suando, com vontade de tomar aquela garrafa de vinho inteira. Mas eu não deveria fazer isso, então, fiquei na minha, torcendo os dedos para que ela não tivesse fugido pela janela do banheiro.