Sanguine Animae escrita por Larii Alvarez


Capítulo 2
Um


Notas iniciais do capítulo

Hey povo, mais um capitulo pra vocês, espero que gostem



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Fazia muito calor lá fora. Eu estava do lado da janela olhando o jardim da escola.A professora corrigia as provas de ciências da sala.Todos os alunos estavam falando sem parar,para ser mais exata estavam gritando uns com os outros.

Pensei em pedir para a professora se eu podia sair da sala, pra fazer qualquer coisa. Mas logo desisti ao ver que ela estava cochilando sobre as provas.Ela sempre fazia isso.Ainda bem que faltavam apenas sete dias para eu e meu pai irmos para a Califórnia,sim,íamos nos mudar para lá.Eu estava super ansiosa... Era como se derrepente minha vida ia ficar muito melhor, eu ia ser popular, ter amigos legais, não que a Emily não fosse legal, só que eu queria que ela fosse mais normal. Ela é muito maluca (mais maluca que eu,com certeza).Mesmo assim,eu sabia que eu seria,ainda sim,uma esquisita com só dois amigos que fazia de tudo para ser invisível na sociedade,que sempre andava com fones de ouvidos,ouvia rock pesado e estava sempre com o cabelo no rosto.Mas era legal ficar ansiosa com alguma coisa sem ser as provas.

O sinal tocou e eu acordei para a realidade.

Quando chequei em casa meu pai não estava, devia ter ido para o mercado, de novo. Joguei a mochila no sofá e fui para a cozinha.A geladeira estava vazia igual aos armários e minha barriga.A única coisa que tínhamos em casa,nesse momento,eram latas de sopa e sardinhas,coisas que eu odeio.

Estava quase me convencendo de aquilo não tinha um gosto tão ruim quando a campainha tocou.

–Você chegou cedo da escola hoje.

Meu pai foi em direção à cozinha guardar as compras.

–Não cheguei cedo, você que chegou tarde.

Ele olhou para mim, e eu sabia que era para eu calar a boca e pegar o resto das compras no carro. Não havia muita coisa. Mas aquelas poucas coisas eram melhores que sardinha e sopa com certeza.Levei as sacolas para dentro e ajudei a guardá-las.A geladeira ficou cheia e os armários ficaram mais ou menos cheios.Minha barriga roncou.

–O que vamos jantar?-perguntei, mas eu já sabia a resposta.

–Pra mim que você vem perguntar?Eu acabei de chegar. Nem tive tempo de pensar ainda.

–Quer que eu cozinhe?-Perguntei, rezando para que ele dissesse que não, afinal, não sei cozinhar quase nada, mas só estava sendo solidaria.

–Claro que não!Da ultima você quase botou fogo na casa!E alias o que você sabe cozinhar, além de água quente queimada?-Ele começou a rir feito um retardado.

–Muito engraçado!-Dei uma risadinha falsa e fui para a sala ver televisão, apesar de não ter nada de interessante era melhor do ficar vendo meu pai se matar de tanto rir.

Quando o jantar ficou pronto meu pai ficou me encarando, mas não disse nada por um tempo. Até que disse:

–Desculpe se você ficou magoada. Só queria tirar uma com a sua cara.

–Tudo bem. Mas não faz de novo, ta?!

Meu pai não era do tipo que dava sermões quando se fazia algo errado, não gritava nem batia nunca me deixou de castigo, ele era mais parecido com um melhor amigo que sempre te quer ver sorrindo, nunca chorando, e que faz tudo para sua dor de cabeça passar rapidinho ou uma dor de barriga sumir de vez. Ele era um herói para mim, me criou sozinha, estava sempre presente, me ajudava em tudo, enfim, meu pai era meu melhor amigo.

Eu fiquei rolando na cama até conseguir pegar no sono. Infelizmente, acordei alguns minutos depois com um barulho vindo do banheiro. Achei que era meu pai então voltei a dormir.O barulho ficou cada vez mais alto.Decidi ir lá ver o que estava acontecendo.Péssima idéia.

Quando cheguei lá meu pai estava estendido no chão, mas não estava morto. Sabia disso porque ele mexia as mãos e estava respirando. Ele apontou para um canto onde ficava a janela.Lá estava parado um rapaz de cabelos pretos e pele...Vermelha.Não vermelha de vergonha ou de calor.Vermelha como tinta,ou como sangue.Logo percebi que não era um rapaz,e sim um demônio.Achei que era só alguma brincadeira de mau gosto,mas logo percebi que mais uma vez não era isso.PUFF.O rapaz,ou seja lá o que for sumiu no ar,sem deixar rastros.Meu pai começou a falar com dificuldade.

–Demônio... Aqui... Arma...Quarto...Mate...Fuja!

A cada palavra ele tinha que parar para respirar. Só depois de alguns minutos,quando me ajoelhei ao lado dele,foi que percebi que ele tinha um furo na barriga. Olhei aquilo e me senti enjoada quando vi o sangue escorrendo por entre os dedos dele.Corri para pegar uma toalha.Amarrei o ferimento e sai à procura do meu celular.Disquei o numero da ambulância.Ouvi novamente barulhos no banheiro.Fui para lá.Meu estava tentando se levantar.Eu o deitei de novo.A essa altura eu estava chorando sem parar.

Dentro da ambulância meu pai dormia. Eu continuava chorando e não conseguia parar. Comecei a pensar no que pai havia dito e no que eu tinha visto.Arma,Quarto,demônio...Derrepente minhas pálpebras começaram a se fechar e por mais que eu tentasse,não conseguia ficar acordada.Dormi,mas não sonhei.

Quando acordei, tínhamos acabado de chegar ao hospital. Levaram meu pai às pressas para a emergência. Disseram para eu ficar na sala de espera.Sentei-me em um banco e relembrei tudo o que acontecera.Mas acabei adormecendo de novo.

Um dos médicos que atenderam meu pai me acordou e disse que eu já podia ir ver meu pai. Ele ainda dormia. Lagrimas brotaram novamente em meus olhos.Ele abriu os olhos.

–Oi pai!

–Oi querida... -ele falava meio arrastado, e eu sabia exatamente o que dizer a ele.

–Desculpe ter demorado a ir ver o estava acontecendo e desculpa por ter ficado brava com você quando você só estava tentando me fazer sorrir... Eu queria que eu estivesse no seu lugar agora...

–Você... Não tem que... se desculpar...Eu é que...tenho...

–Não pai!Você estava morrendo e eu ignorei. Você tentava me fazer rir, e eu ficava brava... Eu lhe devo um milhão de desculpas,pai...

Os olhos dele se encheram de lagrimas, eu já estava chorando de novo. Ele fechou os olhos.

–Eu te amo pai. Você é meu herói e meu melhor amigo. Eu te amo muito,te amo mais do que tudo nesse mundo...

–Eu... Também... Te...Amo...Minha...Querida Samie...

O aparelho no qual ele estava conectado começou a apitar. Foi ficando cada vez mais lento. Desesperada eu gritei por ajuda.Os médicos chegaram e tentaram reanimá-lo.

–Pai!-gritei, chorando cada vez mais e mais.

Foi uma correria. Mas derrepente tudo acabou. Eu chorava alto,quase gritando.O som do aparelho se tornou um barulho interminável,que lembrava um apito.Os médicos davam tapinhas nas minhas costas e me abraçavam.Isso só fazia com que eu chorasse mais ainda.

Emily ficou o tempo todo do meu lado durante o enterro. Eu segurava uma caixa de lenços de papel em uma das mãos e com a outra segurava a mão de Zac, meu melhor amigo nesse fim de mundo, conheci ele ano passado... Eu chorava feito louca.Mas isso não importava,meu pai estava morto.Eu estava sozinha no mundo agora.Ninguém sentia tanta dor como eu naquele momento.Era com se meu coração tivesse explodido.Quando começaram a descer o caixão de meu pai,tive de me segurar para não me jogar em cima do caixão,para ser enterrada junto com ele.Zac apertou minha mão,como se ele soubesse o que eu queria fazer.Emily foi embora,ela não agüentava essas coisas.Percebi,quando ela saiu,que seus olhos estavam inchados e vermelhos.Mas não podia ser pelo meu pai,quer dizer,ela só viu meu pai algumas vezes.Zac percebeu que eu a olhava.

–Emily brigou com o namorado, ela só veio para não ter que ficar com ele.

Ele percebeu minha expressão e completou rapidamente:

–Não que ela não ligue para ele...

–Tudo bem... -Disse sem emoção-Ela disse isso a você?

–Na verdade ela me manda um e-mail todos os dias contando o que acontece com ela, são como se eu tivesse assinado uma revista adolescente. Eu só leio alguns, mas acho que tenho que dizer para ela parar com isso, e comprar um diário. Você não acha?

Eu balancei a cabeça, apesar de só ter ouvido as ultimas palavras dele. Estava começando a chorar de novo. A essa altura,o caixão já estava de baixo de quilos de terra.Fiquei imaginando se era isso que ele queria.Um enterro simples,com poucas pessoas,flores e um padre amigo da família.

–Quer que eu te de uma carona até sua casa?

–Eu pensei que seus pais não tinham carro...

–Meu pai comprou um. É usado, mas dá pro gasto...

–Pode ser.

Durante todo o caminho, os pais de Zac ficaram dizendo que lamentavam a minha perda. E durante todo esse tempo, chorava cada vez que eles abriam a boca.

O meu tio, Leonardo, passou a noite em minha casa para me fazer companhia. Alias, ele ia ficar o resto de sua vida comigo. Ele agora era meu tutor.As coisas dele chegariam pela manhã.Ele dormiria no quarto de meu pai.Apesar de eu preferir que ele ficasse no quarto de hospedes,foi bom ter alguém respirando no quarto do lado.Passei a noite em claro,pensando em como meu pai estava no banheiro,quase morto,e eu não fiz nada.Decide que pela manhã iria falar com os médicos,para saber do que exatamente meu pai morreu.Eu sabia o motivo,só queria ouvir da boca de um profissional.

–Como assim não sabe?

–Olha mocinha, sei que foi difícil perdeu seu pai. Mas ficar aqui gritando comigo não vai adiantar nada. -Encarei o médico.Se é que ele podia ser chamado assim.

–Mas e aquele furo na barriga dele?

–Que furo?Ele não tinha um furo na barriga, mas sim, uma gravíssima lesão no cérebro e no crânio. Ele caiu de algum lugar?

–Eu o achei estendido no chão do banheiro...

–Pode ter sido isso...

–Como assim “pode ser” isso?Você é medico ou não?

–Não tenho tempo para isso. Se não se importa, tenho uma paciente com câncer me aguardando.

Ele saiu apressadamente em direção ao... Não era um quarto. Não é um quarto,é a lanchonete.A não ser que sua paciente seja uma esfirra de carne.Aquele desgraçado me deve uma explicação.Imbecil.Fiquei lá parada olhando ele dando uma cantada na garçonete,mas pelo jeito que ela saiu correndo,deu para perceber que não funcionou.

–Bem feito!-me dei conta que tinha pensado alto. A enfermeira que estava no quarto ali perto ficou me encarando por alguns segundos depois voltou para o que estava fazendo,

–Pronta para ir embora?-Meu tio surgiu por trás de mim. Fiz que sim com a cabeça e o acompanhei até o carro.

–Então... O que os médicos disseram?-Ele perguntou, pela sua voz, percebi que ele chorou, e muito. Não respondi, e ele percebeu que eu não queria falar daquilo.

Não conversamos sobre nada dentro do carro.

Quando chegamos a casa meu tio ligou para uma pizzaria e pediu a pizza favorita dele e do meu pai, Portuguesa. Eu também gostava de pizza, como todo mundo, mas eu preferia uma salada com queijo e frango grelhado.

Depois de comer, meu tio foi dormir. Eu fui para o meu quarto e liguei o computador. Na barra de pesquisa,digitei Lesão cerebral.Eu sei que devia procurar por alguma coisa parecida com o que vi na noite em que meu pai morreu,mais queria ver se uma quedinha daquelas podia causar uma ‘lesão gravíssima’ como o medico descreveu.Não.Uma queda daquelas não é grave,a não ser que batesse em algo parecido como uma rocha pontiaguda.Aquele médico retardado do inferno me deve uma bela explicação.Pensei em varias coisas que eu queria,e deveria,dizer a ele.Mas decidi não fazer,já isso tinha muito com o que me preocupar.E alem do mais,amanhã eu teria de ir à escola.

A garota pálida, de cabelos lisos e longos, olhos castanhos, alta e magra chorava a perda de seu pai. Os médicos que saiam do quarto davam tapinhas em suas costas e a abraçavam.Sim,eu me via na noite em que meu pai morreu.

Acordei chorando novamente como se isso tivesse acabado de acontecer. Antes de me dar conta, estava dormindo de novo. O sonho que veio a seguir era bom.Sonhei com meu aniversário de sete anos,quando meu pai me deu uma caixinha de musica.A mais linda que eu já vi em toda a minha vida.Hoje,ela esta guardada na minha gaveta,pois tenho medo de alguém roubá-la.


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Notas finais do capítulo

E ai? Gostaram?
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