A escola estava um caos como sempre. Mas hoje Zac estaria na mesma sala que eu. Ele ficava na sala do lado a minha, mas quando meu pai morreu ele achou melhor ficar na mesma sala que eu. Emily não estava lá.Procurei em todo lugar,mas não a encontrei. Hoje, pelo menos,a professora estava acordada.Não prestei atenção em nenhuma palavra que ela disse,até que no meio da aula,ela pede que todos rezem por mim.

–Por favor, rezem pela Samantha, que perdeu o pai amado-Sim, ela era meio dramática- Rezem para que ela fique bem e que seu pai esteja em um lugar muito melhor. Samantha lamento muito sua grande perda, mas é a vida. Todos nascemos,crescemos e morremos no momento certo.Por favor não tente se matar,-Espera ai.Me matar?Isso já era exagero, mas a deixei continuar, afinal, era melhor que uma aula chata. E também eu podia começar a chorar e sair correndo quando quisesse. - Nem vá para o mau caminho,meu amor.Um dia,quando sua hora chegar,vocês se viram novamente.Toda vez que sentir saudades dele,chore,desabafe com alguém.Pode vir falar comigo quando quiser.Eu sou uma ótima amiga e ótima para dar conselhos.Estou sempre aqui depois das aulas.E desculpe por não ter aparecido no enterro querida.

Quando ela acabou seu discurso, voltou a explicar sobre Napoleão.

Finalmente o sinal tocou. Zac foi abrindo caminho por entre a multidão na porta. No intervalo recebi várias flores para colocar no cemitério,vários consolos e ombros amigos.Mas a única pessoa com quem eu gosto,e confio,para desabafar era, e sempre vai ser, o Zac.Olhei para ele.Pela primeira vez,percebi que ele era lindo.Seus cabelos cor de mel eram perfeito,eram lisos mais não estilo vaca lambeu,seus olhos eram castanhos e profundos,seus lábios eram finos e rosados.Ele era perfeito em tudo.Suas notas eram perfeitas,ele era educado,meu pai gostava dele,enfim,tudo o que uma garota sonha.

–Por que você esta me encarando?-ele perguntou.

–Por nada, só estava tentando imaginar como você faz para seu cabelo ser assim tão perfeito.

Ele riu.

–Sério. Você ta muito estranha. Quer dizer, você já era esquisita, mas agora esta muito mais.

Ele começou a rir, e eu me lembrei da risada do meu pai. Comecei a rir com ele.

–Você esta mais bonita ultimamente, sabia?!-Ele olhou para mim com um olhar que me deixa toda derretida. Senti meu rosto corar. -É serio, se você não fosse minha melhor amiga, eu tentaria de tudo para ficar com você.

–Samantha!Samie acorda!-Zac estava parado do meu lado, dava tapinhas na minha cabeça.

–O quê?-Perguntei meio sonolenta.

–Quando a professora terminou seu discurso, você pegou no sono. Ela disse para te deixar dormir.Ela esta realmente preocupada com você.-Ele estava sério,mas mesmo não sendo um sonho,ele era realmente lindo.

–Humm...

–Vamos. Você tem que comer alguma coisa,esta pálida.

Sentamos-nos frente a frente no banco da cantina. Ele,como sempre fazia,não comeu nem tomou nada.Alias nunca o vi comendo.Ele parecia um vampiro às vezes.Só cutucava a comida,e era pálido.Ele levantou uma das mãos para si mesmo e ficou encarando um anel preto com uma pedrinha vermelha no centro.Ele estava sempre usando-o.

–Qual é a desse anel?-perguntei.

–Como assim?

–Você não o tira pra nada...

–Ele era de meu avô... Herança,sabe?!

–Humm...

–Você quer ir lá em casa hoje?

–Pra quê?

–Para estudar. Tem uma prova segunda,de matemática.Pensei que seria divertido estudar em grupo...

–Grupo?

–A Emily também vai, eu acho... E o namorado dela,o James,também...Você vai ou não?

Balancei a cabeça em sinal positivo. Apesar de eu preferir que fossemos só nós dois,ia ser divertido.

–Como foi à escola?

–Foi bem... A professora Nancy disse que sempre que eu quiser desabafar é para procurá-la, mas eu prefiro desabafar com você,se não se importar...

–Eu adoraria que você confiasse em mim... Quer comer o que?

–Você escolhe. Faça o que você quiser,só peço uma coisa...

–O quê?

–Não tente fazer macarrão, aquela vez na casa da vovó foi um desastre!

Ele começou a rir, eu também ri. Era incrível como ele era parecido com meu pai.Eram quase gêmeos. Ele começou a preparar a refeição, não sabia o que ele ia fazer, mas parecia... parecia...sei lá o que era aquilo.

Meu quarto estava escuro, mas escuro do que o normal. Peguei o telefone e liguei para o Zac.

–Alô.

–Zac? É a Samantha.

–Oi!

–Eu acho que eu não vou poder ir...

–Por quê?-Ele quase gritava no telefone.

–Esta tudo bem ai?

–Esta. São só os vizinhos dando uma festa.Mas por que você não vai vir?

–Eu quero passar um tempo com meu tio. Para nos conhecermos melhor.

–Humm... Tudo bem...Te vejo amanhã então?

–Sim... Tchau..

–Tchau.

Recoloquei o telefone no gancho. Realmente eu precisava conhecer melhor meu tio.Não que eu não saiba nada dele,é só que eu não vivia 24 horas por dia com ele,não sabia seus hábitos,suas manias,sua comida favorita,qual seu programa para um domingo ensolarado,essas coisas.Afinal agora ele era quase meu pai.

–Pode ir se quiser... -Meu tio estava parado na porta do meu quarto com um pano entre as mãos.Seus cabelos pretos estavam rebeldes,e seu rosto estava cheio de molho.Me segurei para não rir.

–Não, sério. Quero ficar mais tempo com você,tio.Afinal,você vai ser praticamente meu pai agora,não é?!-Eu o olhei nos olhos, notei que havia uma diferença quase invisível entre meu pai e ele. Os olhos de meu tio eram pretos,e os do meu pai eram castanhos bem escuros.

–Tem certeza?

–Tenho. O Zac vai entender,quer dizer,ele não liga tanto pra essas coisas.Se fosse uma menina bonita ele ia sentir falta,de mim ele não vai sentir falta...

Ele ficou me encarando, e eu percebi que estava agindo como uma garota mimada e chata.

–Ta legal. Daqui a pouco o jantar vai ficar pronto....

–O que você esta fazendo?

–Surpresa. -ele saiu do quarto e foi para a cozinha.Senti um cheiro de carne e molho.

Almôndegas. Só podia ser isso.Era uma tradição de família fazer almôndegas sextas à noite.Tomara que não sejam iguais as do meu pai...As almôndegas dele ficavam encharcadas de molho.

–Estava uma delicia tio, você cozinha melhor que meu pai!

–O seu pai não gostava muito de cozinhar. Uma vez quando ele tentou fazer sushi.Quer que eu lhe conte o que aconteceu?

Eu fiz que sim com a cabeça- minha boca estava com um pedaço de almôndega que havia sobrado no meu prato.

–Bom, teve uma época que ele pegou mania de cozinha. Mas era um desastre,ele só sabia fazer água quente....queimada!Um dia, ele chamou a sua mãe, que na época era namorada dele, para jantar conosco em um domingo. Ela adorava comida chinesa,ou japonesa, eu sei lá.Ele foi ao mercado e comprou tudinho,até o que não precisava.Estava tudo certo.Sua mãe chegou,enquanto ele cozinhava,ela ficou conversando com sua avó.Passou um tempo até que sentimos um cheiro de coisa queimada.Fui correndo até a cozinha para ver o que estava acontecendo.Quando eu cheguei lá,ele tinha queimado uma colher de pau,ao tentar fazer o molho.Joguei aquela meleca no lixo e o ajudei no molho.Ele iria fazer o resto sozinho.-Ele riu por alguns segundos e depois suspirou.Notei seus olhos se encherem de água.-Ele conseguiu terminar sem botar fogo em mais nada.O problema é que,ao invés de colocar sal,ele pôs açúcar.Imagina o horror que ficou!-Ele ria e chorava agora. -Vou sentir muita falta dele e de suas maluquices...-Ele parou de rir.Deu um longo suspiro.-Acho melhor eu ir lavar a louça.E você,acho que tem que estudar,certo?-Ele apontou para mim e depois para a pequena salinha de estudos.

Fui em direção a ela e me sentei em uma mesinha no canto e comecei a ler o livro de matemática. Enquanto isso em outro lugar,aposto que Zac estava se divertindo muito com Emily e os outros.