–Serio? Ele é pai do Henry? - Emma perguntou calmamente.

–Não, nem fomos tão longe... Pra dizer a verdade na época eu mal sabia o nome dele, só saímos algumas vezes. Em pouco tempo ele viajou e voltou trazendo esse tal de Killian...

–Hm... - Enquanto comia, Emma questionava mentalmente a capacidade da prefeita de gerir uma cidade. Ela era bem diferente fora do escritório...

–Daí eu bani os dois da cidade e agora eles vivem no mato... - Regina sorriu.

–Serio que você os baniu da cidade!? - Emma quase deixou o garfo cair.

A prefeita lançou-lhe um olhar malicioso.

–Não. - e sua expressão voltou ao normal. - Eles moram na floresta porque são lenhadores. Mas não gosto do Killian, ele não é muito educado. E o Robin fica inventando desculpas para ele.

Emma relaxou.

–Ainda acho que devia comer o peixe.

Regina havia perdido o foco.

–Está delicioso e eu prometo que não conto para ninguém. - Emma comeu outro pedaço.

A prefeita refletiu por um momento e acabou se rendendo. Continuaram o jantar.

–Então... porque você saiu daqui brava ontem de manhã? - a loira puxou assunto.

–Ah, aquilo, é que... no bar você disse que ficaria para cuidar da fazenda, e depois disse que não se lembrava de nada... - a prefeita estava visivelmente sem graça. - pensei que tivesse desistido de ficar...

–E jogar um balde de água fria na minha cara também não foi uma atitude muito convidativa.

–Não, isso foi um remédio legitimo para a sua ressaca. - ela disse firme. - Me desculpe, eu queria mostrar que Storybrooke era um lugar agradável para viver e acabei te embebedando e jogando água do poço em você.

–É, um folheto turístico teria sido mais adequado.

–Vou me lembrar disso! - Regina riu.

–Devo admitir que funcionou, curou minha dor de cabeça.

–Sabia. - ela sorriu. - Ah, você mencionou antes... eu não sei quem é o pai do Henry. - e deu mais uma garfada no peixe.

Emma fez uma pausa.

–Entendo... foi uma época muito 'agitada'?

–Hm? Não! Não foi isso que quis dizer! - ela riu. - Também não conheço a mãe dele. Ele é adotado. Eu não sei de onde ele veio. Nem de quem. - a prefeita explicou.

–Ah, sim, acho que a Belle disse algo sobre isso... - Emma pegou o copo d'água.

–Eu... nunca fui muito 'agitada'... Prefiro cavalos. Não pra 'agitar'... erm...

Emma estava engasgando com a água. Regina tentou ajudar.

–Levanta os braços... - ela tirou o copo das mãos da loira e se levantou para socorre-la.

Alguns tapinhas nas costas depois, Emma estava rindo e quase respirando normalmente.

–Passou? - a prefeita perguntou.

–Uhum... - a loira tentava se recompor.

–Bom, deixa eu te ajudar com a louça... - Regina se adiantou, levando os pratos até a pia.

–Não, pode deixar... - a voz de Emma falhou.

Tentou intervir mas não obteve sucesso. Quando se recuperou Regina já havia lavado os pares de pratos, copos e talheres. Emma ficou sem graça de ter deixado o serviço nas mãos da visita. A prefeita não parecia se importar em realizar a tarefa.

–Já está ficando tarde, hora de ir repreender meu filho... - a prefeita colocou a ultima louça no escorredor e secou as mãos.

–Vou pegar as chaves do cavalo... - Emma se levantou e seguiu para a sala.

Regina riu. Emma pegou a capa de chuva e seguiram para o celeiro novamente.

Quando escurecia, as luzes se acendiam nos postes da cidade e das fazendas. Aqui não era diferente, as luzes da varanda da casa e sobre a porta do celeiro também se acendiam assim que o sol se punha.

–Ainda está chovendo, tem certeza que quer ir a cavalo? - Emma tentou escapar mais uma vez.

–Sim, você tem que aprender. - Regina insistiu. - Caso não tenha percebido, não tem posto de gasolina por perto. Se seu lindo carro ficar sem combustível no meio da cidade, será um transtorno para os moradores e principalmente para mim, que vou ter que ouvir as reclamações. Vai andar a cavalo como todo mundo.

–Okay... - a resposta foi desanimada, mas entendia o ponto de vista da prefeita. Ganhou um tapinha de consolação no ombro.

Ao entrarem no celeiro, Regina recolheu a capa de chuva no chão e vestiu novamente. Buscou o animal e entregou as rédeas à Emma. A loira subiu e se acomodou na sela. Hora da vingança. Emma sorriu e estendeu o braço para ajudar a prefeita a subir. Assim que Regina se acomodou, Emma se virou e puxou um braço da morena para sua cintura.

–Não se preocupe, eu vou devagar. - Emma zombou.

Regina riu e abraçou a cintura da loira. Emma se perguntou se prefeita se sentira tão confortável dois dias atrás quanto ela estava se sentindo agora.

–...Mesmo porque eu não sei pilotar essa coisa. - Emma completou.

O cavalo fez um barulho estranho. Regina colocou a cabeça no ombro da loira.

–O nome é Tornado, e acho que ele não gosta de ser chamado de 'coisa'...

–Desculpe... - Emma alisou a crina do animal.

–Faz assim... - a prefeita mostrou como guiar o bicho. - Tenta.

Emma obedeceu e Tornado saiu calmamente do celeiro em direção à cidade. Direcionar o animal não era tão difícil quanto ela imaginava, estava quase se divertindo. Ao longo do caminho, sentia o corpo da prefeita pesando cada vez mas sobre o seu.

–Tudo bem aí atrás?

–Hm... - a prefeita respondeu.

–Ué? Dormiu? - Emma tentou se virar mas não teve como.

–Não. - ela se endireitou. - Estava só descansando os olhos.

Emma esticou as costas, agora estava mais leve. E frio, mas teve vergonha de pedir outro "abraço". Mais alguns minutos de silencio e a mansão estava logo ali.

–Chegamos... - Emma arriscou fazer o cavalo parar. Sucesso!

–Bem, Swan... - Regina desceu. - Foi um prazer!

–Igualmente. - sorriu.

–Venha jantar aqui amanhã, gosta de lasanha?

–Claro, eu adoraria... se não for incômodo...

–Então está combinado, vamos te esperar.

–Pode deixar.

–Não vou te manter na chuva por mais tempo, boa noite. - Regina se despediu.

–Ah, é mesmo, - por um momento Emma se esqueceu que estava chovendo. - boa noite. - ela se despediu sorrindo.

Emma levou mais tempo do que gostaria para mudar a direção do cavalo, algo lhe dizia que Regina ainda estava na porta da mansão, rindo de sua performance. Ela se virou e acenou mais uma vez, a prefeita acenou de volta a alguns metros de distancia e entrou.

Tornado trotava mais rápido agora, estava tão molhado quanto o rosto e as mãos de Emma, a capa também não cobria suas pernas muito bem. O cavalo devia estar tão ansioso para chegar em casa quanto ela, mas se corresse mais rápido o vento deixaria ambos doentes. Emma esperou que o animal fosse resistente, não saberia o que fazer se ele ficasse gripado. Talvez Regina pudesse ajudá-la, já que é uma pessoa tão amigável fora do escritório... o barulho da chuva e os passos do cavalo realmente dão sono! Não, melhor tomar um banho antes. Na água fria, também não... Hm...

De volta à fazenda, levou Tornado para dentro do celeiro, onde era seco e não ventava. Assim que retirou a sela e os outros apetrechos, ele imediatamente se sacudiu e foi deitar-se no meio das vacas e do feno. Emma não o impediu. Acomodou os objetos em seus lugares e seguiu para a casa.

Entrou. Tirou a capa e as botas e deixou perto da entrada. Felizmente o cabelo não estava molhado, poderia dormir logo. Olhou em volta. Cadê o Pongo? Não o viu na hora do jantar... Foi até o banheiro pegar uma toalha.

A pele ainda estava um pouco fria mas agora estava seca. Entrou no quarto. Pongo estava todo encolhido em cima da cama.

–Pongo, desce.

O cachorro fez um barulho mas não se mexeu.

–Desce, Pongo! - Ela puxou o cobertor e veio arrastando o animal.

Um som familiar assustou Pongo pra fora do quarto, e Emma se lembrou que tinha um celular.